POV ARTHUR LEYWIN
A masmorra ficou mais escura e labiríntica à medida que continuávamos. Cadáveres de bestas de mana enchiam os corredores, os detritos de seus corpos quebrados evidenciavam a incrível força do titã. Os cadáveres ficavam maiores à medida que avançávamos nos túneis, a masmorra se tornava pouco mais do que paredes quebradas cheias de seus ninhos escavados.
Enquanto Avier liderava o caminho, tentei iniciar uma conversa com Evascir, mas ele apenas sugeriu que eu guardasse minhas perguntas para alguém mais bem preparado para respondê-las.
Nosso caminho nos levou a um segundo nível da masmorra. Passamos por uma câmara de pelo menos trinta metros de largura e metade da altura, com dezenas de entalhes cravados nas paredes. Uma pilha imponente de cadáveres de bestas de mana enchia o centro da câmara, incluindo um várias vezes maior do que os outros. Era semelhante em forma, mas com estranhos cumes salientes sob sua barriga, alguns dos quais foram quebrados e um calor latente preso em seus três chifres, que brilhavam como carvões.
— O imperador flagelo.
Disse Avier, observando a direção do meu olhar.
— Uma besta de mana digna de caça, mesmo para os Asura.
Evascir grunhiu, mas parecia satisfeito consigo mesmo quando disse:
— Matei o imperador desta masmorra mais vezes do que gostaria de considerar, mas é sempre uma batalha que vale a pena contar.
A partir desta câmara, era apenas um curto caminho até nosso destino aparente: um segundo conjunto de grandes portas, a madeira preta gravada com a imagem de um enorme pássaro, suas asas abertas. A gravura era incrustada com algum tipo de metal que captava qualquer pequena quantidade de luz e tremeluzia com um brilho alaranjado opaco. Vinhas rastejavam de uma rachadura no teto para emoldurar a porta com folhas alaranjadas da cor das chamas do outono.
Evascir foi na frente. Um cajado de pedra alto e avermelhado cresceu em seu punho, que bateu contra o chão. As portas se abriram, revelando uma câmara de seis metros quadrados e outro conjunto mais simples de portas fechadas. Seu companheiro bestial se posicionou em uma alcova em um dos lados da câmara enquanto Evascir abria as portas internas.
— Eles estarão esperando no corredor.
Disse ele a Avier, que acenou com a cabeça em agradecimento e passou.
Fiz o mesmo, curioso para saber quem eram “eles” e onde ficava esse lugar, mas evitando minhas perguntas. Evascir não nos viu ir embora, fechou a porta atrás de nós e voltou para qualquer que fosse seu dever.
— Isso é algum tipo de… Fortaleza Asurana?
Perguntei baixinho.
A cauda de Avier sibilou em agitação antes que ele parasse, virando-se para olhar para mim.
— Essas portas não foram abertas para um humano, elfo ou anão desde que foram esculpidas a partir da primeira charwood a amadurecer na Clareira das Bestas. Embora você tenha sido convidado, resta saber se sua presença é bem-vinda. A graça de um rei combina muito melhor com você aqui do que o físico de um dragão.
Sem esperar por uma resposta, continuou pelo corredor.
Em vez da pedra áspera e escura da masmorra, essa passagem interior era de mármore cinza quente cravejado de castiçais de prata dos quais ardiam pequenas chamas alaranjadas. Mais trepadeiras cresciam ao longo das paredes e do teto curvo, acrescentando uma leveza bucólica e um doce aroma de outono que tornava fácil esquecer que estávamos no subsolo.
O pequeno corredor se abria para uma varanda que se projetava da parede de uma sala enorme. Fiquei boquiaberto com um jardim maior do que qualquer palácio real, uma profusão selvagem de cores completa com altas árvores de casca prateada cobertas por folhas alaranjadas brilhantes. Vários globos flutuavam perto do telhado dos jardins, emitindo uma luz agradável que parecia um sol ameno de verão na minha pele.
— Achei que os anões fizeram um bom trabalho tornando suas cavernas aconchegantes, mas isso…
Regis soltou um assobio abafado.
— Parece mais com Epheotus do que com Dicathen.
A cabeça de Avier balançava no final de seu longo pescoço reptiliano.
— De fato. De certa forma é. As árvores de charwood, as plantas, essas pessoas que você vê aqui, são todos remanescentes de Epheotus.
Algumas pessoas descansavam ou caminhavam pelos jardins, conversando ou apenas sentadas com o rosto voltado para os artefatos de iluminação. Seus tons correspondentes de vermelho flamejante ou preto esfumaçado e cabelos grisalhos e seus vibrantes olhos laranja os marcavam como membros da raça fênix.
Aqueles olhos começaram a se virar para cima em nossa direção conforme mais e mais fênix notavam nossa presença. Alguns apenas observaram com curiosidade, mas outros abandonaram o lazer e saíram rapidamente do jardim.
— Não pensei que veria pássaros menos amigáveis do que nossa coruja-guia aqui.
Regis comunicou mentalmente.
Abri um sorriso.
— Retorne ao seu lugar nas minhas costas.
Avier grunhiu, como se estivesse ouvindo os pensamentos de meu companheiro.
— Vamos voar daqui.
Minhas sobrancelhas se ergueram com a ideia de voar por uma masmorra subterrânea, mas fiz o que ele sugeriu depois que Regis foi colocado em segurança dentro de mim.
Avier saiu levemente da beirada da sacada e flutuamos sobre o jardim. Os Asuras que ainda permaneciam lá nos observaram ir com um ar de curiosidade apreensiva.
Voamos entre duas das árvores, então descemos para a entrada de um túnel escancarado. Este túnel era muito mais simples do que o que eu tinha visto anteriormente, apenas mármore nu coberto por listras pretas acinzentadas como marcas de queimadura. O túnel se dividiu e Avier virou para a direita, depois voltou para a esquerda, onde nosso túnel se juntava a outro.
A passagem terminou abruptamente, abrindo-se no alto para outra câmara extremamente grande. Minha primeira impressão foi de um teatro, com vários níveis de balcões olhando para baixo em uma plataforma central, mas não consegui ver imediatamente nenhuma maneira de navegar até eles.
Como as outras câmaras que eu tinha visto, a pedra era predominantemente de mármore cinza, mas colunas de madeira preta sustentavam as varandas, ao redor das quais cresciam mais vinhas, cercadas por folhas coloridas de outono.
Uma grande mesa redonda atualmente repousava na plataforma central, ao redor da qual sentavam-se quatro pessoas, duas das quais eu conhecia bem e uma que eu já podia adivinhar, mas a quarta era estranha e um tanto deslocada.
Avier circulou o espaço uma vez, então pousou suavemente. Quando deslizei para o chão, ele se transformou novamente em uma coruja e voou até uma varanda próxima, empoleirando-se no corrimão e nos observando com seus olhos grandes demais.
As quatro figuras se levantaram de seus assentos ao redor da mesa, observando nossa aproximação. Aldir era o mais próximo de mim. Ele havia trocado seu severo uniforme de estilo militar por uma túnica relaxada e calças leves de treinamento, seu longo cabelo branco caído sobre um ombro, mas fora isso parecia inalterado. O olho roxo vívido em sua testa me observava sem emoção, enquanto seus olhos normais permaneciam fechados.
Wren Kain estava à sua esquerda, envolto em um manto branco manchado de fuligem e parecendo distintamente deslocado no grande salão. Como Aldir, ele parecia o mesmo de quando treinei em Epheotus: sujo, cansado e quase propositalmente despenteado. A única coisa que se destacava era uma solitária pena laranja brilhante em seu cabelo e a maneira como seu olhar observador parecia se enterrar em meu peito até meu núcleo.
Mas não foi nem Aldir nem Wren quem falou primeiro.
Um homem alto com um físico atleticamente gracioso passou por Aldir. Ele estava vestido com uma túnica dourada bordada com penas estilizadas e chamas sobre uma túnica de seda de cor creme e calças escuras. Suas mãos estavam enfiadas nas vestes, presas na cintura por um cinto escuro. Marcas como hastes de penas brilhavam como brasas nas laterais de seu rosto, que tinha o mesmo ar de juventude eterna de Kezess, mas onde Lorde Indrath só podia parecer desapaixonado e presunçoso, o rosto de linhas nítidas desse homem transmitia um inegável senso de sabedoria e curiosidade.
Ele estava sorrindo, mas havia algo complicado na expressão simples. Talvez fosse a maneira como seus olhos brilhavam como dois sóis capturados.
— Arthur Leywin, filho de Alice e Reynolds Leywin, vínculo de Sylvie Indrath, alma reencarnada do Rei da Terra, Grey.
O homem tirou uma das mãos do cinto e passou os dedos por sua indomável cabeleira ruiva.
— Eu sou Mordain, fênix do Clã Asclepius. Bem-vindo ao meu Lar.
Rolei minha língua contra meus dentes, considerando minhas palavras.
— Obrigado pela gentil recepção. Percebo que me permitir vir aqui deve ter sido uma decisão cuidadosamente ponderada, mas tenho que perguntar… estou aqui a pedido de Aldir ou a seu pedido?
— Reconheço que foi preciso algum convencimento da parte de Aldir e Wren para eu convidá-lo.
Mordain respondeu sem hesitação.
— A verdade é que meus olhos estão afastados do seu mundo há muito tempo. Exceto…
Ele fez uma pausa, e alguma emoção que não consegui identificar passou por suas feições, mas desapareceu com a mesma rapidez.
— Fiquei bastante surpreso, então, quando viraram minha cabeça e me mostraram você. Mas não fiquei imediatamente convencido de que encontrar você cara a cara valeria o risco.
Embora a coisa cortês a fazer fosse trocar várias rodadas de gentilezas investigativas para se aproximar do verdadeiro propósito da conversa, não achava que Mordain ou eu tínhamos paciência ou interesse em tais jogos.
— Você planeja nos ajudar contra o Clã Vritra? Ou mesmo Epheotus, se for o caso?
— Direto ao ponto, e uma pergunta válida.
Mordain deu um passo para trás, apontando para a mesa.
— Por favor junte-se a nós. Há muito o que discutir.
Quando Mordain voltou ao seu lugar, encontrei os olhos de Aldir. Desviou o olhar enquanto se acomodava em sua própria cadeira.
Passando por ele, sentei-me ao lado de Wren, que mordeu o lábio enquanto me olhava especulativamente, lançou um olhar de soslaio para Mordain e depois se inclinou para mim com uma expectativa mal disfarçada.
— Então? Onde está a arma? Posso sentir a energia do aclorito dentro de você, mas…
Dando uma cutucada em Regis, forcei-o a sair do meu corpo. O fogo púrpura envolveu as bordas da minha sombra quando Regis se manifestou, sua mandíbula momentaneamente frouxa de surpresa.
— Uma manifestação consciente…
Wren murmurou, inclinando-se para frente para ver melhor.
— E uma forma tão única. Eu precisarei saber tudo, é claro, sobre o seu estado de ser, quando a arma se manifestou e informações antes da manifestação. Os traços de personalidade são de interesse primário ao avaliar uma arma consciente, mas os poderes adquiridos também são essenciais, é claro…
Wren parou, seus olhos disparando rapidamente, podia imaginá-lo catalogando mentalmente todos esses pensamentos.
— Diga olá ao seu criador, Regis.
Disse, reprimindo uma risada.
Regis piscou, inspecionando Wren. As chamas de sua crina estavam paradas.
— Papai?
As sobrancelhas de Wren se franziram e ele franziu a testa para mim.
— Essa arma acabou de…?
— Então, você é o cara que me criou, hein? Realmente precisamos conversar.
Continuou Regis, mudando de tom.
— Gostaria de fazer uma reclamação. Estar vivo é ótimo e eu não me importo nem mesmo em ser uma arma, e sou muito foda no que faço, mas eu realmente tinha que vir em uma caixa com a Barbie Lava-Burn? Você tem alguma ideia do que esse cara me fez passar?
Wren parecia completamente confuso enquanto olhava inexpressivamente entre Regis e eu.
Mordain limpou a garganta.
— Parece que vocês dois têm muito a discutir. Com a permissão de Arthur, talvez possam continuar esta conversa em outro lugar, pelo menos por enquanto?
— Você sabe o quanto eu amo essas pequenas reuniões de negócios politicamente carregadas e socialmente desajeitadas, mas estou disposto a sacrificar a presença se você preferir que eu vá conversar com esse velho maluco?
— Vá, mas mantenha os olhos abertos.
Mandei de volta.
— Eu quero saber tudo o que você puder descobrir sobre este lugar.
A cadeira de Wren flutuou para longe da mesa e percebi que ele estava sentado em uma conjuração de pedra. Já falando animadamente, se dirigiu para uma das poucas entradas inferiores da câmara, Regis trotando ao lado dele.
Depois de vê-los partir, voltei minha atenção para Mordain, mas foi a mesa entre nós que chamou minha atenção. Sua superfície foi esculpida em detalhes requintados, dando vida a uma bela paisagem urbana. Era uma cidade que eu reconhecia.
— Zhoroa.
Disse, traçando um dedo ao longo do telhado de um prédio que poderia ter sido o tribunal que eu tinha visto na última provação do djinn.
Mordain soltou um suspiro agudo e seu olhar ardente foi até a quarta pessoa na mesa, que ainda não havia sido apresentada. O homem tinha ombros largos e peito largo, mais largo em estatura que Aldir e muito mais volumoso que Mordain, mas menos alto. Seu rosto era largo, com feições suaves, mas bonitas, ele compartilhava o cabelo laranja que marcava a maioria das outras fênix, exceto um pouco mais escuro e com um tom esfumaçado que brilhava roxo quando se movia e a luz batia nele.
Seus olhos, porém, se destacavam mais; um era laranja brilhante, como olhar para a caldeira de um vulcão ativo, enquanto o outro era azul glacial, tão claro e pálido que era quase branco.
— Aquela cidade, e seu nome com ela, já se foi há muito tempo.
Disse Mordain, chamando minha atenção de volta para ele.
— Esta mesa é realmente uma relíquia de quando aquela cidade ainda existia.
Imaginei a Senhora Sae-Areum, a mulher djinn que estava sentada em uma mesa, esta mesa, tinha certeza, de Kezess em minhas visões, me perguntei qual era a conexão entre aquela cena e este lugar.
Mas tive que deixar minha curiosidade de lado, porque não vim para aprender sobre Mordain, ou mesmo sobre o djinn.
— Isso tudo é interessante, mas me sinto compelido a abordar a razão pela qual vim aqui.
Disse, focando em Aldir.
— Sei o que vi com meus próprios olhos e sei o que Kezess me disse e me ofereceu. Eu gostaria de ouvi-lo responder por seus crimes.
Mordain levantou a mão, sem dúvida se preparando para fazer alguma reclamação, mas Aldir o deteve com um pequeno aceno de cabeça.
— É justo. Arthur estava lá, afinal, quando usei a técnica do Devorador de Mundos…
Meus olhos se arregalaram ligeiramente.
— Senti sua presença, embora não tenha percebido que era você na hora.
Engoli um nó na garganta quando me lembrei daquele momento, minha visão voando de Alacrya para Elenoir, onde observei Windsom lutar contra Nico e Tessia, já transformada no receptáculo de Cecilia, embora eu não soubesse e Aldir destruiu o país que chamei de lar durante metade da minha juventude, quase matando minha irmã no processo.
Aldir continuou a falar, não interrompi enquanto ele explicava o que aconteceu depois, como começou a duvidar de seu propósito e da liderança de Kezess, foi banido do Clã Theyestes a seu pedido e lutou contra soldados que ele mesmo havia treinado.
Ele pegou uma pequena caixa de um artefato de dimensão oculta e a colocou na mesa à minha frente.
— A princípio, pensei em ir até você imediatamente e me oferecer para ajudar na retomada de Dicathen, mas não tinha certeza se você aceitaria e entendi muito bem como seu povo olharia para mim, como um monstro. Wren concordou e então esperamos nosso momento, estabelecendo residência temporária no castelo voador sobre a Clareira das Bestas, já que as forças de Dicathen ainda não haviam tentado recuperá-lo.
— Fiquei ciente deles quase imediatamente.
interveio Mordain.
— Nossa segurança depende muito de saber quando outros Asuras estão por perto. Mas ajudou que minhas fontes em Epheotus tivessem me alertado sobre a situação com Aldir, então já estava atento.
— Mordain nos deu as boas-vindas ao mundo que ele criou para seu povo e, portanto, esperei o momento apropriado para me encontrar com você, concluiu Aldir.
Ao longo de sua explicação, ele falou com a fria eficiência de um soldado entregando um importante relatório. Clerical e ausente de qualquer emoção.
— Você não está arrependido?
Perguntei, as palavras cruas na minha garganta.
Aldir apenas cutucou a caixa um pouco mais perto de mim.
— Eu trouxe para você este pequeno símbolo.
Quase derrubei a caixa da mesa para ela se espatifar no chão, mas me contive. Em vez disso, levantei deliberadamente a tampa dela. Estava cheia de terra escura e perfumada.
— Solo das encostas do Monte Geolus.
Aldir disse rigidamente.
— Espero que, talvez, possa ajudar a compensar, desfazendo uma pequena parte da destruição que causei.
Lentamente, fechei a tampa.
— Posso regenerar as vidas que você tirou lá, Aldir?
Aldir não se afastou de mim. Seus dois olhos normais e muito humanos se abriram e encontraram os meus.
— As árvores não são uma cultura ou uma civilização. Uma floresta não trará de volta os elfos à beira da extinção.
Minha voz ficou afiada enquanto falava, minha mandíbula apertando de raiva.
— Kezess quer que eu mate você, você sabe. Disse que traria justiça para nosso povo. Mesmo que eu escolha não fazer isso, ele me proibiu de me aliar a você. Em troca de compartilhar meu conhecimento sobre éter, ele vai nos ajudar a proteger Dicathen de Agrona, um acordo que sua existência contínua coloca em risco.
Um punho carnudo bateu na mesa, fazendo a caixa de terra pular. Todos nos viramos para encarar o jovem Asura de olhos laranja e azul.
— Você viria aqui e faria ameaças?
Ele gritou com uma voz profunda e grave que vibrou em meu peito.
— O General Aldir tem—
— Calma, Chul.
Disse Mordain, abaixando a mão lentamente em um gesto de calma.
— Arthur tem o direito de falar o que pensa e nós vamos ouvir. Embora eu deva admitir, estou preocupado com a ideia de Lorde Indrath enviar dragões para Dicathen. Mesmo que cumpra sua parte no acordo, o que ele pode fazer se a recompensa for realmente o conhecimento etéreo, isso significa que já tem soldados leais em posição para atacar quando você não for mais útil para ele.
Mantive meu olhar duro em Chul por mais um momento, depois me dirigi a Mordain.
— Você quer dizer que a presença das forças de Indrath colocará o seu Lar em risco de ser descoberto.
— Seria, se chegasse a isso.
Mordain concordou amigavelmente.
— Mas há coisas que estão avançando e estão fora de seu alcance. Em relação ao Legado. Concentrei-me nele.
Arrepios subindo por todo o meu corpo com a menção do Legado.
— Agrona há muito mantém uma prisioneira do meu povo. Pude sentir um pouco do que ela passou e, muito recentemente, ela foi… executada.
Seus olhos se voltaram para Chul, quase rápido demais para ver.
— O Legado absorveu toda a mana dela, matando-a.
Chul se levantou de repente, jogando sua cadeira para trás.
— E ainda assim você se recusa a se mover contra Agrona!
Ele gritou, sua voz crescendo como um canhão.
— Lamentamos a perda de sua mãe há muito tempo.
Disse Mordain, sua voz suave e cheia de um desespero controlado.
— E você, estranho?
Chul exigiu, colocando as duas mãos sobre a mesa e inclinando-se sobre ela para mim.
— Você está com medo de lutar contra os Vritra? Você vai esconder sua nação sob as asas dos dragões e enfiar a cabeça na areia?
— Perdoe-o.
Disse Mordain, dando ao jovem Asura um olhar severo.
— A Senhora Dawn foi presa quando Chul era apenas um garoto. Ele gostaria de nos ver voar para a batalha, fazendo chover fogo sobre o Taegrin Caelum em retribuição.
— Existem outros como você…
Perguntei a Chul.
— Que estão ansiosos para deixar seu esconderijo e lutar contra Agrona?
Ele cruzou os braços musculosos e virou a cabeça para o lado, desviando o olhar.
— Não. Você descobrirá que aqueles aqui preferem viver suas vidas passeando em jardins e esquecendo que já foram os caçadores mais poderosos de Epheotus.
Mordain se levantou. Achei que talvez ele fosse repreender Chul, mas em vez disso me deu um sorriso brilhante.
— E então uma oportunidade se apresenta. Arthur, você ainda não pediu, mas quer minha ajuda nesta batalha. Chul, você deseja partir e trazer sua luta para o Clã Vritra.
Eu vi imediatamente aonde ele estava indo com isso.
— É quase incrível, a maneira como vocês Asuras podem distorcer as coisas para tentar fazer o que é bom para vocês soar como a melhor coisa para todos os outros também. Parece que estão apenas armando para mim, para eu ficar de babá para um Asura que está esgotando a paciência de vocês.
Os olhos incompatíveis de Chul se arregalaram e ele apontou um dedo grosso para Mordain.
— Você sabe que não foi isso que eu quis dizer! Eu quero que nós, além disso, que chance esse menor tem contra os Vritra, seria um desperdício, ele provavelmente nem pode lutar!
Levantei uma sobrancelha, considerando-o passivamente.
— Quantas batalhas você ganhou, Asura?
— Que tal um combate de treino, então.
Sugeriu Mordain, deslizando as mãos no cinto.
— Uma oportunidade de testar a força e o valor uns dos outros.
Chul zombou.
— Tudo bem por mim.
Respondi, ansioso para liberar alguma frustração reprimida.
Mordain gesticulou para que nos afastássemos. Com um aceno de mão, a mesa foi puxada para a pedra como se estivesse afundando em areia movediça. Braseiros explodiram com chamas laranjas brilhantes e um escudo translúcido ganhou vida, separando o centro da sala das varandas.
Mordain e Aldir voaram para a sacada mais baixa e central.
— Vocês estão tentando se tornar aliados um do outro. Lutem de acordo.
Disse Mordain. Ao lado dele, Aldir tinha uma expressão pensativa.
Chul estalou o pescoço e ergueu os punhos, cada um do tamanho da minha cabeça.
— Pronto, humano?
Rolei meus ombros e reforcei o éter que revestia meu corpo, mas não conjurei minha arma ou armadura. Em vez de falar, dei um salto com o pé de trás, correndo para a frente. Apesar de seu tamanho, Chul era rápido. Sua postura mudou entre um passo e o outro, seu punho explodiu em chamas quando disparou em direção ao meu rosto.
Caindo de joelhos, deslizei sob o soco, enganchei seu braço no meu e deixei-me ser puxado para trás pela força, cravando meu joelho em suas costelas. A mana do atributo fogo explodiu dele como uma nova, me empurrando para trás enquanto ainda estava no ar, ele se lançou atrás de mim, os punhos cerrados e erguidos sobre a cabeça como um martelo.
Ainda no ar, rolei meu corpo para receber o golpe em um antebraço.
Sua força era diferente de tudo que eu já havia sentido antes.
A força do golpe de duas mãos me jogou no chão com força suficiente para que as chamas tremessem nos braseiros. Em vez de pressionar seu ataque, no entanto, recuou, dando-me tempo para ficar em pé.
— Estou quase impressionado.
Disse ele, sorrindo ferozmente.
— Meio que esperava que todos os seus ossos fossem quebrar.
— E eu esperava que você batesse mais forte.
Não mencionei o fato de que várias de minhas costelas estavam rapidamente voltando ao lugar depois de serem fraturadas pela força de seu golpe.
Chul riu, percebi que uma mudança havia ocorrido nele. Ele se sentia confortável na batalha, muito mais do que em uma mesa de reunião. Ou tentando fazer uma vida para si mesmo aqui neste lugar calmo e isolado.
Desta vez, se moveu primeiro. Em um borrão envolto em chamas, avançou direto para mim, atacando com socos e chutes ardentes que criaram bolhas em minha pele mesmo através do éter. Revidei, mas foi como socar uma parede de granito. A cada golpe, a energia ardente ao redor dele crescia, até que ele se tornou o centro de um inferno furioso, tão quente que mesmo bloquear seus ataques me deixou com queimaduras.
Ele não estava se segurando, fiquei feliz em ver.
Eu também não.
O éter infundiu meu corpo, aumentando minha velocidade e a força de meus músculos, ossos e tendões. Usando a técnica que comecei a aprender nas Relictombs, dei um passo curto e lancei meu punho para a frente em um golpe direto.
Meus dedos se conectaram solidamente com seu esterno. Com um grunhido, Chul deslizou vários metros para trás, a onda de choque do impacto explodindo sua aura ardente.
Ele respirou dolorido, uma mão pressionada contra o esterno enquanto olhava para mim, sem compreender.
Ouvi Aldir murmurar e lancei lhe um olhar. Ele estava segurando a grade da varanda com força enquanto se inclinava para frente, absorto em cada movimento.
O movimento foi uma modificação, ou expansão, da mesma técnica em que o Passo Explosivo foi construído. Ao envolver cuidadosamente uma série de micro explosões de éter, poderia não apenas me mover quase instantaneamente, mas também atacar. Era uma técnica que teria quebrado meu corpo como humano e mesmo agora senti o esforço de usá-la apenas uma vez, mas esta simples luta me mostrou que ela poderia ferir até mesmo um Asura.
Depois de alguns segundos, o sorriso voltou ao rosto largo de Chul.
— Agora, talvez isso seja divertido, afinal.
Com um grito de guerra cacofônico, se jogou em mim novamente.
Trocamos golpe após golpe, nossa luta crescendo cada vez mais rápido enquanto ambos procurávamos levar o outro ao limite. Depois de alguns minutos, notei que outras pessoas começaram a entrar furtivamente na sala, observando-nos primeiro com curiosidade, depois com crescente espanto.
Não demorou muito para que Chul começasse a suar profusamente, seu peito arfando a cada respiração, mas seu sorriso permaneceu firme, não importava o quanto lutássemos.
Depois de me acertar com um chute giratório que esperava ser uma finta, deu um passo para trás, deixando-me levantar novamente. Poderia dizer pela maneira como se portava que sua energia estava diminuindo.
De repente, sua mão se estendeu, com a palma aberta e um fogo crepitante surgiu. Usei o Passo Explosivo direto pelas chamas, esperando pegá-lo desprevenido, mas quando dei aquele passo quase instantâneo, Chul foi engolfado por um brilho de luz dourada e passei direto por onde estava. A claridade me dominou e tropecei ao parar. Dois braços enormes me envolveram, prendendo meus próprios braços ao lado do corpo e me levantando. Chul e eu estávamos envoltos em fogo de fênix.
— Desista!
Rugiu enquanto minha barreira etérea lutava para me proteger do calor escaldante.
Meus ossos reclamaram alto, ameaçando quebrar sob sua força Asurana e minha pele começou a formar bolhas e escurecer.
Um sorriso tão grande e selvagem quanto o de Chul abriu em meu rosto.
Sentindo os caminhos etéricos, me movi para eles, deixando Chul para trás quando apareci do outro lado de nosso campo de combate. Mas não dei tempo para ele se recuperar.
Usei novamente o Passo Explosivo, o éter percorrendo meu corpo em surtos curtos e controlados. Parecia que eu estava sendo esticado em oito direções diferentes, mas resisti à dor enquanto me concentrava a cada fração de segundo em manter o controle adequadamente.
Chul se curvou para o lado quando foi levantado do chão, incapaz de compreender o que o atingiu, antes que um gancho borrado acertasse sua mandíbula na direção oposta, seguido por um direto que o mandou em direção aos escudos como um míssil.
Fios finos de fumaça tingida de violeta subiram de meus braços remendados quando o jovem fênix se chocou pesadamente contra a barreira protetora que nos cercava e caiu no chão. Os escudos caíram e Mordain estava ao seu lado em um instante. Mais casualmente, Aldir desceu da sacada em minha direção, inspecionando-me seriamente.
Deixei um momento para minhas feridas cicatrizarem enquanto o éter escorria de meu núcleo para meus ossos quebrados e carne queimada.
— Vejo que seu físico não é mais uma barreira para a utilização do Caminho Ilusório, ou pelo menos sua versão da técnica.
Disse Aldir, apagando uma chama ainda persistente em minhas roupas.
— Uma batalha muito esclarecedora.
Enquanto isso, Chul estava lutando para se levantar, apesar de Mordain tentar mantê-lo deitado enquanto inspecionava seus ferimentos. A grande fênix abriu caminho e marchou até mim, punhos cerrados e bufando como um boi lunar assustado.
— Uma boa luta.
Disse, estendendo minha mão.
Ele olhou para a mão estendida, afastou-a e então me envolveu em um abraço de urso esmagador.
— Uma boa luta!
Berrou, fazendo meus ouvidos zumbirem. De repente, me soltou e deu um passo para trás, com os punhos nos quadris.
— “Uma boa luta”, ele diz.
Repetiu ele, sorrindo brilhantemente.
— Uma luta sensacional, eu diria.
Não deixando seu entusiasmo obscurecer o motivo de nossa luta, segurei seu olhar até que o sorriso começou a desaparecer.
— No entanto, observei no final que você parecia estar ficando sem energia.
Ele ficou sério rapidamente, olhando para o chão por alguns segundos antes de responder.
— Eu sou apenas meio fênix. Minha mana tende a… queimar rápido, se eu me empolgar.
Ele ergueu o queixo.
— Mas sou tão forte quanto qualquer Asura da minha idade, posso te prometer isso.
— Acredito nisso.
Disse.
— E aceito. Se você quiser vir comigo, terei prazer em levá-lo.
Chul soltou um grito ansioso e ergueu o punho no ar.
Mordain passou a mão pelo cabelo, bagunçando-o.
— Eu sei que para você, Arthur, isso será apenas uma volta para casa, por assim dizer, mas para o Clã Asclepius e todos os outros Asuras que se juntaram a nós aqui, esta será uma ocasião importante. Se não se importa, gostaria de organizar uma comemoração para marcar a partida de Chul.
Meu humor imediatamente piorou enquanto considerava tudo o que precisava da minha atenção em Vildorial e além.
— Sinto muito, Mordain. O tempo pode ter parado aqui, mas está correndo lá fora, não sei quando Agrona atacará novamente.
Os olhos de Mordain pareciam envelhecer rapidamente enquanto olhava, mas quando pisquei, ele era o mesmo de antes.
— Claro. Chul, vá se preparar para partir.
O rosto de Chul relaxou e pude ver a realidade de sua situação caindo sobre ele.
— Claro.
Disse ele, parecendo um pouco indisposto, então saiu correndo, voando até um dos muitos túneis que saíam do local.
— Ele tem o temperamento explosivo de sua mãe.
Disse Mordain, observando-o partir.
— Mas também a força dela. Você não encontrará aliado mais feroz em sua batalha contra os Vritra.
Me senti carrancudo, pegando algo que não foi dito nas palavras de Mordain.
— E o pai dele? Ele é meio fênix, certo? Quem…
Minha mente saltou para a mesa agora escondida sob a pedra.
— Ele é meio djinn.
Mordain assentiu, seu olhar se movendo para o chão como se tivesse lido minha mente.
— Alguns vieram conosco quando encontramos este lugar. Muito poucos… Poderíamos ter salvado mais, mas eles não quiseram deixar seu “trabalho de vida” como a chamavam. Muito determinados a terminar seus cofres etéricos, onde alegaram que todo o seu vasto conhecimento seria armazenado. As Relictombs, Agrona as chama.
Olhei para Mordain, sua menção às Relictombs me dando uma ideia.
O chão ondulou e a mesa djinn flutuou através dele, parando assim que a superfície de pedra endureceu novamente. Mordain moveu-se para se sentar, apoiando-se em seu cotovelo.
— Havia muito poucos desses casais e do punhado de descendentes que ocorreram, a maioria carregava tanto sangue de djinn quanto de fênix. Suas vidas eram… limitadas em duração. Pelo menos em relação à longevidade dos Asuras.
Regis escolheu aquele momento para reaparecer, caminhando à frente de Wren Kain.
— O que eu perdi?
Perguntou, de bom humor.
— Ótimo timing. Espero que tenha conseguido o que precisava. Voltaremos para Vildorial assim que Chul estiver pronto.
— Iremos levar aquele cabeça de carne com a gente? Vamos precisar de um wyvern maior.
Talvez não.
— Lorde Mordain, você mencionou as Relictombs.
Comecei, sabendo que era esperar demais que eles fossem capazes de atender ao pedido que eu estava prestes a fazer.
— Descobri um portal desativado para as Relictombs debaixo de uma antiga vila djinn em Darv. Você esteve na Clareira das Bestas por séculos… Por acaso encontrou algum outro portal antigo nesse tempo?
Suas sobrancelhas se enrugaram em uma carranca, fazendo-o parecer significativamente mais velho.
— O Lar, como muitas das masmorras que pontilham a paisagem da Clareira das Bestas, foi criado pelos djinn. Há um antigo portal aqui. Foi operável por um curto período de tempo depois que tomamos este lugar como nossa casa, mas o djinn que morava aqui eventualmente o desativou.
Meu rosto se iluminou.
— Você pode me mostrar?
Depois de enviar uma mensagem para Chul, Mordain conduziu a mim e aos outros ao longo de uma série de túneis e passando por muitas outras fênix curiosas, movendo-se em uma direção geral descendente. Por fim, chegamos a uma pequena caverna. Musgo verde e dourado crescia em um tapete grosso no chão, cristais luminescentes brotavam do teto, lançando uma luz azul pálida em um retângulo de pedra esculpida no centro. Era antigo e em ruínas, as runas na pedra não eram mais legíveis.
Avier deslizou pela caverna e pousou no topo do arco.
— Se você esperava usar isso para se transportar de volta para Darv, não acho que seria útil.
— Não venho aqui há muitos anos. É como entrar em uma memória viva.
Disse Mordain com um suspiro.
Caminhando ao lado da fênix, toquei suavemente o arco de pedra antes de me virar para encarar Aldir.
Estendi minha mão, revelando a pedra de Sylvie descansando em minha palma.
— Você disse que queria fazer as pazes, certo? É assim que você pode começar.
Tradução: Reapers Scans
Revisão: Reapers Scans
QC: Bravo
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