No momento em que saí do portal de descida para o quarto da minha família em Vildorial, os outros já haviam se espalhado. Boo estava na cozinha sugando algo de uma panela de ferro fundido, Ellie estava envolta no abraço de nossa mãe. Mica havia se jogado no sofá, sem se importar com quão imunda e manchada de sangue estava. Lyra estava de pé perto da pequena lareira do outro lado da sala de estar, os braços cruzados e um olhar distante.
Mamãe se afastou de Ellie apenas o suficiente para segurar o rosto de minha irmã em suas mãos, inspecionando-a de perto.
— Você voltou inteira…
— Mãe, você está me envergonhando na frente de uma Retentora e uma Lança.
Ellie reclamou, tentando em vão se livrar do aperto de nossa mãe.
— Estou bem, juro. Quero dizer, tipo, eu morri umas dez vezes, mas—
— O quê?
Mamãe exclamou, olhando incrédula de Ellie para mim e depois de volta para Ellie.
— Ela está claramente inteira, como prometi.
Disse, dando a minha irmã um olhar de advertência. Quando isso não acalmou imediatamente a preocupação furiosa de mamãe, dei-lhe um sorriso e a puxei para um abraço.
— Quanto tempo ficamos fora, afinal? Sempre parece muito mais longo nas Relictombs.
— Alguns dias.
Respondeu a mãe, dando a Ellie um olhar de soslaio que sugeria que ainda não havia terminado com toda a conversa de “morreu dez vezes”.
— Tem estado ocupado aqui. Lorde Bairon veio para cá várias vezes para ver se você já havia retornado. Aparentemente, algum visitante muito importante está esperando por você no palácio. E Gideon está me deixando um pouco louca, para ser honesta. Ele está absolutamente desesperado para estudar qualquer avanço que Ellie tenha feito.
Minha irmã desabou na cadeira favorita de mamãe e começou a chutar as botas no apoio para os pés, mas congelou quando as sobrancelhas de mamãe se ergueram. Com um sorriso desgostoso, ela tirou as botas sujas de seus pés e as colocou de lado com cuidado, então se recostou e colocou os pés para cima.
— Ele vai pirar quando vir tudo o que posso fazer. Aposto que vai ficar tão surpreso que suas sobrancelhas vão cair de novo.
Balancei minha cabeça com as travessuras da minha irmã, mas ainda estava focado no que mamãe havia dito antes disso.
— Quem é esse importante visitante? Você sabe algo?
Ela suspirou e encolheu os ombros.
— Não, o general não me contou muito, apenas insistiu que você fosse enviado ao palácio imediatamente após seu retorno.
Sua boca pressionada em uma linha fina, revelando sua irritação.
— Eu disse a ele que posso ser sua mãe, mas não ia dar ordens a você. Também lembrei a ele que você provavelmente estaria cansado e precisando de uma boa refeição caseira depois de perambular por quem sabe quanto tempo no—
— Mãe.
Disse, rindo levemente.
— Está tudo bem. Obrigado. Vou vê-lo imediatamente.
Me virei para meus companheiros.
— Mica, você é livre para fazer o que quiser. Ellie, você deveria se limpar e descansar um pouco. Não deixe Gideon pressioná-la, mas procure ele e Emily quando estiver pronta para conversar com eles.
— Sim senhor, capitão, seu desejo é uma ordem.
Disse ela com sarcasmo, saudando-me com dois dedos na têmpora.
— General.
Mica murmurou sonolenta.
— E eu, regente Leywin?
Lyra perguntou, deixando os braços caírem e ficando mais ereta, com uma postura desafiadora.
— Você vai me escoltar de volta para uma cela de prisão?
A tensão pairava no ar como uma carga elétrica. Teria sido a coisa mais segura a fazer, é claro. Desativar seu núcleo e colocá-la em julgamento por seus crimes teria sido completamente justificado. Ela sempre seria lembrada como a Alacryana que desfilou os cadáveres do rei e rainhas de Dicathen de cidade em cidade enquanto elogiava o Clã Vritra por sua bondade e boa vontade.
— Para você poder descansar? Não, não vou deixar você escapar tão facilmente.
Declarei.
— Estou mandando você além da Muralha para checar seu povo, ver o que eles precisam. Considere isso uma punição e uma recompensa por seus crimes contra este continente.
Para Mica, eu disse:
— Arrume transporte de ida e volta. Lyra do Alto-Sangue Dreide está livre para se mover entre os Ermos de Elenoir e Vildorial.
Meu olhar voltou para Lyra.
— Só até aí, entendeu? Isso não é liberdade.
Lyra ergueu o queixo enquanto me olhava.
— Entendido, regente. Reconheço esta punição e aceito a oportunidade de ajudar tanto o seu povo quanto o meu.
— Eu quero que você represente seu povo neste continente.
Disse, suavizando um pouco.
— Aqueles soldados nos Ermos devem saber que não foram esquecidos. Mas nem tudo está perdoado também.
Mica se sentou para assistir a essa conversa com uma carranca crescente.
— Algum problema?
Perguntei, dirigindo-me à minha companheira Lança.
— Não, só estou pensando. As coisas poderiam ter sido um pouco chatas se tivéssemos realmente matado essa magrela Alacryana quando a acorrentamos na Clareira das Bestas.
Lyra bufou e revirou os olhos.
— Este continente tem muitos pontos positivos, mas como torturadores e carcereiros, vocês são lamentavelmente deficientes.
Ela franziu os lábios pensativamente.
— Acho que isso não é uma coisa ruim, no entanto.
As duas começaram a se insultar enquanto se dirigiam para a porta da frente dos aposentos de minha mãe. Pouco antes de fechar atrás delas novamente, Lyra me olhou nos olhos. Ela fez uma pequena reverência e fechou a porta.
Ellie sorriu.
— A grande Lança Godspell mostrando seu lado mole para o inimigo, quem poderia adivinhar.
— É um castigo.
Disse, olhando furiosamente para minha irmã.
Mamãe descansou a cabeça no meu ombro.
— Com todas as suas muitas responsabilidades, você pode ter uma imagem a defender perante o público, mas somos apenas nós aqui. Não há necessidade de colocar uma fachada na frente de sua família.
Ellie teve um ataque de riso, mas a ignorei quando mamãe se afastou de mim e se dirigiu para o arco da cozinha. Ela teve que contornar Boo, que ocupava quase toda a sala.
— Quer comer alguma coisa? Ou você vai sair correndo imediatamente?
Pensei em ignorar o pedido de Bairon por pelo menos uma ou duas horas para poder passar algum tempo com ela, mas o fato dele ter ido até ali, em nossa casa, várias vezes na minha ausência me deixou desconfortável.
— Eu deveria ir.
Disse.
— Espero voltar em breve. Não me importaria com algo quente para comer, se você puder recuperar sua cozinha.
— Se sobrar comida quando eu fizer isso, você quer dizer.
Disse ela, ficando na ponta dos pés para ver por cima das costas de Boo.
— Vá em frente, então. O mundo pode desmoronar se ficar sem você por uma hora, mas sua família vai se manter unida.
Acenando, me dirigi para a porta. No caminho, chutei com cuidado o apoio para os pés debaixo dos pés da minha irmã, fazendo-a quase cair da cadeira.
— Ei!
Ela resmungou, lançando uma centelha de mana em mim que chiou contra o éter em volta da minha pele.
Ri e abri a porta.
— Art?
Olhei para trás. Ellie tinha uma expressão séria, apesar do leve rubor em seu rosto.
— Obrigada, sabe, por… me deixar ir com você, me proteger e outras coisas. F-Foi muito… legal.
— Também te amo, El.
Respondi com uma piscadela de entendimento e saí.
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— A caminhada pelo Instituto Earthborn foi tranquila. Você tem estado quieto.
Notei sobre Regis enquanto caminhava. Normalmente ele gostava de sair de mim o mais rápido que podia, mas permaneceu em forma espiritual perto do meu núcleo desde antes da última ruína.
— Eu só estava pensando.
Observou ele, seu tom mais sério do que o normal.
— Este mundo está fodido.
Zombei.
— Está mesmo, não é?
Memórias da provação do djinn passaram por trás dos meus olhos, permanecendo na cidade em chamas.
— Apenas torna momentos como este, com sua família, com Caera em Alacrya… tudo um pouco melhor.
Tudo o que pude fazer foi concordar e continuamos em silêncio.
Nos portões do instituto Earthborn, olhei para cima e para baixo na estrada para a multidão de pessoas. Minha passagem sempre chamava a atenção, mas no momento eu não tinha vontade de ser o objeto de seus olhares. Em vez disso, canalizei éter para o Passo de Deus.
Uma teia de linhas violetas interconectadas apareceu, sobrepondo a cidade diante de mim, cada linha conectando dois pontos para criar uma rede que parecia conectar todos os pontos uns aos outros.
Olhando para eles agora, houve uma mudança sutil em minha perspectiva, mais uma consciência do potencial do que qualquer mudança visível nos próprios caminhos do éter. Quando aprendi a parar de apenas “ver” os caminhos e a ouvi-los e senti-los sob a tutela de Three Steps, senti como uma mudança significativa de paradigma em meu insight. Agora, me sentia compelido a fazer mais do que simplesmente vê-los e ouvi-los. Queria agarrá-los.
Os caminhos etéricos não eram simplesmente portas, ferramentas a serem usadas para navegação simples.
Levantei minha mão, atraído por esses fluxos de luz ametista que representavam outra dimensão. Meus dedos se contraíram conforme se aproximavam dos caminhos, senti um puxão da runa divina conforme ela reagia às minhas intenções.
Externo aos caminhos etéricos, uma pressão descendente enviou um arrepio gelado pelas minhas costas.
Meu braço chicoteou em direção à fonte de energia que se aproximava, o éter se enrolou em meus dedos e na palma da mão enquanto soltava o Passo de Deus.
O éter em volta da minha mão desapareceu quando vi a visão vagamente familiar de penas verde-oliva.
À medida que as sombras se afastavam da figura voadora, pude distinguir seu corpo de ave e o único chifre brotando da cabeça da coruja.
Avier, lembrei-me.
Esta coruja tinha sido o vínculo de Cynthia Goodsky, diretora da Academia Xyrus. Mas ele desapareceu após sua prisão e eventual morte.
— Estava esperando seu retorno.
Disse a coruja, balançando a cabeça com chifres ao pousar em um poste.
— Então você pode falar.
Disse. A maioria dos animais vinculados podia se comunicar com seu domador, mas muito poucos podiam falar com qualquer outra pessoa.
— É você quem está esperando por mim?
— Você está confuso.
Disse Avier.
— Entendo que minha aparição não era esperada e você pode estar hesitante.
Levantei uma sobrancelha.
— Hesitante, desconfiado, qualquer um funciona.
A cabeça de Avier se inclinou enquanto me olhava com olhos grandes e inteligentes.
— Para ir direto ao ponto, Aldir me enviou.
Fiquei sério instantaneamente, mas a menção do nome de Aldir apenas levantou mais questões.
— Você era o vínculo de Cynthia. Por que está trabalhando com Aldir?
Perguntei, expressando o mais imediato.
A coruja eriçou suas penas verdes.
— Não estou. Mas já estou esperando há muito tempo, Arthur. Preciso que você venha comigo. Podemos conversar mais na viagem.
O movimento chamou minha atenção para a estrada, onde dois anões seguidos por um grupo de guardas corriam em nossa direção. Olhando mais de perto, reconheci os Lordes Daglun Silvershale e Carnelian Earthborn. Só pude observar, perplexo, enquanto Carnelian acenava para seus guardas enquanto os dois lordes anões desaceleravam para uma caminhada rápida pelos últimos quinze metros. Ambos respiravam pesadamente quando chegaram, curvando-se primeiro para mim e depois para a coruja.
Daglun limpou a garganta.
— Ah, Lorde Avier, você saiu tão rápido que não terminamos nossa conversa. Antes de partir, gostaria de estender o respeito a esta grande cidade e recebê-lo de volta a qualquer momento que desejar.
Para não ficar para trás, Carnelian acrescentou:
— De fato, o Instituto Earthborn
Acenou com a mão calejada para os portões atrás de nós.
Estaria muito interessado em hospedá-lo por mais tempo na próxima vez. Podemos aprender muito uns com os outros, acredito.
As sobrancelhas espessas de Avier se ergueram quando sua cabeça se virou para encará-los.
— Receio não ver isso acontecendo, mas agradeço a ambos por sua hospitalidade. Até a próxima.
Os dois lordes anões só podiam olhar, atônitos, enquanto a coruja saltava no ar e esvoaçava até meu ombro.
— Saia pelo terceiro portão leste. Acredito que isso nos levará mais rapidamente à superfície.
Considerando, percebi que realmente não tinha escolha. Se houvesse uma chance de me encontrar com Aldir, tinha que aproveitá-la. Dirigindo-me aos lordes anões, eu disse:
— Por favor, informe Virion, as outras Lanças e Alice Leywin que estarei deixando a cidade por…
Parei, levantando minhas sobrancelhas interrogativamente para a coruja em meu ombro.
— Alguns dias, pelo menos.
Respondeu.
— Claro, Lança.
Disse Carnelian rapidamente.
— E quanto à Alacryana, General?
Daglun perguntou, avançando para ficar alguns centímetros mais perto de nós do que Carnelian.
— A general Mica ouviu minhas instruções e pode assumir a responsabilidade pela prisioneira até que eu volte.
Disse, sem saber por que Daglun pensou em perguntar.
Os dois lordes anões trocaram um olhar confuso, mas eu já estava passando por eles em direção à estrada. Skarn Earthborn, primo de Mica, estava entre os guardas anões, e nós trocamos um aceno conciso.
A curiosidade borbulhou de meu companheiro.
— Me pergunto onde Aldir esteve todo esse tempo. Ele não é exatamente discreto, é? Mas Windsom fingiu ser um lojista, então talvez Aldir esteja, tipo, cuidando de um bar em algum lugar.
Avier me guiou pela estrada e saiu por um dos muitos túneis laterais. A partir daí, voou à minha frente, levando-me para a passagem mais próxima até a superfície. Chegamos ao árido deserto ao entardecer, quando o sol estava se pondo atrás das dunas.
— Como iremos viajar?
Perguntei, enquanto Avier girava acima de mim.
— Vou carregar você nas costas, se me permitir.
Disse a coruja, parando para pairar na minha frente.
— Esse será o caminho mais rápido.
Examinei cuidadosamente a coruja verde-oliva. Era um pouco maior do que uma coruja normal, mas ainda pequena o suficiente para andar confortavelmente no meu ombro.
— E como isso vai funcionar exatamente?
— Sem conforto. Equilibrando-se na ponta dos pés.
Regis riu da própria piada.
A coruja fez um som que era mais reptiliano do que aviário, então começou a crescer.
Suas asas se expandiram em um ritmo rápido, as penas verde-oliva se transformando em escamas do mesmo tom. À medida que o pescoço curto se alongava, pontas semelhantes a babados cresciam ao longo da espinha. A carne grossa e sem escamas de suas asas e babados era de uma cor dourada opaca. Seu bico se alongou e se alargou, tornando-se um rosto reptiliano com uma boca escancarada cheia de presas de aparência perigosa e dois longos chifres voltados para trás de seu crânio. As pernas grossas e poderosas terminavam em garras curvas como lâminas de foice, uma cauda pesada pendurada logo acima do piso.
— Você é um wyvern…
Disse, lembrando o que eu tinha ouvido sobre eles. Eles eram extremamente raros, supostos descendentes dos dragões que quase nunca interagiam com humanos, elfos ou anões. E ainda assim este tinha sido ligado a uma mulher humana e uma Alacryana ainda por cima.
— Eu nunca soube.
— Cynthia manteve minha verdadeira forma em segredo a meu pedido.
Disse Avier, sua voz mais profunda e rica do que em sua forma de coruja. O bater de suas asas levantou areia ao nosso redor, mas ele pousou um momento depois, as saliências com garras em suas asas se curvando para dentro para que pudesse andar sobre elas como se fossem patas dianteiras.
— Agora, temos uma longa jornada pela frente.
— Aonde estamos indo?
Perguntei, não me movendo para subir em suas costas.
Ele bufou, a força de sua respiração soprou meu cabelo para trás.
— Se você não confia em mim, não deveria ter vindo tão longe. Mas vou te contar. Aldir está na Clareira das Bestas. Posso responder a mais perguntas que você possa ter no caminho, mas há coisas que você deve descobrir no momento certo e da fonte certa.
— Não vejo como podemos recusar.
Falei, sondando Regis em busca de sua perspectiva.
— Se é uma armadilha, enviar uma besta de mana estranha que você não vê desde que tinha, tipo, quatorze anos é uma maneira estranha de armar isso.
Ele apontou.
— Na pior das hipóteses, tenho certeza de que você pode transformar a experiência de ser comido por um lagarto voador de dez metros de comprimento em algum tipo de treinamento.
Suprimi a vontade de revirar os olhos, ciente de que o olhar dourado ardente de Avier estava fixo em mim. Depois de mais um segundo, cedi e pulei nas costas dele, acomodando-me entre duas cristas separadas.
Avier não perdeu tempo, saltando direto para o ar e depois abrindo as asas para pegar a brisa quente do deserto. Girando, se afastou do sol poente e disparou como uma flecha para o oeste.
Apesar de dizer que responderia às minhas perguntas, conversamos muito pouco enquanto voávamos. Ele se movia com uma velocidade que rivalizava até com a de Sylvie, o vento passando por entre as franjas de sua espinha uivava contra meus ouvidos, abafando tudo, exceto meus próprios pensamentos. Senti-me arrastado para um devaneio melancólico, o voo nas costas de um wyvern atraindo à minha mente meu recente fracasso em trazer Sylvie de volta.
Comecei a prestar mais atenção quando voávamos sobre as montanhas para a Clareira das Bestas. À medida que as encostas rochosas davam lugar a florestas densas, ativei Realmheart, atento a qualquer coisa poderosa o suficiente para ser uma ameaça. Quanto mais voávamos, mais a paisagem mudava; passamos por desertos estéreis e sem vida, pântanos pútridos e lagos cristalinos. Estávamos indo para o coração da Clareira das Bestas, onde residiam as bestas de classe S que assustavam até Olfred Warender.
Nada nos incomodava, porém, fato que atribuí ao próprio Avier. O antigo vínculo de Cynthia me surpreendeu mais uma vez, fazendo-me questionar o quão poderoso ele podia realmente ser quando começou a liberar uma tremenda aura de proteção, afastando qualquer besta de mana predatória que chegasse muito perto.
— O que você tem feito aqui desde a morte de Cynthia?
Gritei contra o vento, finalmente expressando uma pergunta que queria fazer desde que Avier revelou sua verdadeira forma em Darv.
— Enquanto estava presa, ela me libertou do vínculo.
Respondeu, sua voz transportando-se facilmente no vento.
— Ela não queria que eu me arriscasse atacando o castelo para libertá-la. Acho que ela tinha um pressentimento de seu destino e não queria que eu ficasse preso a ela quando isso acontecesse. A pedido dela, recuei para a Clareira das Bestas.
— Sinto muito.
Disse, baixo o suficiente para não esperar que ele me ouvisse.
— Ela merecia mais do que aconteceu.
Avier soltou um grito agudo que pareceu cortar o ar como uma lâmina. Uma vez que desapareceu, ele disse:
— Ela gostava muito de você.
Esperei, mas o wyvern não disse mais nada, então voltei para um silêncio pensativo.
Não muito tempo depois, ele começou a descer em direção à floresta abaixo. Árvores de trinta metros de altura com copas tão largas e troncos tão grossos quanto torres de vigia erguiam-se ao nosso encontro. Folhas de um laranja flamejante balançavam em uma brisa constante, fazendo a cobertura parecer uma cama de carvão fumegante.
Quando mergulhamos abaixo dos galhos, porém, as sombras eram tão profundas quanto uma noite nublada, minha visão foi quase dominada pela abundância de partículas de mana. As folhas, as árvores, o próprio solo, todos os aspectos do crescimento natural estavam vivos com mana.
E espreitando à distância, cada uma carregando uma forte assinatura de mana, estavam bestas de mana de tamanho e força impressionantes.
No entanto, mesmo essas bestas de mana da classe S foram mantidas sob controle pela aura protetora de Avier.
De repente, mergulhamos de novo e pensei que iríamos cair direto no chão. Uma sombra negra profunda na penumbra sob a cobertura tornou-se clara apenas um momento antes de entrarmos, Avier abriu suas asas, pegando uma corrente ascendente suave e pairando. Lentamente, descemos por uma fenda natural larga o suficiente para dois wyverns voarem lado a lado.
Estranhamente, não pude sentir mana dentro da fenda, mas havia uma pressão desconfortável contra meus tímpanos que me deixou cauteloso.
Conforme nos aproximamos do fundo, as chamas ganharam vida em arandelas colocadas ao redor da fenda, iluminando o chão abaixo de nós, presumivelmente para que Avier não caísse acidentalmente no chão.
Formas brancas como giz cobriam o chão e, quando Avier pousou, suas garras trituraram os detritos. Os ossos de centenas de bestas de mana cobriam o chão.
Ele não deu atenção a isso, no entanto, caminhando descuidadamente sobre o cemitério e em uma caverna que se abria na ravina. A caverna parecia escura e vazia, exceto por mais alguns ossos espalhados, até que mais arandelas se acenderam no lado oposto, revelando um grande conjunto de portas esculpidas em madeira preta fosca.
— Uma masmorra.
Disse, deslizando das costas de Avier e me aproximando da porta. Quase invisível na penumbra, uma cena de algum tipo havia sido gravada na madeira, mas estava muito escura e as gravuras muito desbotadas para fazer sentido. Olhei de volta para os olhos dourados de Avier, que brilhavam sutilmente no escuro.
— Aldir está aqui?
— Sim.
Confirmou.
— Embora possamos ter que lutar para chegar até ele.
Estendendo uma asa, enviou uma série complicada de pulsos de mana para a madeira: um código ou combinação de algum tipo.
As portas se abriram silenciosamente e o ar fétido da masmorra se derramou sobre nós, carregado de morte e podridão. Regis se manifestou ao meu lado, as chamas de sua crina rígidas, como um lobo com os pelos eriçados.
Lado a lado, Regis e eu entramos na masmorra. Avier, com as asas dobradas sobre si mesmas enquanto caminhava na junta articulada, nos seguiu. Quando as portas se fecharam atrás de nós, mais tochas foram acesas por magia, revelando uma ampla câmara esculpida na rocha escura. Ossos, e até alguns cadáveres mais recentes, cobriam as paredes. O chão estava coberto de manchas escuras que estalavam sob nossos pés. No instante em que as tochas acenderam, uma sombra voou por um túnel alto e largo que se abriu à nossa frente.
— O que é este lugar?
— Nenhum aventureiro chegou a esta masmorra para nomeá-la. Nós simplesmente a chamamos de Borda Oca.
Respondeu Avier.
— Seus habitantes são chamados de flagelos de ébano. Esperava estar de volta antes do reinício da masmorra, mas você demorou demais para voltar.
Havia uma ponta de cautela na voz de Avier que fez os cabelos da minha nuca se arrepiarem.
Algo se moveu no túnel escuro à nossa frente.
Houve um som de pedra sendo triturada e uma besta de mana negra do tamanho de um urso saiu da escuridão. Ele corria em quatro membros musculosos como um gorila, muito mais rápido do que seu tamanho sugeria. Seu corpo era preto brilhante como obsidiana, com uma cabeça sem olhos em forma de pá que se projetava na frente dele como uma arma. Três chifres curvos se estendiam para a frente, dois dos lados da cabeça chata e um da parte inferior, onde normalmente estaria um queixo ou mandíbula inferior. Entre os três chifres, uma boca escancarada cheia de dentes amarelos do tamanho de adagas brilhava como um sorriso sombrio.
Avier passou por mim, planando com as asas estendidas. Uma garra bateu no pescoço do flagelo de ébano, que era protegido por saliências ósseas que se estendiam do topo de seu crânio até metade do comprimento de seu corpo. A besta de mana, apesar de seu tamanho, foi esmagada no chão sob o peso de Avier, mas sua garra apenas arranhou o exterior duro como pedra do crânio.
Com as asas ainda estendidas para o equilíbrio, Avier usou sua garra livre para rasgar o lado e a barriga do flagelo enquanto lutava contra, torcendo o suficiente para colocar uma enorme mão de três garras em volta do tornozelo de Avier. Cada garra tinha dez centímetros de largura e o dobro do comprimento, após um momento de luta entre a força do flagelo e a mana de Avier, o flagelo perfurou suas escamas, enquanto as garras de Avier lutavam para feri-lo.
O éter assumiu a forma de uma espada e eu enterrei meu calcanhar no chão. O mundo ficou borrado quando Passo Explosivo me impulsionou para a besta de mana, a lâmina translúcida perfurando um buraco em seu crânio grosso com um som horrível.
Mesmo com um buraco em seu crânio, a besta de mana se recusou a ceder, chicoteando um braço tão grosso quanto meu torso como um aríete.
Baixei meu cotovelo para bloquear seu ataque, mas a força do impacto me pegou desprevenido.
Regis estava em cima dele em um instante. Com um dos chifres travado entre suas mandíbulas, ele girou sua cabeça. O flagelo de ébano rugiu em desafio e raiva, o pescoço de Avier estalou para baixo como uma cobra atacando. Suas mandíbulas se abriram e um fluxo de chamas esmeralda derramou na boca aberta do flagelo.
A besta de mana tremeu, sua carne rachando e fissurando em vários lugares, permitindo que línguas de chamas verdes se estendessem.
O fogo de Avier continuou por vários segundos antes que ele cedesse. Os restos fumegantes não se moveram mais, tanto Avier quanto Regis recuaram.
Me limpei e me aproximei para olhar o cadáver.
A carne endurecida era formada por rocha densa, mais parecida com um exoesqueleto do que com couro.
A língua longa e fina de Avier serpenteou para fora e lambeu a ferida sangrenta em sua perna. As chamas subiram do local e as escamas sararam.
— Vamos continuar.
Na próxima seção da masmorra, encontramos uma câmara que se dividia em três direções diferentes. Cadáveres de flagelos de ébano estavam espalhados pelo chão e empilhados contra as paredes. Alguns estavam quebrados ao meio, as cascas de pedra de outras marcadas com profundas marcas de garras. Um tinha um chifre de flagelo perfurado na garganta e no crânio, onde deve ter destruído o núcleo da besta.
— Essas bestas de mana costumam lutar entre si?
Perguntei a Avier, mas sua cabeça estava girando e ele não respondeu imediatamente.
Um rugido oco rasgou a masmorra do túnel à nossa esquerda, nos movemos para uma posição defensiva, Regis bem ao meu lado, suas chamas subindo, enquanto Avier circulava para o outro lado, fumaça fétida subindo de suas mandíbulas.
Conjurando uma nova espada e firmando meu pé, esperei enquanto passos pesados e fortes ressoavam no corredor.
Exceto que não foi a silhueta atarracada e bestial de um flagelo de ébano que apareceu.
Era uma estátua enorme de um homem que entrou na luz baixa, flanqueado por uma besta de mana parecida com um urso, com o dobro do tamanho de Boo, com um rico pelo cor de mogno e marcas pretas como cicatrizes em seu rosto.
Avier relaxou.
— Evascir. Bom te ver.
A figura escultural, percebi, na verdade estava envolta em uma camada de pedra, como um golem pilotável. Quando reconheci isso, a manifestação de pedra desmoronou e um homem musculoso saiu. Sua cabeça era careca, sua pele da cor de calcário cinza. Dentro de sua armadura de terra, ele tinha três metros de altura, mas mesmo sem ela ainda tinha mais de dois. O peso de sua aura teria sido suficiente para esmagar a maioria das pessoas no chão.
Este homem era um Asura.
— Boa hora, Avier
O homem disse, seu olhar pousando no ferimento do wyvern.
— Como ainda não havia voltado, decidi limpar a masmorra. Acho que perdi uma.
— Independentemente disso, você nos economizou muito tempo necessário.
Avier dispensou.
— Obrigado por ter vindo.
O Asura deu um aceno de cabeça para o wyvern antes de me olhar especulativamente.
— Este é o que você foi enviado para buscar? Espero que ele seja tão poderoso quanto bonito.
— Há uma razão para eu chamá-lo de princesa.
Regis entrou na conversa com um sorriso lupino.
— Seu julgamento inicial é um teste formal ou uma observação ignorante?
Perguntei, combinando com seu olhar fixo.
O Asura, um titã, pensei, soltou uma risada estrondosa, pura e alegre.
— Não, não é um teste e talvez um pouco tendencioso em vez de ignorante, menor.
Ele gesticulou para seu enorme companheiro urso, ele se afastou, abrindo caminho para que Avier, Regis e eu passássemos.
— Venham. Deixemos a fedorenta miséria dessas masmorras e voltemos para casa.
Tradução: Reapers Scans
Revisão: Reapers Scans
QC: Bravo
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