POV ARTHUR LEYWIN
Encostado à base de uma macieira e mastigando a última fruta madura, olhei para os campos ao sul da cidade de Blackbend.
Com esses terrenos planos e baixos, colinas brilhariam que nem ouro devido aos campos intermináveis de trigo, mas grandes faixas de terras agrícolas foram esmagadas pelas tendas armadas na fronteira sul da cidade e as suas dez mil ou mais tropas.
Soldados vestidos de cinza e preto se moviam com passos curtos e rígidos, vi muitos conversando de lado e dando olhares furtivos. Mais de uma vez, oficiais importantes pararam para gritar com grupos de fofoqueiros enquanto mensageiros corriam freneticamente.
Depois de um breve passeio nas Relictombs para garantir que Regis e eu estivéssemos em pleno poder, seguimos a ampla faixa de areia agitada que marcava a passagem do exército Alacryano pelo deserto e o sopé que separava Sapin e Darv. O tempus warp que recuperei das Assombrações teria tornado simples diminuir distância, porém eu precisava garantir que a força Alacryana não se separasse ou se desviasse a um destino diferente.
Apesar da liderança de vários dias, os soldados que haviam se retirado de Vildorial haviam chegado há pouco. Do meu ponto de vista distante, o éter ampliando meus sentidos, rastreei as idas e vindas por um tempo, contente de apenas observá-los submersos à própria incerteza.
Algumas horas se passaram desde que nós dois chegamos na árvore. Infelizmente, não havia sinal da Retentora, Lyra Dreide, ou das duas Foices. Teriam feito um adereço conveniente ao espetáculo.
Era bom estar no campo de guerra de novo vendo inimigos à frente. Meu retorno a Dicathen se resumiu a correr escondido por túneis subterrâneos, temendo o pior àqueles sob minha proteção. Estava farto de fugir. Era uma guerra. Já passou da hora de lutar.
Só pude fazer isso graças às Lanças. Os danos aos seus núcleos, que os limitavam, foram curados. Varay, Bairon e Mica estavam, no momento, de volta a Vildorial, meditando com o resto da mana dos chifres Vritra para ficarem mais fortes pela primeira vez em muito tempo.
Fiquei confiante de que, quando enfrentassem as Foices, os resultados seriam muito diferentes.
O barulho de um berrante surgiu e os soldados começaram a se reunir.
— Preparado?
Regis se libertou do meu corpo e se condensou na forma de um lobo das sombras adulto.
— Ah, vai ser divertido.
Juntos, fomos sem demorar ao topo da colina onde a árvore solitária crescia, descendo a um ligeiro vale que se abria para os campos pisoteados em direção ao acampamento. Uma vez à vista dos guardas olhando para o sul, desaceleramos a uma marcha constante. Não demorou muito para que nos vissem.
Depois, mais dois daquele som em seguida um do outro. Eram mais selvagens e pensei com algum divertimento, de certa forma amedrontados. Vários homens saltaram em grandes e rápidas bestas de mana reptilianas chamadas de skitters e vieram a mim.
Ainda a trinta metros de distância, um deles gritou e os lagartos amarelos feito areia derraparam até parar, se segurando.
O líder, um homem de vinte e poucos anos com uma barba loira fina e um olhar escuro e firme, me observou e ficou pálido. Todos os outros se viraram em sua direção, pude dizer que me reconheceram pelos rumores, mesmo que nunca tivessem me visto cara a cara. Os skitters, sentindo o desconforto dos cavaleiros ou talvez ficando nervosos com a presença de Regis, tentaram recuar.
— S-se identifique
Falou, a voz falhando um pouco. Ele pigarreou e ajustou a postura. Sem esperar a resposta, questionou:
— Você é o traidor de Alacrya conhecido como Grey? Caso seja, saiba que a regente Lyra do Alto Sangue Dreide deu ordens para que você seja morto assim que for visto.
— O que está esperando, então?
Olhei para seus olhos.
Ele ergueu o queixo, uma mão na rédea do skitter, a outra no cabo da espada.
— O que quer aqui?
— Essa é fácil.
Apontei para as barracas montadas.
— Aquilo, fora. Você, fora. Agora.
A sua mandíbula se apertou mais. Para seu crédito, não fugiu de imediato, embora pudesse dizer que estava pensando nisso.
— Você é apenas um. Há milhares de soldados atrás de mim. Certamente não…
Pus a armadura. A visão dele se desdobrando sobre a minha pele o fez puxar as rédeas com força, e seu skitter se chacoalhou e quase o jogou.
— Se já me viram antes, sabem que sempre ofereço a oportunidade de abaixarem as armas e saírem vivos. O clã Vritra é meu inimigo, não o povo de Alacrya. Dissolva o acampamento e se prepare para deixar Sapin sem conversa.
Ele manteve contato visual por um longo momento enquanto seu skitter se esticava de um lado para o outro, agora tentando se afastar. Enfim, ele acatou a ordem e a besta de mana girou em meia volta e disparou. O resto foi rápido para seguir.
— Cansado de soar como um disco quebrado?
Regis perguntou, deixando a língua pairar de um lado da boca.
— Fica mais difícil oferecer clemência cada vez que recusam.
Admiti, cruzando os braços e os observando se afastarem.
— Mas é a coisa certa a fazer, Regis. Se eu pudesse estalar os dedos e enviar todos de volta para Alacrya sem violência, faria isso. Mas…
Minha voz ficou firme quando senti a vontade endurecer
— Qualquer um que se torne um peão dos Vritra, nascido em Alacrya ou Dicathen, escolheu seu destino.
Os batedores chegaram ao acampamento e uma confusão de atividades caóticas se seguiu. Gritos e discussões ecoaram pelas colinas. Observei como os oficiais de alto escalão se chocaram com a crescente animosidade e a organização do local, que se dissolveu por falta de liderança. Pensei que brigas brotassem, mas então uma voz estrondosa saiu por cima de todos.
Uma mulher gigantesca com uma pesada armadura preta jogou um homem no chão e apontou para mim com uma espada grande em chamas e começaram a se alinhar. Enquanto alguns grupos fugiram para o norte, a maioria correu para fileiras bem ordenadas de batalha da mulher. Escudos apareceram, armas e armaduras empoderadas ganharam vida com mana e um arco-íris de feitiços foi ativado.
Olhando pros milhares de magos, não pude deixar de ficar desapontado.
— De verdade, seria muito mais fácil se tivessem bom senso o suficiente para sair ilesos. — murmurei.
— Bem mais sem graça, no entanto.
Saltou Regis, rindo sombriamente.
— Talvez seria bom se me olhassem em toda a minha glória?
Acenei com a cabeça em aprovação.
— Vai lá.
Com um largo sorriso, ele ativou a runa divina da Destruição. Seu corpo foi banhado em chamas roxas, a forma física se expandindo e se transformando a um nível enorme e bestial, com um fogo irregular e longos espinhos negros. Sua cabeça se alargou e achatou quando presas de obsidiana cresceram e asas brotaram em suas costas, antes que eu pulasse nele.
Ele se levantou do chão e deu um rugido que sacudiu Blackbend inteira, soprando chamas de pura destruição voando acima do inimigo.
Um tremor aterrorizado abalou os impressionados Alacryanos. Um Defensor parou de conjurar e se virou para fugir, entretanto a mulher apareceu diante dele em um clarão de fogo branco, a lâmina já balançando. Ele nem teve a chance de fazer outro escudo antes de ser separado em duas metades flamejantes.
— Qualquer outro que tenha a vergonha de sair também condena seu sangue! Pelos Vritra, vou garantir que suas mães e filhas sofram por sua covardia!
Com a ameaça dela, feitiços começaram a voar, enchendo o céu de azul, vermelho, preto e verde. Raios cortantes e mísseis explodindo irromperam ao nosso redor como fogos de artifício.
A respiração infundida de Destruição de Regis queimou vários dos feitiços mais fortes. Outros, rebati com éter. Muitos refletiram ou não fizeram nada à armadura ou a espessa camada de éter que revestia Regis. Os pequenos danos que sofremos curaram-se quase que instantaneamente.
— Baratas.
Resmungou com a voz bem mais profunda.
— Eles serão menos do que cinzas quando eu acabar com eles.
— Espere.
Falei, contando com uma última jogada para quebrar a formação sem um massacre em grande escala.
Não tive de procurar os caminhos etéreos entre mim e a líder Alacryana. Imbuindo a runa divina com éter, fui guiado e desapareci das costas do lobo e apareci na frente dela, dentro do alcance efetivo de sua espada enorme.
Ela grunhiu de surpresa e ergueu a lâmina em defesa, tanto as chamas quanto o relâmpago roxo envolvendo meus membros refletindo em seus olhos escuros.
Mais rápido do que ela poderia reagir, peguei a lâmina. O Realmheart ganhou vida, tornando visível a mana em sua arma. Cortei o fluxo, retirei a mana e empurrei o éter. Embora de boa forma, o metal não aguentou a pressão e explodiu, nos acertando com estilhaços. Por mais que fosse inofensivo para mim, um pedaço cortou a bochecha dela, ela xingou ao tropeçar para trás.
Passo de Deus me levou para atrás dela. O meu punho entrou na sua espinha, revelando várias tatuagens rúnicas. Os ossos se quebraram e seu corpo sem vida voou para um grupo próximo, os derrubando no chão.
Aquilo foi tão rápido que a maioria dos soldados não notou e ainda lançavam feitiços em Regis. Apenas os mais próximos testemunharam e boa parte só podia olhar com horror. Os inteligentes, contudo, quebraram as fileiras e fugiram. Logo quando alguns correram, dezenas mais seguiram.
— Bem, isso foi dramático.
Transmitiu Regis de cima.
— O pessoal do meio está caindo sobre si mesmo. Eles correm que nem ratos.
— Coloque fogo na frente da vanguarda. — lembrei.
— Evite fugitivos onde puder, mas não hesite em queimar qualquer um que continue lutando.
O fogo irregular saltou e se contorceu de uma maneira que expressava alegria.
— Deixa comigo, chefia.
Entrando em um mergulho, ele se abaixou e teceu entre o bombardeio de feitiços antes ficar no mesmo nível que os escudos mais avançados, que formavam uma espécie de parede de chamas vacilantes, água rodopiante, raios crepitantes e painéis transparentes de mana. A Destruição ardia de sua boca monstruosa que nem o fogo de dragão, derramando sobre o lugar e devorando a mana dos escudos.
Fiquei no centro do caos, uma pedra imóvel pelo mar em retirada. Ninguém me atacou e a maioria nem olhou para mim, como se me evitar de alguma forma me tornasse menos real. Eles tropeçaram um sobre o outro, se empurrando conforme corriam ao meu redor, longe das chamas violetas e em direção à cidade.
O acampamento em si se tornou uma bagunça, todavia a onda de corpos foi pisada sob botas pesadas. Tendas colapsaram, mesas foram viradas e cinzas das fogueiras foram espalhadas.
Fui em direção aos portões da cidade, caminhando devagar em meio à desordem e insanidade. As linhas da frente voltaram e alcançaram as fileiras traseiras e onde aqueles que tentaram fugir foram bloqueados pelos persistentes na luta, brigas irromperam. Ninguém chegou a menos de quinze metros de mim, mesmo que me evitar significasse cair em altas e fortes chamas ou derrubar os aliados.
A vibração pesada e retumbante de grandes sinos de repente soou por toda a cidade, o fundo da nossa batalha. Muitos dos que fugiam corriam em direção aos portões abertos da cidade, embora, à medida que o exército perdia mais soldados, muitos fossem forçados a fugir ao leste ou oeste pela muralha ou tentavam a sorte de se espremer e passar pelos portões ou azar de ficar preso.
— Algo está dentro da cidade. Feitiços por todo o lado, e as pessoas estão contra-atacando.
Através das estreitas aberturas no segundo nível da guarita, pude ver homens lutando. Então, um instante depois, um elfo de cabelos musgosos arremessou um guarda Alacryano da portaria às pedras abaixo. No momento seguinte, o ranger e o barulho de correntes grossas roncaram pelo campo de batalha, e os portões começaram a se fechar bem em frente ao exército em retirada.
Eu apareci diante dos portões, cercado por Alacryanos, envolto em um relâmpago etérico e conjurei uma lâmina violeta reluzente. Alguns poucos já haviam entrado na cidade antes que os guerreiros de Dicathen conseguissem fechar os portões, mas muitos ainda estavam se aproximando.
Uma mulher me barrando gritou com receio e balançou sem controle a maça congelada, mas a lâmina de éter dividiu sua arma sem esforço. Peguei o impulso dela no meu ombro e a mandei girando sobre mim. Por um momento, gavinhas de raios violetas brilhantes nos conectaram.
De repente, os Alacryanos mais próximos de mim estavam tropeçando e desmoronando no chão. Dei mais um passo e mais caíram com os corpos tremendo. Outro, e minha intenção atingiu seu pico, esmagando todos a menos de trinta metros de mim.
Gritos de pavor e os sons de homens adultos infelizes e chorando demoraram por um longo e atemporal momento, então o campo de batalha ficou totalmente em silêncio, os sufocando enquanto o peso da aura roubava o ar de seus pulmões.
Aqueles que ainda não estavam tão perto pararam e logo deixaram o empurra-empurra. Atrás deles, Regis soltou um rugido monstruoso que sacudiu o chão e uma parede de fogo ametista engolfou uma dúzia de grupos que ainda lutavam.
— Me escutem!
Anunciei, aliviando a pressão exalada para reorientar a atenção deles.
— Esta cidade não está mais sob o domínio Alacryano e em breve o resto de Dicathen será libertado. Podem ir para casa, desde que não machuquem nenhum Dicatheano. Todos que se recusem a sair ou que prejudiquem qualquer um do continente serão executados de imediato.
Ao longe, não havia mais Destruição ou fogo mágico saindo dos feiticeiros. A força de Alacrya em Blackbend havia sido derrotada.
— A-aonde iremos, então?
Gritou um conjurador magro.
Uma voz alta me respondeu do topo da parede atrás de mim.
— Posso saber o que está ocorrendo?
Me virei para ver um homem magro com um rosto meio agudo. Seu cabelo preto estava salpicado de cinza agora e mais curto do que a última vez que o vi, entretanto os óculos sem aro empoleirados sobre seu nariz eram os mesmos, assim como os olhos inteligentes e observadores. Ele envelheceu, desenvolvendo rugas de preocupação na lateral do rosto e na testa.
Quando me viu olhando, assentiu com firmeza.
— General Arthur, os alto-sangues que administram a cidade estão bastante chateados nos últimos dias, com medo de que você apareça e esperando que você não chegue aqui.
— Kaspian!
Disse, pego de surpresa por sua aparência repentina. Kaspian Bladeheart já gerenciou o Salão da Guilda dos Aventureiros em Xyrus e era tio de uma velha amiga, Claire Bladeheart.
— Envelheceu.
Ele deu uma risada leve e balançou a cabeça.
— E você dificilmente se parece com o garoto que testei para ser um aventureiro. Mas suponho que agora não seja a hora de conversar, não é?
Ele gesticulou atrás dele.
— A Guilda dos Aventureiros conseguiu retomar a cidade, general Arthur.
Seu olhar se voltou para o exército, vagueando pelas centenas que caíram ao meu redor, se fixando nos milhares entre a cidade e as chamas distantes da Destruição.
— Agora, sugiro bastante que faça sua besta acabar com o resto antes que o que quer que você tenha feito com eles passe.
O mundo parecia prender a respiração.
— Não, Kaspian. Não é a minha intenção.
Um músculo em sua mandíbula se contraiu e sua voz se contraiu quando ele disse.
— Eu não sei onde você esteve, ou o que aconteceu com você, Arthur, mas talvez não tenha visto a brutalidade e a vingança cruel deles. Não sinto vergonha em dizer que cada um deve ser decapitado.
Eu o ignorei observando Regis retornar, seu enorme tamanho lançando uma sombra escura sobre os Alacryanos. Ele levou um momento até chegar na portaria, encarando Kaspian e os outros aventureiros antes de pousar ao meu lado. As chamas irregulares de sua juba tremeram e ele se encolheu, perdendo os traços bestiais e se tornando um lobo das sombras de novo. Seus dentes se afastaram das presas mortais e ele rosnou ameaçadoramente antes de se tornar incorpóreo e entrar no meu corpo.
— Quantos escolheram a morte por Agrona?
— Uns dois mil, pelo menos. Ainda tinha uma pequena massa se segurando, porém sem feitiços. Mas se eu ficasse naquela forma por mais tempo, voltaria a ser um filhote mais uma vez, e acho que nenhum de nós quer isso agora.
— Bem, se o plano funcionar, eles irão por conta própria.
Com ele não mais rastejando pelo campo de batalha feito um morcego mutante gigante, alguns soldados estavam se afastando da multidão e seguindo os outros que já fugiram. Deixei eles irem. Sabia que eram um risco às dezenas de pequenas comunidades agrícolas ao norte, onde soldados e magos treinados poderiam causar estragos, contudo precisava lidar com a ameaça maior primeiro.
Liberando a intenção, os examinei. Era lamentável que os notórios já tivessem fugido. Com a ajuda de Bairon e Virion, havia pensado em um plano geral de como lidar com soldados inimigos inteligentes o suficiente para largar as armas. Não foi sem problemas, no entanto.
— Você.
Disse depois de um momento, apontando para um homem se levantando do chão com cautela e tirando a sujeira do uniforme.
Ele congelou e olhou para mim. Seus cabelos e barba foram aparados com cuidado, usava o que parecia ser uma lâmina muito cara ao lado, apesar de não se portar que nem um guerreiro.
— Você é um Sentinela. — observei.
— E no mínimo um sangue nomeado, pelo que parece.
Suas sobrancelhas se juntaram e ele abriu a boca e mordeu o interior do lábio, hesitando, antes de falar:
— Eu sou Balder do alto-sangue Vassere, senhor.
— Vassere? Oh, perfeito.
Dei a ele um sorriso plácido que só fez sua carranca se aprofundar.
— Balder, você agora é responsável pelas vidas de todos os Alacryanos em Blackbend, mesmo aqueles correndo para o norte como se suas vidas dependessem disso.
A cor sumiu de seu rosto e ele olhou em volta em pânico.
— Mas eu… hum…
Limpou a garganta.
— Eu não sou o comandante desta força…
— Esses homens e mulheres não são mais uma força.
Falei com firmeza, deixando meu olhar penetrar nele.
— São cidadãos perdidos de um continente distante e, se esperarem chegar em casa, precisarão de alguém para mantê-los organizados e longe de problemas. Vai ser você, Balder. Presumindo que queira voltar para casa. Você quer, não é? Domínio Central.
Ele se assustou com a menção ao seu domínio natal e ficou branco que nem um fantasma
— … Drekker e todo o resto.
— Mas… como que…
— Apenas escute.
Suavizei um pouco o tom.
Eu podia sentir o olhar preocupado de Kaspian nas minhas costas enquanto explicava em voz alta para Balder o que esperava desses Alacryanos se quisessem ver suas casas outra vez. Com os portões de teleporte de longo alcance em Darv desativados, não havia maneira fácil de realocar tantas pessoas. Até que tivesse certeza de que o continente estava de volta nas mãos de Dicathen, precisavam ser levados a algum lugar onde não fossem um perigo.
Foi ideia de Virion usar as ruínas de Elenoir. Mesmo com dezenas de milhares reunidos lá, não teriam recursos suficientes para montar qualquer tipo de contra-ataque. Apenas permanecer vivo caçando nas bordas das Clareiras das Bestas levaria todo o tempo do mundo para uma população tão grande.
Levá-los às cidades do leste de Sapin também era consideravelmente simples e a Muralha pelo visto ainda estava sob controle Dicatheano, então nem precisaria retomá-la para permitir que o plano avançasse.
— Comece a organizar seu povo.
Falei após Balder assegurar que entendeu.
— Quero saber quantas vidas exatamente estão com você. E, se você conseguir alguns skitters, mande cavaleiros para o norte. Encontre o maior número possível de fugitivos.
Deixei uma ponta de ameaça vir à tona quando acrescentei:
— Vou responsabilizá-lo por todos os crimes que cometerem.
Ele engoliu em seco.
— Eu e-entendo.
Deixando os Alacryanos para trás, usei o Passo de Deus para chegar no topo da muralha, aparecendo ao lado de Kaspian. Ele se encolheu e sua mão subiu ao punhal da rapieira, a mesma lâmina com a qual me testou no passado. Um punhado de aventureiros o cercaram e metade brandiu armas enquanto a outra metade saltava de surpresa.
Eu ignorei todos os outros.
— O que aconteceu na cidade, Kaspian? Esperava ter que erradicar a liderança Alacryana entrincheirada depois de desmantelar aquele exército.
Ele endireitou sua túnica cinza clara, que tinha manchas de sangue nas mangas e no peito e acenou para que baixassem as armas.
— A verdade é que estamos esperando por uma oportunidade de revidar desde que as Lanças invadiram o Salão da Guilda de Blackbend. Com o campo de guerra se organizando para enfrentá-lo, a suposta liderança da cidade entrou em pânico. Assim que sacamos nossas armas, fugiram, abandonando a cidade.
Virando, descansei as mãos em cima do apoio e observei a multidão confusa e esmagadora de Alacryanos. Balder estava gritando tentando organizar os soldados importantes e outros de alto-sangues, todavia o exército estava em choque e em grande parte sem resposta.
Tudo estava nas costas da capacidade deste Sentinela de criar calma a partir do caos. Não tinha tempo para ficar aqui, porém também não podia deixar um exército desorganizado e assustado nos portões.
Para complicar ainda mais as coisas, não confiava tanto na Guilda dos Aventureiros. Não era bem um exército, no entanto muitos dos guerreiros mais hábeis e magos mais poderosos de Dicathen eram aventureiros. Vários ramos da guilda optaram por não participar da guerra e devido a isso entraram em negociações para trabalhar ao lado dos Alacryanos quando ganharam.
Kaspian Bladeheart parecia um homem genuíno e honrado. Claire com certeza era, embora, como Jasmine Flamesworth mostrou, às vezes a fruta vai muito longe da árvore. Sem um conselho para determinar a direção de Dicathen ou Sapin como um todo, apresentou uma oportunidade única para a guilda tomar o poder e a autoridade.
O que eu precisava de verdade era de alguém em Blackbend em quem pudesse confiar, desde que fosse um membro respeitado da guilda.
A resposta ficou óbvia no momento em que tive a ideia.
— Kaspian, na guilda daqui, você tem uma cadeira na gerência?
Ele estava me observando com cuidado através dos óculos meio caídos e os ajeitou com uma carranca antes de responder.
— Não. O gerente do salão da guilda aqui é um amigo próximo meu, mas muitos dos membros do comitê de classificação também estão ausentes agora. Xyrus se tornou… problemática para navegar, ainda mais após o ataque das Lanças à academia.
— Xyrus é a próxima da lista.
Disse, me virando para encontrar seu olhar atento. Fiquei lá, encarando e o impressionando com a minha realidade com nada além de um olhar.
— Mas antes que eu lide com as forças lá, preciso saber de algo. Posso confiar em você, Kaspian?
Suas sobrancelhas finas se ergueram de surpresa.
— É algum movimento para tomar o poder sobre o continente?
Balancei a cabeça com firmeza, encorajado pelo nosso pensamento paralelo.
— Apenas recuperarei dos alacryanos. Quanto ao que acontece depois, prometo que não tenho desejo de ser rei de novo.
— De novo?
Perguntou, confuso.
— Esquece.
Falei com uma risada.
— Só quis dizer que quero salvar nosso continente, não governá-lo. Virion e Tessia Eralith estão vivos, assim como Curtis e Kathyln Glayder.
E Não pude evitar o sorriso irônico.
— … Há cerca de cem lordes anões que acham que devem governar Darv.
Ele lançou um olhar pensativo para seus homens, passou as línguas nos dentes e disse:
— Eu só ouvi coisas boas suas, Arthur. Minha sobrinha falou muito bem de você. Acredito que posso confiar em você, então, sim, pode confiar em mim.
— Que bom.
Falei, estendendo a mão. Ele aceitou com firmeza.
— Porque estou entregando esta cidade aos Chifres Gêmeos e preciso que você facilite uma pequena transferência de poder.
Tradução: Reapers Scans
Revisão: Reapers Scans
QC: Bravo
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