POV ARTHUR LEYWIN
Viver com esse medo constante de ser incapaz de proteger meus entes queridos… quase esqueci como era. Em Alacrya, minhas batalhas foram totalmente longes e separadas de meus amigos e familiares. Era apenas a minha própria vida em jogo, ou na pior das hipóteses, a vida de estranhos e pessoas que eu tinha, durante a maior parte da minha estadia não intencional lá, visto como inimigos.
Agora, enquanto usava o Passo de Deus para sair do lado de Varay, não conseguia parar de considerar o potencial número de mortes de um ataque em grande escala a Vildorial. As pessoas aqui estavam cansadas e com medo, as Lanças conseguiram se recuperar da quase morte recentemente e nossos guerreiros mais poderosos, magos como Curtis, Kathyln e os Chifres Gêmeos, não conseguiam resistir aos retentores, muito menos contra as Foices.
Usei novamente o Passo de Deus que me levou da borda da cidade para onde uma série de portões arqueados se abriam em um túnel longo e reto, largo o suficiente para trinta anões marcharem lado a lado.
Um miasma de intenção brutal e animalesca de matar irradiava da sala do portal à frente, propositalmente projetado para anunciar em voz alta sua presença. Ativei meu Realmheart e cinco assinaturas distintas de mana ficaram claras, cada uma queimando com a intensidade doentia que entendi como a mana desviante corrompida usada pelos Vritra.
Hesitando, olhei por cima do meu ombro até o nível mais alto, onde minha irmã e minha mãe estavam abrigadas com mil nobres anões. O Palácio Real estava muito perto.
— Isso aí é muito suspeito.
Transmitiu Regis, compartilhando o mesmo nervosismo que acelerou meu coração.
Pisei sob um dos arcos que levavam à sala do portal, apoiando a mão no pilar de pedra fria. Claro. Afinal, é uma armadilha. Mesmo que eu derrotasse qualquer inimigo que estivesse emitindo uma intenção de matar tão terrível na minha frente, ainda havia inimigos bem fortes atrás de mim. Não sabia se as Lanças aguentariam. Se eu demorar muito…
O pilar esmagou no meu punho e os destroços vieram cheios de poeira rosada e cacos de pedra. Mas que outra escolha a gente tem?
Arremessando a bagunça no chão, dei um passo à frente. E depois outro. A cada passo cauteloso, jogava fora cada pergunta e fonte de ansiedade. A melhor maneira de proteger aqueles com quem eu me importava era tornar qualquer luta a mais rápida e decisiva possível, para fazer isso, não posso ser acorrentado por minha própria incerteza.
No final do túnel, havia um conjunto combinado de aberturas arqueadas esculpidas de alguma pedra vermelha clara. Elas se abriam para uma enorme caverna vazia que cercava a estrutura do portal de nove metros de altura e quatro de largura, que fornecia espaço suficiente para organizar um pequeno exército, se necessário. Colunas de rocha cinza e vermelha erguiam uma série de varandas que cercavam a caverna a nove metros de altura.
A sala estava iluminada pelo brilho natural do portal ainda ativo.
Meus olhos se moveram rapidamente da tela opaca de energia ondulada do portal, os quatro cadáveres anões sangrando na frente dele, seus corpos empalados por pontas de metal preto e depois para as cinco figuras espalhadas pela câmara.
Dentro de mim, Regis tremia com uma mistura de antecipação e energia nervosa. Senti as memórias de Uto borbulhando na mente dele e vindo como um efeito cascata para a minha. Vi os filhos e as filhas dos basiliscos que seguiram Agrona de Epheotus, a interação da magia Asurana e humana sendo reunida e refinada por mais de cem gerações. Já sei o que esses seres são. Windsom me contou sobre eles, há muito tempo.
— As Assombrações
Falou Regis, dando um nome aos soldados meio-sangue não despertados de Agrona.
— Vocês devem ser meu comitê de boas-vindas.
Disse secamente, analisando cada figura.
O principal entre eles era um homem alto e de ombros largos. Com cachos castanho-terra que caíam em torno de chifres grossos curvados que se erguiam a vários centímetros do topo de sua cabeça. Ele usava cota de malha vermelha sob uma armadura preta de meia placa que brilhava com runas protetoras.
Seus olhos desdenhosos encontraram os meus.
— Estamos aqui para eliminar uma ameaça, não para nos envolver em brincadeiras tolas.
— Ah, qual é, Richmal, a gente quase nunca se diverte.
Disse um deles, chacoalhando suas tranças loiras grossas em torno de sua cabeça e olhando para mim com um olhar faminto.
— Se é verdade que esse cara matou Cadell, a gente precisa se divertir um pouco com ele antes de libertá-lo para o esquecimento da morte.
Como Richmal, este segundo homem também tinha olhos vermelho-sangue e chifres de ônix. Se enrolavam para fora e para baixo dos lados de sua cabeça, quase tocando seu queixo.
Enquanto eles falavam, as memórias de Uto que vinham de Regis continuaram a ondular através da conexão mental que compartilhamos. Vi um pensamento distorcido e meio lembrado do homem chamado Richmal parado sobre o cadáver cinzento e magro de uma mulher com cabelos brancos loiros brilhantes, através do qual dois chifres pretos levemente curvos se projetavam, um dragão, tive certeza disso.
Seus olhos dourados olharam sem vida para Richmal enquanto eles, as Assombrações se abaixavam e arrancavam um dos chifres de sua cabeça. O som do chifre se quebrando enviou um tremor psíquico através de mim que fez meu estômago girar violentamente.
Com um agudo senso de urgência, alcancei o fio de éter que sempre ligava a armadura da relíquia do djinn a mim. As escamas negras surgiram em meu corpo. Havia um peso reconfortante e frieza quando a armadura se envolveu ao meu redor e senti o inchaço do éter quando a quantidade limitada na atmosfera se aproximou.
— Ah, acho que ele quer ser um de nós!
Uma voz rica e feminina falou.
— Olha para os pequenos chifres dele!
Quem estava falando era uma mulher de pele de mármore com uma pesada armadura preta. Apenas seu rosto e cabeça estavam expostos, exibindo seu cabelo azul curto e brilhante, que era estilizado em pontas em torno de seus chifres estriados. Relâmpagos rúnicos estavam tatuados através de seus olhos escarlates. Ulrike, sabia, o nome dela se manifestando pelo fluxo de consciência incontida de Regis.
— Cadell deve ter sido mergulhado em néctar antigo para deixar que esse magrelo o derrotasse.
A voz rouca rastejou como insetos para fora das sombras e para os meus ouvidos, fazendo os cabelos da minha nuca ficarem em pé. A rastreei e encontrei uma outra Assombração, suas vestes estavam escuras com marcas de queimaduras e seu capuz estava tampando uma parte de sua cabeça careca. Dois chifres parecidos com uma adaga avançavam de sua testa. Blaise. O vermelho brilhante de seus olhos foi interrompido por manchas escuras que pareciam flutuar sobre sua superfície, combinando manchas cinzentas mais escuras que manchavam sua pele fria de mármore.
Ao lado dele, o quinto alacryano estava meio escondido nas sombras vivas. Observei flashes de cabelo preto brilhante enrolados em chifres em cima de sua cabeça e seus olhos escuros de sangue de boi cercados por uma pele preta-cinza. Valeska.
— Chega.
Ordenou Richmal, o poço profundo de seu barítono enterrando as outras vozes.
— Vocês estão humilhando a si mesmos.
Um chicote verde escuro enrolado com líquido fedorento, estremeceu em seu punho e ele encontrou meus olhos.
— Não desperdiçaremos mais fôlego com você, menor.
No mesmo momento, ativei o Passo de Deus. A sala mudou em um flash de ametista e eu apareci ao lado e atrás de Richmal.
— Fique à vontade.
Falei, conjurando uma espada etérea e brandindo-a para trás.
A sala explodiu em caos.
Pontas de ferro preto dispararam do chão para desviar minha lâmina e uma rajada de vento negro parecia envolver Richmal. Senti a lâmina de éter atingir o alvo, então o vento levou meu alvo embora. Num único respirar, ele reapareceu do outro lado da sala, sua armadura rasgada e sangue escorrendo de uma ferida ao seu lado.
Eles eram rápidos e trabalhavam juntos com uma eficiência impecável. Não podia dar ao luxo de me segurar contra eles.
Regis, a lâmina.
Mana condensou-se dentro da poeira, das sombras pairando no ar e um anel de estacas de ferro preto surgiu do nada para perfurar meu rosto e núcleo. Usando o Realmheart para sentir a formação do ataque, consegui desviar, girei e me abaixei ao redor delas, cortando aquelas que não conseguia evitar.
Um espectro em forma de chama negra me alcançou, garras de fogo da alma raspando minha armadura. Minha espada girou, sacudindo em direção à garganta do espectro. Pouco antes de entrar em contato, Regis alcançou a espada e a fina lâmina de ametista explodiu em fogo violeta escuro.
Destruição devorou o espectro, deixando nada para trás, nem mesmo um resíduo de mana.
Todos os cinco oponentes estavam se movendo, conjurando. Escudos de vento negro e fogo da alma se moviam com eles, transformando a sala em um inferno.
Torrentes gêmeas de fogo negro e lodo borbulhante e lento borrifaram em mim de diferentes direções. Pulei para cima, agarrando o corrimão da varanda e me jogando nele. O metal se torceu quando usei o Passo Explosivo, me afastei novamente, rasgando sob a força do meu movimento, depois sibilando e derretendo enquanto uma nuvem de fogo da alma perseguia atrás de mim.
A sala tornou-se um borrão escuro quando me movi quase instantaneamente em direção ao meu próximo alvo, a assombração de cabelos azuis, Ulrike. Tive apenas um instante para me surpreender quando seus olhos carmesins me seguiram, seu escudo se movendo para bloquear meu ataque, assim que sua lança se abaixou em uma posição para captar meu impulso e usá-lo contra mim.
A Lâmina de Destruição chocou contra seu escudo imponente, que estava envolto em uma espessa concha de relâmpago azul escuro. Sua lança conjurada atingiu minha armadura como um aríete, logo acima do meu núcleo.
Uma explosão concussiva de energia pura sacudiu a câmara enquanto éramos jogados fora pela força do choque de nossos golpes. Caí de pé e tive apenas um instante para ver as chamas violetas envolvendo seu escudo antes que tentáculos ácidos envolvessem minhas pernas. Cortei através deles e Destruição rasgou o feitiço.
A nuvem de fogo da alma me alcançou, inundando-me dentro de uma névoa negra opaca de fogo fervente que tentava se forçar em meu nariz e boca. Saí para fora com uma nova de éter intangível, anulando as chamas.
O chão se ergueu sob mim como um golem parcialmente formado feito de centenas de pontas entrelaçadas que quebraram os azulejos de granito e me alcançaram. Deslizei um pé para trás através dos azulejos quebrados enquanto garras pontiagudas se fechavam em nada além de poeira, depois me joguei com a lâmina de Destruição uma, duas, três vezes.
Chamas violetas percorreram o golem, que desmoronou e queimou.
Mana esverdeada condensou-se abaixo de mim e me afastei assim que o chão começou a escorrer lama grossa e venenosa. Um ciclone de vento negro me forçou a esquivar novamente enquanto desviava de um raio de três pontas com a lâmina de Destruição e liberava uma explosão etérea para afastar as nuvens do fogo da alma.
Havia muitos deles e me deixaram poucas aberturas entre seus ataques de feitiço combinados para ir para a ofensiva. Enquanto girei para ficar longe do ciclone, pensei nas minhas próprias capacidades. Precisava maximizar minha mobilidade e reequilibrar isso.
Sentindo que Regis estava acompanhando meu raciocínio, preparei minha manobra, condensando éter em meu punho até que os ossos começaram a doer.
Usei o Passo de Deus e parei no outro lado da sala, logo dentro das entradas arqueadas.
A lâmina de éter desapareceu, assim como minha conexão com Regis e a runa divina da Destruição.
Estendendo meu braço, soltei a explosão.
Ulrike e a Assombração trançada, Ifiok, desapareceram em um cone de éter roxo. Acertando o portal de teleporte de longo alcance além deles também, a moldura do portal se quebrou com um som, como o de um trovão. A pedra dura desceu em uma onda vibrante de farelos brilhantes à medida que se dissolvia. A energia líquida opaca do próprio portal girou com a turbulência de seu fracasso, depois sibilou e desapareceu.
Pelo menos eles não estariam trazendo reforços dessa maneira.
Ulrike abaixou o escudo, que estava marcado e queimado pela Destruição. Runas escarlates queimavam intensamente em sua superfície metálica escura. Ifiok saiu de trás dela, suas tranças estavam queimadas e um chifre foi rachado. A carne na lateral de seu rosto estava rasgada e sangrando.
— Agora. — enviei.
No segundo seguinte, Regis explodiu entre os dois, manifestando totalmente sua forma de Destruição em uma onda de éter. Pegos de surpresa, as duas Assombrações foram espancados por sua massa e suas enormes mandíbulas quadradas cheias de dentes que pareciam lâminas de navalha esmagaram o ombro e o braço de Ifiok. A Destruição se movia entre suas presas, suas bordas irregulares cortando e estalando enquanto saltavam sobre a carne pálida de Ifiok.
Conjurando simultaneamente uma lâmina e enviando éter para cada músculo, tendão e articulação, usei o Passo Explosivo e a lâmina avançou ao lado da cabeça de Ulrike.
Afundando-o em um oceano de dor e sujeira.
O ar se transformou em uma lama ácida gelatinosa que me sugou e absorveu o impulso do meu Passo Explosivo. Assobiou e estalou onde meu éter lutava para mantê-lo de volta, mas a substância cáustica estava atacando cada centímetro de mim simultaneamente. Meus olhos arderam e a armadura da relíquia tremeu quando o ácido corroeu sua estrutura.
Embora eu não pudesse ver através do lodo, com o Realmheart ativo, pude sentir a localização dos cinco inimigos e mesmo suas artes de mana do tipo Decadência não podiam me impedir de encontrar os caminhos etéricos. Tirando meu foco da dor, imbuí éter na runa divina e usei o Passo de Deus, reaparecendo logo atrás de Blaise.
Com uma rapidez incrível, a Assombração careca desviou o fluxo de seu fogo da alma de Regis, que três dos outros foram empurrados contra uma parede curva em um escudo entre nós. Ao mesmo tempo, formei uma espada e cortei seu lado. Éter estremeceu contra o fogo da alma. Minha lâmina sacudiu com a força dos dois poderes opostos, depois afundou em seu escudo e cortou sua garganta.
Blaise tentou gritar, mas apenas gorgolejou sangue. Seus olhos vermelhos turvos se entreolharam em um grunhido agonizante, então o vento negro a envolveu e a puxou para longe de mim.
Garras do mesmo tipo de mana de vento de decomposição me acertaram e agarraram meus pulsos. Liberei a lâmina e coloquei éter em minhas mãos, reforçando minha barreira protetora até que brilhasse como luvas visíveis de luz ametista ao redor das luvas com garras, tinha tanto éter acumulado que os ossos finos em minhas mãos começaram a doer.
O vento se arrastou para se apossar, mas foi incapaz de agarrar o éter.
Sentindo vários outros feitiços direcionados a mim, fiz um movimento de corte com uma mão, liberando o éter reprimido em um arco largo e curvo para corroer a barragem de perseguir o fogo mágico.
Um uivo dolorido e enfurecido pontuou o som do fogo queimando o ar, estacas negras irrompendo do chão e um raio caindo.
Do outro lado da câmara, a Destruição irrompeu de Regis. Um vento quente, como se viesse do inferno, secou rapidamente o suor que cortava minha testa e todos os feitiços ativos nas proximidades foram queimados como folhas secas.
— Valeska!
Ulrike gritou, sua voz atravessou com um pico de medo incontido.
Em um instante, entrei na câmara.
Regis estava do outro lado da sala, perfurado em vários lugares por farpas azuis e negras de um relâmpago sólido. A pedra ao seu redor havia sido esculpida pela Destruição por seis metros em todas as direções e as varandas acima dele haviam desmoronado. Suas mandíbulas estavam abertas, cordas grossas de saliva penduradas entre os dentes e seus olhos brilhantes estavam inteiramente focados em sua presa.
No chão, logo além das ruínas, Valeska estava se arrastando com um braço enquanto conjurava um escudo grosso de vento entre ela e Regis. Partes de seu cabelo preto e as pontas de seus chifres foram queimadas e seu rosto estava coberto de bolhas feias. Do seu joelho para baixo não tinha mais nada.
Ulikre estava flutuando a seis metros do chão, jogando estacas azuis e pretas em direção as pontas dos dedos de Regis. Alguns se queimaram com a Destruição antes de alcançá-lo, mas não todos e ele não estava fazendo nenhum esforço para se defender.
Ifiok estava em uma varanda atrás de mim. Um de seus braços estava existindo apenas em osso, sendo completamente inútil, a carne de seu pescoço estava rasgada e flácida. Sua mão restante estava acenando enquanto conjurava dezenas de estacas negras do chão para arremessar pela sala em todas as direções, cortando cuidadosamente apenas em torno de seus aliados enquanto miravam em Regis e em mim.
Blaise havia se dirigido para o lado de fora da série de estruturas arqueadas que se abriam para a câmara. Ele estava cercado por um campo oval de fogo da alma cintilante, com as pontas dos dedos pressionadas na garganta. Chamas de fogo de alma roxas dançavam dentro da ferida enquanto a carne se unia novamente, enquanto nuvens de chamas conjuradas continuavam a queimar no ar entre nós durante sua luta para me envolver com seu poder.
Richmal estava controlando vários tentáculos longos de líquido ácido verde escuro que haviam fervido entre as telhas de granito. A ferida em seu lado havia sarado e até sua armadura parecia ter sido consertada. Um de seus tentáculos envolveu a cintura de Valeska e ajudou a afastá-la ao mesmo passo que outros dois começaram a atormentar Regis, indo até o pescoço e as pernas.
Enquanto isso, mais três vieram me chicoteando, cortando o chicote pelo ar e pulverizando lodo ácido em todas as direções.
Usando o Passo de Deus, me manobrei para fora do meio do turbilhão de feitiços para a varanda, depois me afastei novamente imediatamente quando a nuvem de fogo de Blaise queimou o ar em minha direção.
As mandíbulas de Regis estavam quebrando furiosamente nos tentáculos cáusticos quando reapareci de pé sobre Valeska. Uma lâmina etérica se formou em minhas mãos apontando para baixo e a empurrei em direção ao seu núcleo. Ela soltou um grito penetrante que se interrompeu de repente quando foi empurrada pelo tentáculo ao redor de seu torso. Minha lâmina fez um buraco fumegante em seu lado e no granito embaixo dela.
Uma enorme estaca de ferro se manifestou na minha sombra e me levantou. Apoiando minha lâmina contra meu antebraço, peguei o impulso do espigão e deixei que ele me impulsionasse para o ar e para longe dos tentáculos. Girando, desviei uma explosão de relâmpagos que ricocheteou em Regis, depois caí bem na frente dele. A lâmina de éter varreu as videiras que o atormentavam e aquelas que me perseguiam, mas mais feitiços já estavam vindo sobre nós.
— Sai da frente
A voz profunda e meio louca de Regis soou em minha cabeça. A Destruição estava aumentando dentro dele, se acumulando como magma dentro da caldeira de um vulcão e estava prestes a romper.
Saltando, plantei um pé contra a borda de um pico em expansão e estourei. Pisei em Valeska, minha lâmina de éter queimando os ladrilhos de granito do chão em uma linha reta em direção a ela e Richmal.
Atrás de mim, uma nova de Destruição atravessou a sala, apagando tudo o que tocava. Mas meu foco era encontrar Valeska. Ela parecia operar como o Escudo do grupo, escondendo-os, protegendo-os e até mesmo reposicionando-os quando necessário. Sem ela, o resto seria exposto.
Richmal tentou repetir seu truque de me pegar no meio do Passo Explosivo, porém estava pronto para isso. A lâmina de éter balançou ao mesmo tempo em que a câmara borrou passando por mim para os lados e eu cortei seu feitiço e bati no ombro dele primeiro.
Ele foi jogado de pé para bater contra a parede externa da câmara e todos os seus feitiços cintilaram por apenas um momento.
Valeska se ajoelhou depois que Richmal a salvou. Apesar de suas feridas graves, ela ainda estava lançando, cercando-se com uma força se esbofeteando ao mesmo tempo em que me cortava com foices perversas de ar condensado. Girei e me esquivei daqueles que eu não podia bloquear com um punho envolto em éter, então, quando estava quase nela, usei Passo de Deus.
Saltando, arcos selvagens de relâmpagos roxos correram ao longo da minha arma de fogo enquanto socava ao lado da cabeça dela da minha nova posição. Houve um estalo de osso quando meu punho encostou nela e então tudo ficou escuro.
Asas negras estavam enroladas no meu rosto, batendo e cambaleando, me sacudindo de um lado para o outro. Com a mão ainda envolta em éter, passei os dedos pelo feitiço, rasgando-o. Mas quando pude ver novamente, Valeska já havia sido levada.
Conjurando minha lâmina novamente, pulei em direção ao Richmal abatido, balançando na parte de trás de seu pescoço indefeso. Um borrão azul-preto voou para mim do lado, martelando em mim e me empurrando para fora do curso. Minha espada cortou e afundou na armadura e na carne cobertas de runas.
— Blaise, mande Valeska de volta.
O barítono ressonante de Richmal retumbou quando se levantou. Sua expressão estava tensa, seu cabelo emaranhado e manchado de vermelho-marrom.
Ulrike parou a três metros de mim, me prendendo entre ela e Richmal. O sangue jorrava de sua perna, que parecia estar quase cortada no joelho. Ela se apoiou em seu escudo imponente, que descansava entre nós e nivelou uma lança conjurada no meu rosto, rosnando, sua autoconfiança relaxada se foi.
Um uivo bestial sacudiu a caverna e Regis saltou de lado, suas enormes patas batendo Ulrike no chão.
Dezenas de dardos verdes doentios voaram das mãos de Richmal, piorando o lado de Regis. Observei enquanto a mana verde escura se infiltrava nele, circulando por sua corrente sanguínea em questão de segundos.
O fogo líquido percorreu meus canais enquanto drenava éter do meu núcleo, pelo braço e para a palma da minha mão, onde se acumulou até que a pressão o forçou a explodir para fora, banhando a caverna com luz violeta e engolindo Richmal.
Houve um clarão e uma fatia de estática azul-preta interrompeu o ar ao redor de Regis. Ele rugiu, expirando uma gota de Destruição, mas a estática zumbiu ao redor e longe das chamas antes de se aglutinar como uma guilhotina acima dele. Ao mesmo tempo, Ulrike foi arrancada abaixo dele pelo raio em sua mão.
A estática se moveu pelo corpo de Regis como uma serra, dividindo carne, osso e até éter. Meu companheiro uivou quando seu enorme torso inclinado veio em dois, a metade traseira tropeçando em suas pernas mais curtas e grossas, a frente lutando para se equilibrar enquanto avançava desajeitadamente atrás de sua presa.
A raiva mal contida de Regis e a necessidade de desencadear a Destruição colidiram comigo através de nossa conexão, guerreando contra seu instinto de sobrevivência e uma borda desesperada de incerteza existencial.
Uma faca afiada de pânico cortou minhas entranhas e eu só pude assistir ao espetáculo horrível enquanto lutava para processar o conflito interno de Regis ao lado de minhas próprias emoções suprimidas. Senti falta da mana que se coalescia das sombras acima de mim, logo antes que uma estaca fina saísse da coluna mais próxima e dirigisse para o meu rosto.
Girei no último momento, levando o golpe para o lado da minha cabeça blindada, onde os chifres brotaram. A estaca se quebrou e um fragmento de trinta centímetros de comprimento se torceu no ar e entrou na minha bochecha. Senti que raspou meu osso quando se desviou para baixo para empurrar a base do meu crânio.
A força do impacto me jogou de volta em uma coluna de apoio, onde me inclinei por um momento, atordoado, uma mão raspando contra a ponta irregular da estaca que saiu do meu rosto.
O chão se quebrou sob meus pés, me deixando de joelhos em uma poça de lodo ardente. Dezenas de pregos de ferro preto se cruzaram sobre a poça para criar uma cúpula afiada, prendendo-me no veneno que já podia sentir minando minha força enquanto atacava meu sistema nervoso. As estacas me pressionavam, forçando-me a descer ainda mais no lodo. Meus pulmões pararam e senti meu coração gaguejar.
A cúpula de ferro se iluminou com luz azul-preta e centenas de raios de eletricidade começaram a cair para frente e para trás entre ela e a poça de lodo. Meu corpo foi paralisado. Minha mente ficou dormente com o choque quando o lodo continuou a corroer minha armadura. Quando ativei o Passo de Deus, não pude senti-lo. Não conseguia sentir nada além da dor de mana atacando todos os nervos de todo o meu corpo.
— Agora, enquanto ele está preso! Valeska, reporte-se ao Alto Soberano, informe-o—
Minhas orelhas estalaram e estrelas explodiram atrás dos meus olhos fechados e meus músculos começaram a espasmar quando empurrei de volta as estacas, mas com pouco efeito. Não conseguia mais entender as falas de Richmal, só sabia que As Assombrações estavam gritando um com o outro. Embora não pudesse entender o que eles diziam, o desespero em suas vozes era claro.
Partículas preto-azuladas de mana de raios desviantes brilharam e estouraram quando impactaram os motes de ametista que compunham minha barreira etérica. Mana verde escuro chiou e escavou no éter antes de evaporar. A mana desviante de terra marrom-cinza rachou e quebrou contra a barreira roxa.
Através de uma lacuna nos espinhos, vi Regis, ou o que restava dele. Meu companheiro havia sido reduzido a pouco mais do que um fio de éter preso dentro de uma gaiola da mana de Ulrike. Posso senti-lo, mas mal queimando sua consciência recuando a cada momento que passava à medida que mais e mais de sua essência etérica se esgotava apenas para manter sua forma fraca.
Estendi a mão para ele, tentei puxá-lo para mim apenas com a força da minha vontade, mas ele não estava reagindo, não conseguia escapar do feitiço que o queimava por nada.
O tempo parecia diminuir, quase como quando eu tinha sido capaz de usar o Vazio Estático, antes. De repente, pude sentir o peso de toda aquela mana se chocando com meu éter, ver a maneira como as partículas se curvavam, ondulavam e saltavam como uma só, as formas dos feitiços individuais, como eram formados, seu propósito, a costura metafísica que os mantinha unidos.
A mana se entrelaçava em uma forma feita pela vontade do conjurador, enquanto o éter continha a mana e determinava seu comportamento natural, mas também se movia para acomodar a passagem da mana, as duas forças se encaixando como luz e escuridão. Não podia acreditar que eu não tinha visto isso antes.
Minha mão estremeceu quando alcancei o tumulto. Ao longo de tudo isso, a interação da luz metafórica e da escuridão, mana e éter, mudou e se moveu, sempre juntos, simultaneamente em coordenação e oposição. E, entre elas, uma espécie de cortina separando luz e escuridão.
Meus dedos se contraíram. A cortina se mexeu. Éter envolveu a mana e moveu-a para o lado.
As estacas que me prendiam me soltaram, flutuando no ar ao meu redor. Elas tremiam, incertas, a vontade de Ifiok empurrando-as para um propósito, mas o fluxo de éter as repelia, redefinindo o que a mana podia fazer.
Uma rede de eletricidade pulou de estaca em estaca, crepitando ameaçadoramente, tentáculos se estendendo em minha direção, desviando e sendo reabsorvidos no todo, incapazes de atacar mais longe do que o éter permitia.
A poça de ácido se partiu, separando-se, afastando-se de mim.
Enquanto me levantava lentamente, minhas pernas tremiam com o esforço de impor minha vontade sobre o éter e através dele, a mana. Meus inimigos me cercaram, mas toda a força física, confiança e expressões impetuosas sumiram.
No lugar, só pude ver grandes olhos vermelhos em meio a rostos cinzentos empalidecidos de medo.
Tradução: Reapers Scans
Revisão: Reapers Scans
QC: Bravo
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