O Começo Depois do Fim

O Começo Depois do Fim – Cap. 366 – O Victoriad II

 

POV ARTHUR LEYWIN

Reprimindo minhas emoções com um aperto de ferro frio, me recusei a deixar ser tomado pela raiva, ao ver bestas de mana rasgando pessoas desarmadas e sem magia… meu povo.

Meu estômago se revirou com a visão, enquanto o resto de mim não queria nada mais do que usar o Passo de Deus no campo e matar aquelas bestas.

O poder de moldar a realidade em minhas mãos, mas não pude nem mesmo salvar aquelas pessoas.

Me convenci de que me conter agora era para um bem maior, que era o preço que todos tínhamos que pagar por perder a guerra.

Mas isso não tornou mais fácil de sentar e assistir aos meus colegas Dicatheanos serem massacrados. E então houve os aplausos, que rolaram como um trovão odioso de dezenas de milhares de espectadores enquanto se fartavam da visão, assim como os lobos se fartavam de inocentes…

Por um único momento sombrio, odiei todos eles.

Imaginei o poder da Runa da Destruição sendo lançado de minhas mãos para queimar todo o estádio e todos dentro dele, transformando-os em menos que cinzas… mas não houve gritos ou risos vindos de nossa área de palco. Embora eu não conseguisse desviar o olhar dos últimos momentos desses Dicatheanos, podia ouvir a respiração superficial e difícil dos meus alunos, o estalo de seus dedos enquanto seguravam os trilhos, os gemidos silenciosos de repulsa enquanto os lobos festejavam…

Então os cabelos de minha nuca se arrepiaram, quando uma força familiar encheu o local, quebrando o feitiço da matança.

Os alunos começaram a cair de joelhos, enquanto seguiam a fonte da pressão até a parede posterior da área do palco, onde uma figura com chifres, vestida de preto estava nos observando.

Regis se eriçou, em um estado mental equivalente ao de ficar irritado.

Seris Vritra parecia muito diferente do que naquele dia no campo de batalha, quando Uto quase me matou junto com Sylvie. Em vez de uma general em tempos de guerra, ela parecia nobre como uma imperatriz envolta em um vestido de batalha preto com escamas, embora usasse a mesma capa preta escura que tinha quando eu a vi chegar pela primeira vez em Darv.

Ao meu lado, Seth permaneceu de pé, de queixo caído e olhando fixamente. Enquanto o resto da classe teve o bom senso de se ajoelhar, Seth parecia congelado no lugar. O súbito aparecimento da Foice cimentou uma informação que eu apenas imaginava até agora: Nico não era o único que sabia minha verdadeira identidade.

Seris estava observando Seth como se ele fosse uma criaturinha divertida. Seja qual for a razão dela para vir aqui, não precisava que meus alunos fossem envolvidos nisso, então coloquei a mão no ombro de Seth e o coloquei de joelhos.

— Foice Seris. — disse.

— Que prazer em revê-la.

— Professor Grey da Academia Central. Caera, do Alto Sangue Denoir.

Um tremor percorreu os alunos ajoelhados ao som da voz prateada de Seris.

— Venham comigo.

Ela girou, sua capa fluindo como um líquido ao redor dela e desapareceu através da única porta fixada na parede de pedra na parte de trás da área de preparação. Caera saltou para segui-la, mas fiquei onde estava.

— Sim, porque o que toda esta situação realmente precisava era outra camada de complicação.

Transmitiu Regis, nossa conexão transmitindo claramente sua resignação hesitante.

O fato de Seris também ter descoberto minha identidade não foi exatamente uma surpresa, já que Nico obviamente sabia, mas tinha que me perguntar por que ela iria me contatar agora, e tão abertamente.

Mesmo com a saída de Seris, os alunos ainda estavam petrificados. Seu choque e espanto eram tangíveis, flutuando no silêncio viscoso que o súbito aparecimento e partida da Foice havia criado. Até o barulho da multidão havia sido abafado, como se não fosse bem-vindo neste lugar.

— Briar, Aphene.

Ambas as jovens estremeceram quando minha voz quebrou o silêncio, suas cabeças levantando rapidamente, com os olhos arregalados e procurando ao redor da sala. Os olhos de Briar piscaram várias vezes por trás da máscara, como se estivesse acordando de um sonho longo e incerto.

— Vocês estão no comando até eu voltar

Disse rapidamente. Em seguida, marchei atrás de Caera e Seris.

A Foice ficou em silêncio enquanto nos conduzia pelas entranhas do coliseu. Ela caminhava com determinação e ainda assim seus movimentos eram fluidos e elegantes, que sugeria um controle perfeito sobre sua forma física. Seu ritmo confiante nunca foi interrompido, nem mesmo para olhar para trás e ter certeza de que estávamos seguindo. Enquanto caminhávamos atrás dela, não vimos mais ninguém, apesar da agitação constante de funcionários, trabalhadores e escravos que deve ter enchido o subsolo.

Depois de um minuto ou dois, percebi que Caera me observava com o canto do olho. Ela abriu a boca, mas fechou novamente sem falar.

— O que foi?

Perguntei, minha voz soando oca nos túneis subterrâneos, mas apenas balançou a cabeça em resposta.

A cabeça de Seris virou uma fração de centímetro enquanto eu falava. Me perguntava que tanta tensão estava pesando sobre os ombros de Caera, mas mantive meu silêncio.

Estava desconfiado, mas não com medo. Embora Seris fosse muito distante e misteriosa para considerá-la uma aliada, também não a considerava uma inimiga. Se ela quisesse me machucar, houve muitas oportunidades de fazê-lo antes do Victoriad.

Quando chegamos em um camarote com vista para o campo de combate, imediatamente examinei a sala em busca de qualquer ameaça, como se pudesse haver algo mais perigoso do que a Foice lá dentro, mas encontrei apenas um salão luxuoso para assistir aos jogos abaixo. A decoração não me interessou e minha atenção se voltou imediatamente para Seris.

— Fiquem à vontade.

Disse Seris, seu tom leve em desacordo com sua presença dominadora. Quando não fiz nenhum movimento para fazer isso, ela acenou com a mão para afastar minha cautela.

— Eu não te trouxe aqui para te machucar, Grey, porém já sabe disso. Você parece bem, por falar nisso. Olhos dourados… muito sutis. Por que não remove essa máscara para que eu possa ver seu rosto propriamente?

— Obrigado pela hospitalidade.

Respondi, fazendo o que ela pediu.

— Lugar legal, embora um pouco solitário. Onde está Cylrit? Escondido no armário, esperando para pular e me dar um aviso terrível?

Seris riu.

— Meu Retentor está cuidando de outra coisa para mim no momento. Não há avisos terríveis hoje, mas isso não significa que não temos negócios a discutir. Tenho certeza de que não vai te surpreender saber que tenho estado te vigiando de perto desde que apareceu tão convenientemente nas Relictombs.

Caera se encolheu, olhando ligeiramente além de mim, não exatamente encontrando meus olhos.

— Desculpe, Grey. A Foice Seris, ela é minha guia, minha mentora, como mencionei antes e no início, é claro, eu não tinha ideia de que vocês se conheciam, mas só contei a ela sobre você, porque você era tão…

Ela fez uma pausa, mordendo os lábios.

— Tão curioso e interessante, então ela quis saber mais sobre você, desse modo, me pediu para ficar de olho em você, mas eu te disse, então espero que você saiba que eu—

Enquanto ela falava, notei Seris procurando meus olhos por trás dela e me dando um sorriso tímido. Quando retornei a expressão, Caera vacilou, sua preocupação dando lugar a uma carranca confusa.

— Está tudo bem, Caera. Quero dizer, você tem uma poderosa Foice como sua mentora com um interesse incomum por mim?

Fiz um gesto para Seris, incapaz de suprimir um sorriso culpado.

— Nunca te pressionei por mais detalhes, porque eu não precisava. Não foi tão difícil descobrir.

Caera respirou fundo e passou uma mecha de cabelo azul entre os dedos.

— Obrigada por compreender. Vocês dois podem parar de se olharem como bobos agora.

— Caera de Alto Sangue Denoir, isso é jeito de falar com sua mentora?

Seris perguntou com um leve ar de zombaria.

— Sua mãe adotiva ficaria chocada.

— Muito elegante, a maneira como você lidou com isso. Mas acho que seria muito infantil da sua parte, ficar todo irritado com ela por não ter contado a você, considerando o número incontável de mentiras que você contou sobre sua própria identidade. — Regis zombou.

— Você tem um ponto. — respondi.

— E também, cale a boca.

Seris reclinou-se contra o vidro protegido que ficava na frente da câmara.

— Você se tornou previsível, Grey.

— Oh

Perguntei, erguendo uma sobrancelha para a Foice.

— Quanto das minhas realizações você previu, exatamente?

Seus lábios se separaram para responder, mas vi seus olhos se voltarem para Caera e pareceu repensar o que quer que estivesse prestes a dizer. Finalmente, disse apenas:

— O bastante.

Encontrei os olhos penetrantes da Foice, não mais sorrindo.

— O que você quer comigo agora, Seris?

— A mesma coisa que sempre quis.

Se virou para a janela. Abaixo, uma dúzia de escravos estavam limpando o que restava da bagunça deixada pelos lobos com presas negras.

— Ver o seu potencial crescer.

A Foice se dirigiu para uma espreguiçadeira e se acomodou nela, enquanto indicava que deveríamos sentar no sofá em frente a ela. Caera não hesitou em atender ao pedido silencioso de sua mentora. Mudei-me para ficar atrás do sofá, mas não me sentei, em vez disso, coloquei minhas mãos nas costas almofadadas.

— Falando em potencial.

Disse Seris, concentrando-se no meu esterno.

— Caera me disse que você trocou sua capacidade de manipular mana por misteriosas artes do éter que nem mesmo ela entende.

Caera se mexeu desconfortavelmente com as palavras de Seris.

— Como isso aconteceu? Espero que meu último presente para você não tenha sido totalmente desperdiçado, ou foi?

— A mana de Uto não foi desperdiçada, se você quer saber.

Transmitiu Regis com o equivalente de deixar sua língua sair da boca com satisfação.

— Meus ferimentos na guerra foram catastróficos.

Respondi, meu corpo formigando quando me lembrei de senti-lo quebrando, devido ao uso prolongado do terceiro estágio da vontade bestial de Sylvia.

— Tive que ajustar.

— Sim, bem, isso certamente é algo que eu não poderia ter previsto.

Disse ela em voz baixa, mais para si mesma do que Caera ou eu.

— O que é que você quer comigo?

Perguntei de novo, com mais firmeza dessa vez. Uma suspeita repentina me ocorreu e acrescentei:

— Você me trouxe aqui… para o Victoriad?

Os lábios pintados de Seris se curvaram.

— Admito, me doeu ver você sentado de mãos abanando naquela academia por tanto tempo. Um professor, sério?

Me lançou um olhar de desaprovação, como se me importasse com o que ela pensava sobre minhas ações em Alacrya.

— Como eu disse, previsível. Mas você também está certo, providenciei para que sua classe estivesse aqui.

— Por quê?

Perguntei, tentando juntar essa nova informação a tudo o mais que eu já sabia.

— Porque eu queria te lembrar quem você é e o que está em jogo.

Disse, sua voz carregada de autoridade, uma mudança brusca de tom em relação ao resto de nossa conversa.

— Para esse fim, arranjei sua presença neste local, para pedir algo a você. Pense nisso como cobrar uma dívida que você me deve.

— Dívida?

Perguntei, sem saber se gostaria para onde isso estava indo.

— Então você não me ajudou simplesmente por causa da bondade do seu coração? Chocante…

Caera se virou lentamente, olhando para mim com olhos do tamanho de luas cheias. Sua mandíbula estava cerrada com tanta força que pensei que fosse quebrar um dente.

Seris, porém, apenas se ajustou para ficar mais confortável.

— Eu quero que você desafie Cylrit para ser meu retentor.

Isso parecia ser demais para Caera, cuja boca se abriu de surpresa. Arrancou a máscara, rompendo a corda e a deixou cair no sofá ao lado dela.

— O que está acontecendo aqui?

Disfarcei minha própria surpresa sob um sorriso irônico.

— E o que eu tenho a ganhar fazendo isso?

— Presumo que seja uma pergunta retórica, porque ambos sabemos o motivo real de você estar aqui.

Disse ela, seu tom era o de um juiz dando seu veredicto.

— Diga pra ela que é foice ou nada. — brincou Regis.

— Não planejamos ficar na sombra de ninguém.

— Você não quer que eu seja seu retentor.

Adivinhei, considerando rapidamente os vários objetivos que ela poderia perseguir com este curso de ação.

— Você quer que eu chame atenção para mim.

Ela acenou com a cabeça.

— Ao derrotar Cylrit e recusar o papel de retentor, você estará enviando uma mensagem muito clara.

Agrona sabe que estou aqui, percebi com absoluta certeza, me perguntando se Seris poderia ter contado a ele, ela mesma. Afinal, para quem mais ela precisaria enviar uma mensagem. Mas ele já tem o que quer e não se importa mais comigo.

Essa percepção me atingiu como um trovão. Todo esse tempo em Alacrya, sempre achei que ele me faria uma prioridade se descobrisse que eu tinha sobrevivido à minha batalha contra Nico e Cadell. Tinha medo de que as Foices chutassem a porta da minha sala de aula ou chovessem fogo e ferro preto no Windcrest Hall enquanto eu dormia.

Mas descobri que Agrona descobriu que eu não apenas tinha sobrevivido, mas estava morando em suas próprias terras, e mesmo assim ele não se importou…

Estava conflitante, para dizer o mínimo.

— Se Agrona não acha que somos uma ameaça, esse é seu próprio erro de cálculo idiota.

Regis transmitiu com um grunhido.

— Mas se a deusa com chifres ali quer que nós nos exponhamos…

Esse conhecimento colocou todo o meu plano em questão. Enquanto Agrona saber que eu estava vivo, e onde eu estava, não era exatamente ótimo, Regis tinha razão. Me ignorar foi um erro da parte dele, que eu ficarei feliz em capitalizar. Mas se eu chamasse sua atenção agora, mostrasse meu poder antes de estar pronto…

— Esse plano parece ruim para mim e eu não tenho certeza de como ele beneficia você também.

Me esquivei, curioso do quanto de seu plano Seris desistiria, antes de me fazer confirmar minhas intenções.

— Oh, vamos, coloque essa sua mente inteligente para trabalhar.

Ela insistiu, a autoridade esmagadora desapareceu de sua voz, que era mais uma vez leve e provocante.

— Quanto tempo você planeja correr e se esconder?

Sentada na minha frente, Caera permaneceu quieta, embora ainda estivesse com uma expressão confusa e eu podia ver as engrenagens em sua cabeça girando enquanto lutava para entender a conversa.

Endireitando-me, olhei para a Foice.

— Não vou desafiar Cylrit.

A boca de Seris se estreitou em uma linha dura.

— Mas eu ainda vou enviar sua mensagem.

Continuei tomando minhas decisões apenas enquanto dizia as palavras em voz alta.

— Vai ser alto e bastante claro.

Seris se endireitou e se levantou. Mesmo que fosse um pouco mais baixa do que eu, quando olhou nos meus olhos parecia que estava me subestimando.

— Eu preferiria que você me dissesse exatamente o que vai fazer. Talvez possa ajudar.

— Vamos, Seris.

Disse, imitando a mesma expressão provocadora que ela usava apenas um momento atrás.

—  Coloque essa sua mente inteligente para trabalhar.

 

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Ao ouvir os passos de Caera pararem, também parei e me virei para encará-la. Estávamos nas profundezas do subsolo e a pedra ao nosso redor vibrava com o barulho de aplausos e batalha lá de cima.

O olhar de Caera estava no chão aos meus pés, o pouco de suas feições que eu podia ver por trás de sua máscara, deprimida.

— Trilby comeu sua língua?

Perguntei, sem tentar adivinhar que parte da minha conversa com Seris fez sua cabeça girar. Eu não conseguia nem imaginar que tipo de história selvagem ela estava criando em sua mente.

Caera murmurou nervosamente enquanto erguia os olhos para encontrar os meus.

— Eu quero que você saiba que pode confiar em mim. Obviamente, há muitas coisas que não sei sobre você e com base no que acabei de testemunhar entre você e uma Foice, quaisquer noções fantasiosas que tive até agora são terrivelmente imprecisas.

Examinei o túnel escuro onde paramos. Terminava em um cruzamento logo à frente, onde virar à esquerda nos levaria de volta ao campo de combate e à área de preparação, enquanto o caminho mais à direita nos levaria para fora.

Fazendo alguns cálculos rápidos sobre quanto tempo tínhamos antes do início do torneio, sorri e estendi meu braço. Caera olhou para mim com incerteza antes de deixar sua mão descansar na dobra do meu cotovelo.

— Vamos dar uma volta e limpar nossas cabeças um pouco, antes de nos sujeitarmos às milhões de perguntas que provavelmente estão se formando na cabeça dos meus alunos

Disse com uma risada suave.

— Não tenho certeza se eu, uma humilde Alto Sangue nascida com sangue Vritra, mereço ser vista caminhando de braços dados com uma figura tão bem conectada e misteriosa como você. — brincou.

— Talvez não, mas vou conceder-lhe esta honra apenas desta vez.

Me lancei rapidamente, levando-a em direção à saída.

O barulho lá fora era ensurdecedor depois do silêncio abafado das passagens subterrâneas. Mercadores gritando, bestas de mana berrando, e milhares de Alacryanos animados gritavam uns para os outros, para serem ouvidos.

Saímos da multidão, descendo por becos menos apinhados, embora isso tivesse a desvantagem de nos tornar alvos mais fáceis para muitos vendedores e apostadores.

— Ei, senhor com os olhos dourados, pare aqui para ganhar um belo prêmio para sua bela dama.

Cantou um homem com uma máscara de prata brilhante, acenando para que nos encaminhassem para seu carrinho.

Um homem gordo fez uma reverência ao passar e praticamente gritou na nossa cara.

— Pedras preciosas! Pedras preciosas aqui! Melhores cortes, melhores cores! Safiras para combinar com o lindo cabelo da senhora, ou talvez rubis para seus olhos encantadores!

Pela primeira vez em um tempo, realmente senti falta de ser um mago quadra elemental. Um feitiço de barreira de vento simples teria tornado a caminhada muito mais pacífica.

— Por que está sorrindo? — Caera perguntou.

Eu consertei meu rosto.

— Nada, apenas… me perguntando como você ficou sob a tutela de Seris.

— Ah, sério?

Perguntou, seu olhar seguindo a linha de carrinhos coloridos, lonas e tendas.

— Você já sabe mais sobre mim do que talvez qualquer outra pessoa no mundo, embora você seja um livro trancado com páginas fora de ordem, codificadas e provavelmente escritas em tinta invisível…

Parou, me lançando um olhar irônico, então suspirou.

— Mas, sem dúvida, vamos falar sobre mim.

— Crianças com sangue Vritra, aqueles de nós com sangue puro o suficiente para potencialmente manifestar a magia Vritra, não são comuns, mas não somos tão raros ao ponto de cada um de nós termos sua própria Foice também.

Uma mulher que reconheceu Caera, uma vendedora de artigos de couro extremamente caros, gritou, e Caera deu-lhe um pequeno aceno enquanto continuávamos.

— Ela alegou ter me escolhido por causa da posição de Alto Sangue Denoir, que é claro, só cresceu depois de ser designada uma filha adotiva de sangue Vritra, mas eu sempre me perguntei…

— Se ela soubesse de alguma forma? Que você…

Fiz um gesto para sua cabeça, onde seus chifres foram mantidos invisíveis pelo pingente de lágrima que usava ao redor do pescoço.

— Certo. — respondeu.

— Eu tinha… oito, talvez nove anos quando ela começou a me treinar, me tornando não apenas um sangue Vritra e um Alto Sangue adotado, mas também protegida de uma Foice. Isso contribuiu para uma… infância conturbada.

— Por que você acha que ela ajudou a mantê-la escondida?

Perguntei, baixando minha voz enquanto um grupo de Alto Sangue passava vagarosamente, vestidos tão brilhantemente que poderiam ter sido confundidos com pavões.

— O que ela quer com você?

Caera me olhou com curiosidade.

— Você está me perguntando para meu benefício ou seu próprio benefício? Talvez tentando descobrir o que ela quer com você a longo prazo?

Ela balançou a cabeça.

— Ainda não consigo acreditar que ela pediu a você para ser seu Retentor.

— Mas ela não me pediu, sério. Ela só quer que eu lute contra ele, lembra? — Apontei.

— O que só torna tudo mais confuso, pelo menos para mim.

Disse Caera, parecendo confusa.

— Eu não vou pressioná-lo a explicar nada, embora eu fique feliz em ouvir, quando você decidir explicar e prometo não usar isso contra você se decidir esconder algumas coisas.

Regis soltou um bufo mental.

— Mas por que ela iria querer que você chamasse atenção para si mesmo? De quem? Com qual objetivo?

Caera mordeu a própria língua por um segundo antes de continuar, obviamente dando voz a algum pensamento que a estava incomodando.

— Você é… um amante da Foice Seris?

Quase engasguei com minha surpresa, a pergunta me pegando totalmente desprevenido.

— Isso é um novo nível de manter seus inimigos mais perto.

Regis respondeu com uma risada latida.

— Não.

Finalmente respondi, esfregando minha nuca.

— Nada remotamente parecido com isso.

Ela me deu um aceno frustrado de cabeça.

— Então eu simplesmente não entendo.

— Eu sei.

Disse, parecendo repentinamente cansado, até mesmo para meus próprios ouvidos.

— Mas um dia você saberá.

— Isso vai ter que ser bom o suficiente então, eu acredito.

Ela disse com um sorriso envergonhado.

— De qualquer forma, é melhor voltarmos para a sua turma. Suas lutas devem começar em breve.

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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