Nota do Autor:Finalmente estamos no Victoriad! Acreditem em mim, sei que muitos de vocês estão esperando ansiosamente para chegar a este evento culminante. Reescrevi este capítulo algumas vezes junto com os capítulos posteriores para ter certeza de que ele atende a todos e às minhas expectativas. Este evento não vai terminar em um ou dois capítulos, então aguarde e espero que você goste deste capítulo de 4,6 mil palavras (lembro-me claramente de dizer que os capítulos terão de 2 a 3 mil capítulos em média… o que aconteceu?)
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POV SETH MILVIEW
Estava congelando! Os ventos mudaram, trazendo o ar gelado da montanha para Cardigan e nos dando uma despedida gelada enquanto nos preparávamos para partir.
Meu sopro congelou na minha frente, aumentando e se misturando com a névoa gelada ao nosso redor. Franzi meus lábios e soltei, vendo-o subir e desaparecer.
Foi uma coisa tão pequena e estúpida de se fazer, mas mesmo ser capaz de fazer isso significava muito para mim. Há apenas alguns anos, alguns ventos frios vinham até mim enquanto brincava com Circe, nós dois fingindo ser dragões espalhando fogo em vez de vapor, foi o suficiente para me deixar de cama.
Forcei meus lábios para formar um sorriso, enganando-me em pensar nessas memórias como algo bom, antes de voltar minha atenção para a cena ao meu redor.
Era de manhã no primeiro dia do Victoriad e estávamos todos alinhados fora da câmara tempus warp, um pequeno edifício octogonal no coração do campus. Muitos outros alunos, tanto aqueles que iriam competir em outros eventos quanto aqueles que vieram nos desejar boa sorte, circulavam pelo pátio, amontoados em grupos e enrolados em capas pesadas. Até notei alguns que arrastaram seus cobertores para cá para se manterem aquecidos.
Havia muitos alunos indo para Vechor, muitos para usar o tempus warp de uma vez e nossa classe foi a última da fila a ser teletransportada. Lá dentro, a Professora Abby do sangue Redcliff estava encarregada de teletransportar cada classe por vez.
Olhei em volta e notei uma figura correndo no meio da multidão. A pessoa estava enrolada em um casaco de pele animal com um capuz tão profundo e acolchoado que escondia completamente seu rosto. Ele entrou na fila atrás de nós e ajustou ligeiramente seu capuz.
— Olha quem tá aí, e aí, Laurel.
Disse Mayla, dando à outra garota um aceno alegre.
— Tá muito frio, né?
Laurel espiou através do forro de pele do capuz e seus olhos se estreitaram em um sorriso de desculpas até que encontrou o Professor Grey, que estava parado ao lado dos dois assistentes. Sua voz estava ligeiramente abafada quando disse:
— D-desculpa, professor. Precisava encontrar meu casaco. Eu o-odeio o frio…
— Agora que estamos todos aqui.
O professor dispensou Laurel com um aceno.
— Tenho algumas coisas que cada um de vocês precisa ter.
— Oh, presentes!
Laurel disse, saltando na ponta dos pés.
— Não exatamente.
o Professor Grey respondeu enquanto retirava um pacote de itens de seu anel dimensional e os dividia com a Assistente Aphene e a Assistente Briar.
Cada aluno recebeu dois itens. O primeiro era uma capa feita de veludo azul e preto da Academia Central. A segunda era uma meia-máscara branca que cobria meu rosto da linha do cabelo até abaixo do meu nariz. Um padrão de linhas azuis escuras foi pintado sobre ele, nítidas e angulares como runas, embora mais artística. Chifres pequenos projetavam-se do topo de cada máscara.
Mayla ergueu o dela contra o rosto. Era idêntico ao meu, exceto pelos padrões, que eram mais naturais e suaves, como rajadas de vento ou correntes de onda. Ela mostrou a língua e fez um barulho bobo de rosnar.
— Eu não deveria ter que lembrar você.
Briar disse em desaprovação, seu foco em Mayla.
— Que o Soberano Kiros Vritra estará presente no Victoriad. Já que esta é provavelmente a primeira vez para todos nós, estar na presença de um Soberano, você precisa entender algumas coisas.
— Embora esses itens nos identifiquem como representantes da Academia Central, a máscara em particular deve ser usada sempre que você estiver à vista do Soberano Kiros Vritra, o que, para nós, significa sempre. Nosso comportamento no Victoriad representa não apenas a Academia, mas uma vez que somos do Domínio Central, o próprio Alto Soberano.
— Suas vitórias não são suas, mas dele. Você não faz isso para sua própria glória, mas para a do Alto Soberano. Qualquer insulto que fizer, proposital ou inadvertido, como ficar sem sua máscara ou olhar o Soberano Kiros nos olhos, também refletirá no Alto Soberano e será punido severamente.
A classe ficou em silêncio enquanto o resto do traje era distribuído. Laurel pegou a dela e nos deixou para nos juntar a Enola na frente da fila.
Marcus, que estava parado bem na nossa frente, estava olhando para sua própria máscara com uma expressão estranha e distante. Seus dedos traçaram ao longo das linhas azuis pesadas e angulares pintadas nele.
Mayla também deve ter notado sua expressão.
— O que você acha que suas marcações representam?
Ele olhou para ela, seu rosto se contraindo nervosamente por apenas um segundo antes de se suavizar em seu tipo usual de expressão pronta.
— Não consigo imaginar que os padrões correspondam a nós pessoalmente de alguma forma, você consegue? Afinal, eles devem limitar nossa identidade pessoal perante o Soberano, não nos fazer destacar como indivíduos.
— Oh
Disse Mayla, franzindo a testa.
— Eu realmente não tinha pensado nisso.
Yannick, geralmente quieto, se aproximou um pouco mais de Marcus e se inclinou em nossa direção.
— O Vritra se preocupa com sua utilidade, isso é tudo. É tolice pensar de outra forma.
Ele colocou a máscara, um padrão de cortes irregulares e selvagens que pareciam garras e amarrou-a na nuca antes de se afastar novamente.
A fila começou a se mover novamente quando a classe à nossa frente foi levada para a câmara tempus warp e a multidão se dispersou quando as pessoas voltavam para seus quartos. Algumas acenaram na direção da nossa classe, mas sabia que ninguém estava acenando para mim.
Porém, não deixei esse fato me incomodar. A verdade é que, embora eu tivesse perdido muito, esta temporada na academia tinha sido melhor do que eu jamais poderia ter imaginado, principalmente devido às Táticas de Aprimoramento Corpo a Corpo. Estava mais forte fisicamente do que nunca, mesmo antes de ganhar um emblema. A doença com a qual vivi toda a minha vida, que sempre esperei que me matasse, havia quase desaparecido completamente.
Nunca em meus sonhos mais loucos, imaginei que seria um portador de um emblema. Até mesmo Circe esperava que eu não terminasse infeliz com uma doença que provavelmente me mataria antes do meu vigésimo aniversário.
Eu era bom em alguma coisa. Talvez não fosse tão forte quanto Marcus, tão rápido quanto Yannick, ou tão poderoso quanto Enola, mas depois de treinar com o professor Grey, sabia que poderia entrar no ringue com qualquer um deles e dar a eles uma luta justa. Mas mais do que isso, todos os meus colegas me mostraram respeito, até Valen… talvez não tanto Remy ou Portrel, mas pelo menos Valen os impediu de me espancarem como antes.
Se pudessem, me lembrei, incapaz de suprimir um sorriso bobo.
Olhei para o professor, que se afastou de nós para observar uma mulher de cabelo azul se aproximando.
Realmente não entendi. Mesmo que sempre parecesse relutante, nos ensinou como ser lutadores aceitáveis. Sabia que ele realmente não gostava de nós, especialmente de mim. Na verdade, isso é um eufemismo muito grande. Às vezes, pela maneira como me olhava, achei que devia me odiar. Mas não tinha ideia do porquê.
Mayla me deu uma cotovelada forte nas costelas.
— Então quer dizer que você tem uma quedinha por alguém?
Vacilei e olhei para ela em confusão.
— Quê?
— Você não para de olhar para a Lady Caera.
Ela brincou, e eu percebi que devia estar olhando para o professor Grey por um tempo, perdido em pensamentos.
— Ela é muito bonita, mas é um pouco velha para você, não é?
Abri minha boca, sem ideia de como responder às provocações de Mayla, mas o professor Grey começou a falar e eu fiquei quieto para ouvir.
— Você está atrasada.
A professora assistente Caera olhou para trás dela, então de volta para ele, uma mão em seu peito.
— Como é que é? Você já chegou em Vechor, professor Grey? Porque senão, parece que estou perfeitamente na hora.
— Além disso.
Mayla murmurou, inclinando-se na minha direção.
— Acho que ela já está comprometida.
Corei e me afastei, bem desconfortado mesmo pensando na severa vida amorosa do professor. Fui salvo de mais provocações quando a linha começou a se mover novamente e todos nós fomos convidados para o calor da câmara tempus warp.
Uma vez que estávamos todos dentro, a professora Abby nos arrumou em um círculo ao redor do dispositivo, que estava zumbindo suavemente e emitindo um brilho quente. Alguns alunos se aproximaram, colocando as mãos para aquecê-las.
Uma brisa soprou do nada e percebi que alguém estava lançando magia do vento. Mayla riu e apontou: o cabelo da professora Abby estava dançando levemente ao redor dela enquanto conduzia o professor Grey pelo braço para um lugar aberto no círculo.
— Estou realmente ansiosa por isso, não é, Grey?
Perguntou, sua voz brilhante chegando na pequena câmara.
— O Victoriad é emocionante demais e há muito o que fazer! Devíamos tomar alguma coisa durante nossa estadia lá.
Alguns dos outros alunos explodiram em risadas abafadas, de modo que não pude ouvir a resposta da professora.
Fosse o que fosse, a professora Abby fez beicinho se movendo para o artefato tempus warp em forma de bigorna e começava a ativá-lo.
Respirei fundo para me equilibrar, sentindo meus nervos começarem a disparar. Não muito tempo atrás, teria inventado qualquer motivo para deixar de fazer isso, mas agora… estava pronto. Estava animado até. Ia me divertir e dar o meu melhor e mesmo que fosse nocauteado no primeiro round, não importava, porque necessito ir para o Victoriad.
Houve uma sensação de calor e o cheiro repentino do mar.
Milhares de vozes se juntaram em um rugido caótico e percebi que estávamos parados em uma enorme passarela de pedra no meio de um anel de postes de ferro preto com artefatos de iluminação no topo. Uma dúzia de plataformas idênticas alinhavam-se na passarela.
Antes que eu pudesse levar um segundo para olhar em volta, um homem com uma máscara vermelho-sangue, que parecia ser algum tipo de demônio monstruoso, entrou no centro do nosso grupo.
— Bem-vindo a Vechor e à cidade de Victorious. Professor Grey da Academia Central e da classe Táticas de Aprimoramento Corpo a Corpo, correto?
— Certo.
O professor Gray respondeu, não olhando para o homem, mas olhando para os fluxos de alunos em diferentes estilos e cores de máscaras que estavam se movendo continuamente.
— Por favor, dirija-se à área de teste.
Disse o homem, apontando para a trilha de alunos de toda Alacrya.
— Área de preparação quarenta e um, no lado sul do coliseu. De lá, você poderá assistir as outras competições, bem como se preparar para a sua própria.
O professor agradeceu ao homem e gesticulou para as assistentes Briar e Aphene.
— Não deixe ninguém se perder.
Lembrando-me dos sargentos veteranos sobre os quais li nas histórias, as duas assistentes nos agruparam em duas filas e nos guiaram para o rio de alunos e professores vindos de outras plataformas. Fui separado de Mayla e me vi caminhando entre Valen e Enola.
Degraus altos desciam do caminho de pedra para um aglomerado de barracas e dosséis de cores vivas. Além do barulho dos alunos e seus professores, havia também os gritos de dezenas de mercadores, todos lutando entre si por atenção em meio ao caos, o zurro de feras de mana, o toque de martelos de forja e o estouro aleatório de explosões mágicas distantes.
Pairando sobre tudo isso estava um coliseu enorme. As paredes curvas se erguiam bem acima de nós, lançando uma longa sombra sobre as barracas dos mercadores. De onde estávamos, podia ver uma dúzia de entradas diferentes, cada uma com uma longa fila de Alacryanos bem vestidos filtrando-se lentamente. No mais próximo, um grande mago com armadura estava acenando algum tipo de varinha sobre cada participante antes de deixá-los entrar.
— Uau, é tão… grande.
Disse, tropeçando na minha língua.
Atrás de mim, Valen bufou.
— Tudo aquilo para um “uau, é grande” é o melhor que você pode fazer?
Enola riu disso, esticando o pescoço para ver o topo das paredes do coliseu.
— Algo assim… pode roubar as palavras de qualquer um de nós.
Tentei pensar em algo espirituoso para atirar em Valen, mas demorou muito e o momento passou.
Nossa fila se dividiu em duas, um grupo indo para a esquerda enquanto nossa classe seguia o riacho mais à direita, que nos levou por um largo bulevar entre duas fileiras de barracas de mercadores. Todos foram imediatamente distraídos pela enorme variedade de produtos e lembranças em exibição.
Tudo isso parecia um carnaval, com participantes bem vestidos e mascarados vagando por toda parte enquanto uma centena de mercadores e jogadores tentavam chamar sua atenção.
Todos nós engasgamos quando passamos por uma besta pesada de seis pernas com uma cabeça achatada como uma pedra e bolsões de cristais brilhantes crescendo por todo o corpo. Ele ergueu sua cabeça desajeitada para nós e soltou um grito estridente, quase fazendo Linden tombar para trás.
Um mago que engoliu o fogo de um graveto e o fez sair pelos ouvidos dançou ao lado do nosso grupo por várias baias antes que a assistente Briar o espantasse, arrancando uma boa risada da classe.
Pouco depois disso, fomos todos forçados a parar quando uma procissão dos Altos Sangue de Sehz-Clar passou à nossa frente usando ofuscantes lobos de batalha e máscaras de joias. Um em particular chamou minha atenção, ou melhor, o medalhão de prata pendurado em seu cinto.
— O que significa “No sangue existem lembranças”?
Perguntei a ninguém em particular. Algo sobre a frase era familiar, mas não conseguia identificar o que era.
— É usado por tolos que são teimosos demais para esquecer a última guerra entre Vechor e Sehz-Clar.
Alguém disse sussurrando.
Olhando em volta, vi Pascal me encarando, mal-humorado. O lado direito de seu rosto estava enrugado por causa de uma queimadura quando era mais jovem, dando a ele uma aparência cruel, embora geralmente fosse um cara muito legal.
— Oh
Disse, percebendo que devo ter lido em um dos muitos livros sobre conflitos entre domínios que li.
— Você é de Sehz-Clar, certo?
Pascal resmungou e diminuiu a velocidade, olhando para um monte de adagas enfeitadas com joias espalhadas em uma mesa ao lado do caminho. A assistente Briar foi rápida em gritar com ele para voltar à fila, mas agora foi para mais longe de mim na fila, muito longe para conversar.
A rota sinuosa para o coliseu nos levou a fabricantes de tecidos, entalhadores, ferreiros, sopradores de vidro, padeiros e criadores de animais. Não pude deixar de lamber meus lábios com o cheiro de carne assada saindo de um açougueiro que se especializou na carne de bestas de mana exóticas.
Cada nova visão era algo que eu nunca tinha visto antes, quanto mais via, mais animado ficava. Meus olhos ficaram cada vez mais arregalados à medida que marchamos e vi uma centena de coisas que gostaria de comprar: penas que usavam magia sonora para traduzir sua voz e escrever tudo o que você dizia; elixires que aguçavam sua mente e permitiam que memorizasse grandes quantidades de informações em pouco tempo; uma adaga que continha seu próprio feitiço do vento e voltaria para a sua mão quando lançada…
Na verdade, decidi que o último provavelmente não era uma boa ideia…
Por fim, fomos direcionados para uma entrada separada apenas para participantes. Enquanto os muitos alunos de outras escolas desciam uma longa encosta que conduzia a um túnel abaixo do próprio coliseu, nosso grupo foi forçado a fazer uma pausa. Algumas dezenas de espectadores estavam reunidos aqui, aplaudindo e acenando para os competidores do Victoraid enquanto marchávamos.
— É um pouco opressor, não é?
Enola disse olhando ao redor e acenava para várias crianças pequenas pressionadas contra a mureta perto do início do túnel de descida.
— Sim, um pouco. — admiti.
Ela se virou, sua surpresa óbvia mesmo por trás da máscara.
— Um pouco? Seth, treinei toda a minha vida para este momento e ainda estou apavorada.
Portrel riu, tendo se esgueirado pela fila para ficar ao lado de Valen.
— Pelo menos se você se cagar, sua capa esconderá o pior, Enola.
De repente, todos travaram, uma mão veio do nada e estapeou a nuca de Portrel, fazendo-o gritar de dor.
— Tenha modos.
Disse o professor Grey com firmeza.
— E mantenha a conversa fútil no menor que puder.
Portrel esfregou a cabeça e lançou um olhar azedo para uma Enola com um sorriso malicioso, mas então a fila começou a se mover novamente e nossa turma começou a descer a rampa.
Mais do que alguns dos outros lançaram olhares ansiosos para os mercadores enquanto mergulhávamos no túnel de entrada, onde pedras sólidas cortavam grande parte do barulho acima. A enorme estrutura acima parecia nos pressionar, fazendo com que todos ficassem quietos.
— Tenho certeza de que haverá tempo para gastar o dinheiro dos seus pais mais tarde.
Disse o professor Grey no silêncio pesado, ajustando sua máscara e olhando ao redor do túnel escuro. Portas grossas de madeira e túneis que se cruzavam se abriam para a esquerda e para a direita em intervalos irregulares, sugerindo uma grande rede subterrânea sob o chão do coliseu.
— Por enquanto, lembrem-se do que vocês estão fazendo aqui.
Encarei as costas do professor enquanto ele se movia para a frente da nossa classe. Aqui, no meio de tantos alunos do meu próprio nível, sua habilidade de suprimir totalmente sua mana o fazia se destacar ainda mais. Era tão perfeito, eu teria achado que fosse um unad se não o conhecesse melhor.
Todos nós lentamente serpenteamos pelo interior do coliseu até que outro caminho inclinado conduziu até a borda do campo de combate, todos nós demos nossa primeira olhada no quão grande a estrutura realmente era.
De acordo com As Maravilhas de Vechor, Volume Dois do historiador e ascendente Tovorin do Alto Sangue Karsten, o campo de combate oval tinha cento e oitenta e dois metros de comprimento e cento e cinquenta e dois metros de largura, capaz de acomodar cinquenta mil pessoas em assentos ao ar livre e cinquenta camarotes.
Ainda assim, o livro nem chegou perto de fazer jus ao lugar. Não havia como os números expressarem o quão grandioso era o Coliseu Vitorioso.
Dezenas de milhares de espectadores já haviam se sentado, borrando em um mar de cores enquanto cada sangue exibia seus próprios emblemas, bem como máscaras que representavam seus domínios e Soberanos. Alguns aplaudiram nossa aparição, mas a maioria da multidão parecia alheia à nossa presença.
Muitos dos homens e mulheres mais jovens nomeados e de Alto Sangue na plateia estavam enviando rajadas de magia para criar faíscas de relâmpagos ou raios de chamas coloridas que explodiram no ar. Sob esta exibição, várias dezenas de guerreiros e magos já estavam no campo de batalha, treinando e se preparando para os próximos torneios, seus gritos e feitiços aumentaram a cacofonia e deram a impressão de uma grande batalha.
A entrada do túnel surgiu na frente da área de teste trinta e nove, e mais uma vez os grupos de alunos se separaram para a esquerda ou para a direita. Encontramos a seção rotulada como quarenta e um facilmente e A assistente Briar abriu o caminho para o que era em parte um camarote e em parte sala de treinamento.
— Isso é tão legal—
Disse Remy, recebendo uma rodada de concordância de vários outros ao mesmo tempo em que todos olhavam ao redor.
Paredes com manchas escuras separavam cada área de palco da próxima, enquanto a parede traseira era feita de pedra com uma única porta que dava para um monte de túneis que levavam às arquibancadas. A frente, voltada para o campo de combate, estava aberta, embora uma série de emissores de portal gerassem um escudo que manteria qualquer um dentro a salvo das batalhas mágicas que aconteciam do lado de fora.
A sala em si era espaçosa o suficiente para cinco vezes mais alunos do que havia em nossa classe, mas nenhum de nós reclamou quando nos espalhamos e começamos a explorar avidamente.
— Normalmente teríamos que compartilhar uma área de teste com toda a delegação da Academia Central.
Valen estava explicando a Sloane.
— Mas vi o resto dos alunos de nossa academia sendo conduzidos na direção oposta. Meu avô que mandou fazer isso, tenho certeza que ele queria nos dar um espaço privado.
O resto da classe se acomodou, mas fui atraído para a frente da área de preparação para que pudesse olhar para o campo de batalha. Estava quase tudo configurado e os primeiros eventos começariam em apenas algumas horas, incluindo o nosso.
Descansei minhas mãos na varanda, de repente me descobrindo desejando que Circe estivesse aqui para ver isso comigo.
Tudo o que minha irmã fez, ela fez por mim. Foi para a guerra por mim. Morreu por mim. Mas nunca seria capaz de ver os resultados de seus esforços. A guerra vencida. Seu irmão, completamente curado.
Se Circe não tivesse feito essas coisas, estaria viva. Mamãe e papai podiam estar vivos. Mas eu não faria isso, pelo menos, não de qualquer maneira que importasse.
Não estaria aqui.
Soltando um suspiro, olhei estupidamente para longe, olhando para o campo de batalha sem realmente vê-lo.
Gostava de pensar que mamãe e papai estavam com Circe agora em algum lugar do além, esperando que eu me juntasse a eles algum dia.
Meus pensamentos vagaram para talvez um dia viajando eu mesmo para Dicathen. Afinal, se eu pudesse fazer isso, eu poderia fazer quase qualquer coisa.
Eu poderia fazer uma lápide para ela… não, uma estátua! Não haveria—
Fiz uma careta, meu humor azedando. Supondo que nem todos se transformem em pó entre os Vritra e os asuras.
— Não me diga que você já está se sentindo mal.
Disse o professor Grey, aparecendo ao meu lado.
Vacilei, tropecei na minha resposta, então finalmente disse:
— N-não senhor, estou completamente bem. É só que…
Parei, engolindo a vontade de dizer a ele tudo o que eu estava sentindo, sabendo, sem dúvida, que ele não queria ouvir nada disso.
— Estou bem, senhor.
Então, como se alguma força externa de repente tivesse assumido o controle da minha boca, eu deixei escapar.
— E se eu não for bom o suficiente?
O professor Grey me observou por alguns segundos, seu rosto impassível.
— Bom o suficiente para quem? Para a multidão dos Alto Sangue pomposos? Para seus colegas de classe?
Ele ergueu uma sobrancelha.
— Ou para você mesmo?
— Eu…
O que quer que estivesse prestes a dizer, o pensamento morreu em meus lábios. Não sabia responder. Para fazer seu sacrifício valer a pena, pensei, mas não consegui dizer isso em voz alta, porque não tinha certeza se era mesmo verdade.
Uma buzina soou, me fazendo pular. O campo de batalha estava vazio. Quatro enormes bolas de fogo voaram para o ar e explodiram, enviando faíscas multicoloridas que choveram sobre o coliseu.
— Vai começar!
Alguém gritou e o resto da classe se amontoou na frente em torno de mim e do professor.
Ouviu-se um ruído surdo, tão profundo que mais senti do que ouvi e uma enorme rampa no centro da arena começou a baixar. Quatro guardas apareceram, marchando pelas rampas para a luz do sol e arrastando pesadas correntes atrás deles. Presa à outra extremidade das correntes por algemas em seus pulsos e tornozelos estava uma multidão de pessoas.
Os prisioneiros estavam vestidos com tanga e faixas de peito, seus corpos pintados com runas. Alguns subiram a rampa, mas outros foram praticamente arrastados. Muitos tinham cabelos tosados e raspados nas laterais para mostrar orelhas pontudas, enquanto outros eram mais baixinhos e robustos…
Assim como os elfos e anões de Dicathen.
A multidão começou a vaiar os Dicatheanos, gritando insultos e zombarias enquanto os guardas reuniam os prisioneiros em um grupo bem no centro do campo de batalha. Os prisioneiros se amontoaram ali, olhando ao redor com óbvio pavor enquanto a rampa se fechava atrás deles.
Os guardas correram para fora do campo de combate e o estádio ficou quieto novamente enquanto todos esperavam para ver o que iria acontecer. Este silêncio durou o espaço de algumas respirações, então o barulho de trituração veio novamente quando duas rampas menores baixaram de cada lado dos prisioneiros.
Quatro bestas de pelo escuro subiram as rampas. Cada uma parecia um lobo, exceto pelas pernas longas e com olhos laranja ardentes. Seus dentes tinham o formato de pontas de flecha e brilhavam uma cor escura à luz do sol.
— Lobos das presas negras.
Deacon disse.
— Classificados como monstros de classe B na escala Dicatheana. Eles têm pele resistente ao fogo e podem comer pedras! Isso não é loucura?
— Não acho que eles vão precisar de pedras esta noite.
Alguém murmurou.
As correntes caíram com um estrondo no chão, separando-se magicamente das algemas dos prisioneiros e fazendo com que os lobos das presas negras fugissem momentaneamente.
Os Dicatheanos começaram a se mover enquanto as pessoas mais fortes e de aparência mais saudável empurravam os mais fracos e frágeis para o centro do grupo. Não senti nenhuma mana e nem vi feitiços sendo lançados.
A cautela dos lobos das presas negras não durou muito. Assim que perceberam que suas presas estavam totalmente indefesas…
A primeira das feras se lançou no anel de defensores, suas presas escuras fechando em torno da cabeça de um homem. Os outros três o seguiram e, embora os prisioneiros lutassem, chutando e socando violentamente, não havia nada que pudessem fazer.
As arquibancadas explodiram em barulho no derramamento de sangue.
Um arrepio repentino desceu pela minha espinha e fez minha pele arrepiar. Estremeci, olhando ao redor em busca da fonte da aura fria e afiada que me atacava como garras.
Professor Grey…
Parado ao meu lado, ele parecia, apenas por um instante, uma pessoa totalmente diferente. Ele estava imóvel como uma estátua e seu rosto normalmente inexpressivo estava afiado como uma lâmina. Seus olhos dourados, escuros e implacáveis, olhavam para o campo de combate com tal ferocidade que até me queimava internamente.
Apenas Lady Caera parecia ter notado. Quando estendeu a mão e enrolou os dedos em torno de seu pulso, recuei, instintivamente com medo de que a intenção de matar que eu sentia fosse atacá-la.
Então o feitiço foi quebrado e eu fiquei com uma sensação de vazio, como se alguém tivesse escavado minhas entranhas com uma pá congelada.
Por que ver os Dicatheanos o deixou tão perturbado?
A família dele morreu lá também? Eu queria perguntar.
Antes que eu pudesse criar coragem para dizer qualquer coisa, uma presença ainda mais avassaladora instalou-se na área de palco. Imediatamente me senti como se estivesse de volta à sala de treinamento, o aumento da gravidade me esmagando contra o chão.
Brian e Linden se ajoelharam imediatamente e pressionaram seus rostos no chão enquanto o resto da classe olhava em volta perplexa, a batalha lá fora completamente esquecida.
Como um, nos viramos para encarar a figura que tinha acabado de aparecer em nossa área de teste. Laurel soltou um gemido e caiu de joelhos e logo o resto dos alunos seguiram o exemplo. Percebi com uma pontada de pânico que apenas o professor Grey, Lady Caera e eu ainda estávamos de pé, mas minhas pernas estavam travadas retas e eu não conseguia me mover.
Ela encontrou meus olhos, me segurou lá e eu senti como se estivesse sentado na palma de sua mão enquanto me inspecionava. Tentei me ajoelhar novamente, mas não consegui desviar o olhar do rosto dela, a única na sala que não estava coberta por uma máscara.
A tinta roxa salpicada de ouro manchava seus lábios e suas bochechas brilhavam com poeira estelar prateada. Seu cabelo pérola escuro se erguia em tranças e cachos no topo de sua cabeça, descansando entre dois chifres estreitos e espiralados. Ela usava um vestido de batalha feito de escamas que brilhavam como diamantes negros e uma capa forrada de pele que era tão escura que parecia absorver a luz.
Queria desviar o olhar, fechar os olhos, fazer qualquer coisa. Mas não conseguia.
Em seguida, uma mão pesada estava em meu ombro, me forçando a sair do meu estupor. Me deixei cair, caindo imediatamente de joelhos com um grunhido de dor.
— Foice Seris.
Disse o professor Grey acima de mim.
— Que prazer em revê-la.
Tradução: Reapers Scans
Revisão: Reapers Scans
QC: Bravo
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