Fingindo nervosismo, arrastei-me cautelosamente pelos túneis seguindo o homem chamado Rato, e meus olhos saltavam de sombra em sombra. O caminho era sinuoso como uma corda cheia de nós. Movíamos com cautela e parávamos frequentemente para ouvir e espiar pelos cantos, mas a zona estava silenciosa, exceto pelo leve som dos pés de Rato se arrastando atrás dele.
— Eu meio que me sinto mal por deixar Caera com todos aqueles bandidos assassinos.
Disse Regis, a sensação de sua presença como uma bola etérea quente em volta do meu núcleo.
— Eu sei. — concordei.
— Não consigo imaginar o que ela fará com eles sem ter a gente para mantê-la sob controle.
Passamos por uma seção desmoronada do túnel e notei um pedaço de parede irregular, meio solto, que me fez pensar se alguma besta, ou ascendente, poderia cavar um túnel através da terra. Pensando na rápida chegada de Kage no portal de entrada da zona, fazia sentido. A habilidade de atravessar a terra sólida era bastante comum entre os mais poderosos magos de atributos da terra em Dicathen.
Viramos à direita duas vezes em uma curta distância, a fim de passar por baixo do túnel que tínhamos atravessado. Haviam muitos outros pedaços soltos de parede que sugeriam que alguém viajava por ali com frequência, e os veios de rocha vermelha que iluminavam as passagens ficavam mais grossos e brilhantes quanto mais progredíamos.
O éter na atmosfera também ficou mais denso, enchendo o ar como uma névoa roxa. Estava confiante de que Rato estava me guiando no caminho certo, e que eu poderia encontrar o santuário mesmo sem ele, ao usar o éter ambiente.
Expandi meu foco para sentir os caminhos etéreos conectando cada ponto no espaço ao meu redor. No entanto, com o tamanho dessas redes de túneis e cavernas, era impossível fazer um mapa preciso com as informações que recebi.
— Por mais chato que tenha sido assistir você agir como um woggart bunda mole, admito que foi a decisão certa.
— Eu sei. É por isso que raramente ouço você. — zombei.
— É injusto, não é?
— Oi?
Perguntei, ligeiramente pego de surpresa quando Rato começou a falar de repente.
— Esperam que sirvamos como animais de estimação, mas, no ato de fazê-lo, tornamo-nos dependentes da força de nossos mestres para nos mantermos seguros.
O homem pálido e quieto me deu um sorriso de boca fechada.
— É por isso que você serve… ao Kage?
Perguntei, alterando minha inflexão para soar como se tivesse medo de dizer o nome do maníaco.
Os ombros curvados de Rato se encolheram.
— Sua brutalidade o tornou eficaz neste lugar. Você pode não acreditar em mim, mas as coisas eram piores antes de ele chegar.
— Você… não acha que ele vai machucar Lady Caera, acha?
Embora eu não estivesse particularmente preocupado com Caera, sabendo que ela era mais do que capaz de cuidar de si mesma, esperava apelar pro lado emocional do meu guia. Se eu pudesse fazer com que ele se abrisse para mim, poderia chegar mais facilmente à verdade sobre o que estava acontecendo nesta zona, incluindo descobrir como escapar dela.
Os ombros de Rato afundaram ainda mais com a minha pergunta. Quando falou, foi pouco mais que um sussurro.
— Kage e seus homens… não são gentis com as mulheres. Não vou defender, mas…
Fez uma pausa, enquanto eu fingia um ruído assustado do fundo da minha garganta, e acabou se virando para me encarar. Seus olhos negros me perscrutaram profundamente.
— Devemos seguir em frente. Ainda estamos a alguma distância do santuário.
As orelhas de Rato estremeceram e ele parou por um segundo antes de prosseguir. Viajamos em silêncio por um tempo, até chegarmos a um túnel onde grossas raízes estranguladoras haviam crescido do chão ao teto, bloqueando o caminho à frente. O rato inverteu o curso, encontrando outro túnel que, segundo ele, contornaria a passagem coberta de vegetação.
— Há quanto tempo está aqui? — perguntei suavemente.
— Um ano… talvez mais.
Seus ombros balançaram para cima e para baixo, num gesto de impotência.
— Lutei por um tempo, como os outros. Então me escondi. E aí, o Kage veio. Pelo menos com ele temos algum tipo de ordem enquanto descobrimos como reivindicar a relíquia.
— Você realmente acha que é necessário um sacrifício de sangue para consegui-la? — perguntei, inseguro.
Rato farejava e cuspia no chão nos conduzindo por um cruzamento de vários túneis diferentes.
— Por um ano eu vi sangue sendo drenado para o glifo, e nunca foi o suficiente. Alguns meses atrás, Kage arrastou para o santuário todos os ascendentes que tinha aprisionado, e fez com que suas gargantas fossem cortadas ao mesmo tempo, certo de que ninguém nunca havia derramado sangue suficiente de uma vez só…, mas mesmo isso não foi o suficiente.
Rato parou, ouvindo ao redor antes de se dirigir a mim.
— Há alguns nesses túneis que acham que deve ser outra coisa. E que talvez tenhamos lido as runas incorretamente…
Um arrepio percorreu sua espinha, e eu praticamente pude ver o peso daquelas mortes pressionando-o.
— É por isso que…
Arrastou o pensamento, novamente me dando aquele olhar investigativo.
Fiz planos para você ver mais do que apenas o santuário.
O observei com incerteza, mas não disse nada.
— Acho que somos quase iguais.
Continuou ele com cautela, com apenas um toque de esperança em suas palavras.
— Podemos não ser feitos para derramamento de sangue e batalha, mas nosso valor é maior do que nossos mestres julgam ser.
Hesitou, depois balançou a cabeça com um sorriso nervoso.
— Meu tempo aqui me deixou sem modos. Eu nem perguntei o seu nome.
— Grey
Disse, devolvendo um sorriso sem jeito.
— Você tem outro nome além de…
Parei, esfregando minha nuca.
Ele franziu a testa com tristeza, mas disse:
— Amand. Mas aqui… me chame de Rato. Todo mundo me chama assim.
Ele se endireitou.
— Grey, acho que juntos podemos terminar este ciclo terrível. Estou pronto para ir para casa, para ver meus…
Pausou novamente, sua carranca se aprofundando.
— Eu tenho uma mãe… e um irmão… que provavelmente pensam que estou morto…
Abri minha boca e fechei novamente, não tendo que fingir minhas emoções enquanto pensava em Ellie e minha mãe, escondidas sob o deserto de Darvish, sem ter ideia de que eu estava vivo.
Limpando a garganta, ele continuou.
— Espero que você entenda o risco que estou correndo ao lhe dizer isso, mas… há algum tempo, tenho passado informações sobre o Kage para as outras facções nesta zona.
Regis deu uma risadinha.
— Quem diria, nosso Rato é um rato mesmo,
— Já fazem meses desde que alguém, além de Kage e seu pessoal, teve permissão para ver a relíquia, ou a proteção em torno dela. Embora Kage mantenha uma certa ordem por aqui, ele não é particularmente… inteligente.
— E mentes frescas podem encontrar um novo significado em palavras antigas.
Disse, citando um livro sobre conjuração que li quando ainda era estudante na Academia Xyrus.
— Exatamente. — concordou.
— Então… você vai me ajudar?
Mostrando insegurança, abri minha boca, fechei-a e abri novamente.
— Só quero achar uma forma segura de tirar minha mestra desta zona.
Rato assentiu, continuou me conduzindo até o santuário, que não ficava longe de onde paramos para conversar. Várias curvas depois, encontramos três mulheres paradas no túnel, com as armas em punho.
Congelei, mas Rato continuou se movendo em direção a elas.
— Quem é esse?
Uma mulher alta com tranças apertadas perguntou, apontando sua lança dourada para o meu peito.
— Ele é novo.
Rato respondeu rapidamente.
— Não é um dos homens do Kage.
— Por que ele está aqui?
Seus olhos castanhos me avaliaram com desconfiança, parecendo permanecer em torno do meu esterno. Sua carranca se aprofundou.
Rato coçou atrás da orelha.
— Pelo mesmo motivo que você, T’laya.
Ela estalou a língua, mas abriu passagem. Rato se esgueirou entre as mulheres, cada uma vários centímetros mais alta do que ele, seus olhos demorando em suas armas.
Imitei sua cautela enquanto também passava entre elas, paradas como sentinelas dos dois lados, me olhando com frieza.
Chegamos a um ponto onde o caminho se dividia, curvando-se para a esquerda e para a direita. Rato tomou o caminho da esquerda, então parou diante de um pedaço de parede nua. Fechou os olhos e pressionou a mão contra a parede, um zumbido vibrante sacudiu a passagem.
Como uma cortina sendo puxada para os lados, a parede se abriu, revelando uma câmara completamente isolada do resto da zona. Três homens, todos esfarrapados e imundos, obviamente parte da gangue de Kage, brandiram suas armas, então recuaram ao ver o Rato.
Um homem corpulento, cuja barba caía quase até a barriga, colocou a haste de seu maciço machado de duas mãos no chão e apoiou as mãos nele. Olhou para as três mulheres, mostrando a boca cheia de dentes tortos e manchados, mas sua expressão mudou quando me notou.
— Você não disse nada sobre outro homem. — disse rispidamente. — Kage—
— Eu estaria aqui se nosso mestre não desejasse? — Rato resfolegou.
— Kage está ficando impaciente pela relíquia. Este homem é um poderoso Sentinela a serviço de uma poderosa Alto Sangue. Kage instruiu que ele tivesse permissão para ver o santuário junto com T’laya e suas mulheres.
O guarda corpulento não parecia convencido, olhando-nos com ceticismo.
— Você algum dia quer sair daqui, seu idiota sem sangue?
Rato estalou, afastando os três guardas de uma enorme escultura que ocupava a maior parte da câmara.
O homem pensou sobre isso por um momento, então ficou de lado, dando passagem. Rato gesticulou para que entrássemos, apontando para o chão.
No entanto, meus olhos foram atraídos para além dele, em direção ao que só poderia ser a relíquia pela qual tantos mataram e morreram.
Minha reação imediata foi… decepção.
O traje, que pendia suspenso em um feixe de luz dourada, era melhor descrito como um manto blindado. Ele era grosso e volumoso, o tecido de um marrom acinzentado suave, com ombreiras de couro escuro, braçadeiras e um gorjal. Runas foram bordadas nas costuras e esculpidas ao longo das bordas das peças de armadura de couro.
Desconsiderando o estilo ultrapassado, a armadura-relíquia parecia ter sido feita para um ogro, e não para um homem.
— Ah, não sei. Parece bastante apropriado. — disse Regis, pensativo.
— Um vestido machão para uma princesa machona.
A maneira como o éter estava se movendo na sala chamou minha atenção, olhei mais de perto. Um brilho ametista sutil de éter infundia a armadura.
— Isso é…?
— Acho que sim.
Confirmei, extasiado pela forma como o éter parecia girar em torno da armadura, sendo atraído de todas as partes da zona. É por isso que o éter atmosférico é muito mais espesso aqui.
T’laya cruzou na minha frente, quebrando o feitiço da relíquia. Ela se ajoelhou sobre o glifo, seus dedos traçando os sulcos profundos no chão de pedra.
O glifo era uma série complexa de runas, cuidadosamente organizadas em círculos concêntricos. Era engenhoso, como pintar um quadro com palavras, mas era um design não tradicional. Não pude deixar de pensar que mesmo um professor de runas djinn teria dificuldade para adivinhar o significado exato. Havia uma complicação extra porque as peças foram desgastadas ou danificadas com o tempo, e as ranhuras estavam manchadas de marrom avermelhado por conta de todo o sangue que foi derramado aqui.
No topo do glifo, se fundia em um segundo símbolo menor, onde a armadura pairava dentro de sua barreira protetora.
Abaixei-me para olhar mais de perto, meus dedos traçando as linhas esculpidas.
— Que a luz me guie…
Uma das mulheres ascendentes respirou maravilhada enquanto olhava o santuário.
Rato fungou.
— O que acha dela?
— Não me admira que ninguém tenha descoberto como obtê-la. Esse glifo está uma bagunça. — disse Regis, prestativo.
Reli a mesma seção pela terceira vez, fazendo um esforço para entender a construção das runas.
— Começa aqui.
Disse Rato, apontando para uma quebra nos círculos concêntricos perto da luz dourada e da relíquia.
— Talvez ajude se você ler do começo ao fim.
Mudei-me para onde ele havia indicado e comecei a traduzir com a ajuda de Regis.
— Isso é muito sangue para uma raça de pacifistas. — pensou Regis.
Ele tinha razão. Quando Kage e Rato revelaram o motivo da violência que infestava esta zona, esperava descobrir que estavam sendo tolos ao interpretarem mal as instruções do djinn, mas o glifo estava cheio de referências a sangue.
— …o sangue de alguém que… o que aquela runa diz?
— Não reconheço. — admiti.
— Talvez esteja danificada.
— …de alguém que sei lá o que, sei lá o que, sangue de nosso sangue, pode… ser sobrecarregado? Isso não faz sentido nenhum…
T’laya apontou a mesma runa com a qual tivemos dificuldade perguntando se alguém podia lê-la, mas ninguém conseguiu.
Minha atenção se voltou brevemente para os três guardas contra a parede. Cada um era maior, e “mais burro”, acrescentou Regis, do que qualquer outro ascendente que eu tinha visto, e entendi por que Kage os escolheu para ficar de guarda. Homens como esses não mostravam curiosidade, e dificilmente pensariam muito profundamente no quebra-cabeça em que se encontravam, apesar de ser a chave para uma fortuna que nem mesmo podiam compreender.
— Os antigos magos eram um povo de paz.
Disse, meio para mim mesmo.
— A dedicação deles a este ideal era tão grande que não se defenderam mesmo quando outra raça os destruiu. Em vez disso, construíram as Relictombs para manter seu conhecimento vivo. Não forjaram armas ou armaduras. É por isso que essa relíquia foi trancada.
Apontei um pedaço do glifo.
— Eles até chamam de “um santuário para a futilidade”.
— Mas a relíquia também é a chave para ir embora
Rato nos lembrou, cutucando a barbicha em seu queixo.
— Você está sugerindo que este é um beco sem saída?
Uma sensação de nervosismo caiu sobre ele.
— Isso não pode ser verdade…
T’laya cuspiu no chão.
— Há um caminho. Há sempre um caminho nas Relictombs.
Voltei minha atenção para o glifo, murmurando para mim mesmo enquanto trabalhava em volta dele em um círculo, traduzindo-o novamente do zero.
— Sangue do nosso sangue… cheio de propósito… aquele que…
Minhas sobrancelhas franziram quando relia os glifos mais algumas vezes, focando mais nas partes aparentemente contraditórias das runas, tentando entender seu significado.
Segurei a vontade de suspirar com a minha revelação. As coisas nunca eram fáceis.
Soltando uma risada, me levantei.
— E-eu acho que entendi.
Rato se aproximou de mim, seus olhos se estreitando para os glifos antes de me dar um olhar cauteloso.
— O que você encontrou, Grey?
Minha boca se abriu sozinha, de tanto entusiasmo.
— O sangue não é…
Parando bem a tempo, soltei uma tosse.
Respirei fundo para me acalmar.
— É só que… eu… as runas pedem o sangue de uma certa linhagem…
Vendo minha reação, Rato suavizou, curvando-se levemente.
— Peço desculpas, Grey. Muitas vezes neste último ano alguém afirmou que havia entendido o significado das runas, mas isso nunca foi verdade. Não tive a intenção de desconfiar de você, estou apenas… cauteloso.
Concordei com a cabeça e deixei um sorriso rastejar lentamente no meu rosto.
— Precisa de alguém de…
Então congelei, deixando minha boca aberta.
— De quê, Grey?
Rato ficou inquieto, dando um passo para mais perto de mim, com uma expressão que misturava antecipação e frustração.
— Por Vritra, sou o pior servo de Alacrya.
Gemi, olhando para ele com pavor.
— Quase me esqueci de Lady Caera. Acha que ela está bem? Eu… eu estou disposto a lhe dizer como conseguir a relíquia, mas primeiro precisamos ter certeza de que ela está segura.
Rato balançou a cabeça negativamente. T’laya e suas companheiras haviam parado o que estavam fazendo e me olhavam com desconfiança. Os três guardas trocaram olhares confusos.
— Será mais fácil libertá-la depois de reivindicarmos a relíquia. Então teremos a vantagem.
Insistiu Rato.
— Assim que soubermos como sair…
O ascendente corpulento deu um passo pesado à frente e apontou seu machado para o Rato.
— Kage não o enviou desta vez, não é, Rato? Você mentiu!
Rato recuou para longe da saliva que voou dos lábios do enorme ascendente. Antes que o homem pudesse vir atrás de nós, no entanto, uma lança dourada atravessou seu pescoço. Os outros dois caíram ao mesmo tempo, igualmente empalados quando T’laya e suas companheiras os atacaram.
A mulher alta arrancou a lança do pescoço do morto e apontou para mim.
— Explique.
— O sangue tem que… que…
Engoli em seco.
— O sangue precisa ser de alguém com descendência dos Asuras, terminei apressado.
A lança de T’laya pressionou minha garganta.
— Tolice. Mentiras. Isso é impossível.
— Não é. — sibilei.
— “Derrame o sangue de quem prejudicou o sangue do nosso sangue”. Os asuras… os asuras eram os inimigos dos antigos magos…
Os olhos sérios de T’laya pareciam perfurar os meus procurando a verdade. Depois de alguns longos segundos, praguejou e deu um passo para trás, baixando a lança.
— Então estamos realmente condenados a apodrecer aqui para sempre.
Esfreguei minha garganta, onde uma gota de sangue escorria pela minha pele. A ferida já estava curada, mas ninguém parecia notar.
Rato estava me olhando fixamente. Fiz uma careta. Ele semicerrou os olhos.
— O que é isso, Grey?
Hesitei até que T’laya soltou uma bufada de raiva, então disse:
— Lady Caera… ela é do Alto Sangue Denoir, mas não de nascimento. Ela tem sangue Vritra.
Os olhos de Rato brilharam, seu olhar era tão intenso que era quase físico, até eu perceber que realmente havia uma sensação física, como dedos massageando meu cérebro. O rosto de Rato se abriu em um sorriso largo e satisfeito, ergueu a mão.
Meu corpo simplesmente parou de responder. Em algum lugar no fundo da minha consciência, podia sentir um zumbido quase imperceptível que estava mais em meus ossos do que em meus ouvidos. Um feitiço de atributo de som, atacando diretamente meu sistema nervoso para me paralisar. Minhas costas estavam voltadas para os outros, mas tinha certeza de que foram afetados da mesma forma.
— É uma regalia.
Disse Regis ao se dar conta.
— Algum tipo de feitiço de paralisia baseado em som. É bem forte.
Isso era verdade. A proteção de mana apropriada o impediria de funcionar, mas a maneira como atacava diretamente o sistema nervoso o tornava muito eficaz. A força física não fazia diferença na minha capacidade de bloquear o ataque.
Os olhos negros redondos de Rato estremeceram enquanto me olhava, as mãos fechadas na frente do peito.
— Você é perigosamente inteligente.
Disse ele, lambendo os lábios.
— Você foi astuto com a garota… Kage foi um tolo por chegar a conclusões precipitadas. Soube imediatamente que você não era apenas um Sentinela escondendo sua assinatura de mana.
Ele deu um toque na sua têmpora.
— Apenas mais uma das minhas runas muito úteis. Posso ouvir o fluxo do seu sangue, as batidas do seu coração, o ar soprando em seus pulmões. Consigo dizer quando alguém está mentindo. E como eu sei que você estava dizendo a verdade agora, felizmente não há mais necessidade de continuar com esse joguinho. Foi um duelo interessante, quem pode fingir ser mais fraco e patético, mas estou cansado disso. Agradeço, Grey, pela sua ajuda.
— Art, o que eu faço? Eu…
Disse a Regis o que precisava dele, ficou em silêncio.
Com um sorriso preguiçoso, Rato puxou uma longa adaga curva de seu cinto e caminhou até mim. Manteve contato visual enquanto passava a lâmina em minha garganta, e eu pude sentir de longe o calor do meu sangue derramando pelo meu peito.
Meu corpo desabou no chão e Rato se inclinou sobre mim. Embora não pudesse me mover, ainda podia sentir quando a adaga penetrou nas minhas costelas, minhas costas e, finalmente, meu coração. Meus olhos se fecharam e minha respiração parou.
POV RATO
O sangue se acumulou sob o corpo do ascendente de olhos dourados enquanto tombava sem vida.
— Parece que você foi útil, no fim das contas.
Limpei a lâmina com a manga do braço de Grey antes de me levantar e me virar para encarar T’laya.
A ascendente alta e orgulhosa estava imóvel, suas companheiras a flanqueando. O resto de seu povo cairia rapidamente sem essas três, tinha certeza. Acenei minha adaga na frente dos olhos injetados de sangue de T’laya. Embora não pudesse se mover, poderia dizer pelo ritmo constante de seu batimento cardíaco que já sabia o que estava para acontecer.
O feitiço de paralisia sônica estava começando a me desgastar, então não perdi tempo saboreando suas mortes da maneira que gostaria. Assim que caiu morta ao lado de suas companheiras, liberei meu feitiço e respirei, cansado, mas alegre.
— Um último sacrifício antes do fim.
Disse, segurando minha adaga em direção à relíquia, como se fizesse um brinde.
Canalizando mana em uma de minhas runas menores, coloquei minha mão no chão.
— Kage. Traga-a.
Se aquele degenerado tivesse seguido minhas instruções, já estaria por perto com a alto sangue. Não havia como ter certeza absoluta de que Grey poderia resolver o problema da relíquia, mas havia percebido a confiança inabalável que ele mantinha em si mesmo.
Foi uma verdadeira surpresa descobrir o segredo da mulher. Embora ele não tivesse dito a parte mais importante, tinha ouvido as variações sutis de seu tom que o traíam. Lady Caera não só tinha sangue Vritra, mas seu sangue também havia se manifestado. Sem a ajuda de Grey, poderia ter cometido o erro de perfurar seu núcleo e jogá-la para Kage. Saber que ela carregava sangue Vritra, entretanto… isso mudava as coisas.
Kage chegou um ou dois minutos depois, arrastando Lady Caera atrás dele. Ela avistou o corpo de seu companheiro no chão, e sua mandíbula se enrijeceu.
— Foi realmente necessário matá-lo?
— Lady Caera do Alto Sangue Denoir
Disse, dando a ela uma leve reverência. Sua boca se fechou.
— Sangue do Vritra.
Sua boca se formou em uma linha tensa e seu rosto empalideceu. Regozijei de alegria com a visão. Movendo-me para ficar bem na frente dela, ajustei as correntes que prendiam seus pulsos.
— Você tem alguma ideia de como restrições que cancelam mana são úteis em uma ascensão? E essas são variações particularmente de alto nível. Você nunca sabe quando precisará desabilitar um inimigo, ou aliado, quando há espólios a serem reclamados.
Seu queixo se ergueu, enfatizando seu olhar superior.
— Se você conhece meu sangue, então você não ousaria colocar um dedo em mim…
Rindo, estendi a mão e tateei em volta do pescoço dela pelo artefato que sabia que deveria estar lá. Quando minha mão envolveu a corrente fina, dei um puxão forte, arrancando-a de seu pescoço.
Chifres apareceram dos lados de sua cabeça, desenhando para frente e para cima, com pontas secundárias apontando para trás, emoldurando sua cabeça como um louro negro. Passei um dedo ao longo da superfície dura e lisa, momentaneamente fascinado por eles. Ela estremeceu com uma raiva reprimida, mas não se afastou. Em vez disso, falou com uma calma forçada, seus olhos escarlates se estreitaram em duas adagas ensanguentadas.
— Quando sairmos daqui, terei tanto uma relíquia viva quanto alguém de sangue Vritra. Imagine isso, Lady Caera. Chego com a história de te descobrir nesta zona de convergência, meio morta, traída por seu servo mais fiel… Você não seria a mesma, é claro, não depois de tudo que viu, mas está viva. E com a riqueza adquirida com a relíquia, talvez os Denoirs até me considerem um marido adequado para o seu eu despedaçado?
Eu dei a ela um sorriso zombeteiro.
— Em um único dia, me tornarei o ascendente mais famoso de Alacrya. Aposto que até conseguirei uma audiência com o Alto Soberano. Talvez, para o descobridor da relíquia, ele se dignasse a oficializar nossa cerimônia?
Meu sorriso vacilou quando tive um pensamento curioso.
— Por que você fez isso? Por que esconder este lindo dom?
Aqueles olhos escarlates mortais apenas olharam de volta para mim.
— Bem, depois teremos tempo suficiente para uma conversa tão íntima. Por ora…
Puxando pelo chifre, arrastei a mulher que se debatia, certificando-me de que ela teria que passar por cima do corpo de seu companheiro morto no caminho, e chutei a parte de trás de sua perna para que ela caísse de joelhos.
Puxando suas mãos pelas algemas que as prendiam, desenhei uma linha sangrenta em sua palma com minha adaga, então a empurrei para o chão, onde sua mão ensanguentada bateu na pedra esculpida do chão, manchando o glifo.
Para minha decepção, ela nem mesmo engasgou de dor, mas isso era insignificante em comparação com o que estava para acontecer.
Só que… nada aconteceu.
Soltando um suspiro pesado, senti um pouco do meu bom humor sumir.
— Eu realmente esperava poder receber meus dois prêmios, mas, enfim… nem sempre conseguimos tudo o que desejamos, não é, minha senhora?
Mais uma vez, segurando-a pelo chifre, girei Lady Caera para me encarar, dando-lhe a honra de não cortar sua garganta por trás. Seus olhos focaram em algo atrás de mim, se alargando e um sorriso se espalhou em seu rosto, em vez do terror que eu deveria ter visto.
Virando-me lentamente, encontrei Grey de pé, suas feridas curadas, sua pele sem marcas da minha lâmina. Mas sabia que o tinha esfaqueado… cortei sua garganta, perfurei seu coração… o sangue que encharcava suas roupas era prova disso!
Kage amaldiçoou e sacou sua cimitarra, mas não teve a chance de atacar. Uma sombra negra explodiu para fora do corpo de Grey, jogando Kage no chão. Mal percebi, incapaz de desviar o olhar de seus orbes dourados.
Tudo fazia sentido agora: aquela confiança impossível que o homem não conseguia esconder. Mesmo agora não conseguia sentir sua mana de jeito nenhum. Não porque ele fosse algum pequeno Sentinela estranho, capaz de mascarar sua presença… não. Era porque ele era muito mais forte do que eu… mas eu já havia derrubado bastardos maiores e mais fortes do que eu antes.
Meu núcleo doeu quando empurrava mana para minha runa novamente, lançando a paralisia sônica. Um zumbido baixo vibrou de mim, a frequência exata necessária para interromper o sistema nervoso, impedindo todo movimento.
O lobo das sombras congelou no lugar, suas mandíbulas pairando sobre o rosto de Kage, a baba escorrendo dos dentes enormes. Kage estava paralisado também, de costas sob a criatura, sua boca aberta numa expressão que era mais de medo do que um grito de guerra. Atrás de mim, ouvi a respiração de Lady Caera parar em seus pulmões.
O ascendente de olhos dourados estava imóvel. Sorri e girei minha adaga para ele ver.
— Preciso separar sua cabeça de seu pescoço para garantir que você não se levante novamente? Talvez, depois de fazer isso, vou te queimar só para garantir.
Ele balançou a cabeça, por mais impossível que isso deveria ser.
— Eu preferiria que você não fizesse isso.
Embora pudesse ver a certeza da minha própria morte em seus olhos, me recusei a cair sem lutar. Girando, lancei-me sobre Lady Caera. Se eu pudesse usá-la como refém, então…
No instante seguinte ele estava ao meu lado, o cabo de uma adaga de ametista serrilhada brilhando entre seus dedos, a lâmina em minha barriga. Em meu núcleo. Minha magia foi liberada com uma explosão de estática raivosa que fez meus ouvidos zumbirem. Podia ouvir a respiração estável da mulher e o rosnado de Kage quando a besta o prendeu no chão.
A força deixou meu corpo enquanto afundava no chão aos pés de Grey. Meu sangue fluiu livremente, preenchendo as ranhuras do glifo.
Acima de mim, a luz dourada começou a piscar. Com minhas últimas forças, me estiquei para ver a relíquia.
A barreira, há tanto tempo impenetrável, desapareceu.
Tradução: Reapers Scans
Revisão: Reapers Scans
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