O éter percorreu meu corpo, acendendo meus canais com fogo líquido antes de se fundir no âmago do meu núcleo. Apesar de meus pensamentos estarem em outro lugar e do fato de eu ter feito isso inúmeras vezes antes, a sensação ainda era embriagante. Este poder profundo e evasivo que nem mesmo Asuras podiam controlar totalmente estava dentro de mim, esperando para ser libertado.
— Acho que conseguimos.
Disse Regis quando terminamos de reunir as nossas memórias. A última mensagem de Sylvia não tinha mostrado as quatro ruínas dos djinn, mas mostrava as zonas que levavam a elas. Só que demorou para nós dois lembrarmos os detalhes com clareza suficiente para que a Bússola nos levasse até lá.
— Sim
Respondi simplesmente, visualizando a imagem de estreitos túneis de terra serpenteando como um labirinto de buracos de minhoca gigantes em todas as direções.
Abri meus olhos e fui saudado pelo cadáver quitinoso da centopeia gigante, na qual estava sentado enquanto absorvia seu éter.
Com meu núcleo quase totalmente reabastecido e nosso destino definido, desci ao chão bem a tempo de ver Caera se levantando do memorial improvisado de seu irmão. O branco de seus olhos tinha ficado vermelho de tanto chorar, mas seu olhar ficou sério, sua mandíbula firme e determinada.
Nenhuma palavra foi trocada, apenas um simples aceno de cabeça antes de seguirmos em frente.
O portal de saída estava a horas da caverna, e o resto da jornada pela zona vazia foi tranquila. Nós nos movemos rapidamente e em silêncio. Regis ficou dentro do meu corpo, recuperando sua força após o uso da Destruição. Seu controle sobre a habilidade tinha se fortalecido significativamente desde a última vez que a usou, mas podia sentir o preço que isso custava a ele.
— Você deveria descansar um pouco antes de irmos.
Disse quando finalmente alcançamos a saída.
— Já faz um tempo que você não dorme.
— Estou bem.
Respondeu ela, lançando um olhar para trás. Embora não tenha dito, sabia que estava pronta para sair dessa zona.
Focando na imagem daqueles túneis sinuosos, ativei a Bússola e Caera entrou. A zona adiante estava cheia de poeira que pairava no ar, tornando difícil ver no que estávamos entrando, e tudo que eu podia ver de Caera era uma silhueta escura.
— Arthur
Regis falou dentro de mim no momento em que mais duas silhuetas surgiram de cada lado dela.
— Fique dentro por enquanto.
Ordenei, focando na luz vermelha opaca que refletia em suas armas.
O portal brilhante evaporou atrás de mim quando passei, meus olhos imediatamente procurando por Caera e seus atacantes.
A lâmina vermelha de Caera cintilou na poeira espessa, soando contra a arma de seu atacante. Gritos guturais encheram o pequeno espaço, e uma lança brilhante se projetou para fora da poeira escurecedora. A agarrei um momento antes de atingir Caera nas costas. O cabo de aço reforçado com mana guinchou quando arranquei a ponta da lança de sua haste e a joguei de volta no portador. A ponta dentada perfurou o peito do atacante, e sua sombra escura foi levantada do chão e se chocou contra a parede de terra nua.
A poeira começou a baixar, revelando outro homem, grande e coberto de terra e argila – golpeando e atacando Caera com uma cimitarra congelada e serrilhada, e dois atacantes flanqueando um estreito túnel de terra que conduzia para fora do pequeno espaço em que estávamos.
O Passo de Deus me levou pra trás deles, e um raio de ametista serpenteava em minha pele. O primeiro morreu instantaneamente quando minha mão revestida de éter atingiu sua nuca, quebrando sua coluna, apesar de sua armadura para pescoço. Golpeei o segundo com as costas da mão quando começou a ativar uma das runas dispostas ao longo de sua espinha, arremessando-o para a parede do túnel. Pousou em sua própria lança, empalando-se através de seus bíceps nus.
Soltou uma maldição antes de rolar e puxar inutilmente a lança, seu feitiço esquecido.
O oponente de Caera gritou em uma fúria bestial quando suas lâminas se chocaram, um som que foi interrompido em um gorgolejo úmido quando a espada dela perfurou seu peito.
Cavei meu calcanhar no ferimento sangrento do último mago, ignorando sua tentativa desesperada de se defender com um manto de fogo.
— Por que você nos atacou?
Perguntei com calma, inclinando-me para encontrar seus olhos.
— Ordens de Kage!
O homem gritou, seu rosto sujo de sujeira contorcido de dor.
— Por favor, estamos apenas fazendo o que nos foi dito!
Inclinei minha cabeça, levantando uma sobrancelha.
— Eu deveria estar familiarizado com esse nome?
— Nosso líder.
Ofegou, seus olhos em pânico focados no sangue jorrando de sua ferida.
— Qualquer… qualquer pessoa que passar por esse portal pertence a ele.
Caera se ajoelhou para verificar o homem que eu empalara com sua própria ponta de lança, porém se levantou e lançou um olhar feroz para o ascendente sobrevivente.
— Por que algum ascendente “pertenceria” a ele?
Meus ouvidos captaram os sons fracos de passos se aproximando. Levantando meu pé de seu braço ensanguentado, dei um passo para trás.
O mago estava ofegante, seus olhos perdendo o foco. Avaliando pela lama ensanguentada embaixo dele, ele não tinha muito mais tempo.
— A relíquia precisa de sangue. — disse ele.
— Então nós … nós—
Uma ponta de pedra irrompeu do chão e o empalou no peito, espirrando sangue no rosto de Caera.
Me virei para ver mais uma dúzia de ascendentes amontoados mais adiante no túnel. Um homem estava na vanguarda do grupo. Ele estava tão sujo quanto o resto deles, mas sob as camadas de sujeira, podia ver uma rede de cicatrizes cruzando seu rosto, braços e mãos. Seu cabelo era fino, e parecia ter sido raspado com uma adaga em vez de uma navalha, e uma barba loira cheia de nós cobria seu rosto. Usava uma armadura incompatível que parecia ter sido retirada de uma dúzia de lugares diferentes.
— Você se importaria de nos dizer o que diabos está acontecendo nesta zona?
Caera perguntou calmamente limpando o sangue de seu rosto com um lenço.
— Inferno é a palavra apropriada.
O ascendente com cicatrizes falou lentamente, sorrindo. Faltava mais de um dente na boca dele, e os que restavam eram lixados e pontiagudos.
— Você alcançou as próprias tripas das Relictombs, onde os ascendentes vêm para morrer.
Caera deu um passo confiante para frente, seu cabelo azul escuro esvoaçando apontando sua lâmina fina para a garganta do homem. O ascendente correspondeu, uma pequena cratera se formando sob seus pés quando deu um passo à frente e pressionou o pescoço contra a ponta da lâmina de Caera.
— Não há como sair daqui.
Continuou, seus olhos escuros arregalados e com um sinal de loucura.
— Exceto pelo sangue. Todo mundo dá ou recebe, mas ninguém que permanece neutro sobrevive por muito tempo.
Me meti timidamente entre os dois e levantei um braço.
— Não temos nenhum desejo de lutar com você se você não nos obrigar. Mas você pode explicar o que está acontecendo aqui? De forma menos enigmática, desta vez.
O líder, Kage, assumi, pareceu me dispensar imediatamente, franzindo a testa intensamente enquanto avaliava minha parceira. Os olhos de rubi de Caera brilharam na escuridão, apesar de seu olhar ser frio. O impasse terminou repentinamente quando sua carranca quebrou como gelo fino e seu rosto estremeceu em um sorriso forçado.
Kage bateu seu dedo sujo contra sua têmpora.
— Eu posso dizer que seu sangue não é do tipo de deixar passar. Você tem gosto de carne fresca.
Seus capangas riram sombriamente disso.
Que nós precisamos aqui. Entenda, mentes, corpos e espíritos envelhecem neste purgatório.
Enquanto Kage falava, um olho começou a se contorcer.
— Quanto mais você fica, pior fica, mas a única saída é esvaziando o sangue da vida de seus amigos e camaradas. Crueis, aqueles demônios antigos…
Os olhos do ascendente com cicatrizes perderam o foco por um momento.
— Acredito que pedimos que você fosse menos enigmático.
Disse Caera, impaciente.
Os homens atrás de Kage se empurraram, apertando as mãos ao redor das armas enquanto seus olhares cortavam em direção à minha companheira. Um ergueu uma arma que crepitava com eletricidade. A mão de Kage disparou, pegando o homem na lateral da cabeça.
— Não saia balançando sabres quando eu estiver falando!
Ele agraciou Caera com seu sorriso de dente vazio.
— Eu posso dizer que vocês são pessoas que tem maneiras. Wyverns, não wogarts, como diz o ditado. Então vou ser sincero. Vocês estão presos em uma zona sem saída. A única saída é reivindicar uma relíquia mantida no centro deste labirinto de túneis, mas isso só pode ser feito com sacrifício de sangue. E até agora, ninguém conseguiu derramar o suficiente para passar pelas proteções.
Eu não tinha ouvido errado. Kage disse isso também…
Havia uma relíquia nesta zona.
Minha atenção permaneceu em Kage enquanto falava: suas mãos constantemente gravitavam em direção a sua arma, seu sorriso desaparecia apenas para ser forçado a voltar em seu rosto coberto de sujeira, ele inchou como um cervo com presas enquanto falava. Tudo isso criava uma imagem sutilmente ameaçadora, como uma medida defensiva animalesca para repelir potenciais ameaças.
— Gostaríamos de ver esta relíquia.
Disse gentilmente.
— Você pode nos levar até lá?
— Cai fora, magrelo!
Um dos homens vociferou, apontando sua espada para mim.
Kage soltou uma risada áspera e deu um passo para trás, em seguida, girou sobre os calcanhares como se estivesse em uma procissão militar. Uma lança estreita de pedra explodiu do chão e espetou a mão do ascendente ofensivo, fazendo a espada voar. Kage chutou o joelho do homem, fazendo-o rachar e dobrar para trás, então o pegou pela garganta e o jogou no chão.
— Não me lembro de ter dito para você falar!
Kage rugiu em seu rosto, saliva voando. As runas em suas costas brilharam quando levantou uma mão sobre a cabeça, e uma crosta de pedra preta e laranja brilhante se formou de seu cotovelo para baixo, irradiando um calor tão intenso que eu podia sentir a vários metros de distância.
A manopla fumegante atingiu o rosto do homem como uma marreta. Atingiu de novo e de novo, enchendo a caverna com o cheiro de carne queimada. O resto dos ascendentes recuou. Alguns assistiram com uma espécie de antecipação perversa, mas a maioria desviou os olhos.
Quando não havia mais nada do rosto do ascendente além de uma polpa queimada, Kage se endireitou. Estava ligeiramente ofegante, e gotas de fogo fumegante piscavam ao redor da manopla conjurada. Com um estalo de pescoço e um suspiro, encarou Caera.
— É preciso uma mão firme, você sabe.
Disse Kage, rindo.
— Mão firme, entendeu?
O nariz de Caera enrugou em desgosto, mas os homens de Kage soltaram risadas dispersas. Mantive meu rosto sem expressão.
— Desperdício de sangue, no entanto. Bah.
A manopla derretida caiu em pedaços cinzentos quando Kage liberou o feitiço.
— O negócio é o seguinte, novata. Confiança gera confiança. Primeiro, você e seu servo voltarão para o acampamento conosco. Lá, podemos decidir quem pode ver o quê, belê?
A boca de Caera se abriu, e eu poderia dizer pelo olhar em seu rosto que ela estava prestes a rejeitar a oferta de Kage. Agarrei sua manga e dei um pequeno puxão.
— Senhora, nada de bom pode advir de rejeitar a oferta deste homem. Veja o que ele fez com seu próprio aliado. Devíamos ir com ele e ver o que ele tem a dizer.
— Tudo bem.
Respondeu, procurando meus olhos interrogativamente. Para Kage, ela disse:
— Nós iremos com você.
— É um ajudante esperto que você tem aí. — Kage murmurou.
— Não pode ser um sem adornos. Deve ser um Sentinela irritado escondendo sua mana, hein?
Me olhou nos olhos e cuspiu no chão.
— Ou talvez a dama mantenha você por perto para outros fins, hein?
Estremeci com seu comentário, o que só fez ele e seus homens rirem.
— Então?
Caera perguntou, andando entre nós.
— Seu acampamento?
— Hóspedes podem ir na frente.
Disse Kage, gesticulando para baixo do túnel como um porteiro nos dando as boas-vindas à melhor pousada de Alacrya. Seus homens se separaram, deixando um espaço estreito para que Caera e eu passássemos.
— Matar tudo e todos que vem em nosso caminho está começando a entediá-lo?
Regis perguntou.
— O que há com esse jeito de agir manso e frágil?
— Apenas fique dentro e mantenha os olhos abertos. — retruquei.
— Tudo bem. — resmungou.
A zona era formada inteiramente por túneis de terra, como eu tinha visto na falsa memória. Eles se contorciam e giravam continuamente, como se algum verme gigante tivesse comido o solo aqui, deixando um labirinto de caminhos para trás. Veias de alguma pedra em brasa rompiam a sujeira em alguns lugares, lançando uma luz enferrujada pelos túneis.
Ocasionalmente, uma videira ou raiz espessa se projetava da parede do túnel, e Kage rapidamente nos direcionou ao redor delas.
— Eu evitaria os estranguladores. Duvido que precise explicar o nome.
Enquanto caminhávamos, virando para um lado e para outro tão regularmente que eu lutava para manter a noção de onde estávamos, Kage continuou a falar.
— É uma guerra em que vocês se encontraram, amigos. Há caos e derramamento de sangue quando ascendentes se voltam contra ascendentes pela chance de uma relíquia realmente verdadeira. Mesmo se pudéssemos partir, a maioria não o faria. Não com esse tipo de prêmio em jogo.
— Deve haver mais do que isso. — disse Caera.
— Os ascendentes não são animais selvagens.
— Era pior quando cheguei aqui.
disse Kage com orgulho.
— Um banho de sangue total, cada homem determinado a matar pra chegar até o topo.
— O que aconteceu quando você chegou?
Perguntei, movendo-me cuidadosamente ao redor de outra grande trepadeira que estava bloqueando metade do túnel.
Kage bufou de alegria.
— Impus um pouco de ordem, é claro! Quebrei crânios o suficiente para provar minha força, então fiz o resto deles pararem de se matar. Forjei uma tribo, dei a eles um propósito. Assumimos o controle do santuário e, a partir de então, decidi quem vive e quem morre.
Não perdi a ameaça sutil em seu tom quando disse isso.
— Se você pensar em como menos pessoas morreram desde que cheguei aqui, na verdade sou um herói. Um salvador, não um açougueiro como você pode estar pensando.
Lancei um olhar para trás. Kage estava balançando a cabeça, sorrindo como se estivesse satisfeito consigo mesmo.
— Quão longe vão esses túneis?
Caera perguntou.
— Existe um fim?
— É uma espécie de labirinto. Quase um grande círculo, com o santuário de relíquia bem no centro. — respondeu.
— Grande o suficiente para você se perder e morrer de fome antes que alguém o encontre.
Eu praticamente podia ouvir o desprezo frio em sua voz quando acrescentou:
— Mas os túneis ainda estão cheios de ascendentes loucos esperando para cortar sua garganta no escuro, e eles o pegariam antes disso.
Saber que a relíquia estava no centro do labirinto era algo, mas eu não tinha nenhuma referência de onde nós estávamos ainda. Mas, por mais interessante que fosse a presença de outra relíquia, minha curiosidade estava focada em outro lugar.
— Se este lugar for tão grande, talvez você apenas não tenha encontrado o portal de saída ainda—
— Não!
Kage estalou, seus passos parando. Me virei e o vi fazendo uma carranca para mim, seus punhos abrindo e fechando. Picos curtos em chamas saíram das paredes do túnel ao nosso redor.
— Você está duvidando de mim, garoto? Muitos homens fortes definharam nos túneis em busca de uma saída. Nós sabemos onde está a porta, então apenas um idiota continuaria procurando. E a chave é—
— Sangue.
Regis transmitiu sarcasticamente ao mesmo tempo em que Kage o disse
— Então só temos que descobrir como usá-lo.
Balancei a cabeça, dando um passo tímido para trás. Meu pé bateu contra uma videira que deslizou ao longo da lateral do túnel e me atingiu como uma cobra. O estrangulador se enrolou na minha perna e recuou para o chão, tentando me puxar com ele.
A lâmina de Caera brilhou, cortando a raiz logo acima do solo. A raiz se soltou, se contorcendo como um verme moribundo aos meus pés. Me arrastei para trás na terra para me afastar dela enquanto Kage e os outros explodiram em uma gargalhada selvagem.
Kage me levantou e jogou o braço em volta do meu ombro, enxugando as lágrimas e ranho de seu rosto vermelho brilhante enquanto continuava a rir.
— Sabe, garoto, meu tribunal precisa de um bom bobo da corte.
Disse ele entre acessos de riso.
— Talvez haja um motivo para mantê-lo por perto, afinal.
Regis deixou escapar um suspiro.
— Isso é divertido. Posso ver você ser intimidado e, ao mesmo tempo, ficar ansioso para vê-lo esmagar as gônadas deles.
Demorou mais uma hora para chegar ao acampamento de Kage. Me perguntei como ele havia chegado ao portal de saída tão rapidamente, mas o pensamento foi expulso da minha mente quando entrei em um grande túnel de paredes lisas.
Ao contrário dos caminhos esculpidos naturalmente que nos levaram até aqui, o acampamento dos ascendentes trazia sinais óbvios de ter sido escavado por magia. Enquanto os túneis eram baixos, pouco mais do que o suficiente para eu andar em pé na maioria dos lugares, o teto aqui tinha 5 metros de altura. Pelo menos cem pequenos artefatos de iluminação estavam suspensos acima de nós, lançando uma pálida, mas brilhante, luz branca sobre os homens ali.
Cerca de uma dúzia de homens com armaduras manchadas de lama ocupavam o túnel, que tinha quase vinte metros de uma ponta a outra e tinha dez metros de largura. Alguns estavam treinando, mas a maioria estava sentada ao redor de pequenas fogueiras vermelhas e falando em voz baixa e cansada.
Vários outros estavam seminus e algemados nos pulsos, tornozelos e garganta.
Caera suspirou com surpresa ao ver isso, mas se segurou e mordeu a língua no momento.
Os homens algemados eram todos magros e estavam marrons de sujeira, suas barbas longas e emaranhadas, seus cabelos sem brilho. Mas podia ver as runas em suas costas marcando-os como magos. Dois carregavam um grande jarro de barro entre eles, com cuidado para evitar uma enorme raiz estranguladora que crescia em um lado da caverna, enquanto um terceiro lançava um feitiço sobre um jarro semelhante perto da outra extremidade do acampamento. Outro estava virando um espeto sobre o fogo, assando algum tipo de carne. Não queria saber que tipo de carne era. Outros dois estavam parados nas portas abertas para uma série de pequenas cavernas que haviam sido escavadas no túnel principal, com os olhos baixos.
A mão cheia de cicatrizes de Kage bateu em meu ombro.
— Bem-vindo ao meu castelo. Casa dos Homens Kaged!
— Não há mulheres.
Disse Caera suavemente, como se estivesse falando para si mesma.
— Ah, bem, qualquer coisa de valor é rara neste poço de desespero.
Kage resmungou sem humor.
— Comida, água, entretenimento…
Seus olhos permaneceram em minha companheira, movendo-se lentamente para cima e para baixo em seu corpo, enquanto dizia isso.
— Selvagens
Ela disse, correspondendo seu olhar.
— Oh, pare com isso!
Ele uivou de tanto rir.
— Há muito tempo atrás, eu era um Alto Sangue, assim como você. Aqui, porém, o sangue de todos é vermelho e maduro para ser colhido.
Ele passou por nós, com os braços bem abertos ao entrar no acampamento.
— Seu salvador voltou!
Gritou, sua voz crescendo.
— E eu trago novos recrutas!
Todos os ascendentes começaram a se reunir, com vários outros saindo das cavernas que revestiam as paredes, mas os homens algemados mal pareciam notar. Paravam e se curvavam sempre que Kage chegava perto, mas à distância se apressavam com seus deveres.
— Chega de olhar pasmo!
Kage gritou de repente, empurrando um dos homens, um menino perigosamente magro, que não podia ter mais de dezesseis anos, a julgar pela forma com que seus pelos faciais cresciam em manchas irregulares, fazendo-o tropeçar, quase caindo no fogo.
— De volta ao trabalho!
Examinei seus rostos enquanto seguíamos, observando os olhos fundos, as bochechas magras e, acima de tudo, os olhares firmes que nos deram. Cada um deles estava pronto para matar a uma palavra de seu líder, apesar de como os tratava. Os homens que caíam em desespero aqui provavelmente eram dados de comida para a relíquia, então abraçaram a fúria e o ódio em vez disso. Esses eram os sobreviventes. Podia ver em seus olhos as coisas terríveis que fizeram para chegar tão longe.
Kage nos levou para a maior das cavernas, embora chamá-la de uma simples caverna não lhe fizesse justiça. Um mago talentoso havia esculpido um espaço grande o suficiente para uma família de quatro pessoas. Os pisos foram endurecidos em algo parecido com mármore, enquanto as paredes avermelhadas foram esculpidas para parecerem tijolos. Móveis de pedra eram cobertos com peles e cobertores, significativamente mais do que um homem poderia ter trazido com ele para as Relictombs.
Uma cama enorme ocupava o centro de uma das paredes e estava empilhada com mais peles e cobertores amarrados com cordas de seda.
— Pelo menos você não teve que desistir de seu luxuoso estilo de vida de Alto Sangue
Caera disse sarcasticamente enquanto olhava para casa improvisada dele.
Kage se jogou em uma espreguiçadeira e levou uma bota enlameada até um apoio de pedra para os pés.
— Não tem sido de todo mal, admito. Lá fora, eu era o quarto filho de um sangue decadente, mas aqui eu posso muito bem ser um Soberano.
Caera revirou os olhos.
— E o que acontece quando a Associação de Ascendentes fica sabendo do que aconteceu nesta zona de convergência? Você será executado.
Kage sorriu para ela como um tubarão sem dentes.
— Isso presumindo que algum dia escapemos, minha senhora. E se escaparmos, isso significa que reivindicamos a relíquia. Ninguém vai dar a mínima para o que fizemos para consegui-la.
Colocou as mãos atrás da cabeça e olhou para o teto.
— Imagine isso. A primeira relíquia viva voltou em quantos anos? Duas décadas? Três? Riqueza suficiente para todos nós mantermos nosso sangue forte por gerações.
Eu poderia dizer pela expressão azeda de Ceara que ela sabia que Kage estava certo.
Passos bruscos na porta anunciaram a um recém-chegado, que se curvou enquanto tentava segurar um barril pesado com algum líquido espirrando. Ele era pálido como um fantasma, com cabelos discretos entre o cinza e o castanho que caíam moles até os ombros. Seus olhos negros como grafite apenas passaram por mim e Caera antes que cambaleasse até a mesa, lutando contra o peso do barril.
— Ah, Rato, chegou na hora certa. Essa é a Cerveja Preta Truaciana?
Kage perguntou, lambendo os lábios. Quando viu meu olhar questionador, piscou.
— Algum idiota tinha meia taverna enfiada em seu dispositivo dimensional. Melhor para nós.
Seu rosto ficou triste. —
Quase pronto agora, não é, Rato?
O homem chamado Rato enxugou o suor da testa enquanto batia no barril.
— Receio que sim, meu senhor. Só sobrou mais um barril, e é a cerveja clara de Sehz-Clar.
Kage bufou.
— É quase a mesma coisa que beber o mijo do Rato.
Cuspiu no chão.
O Rato usava uma camisa e calças simples de linho, mas não usava armadura. Não estava equipado com algemas como os outras que vimos. Evitou olhar para Kage, mantendo sua cabeça desviada de forma servil, e quando falou, suas palavras foram suaves e não ameaçadoras. Imediatamente me lembrou de seu homônimo, correndo ao redor da borda da sala como um roedor tentando evitar ser pisado.
Estranhamente, estava bastante limpo. Quase não havia uma partícula de sujeira em suas roupas ou rosto, e seu cabelo, embora desgrenhado, não estava cheio de tufos de lama como os de todo mundo. Apenas suas mãos mostravam algum sinal da sujeira que se agarrava ao resto deles como uma segunda pele.
Seus olhos velozes me pegaram olhando para ele, mas pularam para longe imediatamente.
— É possível…?
Eu comecei, minha voz trêmula.
— Ver a relíquia agora?
Kage pegou uma caneca de argila do Rato e a inclinou para trás, engolindo vários goles e pingando pelo menos metade em sua barba e no pescoço de sua placa peitoral.
— Ah, isso é bom. Todos os vinhos finos podem vir de Etril, mas aqueles desgraçados truacianos sabem fazer cerveja.
Ele largou a caneca e se inclinou para frente, me dando um olhar curioso. Quando falou, porém, foi direcionado a Caera.
— Você está em meu domínio agora. Você é forte, eu posso dizer, talvez até quase uma adversária para mim, no um a um.
Sorriu de uma forma que sugeria que não acreditava nisso, porém estava simplesmente sendo educado.
— Mas eu tenho duas dúzias de desgraçados fortes à minha disposição, e você tem um escudo de carne tímido.
Caera cruzou os braços, não muito impressionada.
— Quer ver a relíquia. Precisa encontrar um lugar para você nesta zona, porque não vai sair tão cedo.
Aquele sorriso feio e predatório dividiu seu rosto.
— Tenho meus próprios desejos e necessidades. Então, o que você está disposta a negociar por suas vidas?
— Se você já tivesse tudo o que queria, teria apenas nos matado no portal.
Caera se inclinou para ficar cara a cara com o ascendente cicatrizado.
— Não, acho que você precisa de ajuda e espera que possamos ajudá-lo.
— Você acha que eu preciso de ajuda? Sei como sair. Desvendei! Tudo que eu preciso é de mais sangue.
Kage se levantou de repente, derrubando o apoio para os pés antes de apontar um dedo imundo para minha companheira imperturbável.
— E eu posso fazer com que você e seu homem-donzela sejam mortos a qualquer momento que eu quiser.
— Então não deve haver problema em nos mostrar a relíquia.
Caera respondeu friamente.
Rato estava inquieto enquanto batia os dedos rapidamente na mesa, seus grandes olhos negros congelados em Kage. Quando me viu olhando, parou e se ocupou preparando outra caneca de cerveja.
Kage olhou para Caera.
— O Rato levará seu servo ao santuário para ver a relíquia. Mas você fica aqui comigo, entendeu?
— Não, ela precisa vir comigo.
Disse rapidamente, me movendo um pouco mais perto dela.
— Com medo de ficar sem sua dama protetora, princesa?
Kage perguntou, tocando a alça de sua cimitarra.
— Sua oferta não é aceitável.
Disse Caera categoricamente.
— Eu veria com meus próprios olhos, para julgar melhor a situação por mim mesmo.
— Você se confundiu. Esta não é uma oferta. É uma ordem.
Ele disse com um sorriso dentuço afiado.
— Ele pode ir, mas você vai ficar bem aqui. Do meu lado.
Ambos os ascendentes estavam com as mãos no punho neste momento. Preferia não deixar Caera sozinha com aquele lunático assassino, mas também não estava pronto para desistir de meu estratagema.
Caera olhou para mim, procurando em meus olhos alguma orientação. Balancei a cabeça imperceptivelmente e sua mão deixou sua arma. Kage manteve a dele.
— Tudo bem, disse ela.
Meio resignada, meio irritada. Ela se aproximou do senhor de guerra, que era apenas alguns centímetros mais alto que ela.
— Mas, me toque, e eu cortarei a parte do corpo que fizer isso.
— Um brinde a isso.
Kage levantou a caneca para Caera enquanto balançava as sobrancelhas lascivamente.
Rato me acompanhou apressadamente para fora. Apesar das perspectivas de uma nova relíquia e encontrar outro djinn, meus pensamentos ficavam voltando para Kage, considerando a melhor forma de lidar com ele depois que tudo isso acabasse.
Tradução: Reapers Scans
Revisão: Reapers Scans
QC: Bravo
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