Quando eu voltei para o segundo nível das Relictombs, praticamente arrastando meus membros, um balconista de óculos correu enquanto seus olhos disparavam pelo meu corpo cheio de lama.
— Senhor? — perguntou timidamente.
— Você está bem? Onde está seu grupo?
Balancei minha cabeça e passei por ele.
— Tudo bem. Ascensão solo.
O homem manteve o ritmo, suas mãos mexendo em um pergaminho que carregava cuidadosamente à sua frente.
— Entendo. Sim, a ascensão solo é notoriamente difícil, senhor. Nome, para que eu possa registrar seu retorno? Algum espólio para relatar?
Ainda caminhando, eu disse.
— Grey. Apenas Grey. E não.
O balconista estremeceu, fazendo seus óculos escorregarem até a ponta do nariz.
— Lamento ouvir isso, Ascendente Grey. Posso fazer a varredura—
Parei de repente, forçando o homem a parar e se virar para me encarar. Lançando um olhar irritado em sua direção, disse.
— Estou exausto e gostaria de ir embora. O que você precisar, apenas faça.
O balconista pigarreou e consertou os óculos antes de puxar algum tipo de varinha.
— Se você estiver carregando um artefato de armazenamento dimensional, por favor, apresente-o. — disse, com certa rigidez.
Eu estendi minha mão, mostrando a ele o anel dimensional. Acenou com a varinha passando por ela, então ao longo do comprimento do meu corpo. Estalou a língua.
— Sem espólios, como você diz.
Em seguida, voltou sua atenção para um pergaminho que carregava.
— Ascendente Grey… Ascendente… Oh, um professor!
Ele rabiscou algo, murmurando baixinho.
— Minhas desculpas. Você é tão jovem, eu não percebi…
— Já terminamos? — perguntei impaciente.
— Sim, senhor, claro. Obrigado pela sua paciência.
Me deu um aceno de cabeça e começou a se virar, então parou.
Fechando meus olhos, esfreguei dois dedos contra minha têmpora, descendo até a altura dos olhos.
— Sim?
— Bem.
Começou hesitantemente.
— Só pensei que você gostaria de saber que as aulas na Academia Central começaram há três dias.
Com um sorriso estranho, ele voltou ao seu posto.
— Merda.
Resmunguei, e comecei a arrastar meu corpo cansado pelo segundo nível em direção às plataformas de teletransporte.
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Do corredor fora da minha sala de aula, já podia ouvir as risadas e gritos dos adolescentes não supervisionados lá dentro.
Ouvi trechos de conversa quando entrei pela porta.
— Disse-me que o novo professor não é nem mesmo um sangue nomeado. Deve ser fácil de—
— …ouviu sobre a nova assistente gostosa do Professor Aphelion?
— …matéria é uma piada. Eu não posso acreditar que Atacantes têm que perder tempo com—
— …brincando comigo? O resto das minhas matérias são terrivelmente difíceis, estou ansioso para não fazer nada aqui.
Olhei rapidamente ao redor enquanto descia as escadas. Duas jovens lutavam brutalmente no ringue de duelo, enquanto outro aluno brincava com os controles. Alguns outros haviam puxado bonecos de luta e os estavam socando desajeitadamente. O resto dos alunos estavam vadiando sem fazer nada.
— O professor não está aqui de novo.
Disse um menino de óculos sem tirar os olhos do livro.
— Ele é o professor.
Deacon, disse outro aluno. Era o garoto de cabelo preto que havia dado ordens aos dois valentões na biblioteca.
— Você está atrasado
Seu companheiro largo resmungou, cruzando os braços grossos sobre o peito.
— E faltou no primeiro dia.
Acrescentou o amigo alto, colocando as longas pernas em cima do encosto da cadeira à sua frente.
— Muito perspicaz.
Disse quando abri a porta do meu escritório e meio que passei por ele.
— Vocês parecem ter as coisas sob controle por hoje. Vou estar no meu escritório.
Fechei a porta antes que alguém pudesse responder, me isolando dos olhos curiosos.
A sala de aula começou a tagarelar novamente no momento em que minha porta se fechou.
— Boa! Dia livre.
— …vai ser exatamente como na temporada passada—
— …ideia estúpida de treinar sem mana de qualquer maneira.
Suspirando, desliguei-me deles e afundei na cadeira do escritório, inclinando-me para frente para descansar minha cabeça nos meus braços. Apesar da minha exaustão, porém, senti meu rosto se abrir em um sorriso largo.
Eu realmente tinha conseguido.
Minha mente zumbia enquanto considerava os resultados de meu experimento nas Relictombs. Queria conversar sobre isso, mas Regis parecia estar hibernando como fez enquanto eu treinava com Three Steps nas montanhas acima de sua aldeia isolada. Esperava que isso significasse que se recuperaria mais rapidamente.
Retirando o quebra-cabeça que Three Steps havia me dado, o bati contra a mesa, ouvindo a semente dentro do chocalho. Não tinha sido capaz de repor muito éter em minha jornada através do segundo nível das Relictombs, e meu núcleo parecia estar no limite da minha resistência, mas ter algo para ocupar minhas mãos tornaria mais fácil pensar.
Voltando minha consciência para dentro, a primeira coisa que notei foram meus canais de éter. A inundação de éter puro do obelisco os alargou e limpou todas as imperfeições de dentro deles.
Senti uma dor profunda quando manifestei uma garra e comecei a cavar dentro do fruto seco, mas me concentrei em manter a forma. Embora não tivesse muito éter para extrair, descobri que o próprio éter estava se movendo ao longo de meus canais mais rapidamente, o que significa que eu poderia manifestá-lo em um ponto específico do meu corpo quase que instantaneamente.
Ainda levava tempo para condensar em uma garra fina pra fora meu dedo indicador, no entanto, minha mente cansada lutou para se concentrar na forma. Em vez disso, concentrei-me no meu núcleo.
O próprio núcleo estava maior e mais transparente. A tonalidade avermelhada havia desaparecido totalmente, e o éter interno havia se transformado em um tom violeta rico e profundo. Me concentrando mais, pude ver a delimitação clara entre duas camadas separadas do meu núcleo: a casca original suportando e segurando os pedaços do meu núcleo de mana, e uma segunda camada mais espessa.
Havia forjado meu núcleo de éter por pura força de vontade. No meu ponto mais fraco e desesperador, tinha transformado a perda total em uma vitória impossível, fazendo algo que talvez ninguém na história deste mundo tivesse feito.
Quando meu núcleo de éter começou a rachar, percebi que precisava ir além da minha perspectiva limitada atual. Tinha seguido o mesmo caminho de um mago usuário de mana, na expectativa de crescer o núcleo através do uso, meditação e combate.
Os núcleos de mana ficavam mais claros à medida que se tornavam mais puros. Isso era um mecanismo puramente biológico, natural para sua função. Embora exigisse meditação intencional para aproveitá-lo ao máximo, mesmo alguém que nunca se concentrou em refinar seu núcleo de mana o veria progredir lentamente com o uso, como o fortalecimento de um músculo.
Mas meu núcleo não era natural. Não houve progressão biológica definida.
Por meio de um esforço significativo e do conhecimento nascido de meu tempo, tanto como mago de núcleo branco quanto como usuário do ki, fui capaz de remover muitas das impurezas e imperfeições contidas nele. Embora isso tenha me permitido absorver o éter mais facilmente, e em maiores quantidades, não trouxe estágios significativos de progressão, como avançar pelos estágios laranja, amarelo e prata.
Percebi que precisava ser mais intencional. Se meu núcleo de éter não evoluísse por conta própria, eu teria que encontrar uma maneira de forçá-lo.
Utilizando o vasto reservatório de éter da armadilha do obelisco, formei uma segunda camada ao redor do meu núcleo, de forma muito lenta e dolorosa.
Infelizmente, o processo exigiu quase todo o éter canalizado no obelisco, de modo que, quando terminei, não sobrou nenhum para absorver para mim, deixando meu corpo fraco e dolorido.
Agora que tinha feito isso, não pude deixar de me perguntar: Será que posso fazer de novo? Com éter suficiente, eu poderia continuar a adicionar camadas ao meu núcleo, ficando exponencialmente mais poderoso com cada uma?
Era possível. O maior obstáculo era encontrar uma fonte de éter forte o suficiente para forjar a camada em uma única sessão, quase o contrário de manter éter suficiente em meu núcleo para se infiltrar na pedra de Sylvie e romper uma camada.
Em meu momento de necessidade, quando não tinha escolha a não ser fazer algo drástico ou arriscar prejudicar meu núcleo de éter, foi exatamente esse pensamento que me inspirou. O modo como a pedra, ou ovo, de Sylvie utilizava múltiplas camadas para capturar e segurar o éter tinha servido como base para minha própria tentativa.
Obrigado Sylv, pensei. Mesmo dormindo em seu ovo, você continua encontrando maneiras de me fazer continuar.
Alguém bateu na porta. Ignorei.
Outra batida.
— Professor Grey?
Suspirei e liberei a garra de éter.
— Entre.
A porta se abriu e um rosto familiar espiou pela moldura. Seth, o garoto da biblioteca, estava pálido e suado, e seu uniforme grudava no peito e nos braços.
— Senhor, você vai dar aula hoje?
Minha surpresa ao ver o menino durou cerca de um segundo antes de eu acenar para ele ir embora.
— Você não ficou sabendo? Esta não é uma aula de verdade.
— Mas você me disse para aprender a me defender. — Seth disse calmamente.
— Eu pensei que você quisesse dizer… que você queria que eu…
— Você pensou que eu ia te ensinar? — Eu levantei uma sobrancelha.
— Você é um Alto Sangue, certo? Seria melhor você contratar um professor particular.
Um coro de risadas veio da sala de aula, e Seth, parecendo desanimado, olhou para seus pés enquanto fechava lentamente a porta do escritório, mas eu apenas ativei a garra de éter e tentei novamente.
— Não se preocupe, podemos ajudar a ensinar-lhe uma ou outra vez. — zombou alguém.
Houve um baque e um grunhido de dor do lado de fora da porta.
A garra etérea em meu dedo desaparecia e aparecia enquanto lutava para ignorar a distração. Sem perceber, puxei a semente para a abertura redonda e a segurei lá, perfeitamente equilibrada dentro do buraco do caule, por trinta segundos ou mais. Fechei meus olhos e foquei novamente na garra, puxando firmemente enquanto segurava a forma do éter.
— Não, assim não, órfão. Quando você se curva, você perde de vista o seu oponente e—
Houve outro baque mais forte.
Fica vulnerável a golpes na cabeça.
As bordas do buraco se dobraram ligeiramente e a garra escorregou, mas fui capaz de ajustar meu aperto e manter a semente segura. Tão perto, pensei. Só mais um pouco…
Uma série de batidas fortes e intensas na porta quebrou minha concentração, e ouvi o barulho da semente batendo no fundo da fruta seca.
Levantando-me, cruzei rapidamente o escritório e abri a porta.
— O quê?
O homem uniformizado do outro lado da porta torceu o nariz e me encarou com uma carranca de desaprovação.
— Professor Grey, sim?
— Esse sou eu. Em que posso te ajudar?
Perguntei com uma ligeira inclinação de minha cabeça.
— Ainda não tivemos oportunidade de nos conhecer. Meu nome é Rafferty.
O homem era de meia-idade, com cabelos grisalhos nas têmporas e rugas começando a aparecer ao redor dos olhos. Estava vestindo um terno preto e azul e um olhar que me disse que não estava exatamente feliz em me conhecer.
— Eu, caso você não saiba, sou o chefe do seu departamento.
Ele estendeu um pergaminho.
— Esta é uma lista atualizada da turma, que você precisa porque vários alunos já abandonaram este curso.
Peguei o pergaminho e joguei na minha mesa.
— Entendo. Tem mais alguma coisa que eu possa fazer por você?
O chefe do departamento ficou carrancudo.
— Sim, de fato, você pode. Olhando para suas qualificações e recomendações, não estou totalmente certo de como você começou a trabalhar aqui na Academia Central, meu jovem, mas não aceitarei nada menos do que o máximo esforço dos professores deste departamento. Certifique-se de comparecer às aulas pontualmente no futuro e de seguir o regime de treinamento fornecido pela academia.
Seu tom deveria ter me incomodado, considerando minha situação, mas estava muito preso entre a exaustão e a excitação para me preocupar com as ameaças deste magro Alacryano.
Forçando uma carranca arrependida, fiz uma reverência superficial.
— Peço desculpas, houve uma confusão nas Relictombs. Não pretendo perder aula de novo.
Sua carranca suavizou um pouco.
— Garanta que isso não aconteça. Não precisamos de mais problemas como esse no Salão Supremo, Professor Grey.
Girando nos calcanhares, Rafferty saiu pela porta aberta. Do outro lado, uma dúzia de alunos estavam todos imóveis, obviamente tendo ouvido cada palavra do meu castigo.
Sem palavras, fechei a porta e voltei para a bagunça da minha mesa. Não me preocupei em olhar a lista de turmas que recebi em minha papelada original, então abri o novo pergaminho e examinei a lista, muito mais curta.
Não reconheci a maioria dos nomes: Brion do Sangue Nomeado Bloodworth, Diácono do Sangue Favager, Enola do Alto Sangue Frost… blá, blá, blá… Mayla do Sangue Fairweather, Pascal do Sangue Bancroft, Portrel de Alto Sangue Gladwyn, Remy do Alto Sangue Seabrook… blá blá … Seth do Alto Sangue Milview…
Milview, pensei, o nome soando familiar por algum motivo. Já tinha ouvido isso, mas onde? Algum soldado da guerra? Não foi do homem que eu torturei… Vale… então onde—
Meus olhos se arregalaram com a descoberta.
Não havia muitos soldados Alacryanos importantes o suficiente para ter seus nomes registrados em nossos relatórios, mas foi exatamente onde eu li o nome antes. A sentinela que traçou um caminho pela Floresta de Elshire, a pessoa responsável pela queda de Elenoir, se chamava Milview.
Um escárnio escapou dos meus lábios enquanto colocava o pergaminho na mesa. Isso foi coincidência ou alguma reviravolta doentia do destino?
Levantando-me, atravessei meu escritório, abri a porta e me inclinei contra o batente para assistir.
Seth estava encolhido entre os mesmos dois alunos que o encurralaram na biblioteca, tentando desajeitadamente proteger seu estômago e cabeça. O valentão largo e atarracado estava com os punhos erguidos preguiçosamente. Encontrou os olhos de seu companheiro, piscou e então ergueu uma joelhada no rosto desprotegido de Seth.
Quando Seth atingiu o chão, o resto da classe parecia se concentrar em mim. A garota de cabelos curtos que lutava na plataforma de treinamento fez uma careta, obviamente desconfortável, e outro jovem estava inclinado para frente em sua cadeira, franzindo a testa para o espetáculo. Outros estavam rindo baixinho ou simplesmente esperando curiosamente para ver o que eu faria.
Avancei em direção ao garoto Milview, empurrando os outros rapazes para fora do meu caminho. Encontrei os olhos do estudante encorpado, olhando para ele por cima do meu nariz.
— Nome?
— Portrel.
Disse ele, com o queixo erguido e o peito estufado.
— Do Alto Sangue Gladwyn.
— Se você planeja lutar, faça isso ali
Disse, apontando para o ringue de treinamento.
O rosto achatado de Portrel se contorceu em confusão enquanto eu puxava Seth do chão pelas costas de seu uniforme e o empurrava em direção ao ringue.
— Eu falei grego?
Soltando uma risada, Portrel caminhou propositalmente para o ringue de duelo enquanto Seth o seguia hesitante, enxugando seu nariz que sangrava com a manga.
A garota com o cabelo dourado curto, uma das duas já treinando no ringue, fez uma careta para eles, realmente mostrando os dentes.
— Já estamos usando.
— Não mais. — eu disse sem emoção. — Saia.
Ela soltou uma risada de escárnio, mas saltou da plataforma de treinamento. Sua companheira, uma garota magra com olhos castanhos e cabelos escuros que desciam em tranças gêmeas pelas costas, estremeceu quando desceu da plataforma, com a mão pressionando as costelas.
Os dois meninos subiram na plataforma e se posicionaram a alguns metros de distância antes de eu mesmo subir na plataforma.
Senti o medo que atingiu Seth quando percebeu que eu não tinha intenção de ajudar. No entanto, ainda ficou em uma posição defensiva ao enfrentar o garoto de Gladwyn.
Cruzando os braços, fiquei entre os dois combatentes, os braços cruzados, ignorando o resto da classe.
— Continuem.
Eles eram um par tão incompatível quanto eu poderia imaginar. Portrel tinha o dobro do peso de Seth, mesmo que não fosse mais alto, e provavelmente era um Atacante. Pela maneira como se acomodava confortavelmente em uma posição de combate, ambas as mãos para cima e o pé direito ligeiramente para trás, tinha certeza que ele havia treinado combate corpo a corpo.
Seth, por outro lado, era de altura média, mas parecia mais baixo por causa da forma como se curvava. Era magro a ponto de parecer doente, uma impressão aumentada por sua pele pálida, e claramente nunca havia sido ensinado a dar um soco.
Talvez se ele não passasse todo o seu tempo na biblioteca, pensei, ignorando a memória dele me ajudando que estava arranhando meu cérebro.
— Bem? O que você está esperando?
Perguntei ao corpulento Atacante.
— Você não vai bater nele?
Uma confusão ainda maior crivou seus rostos quando olharam para mim. Portrel se recuperou primeiro, sorrindo maliciosamente ao erguer os punhos.
— O que você disser, professor.
Seu primeiro soco foi preguiçoso, acertando Seth na parte interna do ombro, mas o golpe seguinte acertou diretamente no queixo de Seth, jogando a cabeça do menino despreparado para trás e jogando-o no chão.
— Sei que não estamos usando mana, mas espero que você pelo menos tente dar um golpe decente
Disse, meu nível de voz, quase entediado.
— Você soca como se Milview aqui fosse abraçar seu soco.
Suas bochechas ficaram vermelhas.
— Sou um dos melhores lutadores da minha idade em Vechor! — argumentou.
— Eu treinei com—
— Alguém que estava com medo de te dizer o quão merda você realmente é.
Terminei por ele.
— Essa é a fraqueza nascida de muito poder. Agora, vá de novo.
Houve algumas risadinhas de surpresa do público, incluindo seu amigo de cabelos coloridos, o que fez Portrel corar ainda mais. Fez uma careta e se posicionou em frente a Seth, que estava me observando ao invés de seu oponente. Portrel não se conteve, desencadeando uma série de socos poderosos dos quais Seth não poderia ter esperança de se defender.
O menino magrelo estava deitado de costas em segundos. Portrel chutou seu oponente indefeso com força nas costelas uma vez, depois recuou por um segundo, mas pareceu se dar conta de algo. Ele me lançou um olhar desafiador, como se me desafiasse a criticá-lo.
— Seus pés estavam cruzados, e em um ponto você tinha os dois punhos estendidos. — disse categoricamente.
O lábio de Seth se abriu e ele demorou a se recuperar. Na próxima vez que Portrel o atingiu, ele caiu imediatamente.
— Você retraiu seu punho e deixou seu pulso ficar mole. — apontei.
O Alto Sangue atarracado rangeu os dentes e olhou para fora do ringue para o garoto de cabelos escuros que parecia ser seu líder. Pelo canto do olho, o vi balançar a cabeça.
Percebendo que deveria ter lido toda a lista de nomes de alunos, pensei sobre os diferentes sangues que Abby havia mencionado durante nossa conversa, e com quais alunos ela me disse para ter cuidado. Embora ela tivesse falado sobre ele de forma diplomática, ela mencionou que o neto do Diretor Ramseyer frequentava a academia. Olhando para o garoto de cabelos escuros, pude ver a semelhança.
Fazia sentido, então, por que ele era o líder, mesmo entre os Altos Sangues.
Voltando-me para a classe, apontei para a garota de cabelo curto.
— Você. Existem espadas de treinamento em algum lugar?
Ela acenou lentamente e apontou para uma porta aberta no canto da sala.
— Bem?
Perguntei, dando a ela um olhar de expectativa.
— Você pode ir buscá-las?
Sua expressão caiu em uma careta de descrença, mas não se moveu. Sua parceira de treinamento me lançou um olhar desconfortável e disse.
— Eu-eu vou pegar…
antes de correr pela sala de aula para recuperar as espadas de treino. Quando voltou com eles, me deu um sorriso torto de desculpas.
As espadas de combate eram pedaços simples de madeira leve e flexível. Eu as entreguei aos combatentes. Seth, que finalmente se arrastou de volta a ficar de pé, olhou para a arma como se fosse uma cobra prestes a mordê-lo, enquanto Portrel girava a sua com conforto praticado.
— Posição de combate. — ordenei.
Portrel adotou uma postura mediana, o pé esquerdo para trás com a espada segura à sua frente com as duas mãos, apontada para o rosto de Seth.
Olhei para o garoto Milview, que o copiou sem jeito, parecendo como se nunca tivesse segurado uma espada na vida, e senti uma pontada de aborrecimento. O aborrecimento aumentou a partir do fato de que eu sentia mais pena de Seth do que raiva. Ele era irmão da soldada responsável não apenas pela conquista de Elenoir, mas também por sua destruição.
Se os Alacryanos não tivessem conquistado o país, os Asuras nunca teriam…
Uma mudança na sala me tirou dos meus pensamentos. Os alunos ao nosso redor, muitos dos quais estavam apenas metade prestando atenção um segundo atrás, estavam agora olhando para o ringue com excitação tensa. Os olhos de Seth se arregalaram quando se concentrou na lâmina cega da espada de treino de seu oponente.
Vendo que Portrel havia ajustado sua postura de repente e parecia muito mais focado, sabia, mesmo sem ser capaz de sentir a magia, o que ele estava fazendo.
— Sem mana. — disse com firmeza.
Ele zombou.
— Uma regra tão estúpida. Qual é o sentido de—
— Você tem medo de treinar sem?
Eu perguntei com uma ligeira inclinação de minha cabeça.
Portrel inchou.
— Eu não tenho medo de nada! Meu sangue tem—
— Comece.
Vociferei, pegando os dois garotos desprevenidos. Seth puxou sua lâmina de treino para baixo, acertando Portrel na ponta do nariz com um estalo. O sangue respingou na frente de seu uniforme.
Rosnando, Portrel se lançou para frente, balançando a espada como uma clava. Os olhos de Seth se fecharam e ele tropeçou sob o estranho ataque puramente por acidente. Deixou sua espada ceder de modo que acabou entre as pernas desequilibradas de Portrel, e o Alto Sangue enfurecido tropeçou e caiu no chão aos pés de Seth.
O garoto alto com cabelos multicoloridos soltou uma gargalhada.
— Boa, Port!
Pisquei estupidamente.
— Bem, isso foi divertido. Vocês dois praticaram essa pequena cena de comédia ou foi improvisada?
Seth desviou o olhar, envergonhado, enquanto coçava a nuca. Portrel, por outro lado, estava praticamente vibrando de raiva.
— Como você ousa, seu lixo sem nome!
O Atacante corpulento se levantou e apontou sua espada de combate para mim.
— Eu não sei o que você fez, mas meu pai vai—
— Portrel, você se esqueceu.
Disse uma voz firme e autoritária. Fiquei surpreso ao ver o menino Ramseyer de pé.
— Suas ações trazem desrespeito ao seu sangue.
Portrel se encolheu, olhando de seu líder para mim e vice-versa.
— Desculpe, Valen.
O neto do diretor, Valen, deu um sorriso diplomático.
— Peço desculpas em nome do Alto Sangue Ramseyer e Alto Sangue Gladwyn, professor. Portrel é um excelente lutador, mas tem um temperamento ruim.
Houve um brilho nos olhos de Valen e uma torção irônica em seu sorriso que foi inquietante, mas não poderia dizer o que ele estava fazendo.
— É uma pena que você escolheu colocá-lo contra um oponente tão desanimador. Talvez suas lições sejam melhor transmitidas por meio de uma demonstração pessoal.
Aquele brilho aumentou.
— Tenho certeza de que Portrel ficaria honrado em treinar com você, professor.
— Muito honrado.
Repetiu, tentando e falhando em manter um sorriso vingativo fora de seu rosto.
— Muito bem.
Disse enquanto lentamente retirava o anel em espiral do dedo médio da minha mão direita.
O chão sob os pés de Portrel tremeu quando o Atacante avançou com uma velocidade que não era possível sem magia.
Dei o menor passo para o lado para evitar a espada de madeira apontada para meu ombro. E com um leve estalo do meu pulso, eu dei um tapa no rosto do garoto com as costas da minha mão.
A cabeça de Portrel sacudiu com o impacto antes que perdesse o equilíbrio e rolasse para fora do ringue de duelo, que estava com o escudo desativado.
O silêncio se apoderou da sala enquanto os alunos observavam Portrel se levantar das poltronas em que havia se chocado.
— Você não teria rolado com tanta força se não tivesse usado mana.
Disse com naturalidade, prendendo o anel de ébano de volta em meu dedo.
— A aula acabou.
Anunciei, focando em Valen.
— Dê o fora daqui.
Risos e conversas animadas estouraram do resto da classe quando começaram a recolher suas mochilas e subir as escadas para fora da sala de aula.
— Ajude Portrel a se levantar, Remy.
Valen disse secamente. Enquanto o garoto alto ajudava seu companheiro que lutava a se desvencilhar dos assentos, o olhar de Valen permaneceu em mim, aquele sorriso irônico nunca escapando de seu rosto.
Portrel, por outro lado, olhou carrancudo para seus pés, com cuidado para não olhar na minha direção, mas seus punhos estavam cerrados enquanto seu amigo o provocava durante todo o caminho escada acima.
Atrás de mim, quase um sussurro, ouvi:
— Professor?
Seth ficou congelado no canto da plataforma durante minha conversa com Portrel, e agora estava olhando para mim com uma expressão esperançosa que fez meu estômago se contorcer de desconforto. Seu lábio estava muito inchado e eu podia ver o início de um hematoma escuro aparecendo ao redor de seu olho esquerdo.
— Não espere que a aula fique mais fácil do que isso, Milview.
Disse desapaixonadamente, a intenção de minhas palavras mais uma ameaça do que um aviso. Estar em Alacrya, fingir ser professor… isso era uma coisa. Mas ensinar o membro da família da mulher que deixou o exército Alacryano tomar Elenoir?
Não tinha certeza se conseguia fazer isso.
— Obrigado pelo conselho, senhor.
Respondeu resolutamente, mesmo enquanto seu olhar estava abaixado.
— Vou manter isso em mente na sua próxima aula.
Quando Seth passou por mim, minha atenção foi atraída para a saída, onde os alunos estavam começando a se acumular.
— Eu disse que a aula acabou! Por que a demora?
Relutantemente, os garotos boquiabertos deram um passo para o lado, revelando uma mulher de cabelos azuis e olhos escarlates.
— Já faz um tempo, Grey.
Tradução: Reapers Scans
Revisão: Reapers Scans
QC: Bravo
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