O Começo Depois do Fim

O Começo Depois do Fim – Cap. 337 – O Domínio Central

 

POV ARTHUR LEYWIN

— Certo, você se lembra de tudo que eu disse? — Alaric me perguntou pela terceira vez, apesar de já ter explicado duas vezes naquela manhã.

O velho alacryano estava de pé com suas mãos dentro dos bolsos de um manto púrpura, uma roupa mais parecida com os mantos de banho de meu mundo anterior do que com os mantos de batalha que eram normalmente usados por magos aqui, que estava esticado um pouco demais na região da barriga.

— Sim, tio Al. — disse sarcasticamente, enquanto ajeitava as minhas próprias roupas simples de viajar.

Darrin tinha oferecido me deixar pegar emprestado algumas roupas de luxo, as quais ele disse que se adequariam melhor ao Domínio Central, mas ele tinha medidas significativamente maiores no peito e ombros, e não havia tempo para alterar nada.

— Você sabe. — respondeu enquanto ponderava. — não sei se odeio isso ou não.

— Pelo Alto Soberano, nós vamos ou não?

Alaric, Darrin, e eu nos viramos para olhar Briar, que estava recostada na parede da câmara de tempus warp de Darrin. Ela tinha se vestido com uma armadura de couro branco novo e mantinha sua mão no cabo de sua espada longa.

A jovem mulher insociável encontrou nossos olhares sem nem mesmo vacilar.

— Gostaria de voltar à academia antes que eu tenha a mesma idade de vocês três.

— Considerando todas as forças do mal organizadas contra você. — Regis disse solenemente. — Quem iria pensar que você seria assassinado por uma adolescente de dezesseis anos.

Alaric soltou uma risada e deu um tapa forte nas costas de Darrin.

— Não importa quanto dinheiro o Sangue Nadir está te pagando, faça-os pagarem o dobro. —provocou.

A garota apenas bufou, mudando sua linha de visão para o tempus warp, que ficava no centro da plataforma de pedra elevada. O artefato, que era remotamente parecido com uma bigorna, era feito de um metal cinza fosco, e estava com dezenas de runas gravadas nele.

Um rápido olhar nas fileiras de runas me disse que era baseado em um princípio similar ao dos portões de teletransporte em Dicathen, mas esses eram muito mais compactos e complexos.

— Quão longe isso pode chegar? — perguntei, fingindo não estar muito interessado.

Darrin se ajoelhou sob o artefato, tirando qualquer poeira não existente de sua superfície.

— É poderoso o suficiente para chegar à costa oeste de Sehz-Clar, ou apenas além da borda sul de Truacia. — Vendo eu franzir o cenho, Darrin adicionou. — Mais do que o suficiente para chegar à cidade de Cargidan no domínio central.

Então nem está perto de ser capaz de me levar de volta à Dicathen, pensei, contendo minha decepção. Era um pensamento tolo, de qualquer maneira. Por mais que eu quisesse dizer a minha irmã e mãe que eu estava vivo, retornar à Dicathen agora poderia, na verdade, colocá-las em mais perigo do que elas já estavam.

— Ei, você ainda tem a Pedra do Assediador. — Regis disse com o que ele pensava que era um tom consolador.

— Desculpa, o quê? — Eu perguntei, minha linha de raciocínio completamente atrapalhada.

— Eu decidi que “Orbe de Assédio de Longo Alcance” era longo demais. Pedra do Assediador é mais fácil de falar “figurativamente” falando.

Forçadamente enxotando os pensamentos de Regis para o fundo de minha mente, voltei minha atenção para Darrin, que estava começando a calibrar o tempus warp para viagem.

— Vou mandar vocês para a Biblioteca dos Soberanos. — Darrin estava dizendo. — Briar, você pode levar o Grey ao—

— Escritório de Administração de Estudantes, sim. — Quando Darrin ergueu a sobrancelha para a garota, se endireitou e disse: — Quer dizer, sim, senhor.

Sorrindo para si mesmo, Darrin terminou de calibrar e se afastou.

— Tudo pronto pra vocês irem.

Estendi minha mão ao Alacryano e ele a apertou.

— Obrigado por sua hospitalidade e ajuda — disse sinceramente.

Embora eu pudesse ter aberto um caminho para fora da cela dos Granbehls ou do Alto Salão a qualquer momento, isso provavelmente teria feito com que qualquer coisa a mais que eu precisasse fazer fosse muito mais difícil, até mesmo impossível, se eu atraísse a atenção de uma Foice ou duas. Graças a Alaric, seu amigo e Caera, tinha evitado isso.

— O que você encarou foi uma terrível injustiça. — respondeu. — Estou feliz que fomos capazes de ajudar.

— Você me deve muito, moleque. — Alaric disse ironicamente enquanto estendia minha mão para ele também. — O Darrin aqui nunca vai me deixar em paz, e nem estou incluindo todos os outros favores que eu tinha que listar.

— Meu herói. — respondi, sem uma expressão no rosto.

— Então, antes de você ir, é melhor nós acertarmos as coisas.

Pensando que ele estava brincando, revirei exageradamente os olhos para ele, mas então retirou meu antigo e vazio anel dimensional de um bolso e o estendeu pra mim.

— Quarenta por cento, eu acho?

Briar fez uma carranca.

— Quarenta por cento é um assalto.

Darrin franziu o cenho com vergonha para o velho, mas manteve sua opinião de nossa transação para ele mesmo.

— Mais dez por cento pelos meus serviços como seu conselheiro legal. — adicionou com uma piscadela.

Fiz um show deslizando o anel pela minha mão e o “ativando” enquanto vasculhava através da coleção de espólios que eu havia trazido de volta das Relictombs. Poucos itens eram de meu interesse, já que as armas se degradavam muito rápido quando imbuídas com éter, e eu não conseguia usar nada que tinha sido designado para canalizar ou usar mana.

Quando eu tirei a primeira peça, uma coroa prateada incrustada com joias de um vermelho-sangue que giravam com tanta mana de fogo que era visível a olho nu, Alaric brilhou com uma felicidade descontida.

Um por um, eu comecei a entregar metade do tesouro que eu havia coletado.

Os olhos brilhantes de Briar ficaram cada vez maiores com cada peça que saía da minha runa de armazenamento extradimensional, e até Darrin falhou em esconder sua surpresa com o tamanho do pagamento, composto de uma ampla variedade de artefatos brilhantes e levemente mágicos.

— Pensei que você tinha dito que não tinha riqueza alguma? — Darrin perguntou, levantando uma sobrancelha em minha direção.

— Eu não tenho. Tenho um bocado de coisas. Não é “riqueza” de verdade até que eu tenha a chance de vender isso, tecnicamente. — disse enquanto retirava outro item de minha runa dimensional.

Alaric fez questão de inspecionar cada peça antes de jogá-las para dentro de seu próprio anel dimensional, tentando manter um ar de maturidade, mas, no fim, estava praticamente babando, e suas mãos tremiam de alegria.

— Faça-me um favor e não use isso pra beber até a morte. — disse, encarando-o com um olhar severo.

O velho ascendente testou o peso do anel como se ele pudesse sentir o peso físico de todo o tesouro que agora estava ali.

— Quando você chegar a Cargidan, a Associação de Ascendentes local vai comprar tudo que você tiver e vai colocar direto no seu cartão rúnico. — disse distraidamente. — E eles podem imprimir um emblema oficial também, agora que você completou sua preliminar.

— Você conseguiu aquilo tudo na sua ascensão preliminar? — Briar perguntou em choque, seus olhos saltando de mim para o meu anel dimensional e vice-versa.

Darrin foi rápido em responder.

— Não fique com as expectativas altas, Briar. Isso definitivamente não é um ganho normal para uma única ascensão, nem mesmo pra várias delas.

Eu simplesmente encolhi os ombros para a jovem mulher.

— Meu companheiro de viagem e eu tivemos sorte.

— Eu que o diga. — Darrin respondeu. — De qualquer maneira, é melhor que vocês se apressem. Grey, Briar vai te ajudar a encontrar seu caminho por lá. —  olhou sua aprendiz e passou a mão pelo seu cabelo loiro. — E Briar, não esqueça que Grey vai ser um professor na academia. Você pode não estar em sua aula, mas eu não consigo imaginar que ele vai aceitar gentilmente qualquer outra grosseria da sua parte.

Briar demorou em desviar o olhar de mim antes de subir na plataforma próxima ao tempus warp, ficando de pé com precisão militar enquanto aguardava me juntar a ela.

— Te vejo por aí, Grey. — Darrin disse conforme eu me juntava à jovem na plataforma.

— Apresse-se e resolva o que precisar para que você possa voltar a me fazer dinheiro. — Alaric adicionou rispidamente, girando o anel dimensional ao redor de seu dedo cheio de calos.

— Tchau, tchau! — uma voz fina disse da porta quanto Pen apareceu no canto, acenando.

Acenei de volta, então a mansão desapareceu ao meu redor, e eu me encontrei de pé em uma diferente plataforma, muito longe do domínio rural de Sehz-Clar.

A transição foi perfeita, sem nenhum enjoo chocante ou bagunça nos meus intestinos. A plataforma sob meus pés havia mudado de pura pedra para madeira escura, enquanto o espaço ao meu redor era simultaneamente cavernoso e claustrofóbico.

Dando uma olhada rápida nas fileiras das estantes de livros, cada uma carregada com livros encapados em couro, imaginei a enorme quantidade de informação contida dentro dessa biblioteca. Dezenas de milhares de livros sobre cada assunto inimaginável. Entretanto, se é tão cuidadosamente filtrada como a da biblioteca em Aramoor, provavelmente não há nada de importante ou útil aqui, pensei, acalmando minhas expectativas.

Ainda assim, estava ansioso por alguns momentos quietos para gastar estudando Alacrya, os Soberanos, e as Relictombs. Ainda havia muito que eu não sabia, muitas maneiras que eu poderia cometer um deslize sem nem mesmo perceber. Esperava que a biblioteca tivesse algumas respostas.

Retirando meu olhar dos livros, vi Briar em pé em uma plataforma pequena a poucos metros à minha esquerda. Estava me observando com cuidado, mas sua atenção foi interrompida quando um homem em um manto de batalha preto e cinza se aproximou.

— Identificação? — perguntou em um tom de tédio, estendendo sua mão.

Briar já tinha a sua em mãos, mas eu tinha que tirar a minha da runa dimensional, fingindo ativar meu anel inútil. Os olhos do guarda dispararam pelo emblema de identificação dela antes de devolvê-lo sem falar nada.

Quando pegou a minha, entretanto, a examinou por alguns longos momentos, uma profunda carranca se formando em seu rosto. Seus olhos dispararam para mim, depois de volta. Briar bufou novamente, mas ele a ignorou.

Eventualmente, voltou sua atenção para mim, me inspecionando de perto, seu olhar demorando em minhas roupas simples.

— Temo que você tenha que vir comigo, Senhor Grey, para que nós possamos verificar a validade dessa identificação. — Embora as palavras do guarda fossem profissionais, seu tom de voz me disse claramente o que ele pensava da “validade” de minha presença no domínio central.

Deixando meu olhar passar por ele preguiçosamente disse:

— Muito bem, mas espero que você esteja preparado para lidar com as consequências de assediar um professor da Academia Central.

Parecendo achar graça, o guarda voltou seu olhar incerto para Briar, que apontou seu polegar para mim e disse:

— Não olhe pra mim, cara. Ele é o figurão.

— Um, hmm, professor?

Perguntou, repentinamente nervoso enquanto olhava para o emblema de identificação novamente.

— Mil perdões, Ascen— Professor Grey, eu não percebi—

Estendendo minha mão, eu puxei minha identificação de volta.

— Homem sábio. — falei friamente, marchando para além do homem.

Ele deu um rápido passo para trás, falando sem entusiasmo.

— Bem-vindo à Biblioteca dos Soberanos, Cidade de Cargidan, Domínio Central. — enquanto nós passávamos.

Briar me deu um olhar de avaliação com o canto de seus olhos.

— Talvez você vá se encaixar na academia, afinal.

— Não tão mal pra um caipira da roça, né? — falei com uma piscadela, antes de deixar meu olhar vagando pela construção novamente. Os pisos e paredes eram de um mármore branco brilhante, que se destacavam em forte contraste à madeira negra das plataformas, grades e estantes de livros.

Um domo de vidro de um branco prateado acima permitia que a luz fria da manhã entrasse na Biblioteca para cintilar e se espalhar pelo mármore, e todo canto sombrio era iluminado por artefatos de luz, fazendo com que todo o interior da construção parecesse brilhar.

Comparada à pequena livraria suja em Aramoor, este local era um palácio. As pessoas sentadas lendo livros ou vagando entre as prateleiras pareciam pertencer a uma classe diferente também. Elas vestiam sua riqueza e se comportavam casualmente, sem a pomposidade que eu havia visto nos Granbehls, e pareciam ainda mais ricas e poderosas por causa disso.

Na minha vida anterior, havia conhecido muitos outros nobres de toda a Terra que possuíam uma centena de títulos diferentes. Eram aqueles que mais estavam confortáveis nos ornamentos de seus poderes que eu sabia que tinha que ficar alerta, e as pessoas ao meu redor pareciam muito confortáveis.

Um espaço amplo de portas de vidro levava à grama verde, além da qual estava uma rua movimentada tumultuada com pessoas. Embora houvesse algum tráfego de pedestres aqui, parecia mais comum para esses Altos Sangues viajarem por carruagem, algumas das quais estavam passando pela rua enquanto assistia, puxados por uma variedade de bestas de mana. O boi vermelho-sangue que eu havia visto sendo usado nas Relictombs eram os mais comuns, mas também vi alguém sendo levado por um cavalo reptiliano, e outra pessoa por um pássaro enorme.

— Vamos lá então, Professor. — Briar disse, já marchando rapidamente pela grama da biblioteca.

A segui, ficando perto, mas a maior parte de minha atenção estava na cidade ao meu redor.

Pisos de pedra de um cinza sombrio compunham as estradas, fazendo um forte contraste com a pedra branca da maioria das construções, as quais se arqueavam, espalhavam e se elevavam em direção ao céu na forma de prédios, pilares e torres, que eram realçados com vermelhos, azuis e verdes. Por toda a parte, havia um agressivo metal negro entremeado nas construções, contribuindo pra coesão no meio da infinidade de formas e cores.

Atrás disso tudo, visível ocasionalmente através dos espaços entre as construções, elevava-se uma série de grandes montanhas, perfurando o céu como as presas de algum animal capaz de engolir o mundo.

Briar se moveu com propósito, nos guiando para longe da biblioteca com uma velocidade de marcha.

— O campus da academia fica a quase dois quilômetros da biblioteca. — disse por cima do ombro enquanto nós nos afastávamos da rua principal e entrávamos em uma série de becos. — Mais distante se você seguir a Avenida do Soberano continuamente até a Central, a rua principal que divide a cidade.

— Você parece conhecer seu caminho por aqui muito bem. — comentei, meu olhar se espalhando pelas construções ao nosso redor. Os becos eram limpos, sem lixo e nem pessoas ociosas, e todos os pedestres se moviam com propósito, assim como nós.

Por cima do ombro, disse:

— É um requisito. Estudantes que não podem se mover rapidamente pela cidade tem mais probabilidade de perderem prazos ou falharem em tarefas.

— O currículo é tão intenso assim? — perguntei com genuíno interesse.

Briar parou e se virou para me olhar nos olhos.

— Academia Central é uma das mais prestigiadas academias em Alacrya, mas você já deveria saber disso, Professor. Pessoas não se tornam ascendentes de sucesso ao viverem vidas fáceis e sem dificuldades.

— Sim, princesa! — Regis cantou. —Pare com sua vida fácil e sem dificuldades e saia do lugar.

— Me desculpo por viver tal vida fácil e sem provações, oh grande e poderosa arma dos Asuras. — respondi, impassível.

Bem alto, disse:

— Nem todo mundo aprende bem sob esse tipo de pressão.

Briar enrugou seu nariz.

— Os estudantes da Academia Central não são todo mundo. Nós somos a elite, mesmo entre sangues nomeados e altos sangues.

Sem esperar por uma resposta, girou, fazendo com que seu cabelo claro rodopiasse, e começou a marchar novamente.

Nós caminhamos em silêncio por mais alguns minutos antes de voltarmos a uma rua principal. A rua estava lotada com tráfego pedestre e era repleta de negócios que provavelmente atendiam aos estudantes da academia: restaurantes e tavernas, lojas de armadura, lojas de roupas chiques, e algumas lojas que anunciavam comprar e vender espólios.

— Você não quer essas aí. — Briar disse, quando diminuí o passo para ler o letreiro fora da Espólios do Andvile. — Essas lojas são todas suspeitas, e a maioria das pessoas que negociam com elas também são. Ótimas se você tem um espólio roubado para se livrar com pressa, mas não tão boas para manter sua reputação como professor da Academia Central. Se você vai vender as coisas que Alaric não roubou de você, leve-as para a Associação de Ascendentes. A construção fica bem próxima à entrada para o campus de qualquer forma.

Quase que como para enfatizar o ponto dela, a porta se abriu e um homem de olhos ligeiros em um manto de batalha cinza sujo saiu. A atenção dele estava em uma pedra vítrea em sua mão de forma que quase trombou comigo. Se encolheu enquanto eu aparecia em sua visão periférica, me deu um olhar suspeito, depois puxou seu capuz e se misturou à multidão de transeuntes.

Briar me deu um olhar que dizia.

— Tá vendo? Eu avisei.

Comecei a me virar quando eu notei uma imagem em movimento sendo reproduzida na superfície de alguma espécie de cristal ligado ao lado de uma construção com suportes pretos. Quando me aproximei, percebi que a imagem estava retratando uma paisagem destruída e acabada.

Briar sorriu.

— Essa realmente é sua primeira vez em uma das cidades grandes, não é?

— É alguma espécie de artefato de projeção? — perguntei, dando um passo mais perto. — Mostrando imagens gravadas? Assim que eu estava a alguns pés do artefato, uma voz masculina grossa preencheu minha cabeça.

— Imagens realmente aterrorizantes capturadas no país mais ao leste de Dicathen, Elenoir. A perda de vidas, tanto para os nativos de Dicathen conhecidos como elfos, e para os bravos Alacryanos que tinham se voluntariado para a realocação para florestas distantes, é incalculável. O Alto Soberano Agrona pede calma, e exige que todos os Alacryanos entendam que esse ataque dos vis asuras de Epheotus não vai passar impune.

— Além disso, todos nós vamos nos juntar para oferecer graças ao Alto Soberano, para que ele continue a nos proteger com toda—

Dei um passo para trás, e a voz foi cortada.

— Telepatia de proximidade? — olhei para Briar esperando confirmação.

Ela concordou, saindo do alcance ela mesma.

— Meus pais pensavam que estavam sendo realmente inteligentes, imaginando que a guerra estava acabando e apostando nas ascensões no lugar disso. Acho que a guerra não está tão acabada quanto eles pensavam.

— A ideia de ir para a guerra contra seres capazes de obliterar um país não te assusta? — perguntei, levemente surpreso pela sua falta tanto de empatia ou medo com as imagens ainda sendo reproduzidas silenciosamente pelo artefato de projeção.

Briar encolheu os ombros e começou a caminhar novamente. Por cima do ombro, disse apenas:

— Os Vritra protegem Alacrya.

Fiz uma nota mental dos mercantes que se enfileiravam na Avenida do Soberano, mas não parei novamente. Dentro de alguns minutos, nós estávamos de pé entre dois complexos em torre, e à nossa frente um portão preto de ferro bloqueava a entrada para o que só poderia ser a Academia Central.

Um punhado de garotas parou repentinamente quanto nos notaram, e deram um grito feliz. Briar sorriu e acenou de volta.

— Mesmo que isso tenha sido muito divertido, aqui é onde eu te deixo, Professor. — já estava saindo quando disse: — Eu presumo que você possa achar o caminho daqui, certo?

— Eu acho que eu vou conseguir. — eu gritei por trás dela.

Tentando tirar a garota Alacryana da minha mente, me virei para examinar o prédio da Associação de Ascendentes, ou melhor, os prédios. Os gigantes prédios brancos flanqueando a entrada para a Academia Central eram na verdade conectados por pontes de pedra em alturas variadas acima de mim.

— Oh, meu Vritra, Briar. Quem é aquele homem belo?

Apesar da distância para o grupo, o barulho da rua, e minha própria distração, minha audição aprimorada era o suficiente para ouvir tudo que o grupo de garotas estava falando.

— Aquele é seu namorado? Você disse que não podia socializar porque estava em treinamento, Bee! Mas, invés disso, você esteve passeando com—

— Ele não é, e você pode calar a boca agora mesmo, Valerie, antes que eu te mostre exatamente quão duro eu estive treinando. — Briar disse em um vociferado baixo que só fez as outras garotas sorrirem mais.

Dei um olhar discreto na direção delas e encontrei três garotas encarando, muito menos discretamente, em minha direção, enquanto Briar já estava a caminho dos portões da academia. Diferente de Briar, que estava em sua armadura branca, as outras três vestiam uniformes azuis e pretos combinando.

Elas demoraram apenas um momento antes de seguirem a estudante de Darrin para longe, mas não sem mandar um punhado de olhares curiosos de volta em minha direção.

— Você sabe, eu meio que estou surpreso que elas sejam tão… normais. — eu disse, observando as estudantes se enfileirarem nos portões. Uma memória de Ellie brincando com as outras garotas da Escola para Damas surgiu, trazendo um sorriso aos meus lábios.

— Honestamente, eu estou mais surpreso que Briar tenha amigas. — Regis comentou.

Sorrindo, voltei minha atenção para os prédios da Associação de Ascendentes. Letreiros de metal preto indicavam que a entrada à minha direita era para “Teste & Teleporte” e a outra entrada à esquerda levava para “Administração & Instalações”.

Escolhendo a entrada da esquerda, segui o curto caminho até as portas duplas, tão largas que uma carruagem poderia passar por elas, e puxei a maçaneta de metal preto. A porta não abriu, mas um momento depois um pequeno painel por volta da altura do rosto se abriu, revelando um guarda com capacete.

— Emblema? — disse em um tom de tédio.

Retirei o emblema que eu recebi em Aramoor e o estendi para a fenda estreita. O homem a pegou da minha mão e o painel se fechou novamente, deixando Regis e eu esperando. Um minuto ou dois passaram, longos o suficiente para dois outros ascendentes, os dois baixos e magros vestidos no estilo dos mantos de batalha preferidos por Conjuradores, se alinharem atrás de mim, murmurando mal-humorados.

Depois de outro minuto, a fechadura finalmente foi aberta com um “thunk” pesado e a porta se abriu para dentro.

Um homem em um manto de batalha prateado com ombreiras, braçadeiras e botas cor de ébano que capturavam e desviavam a luz de uma maneira líquida e incomum deu um passo à frente. Ele tinha cabelo preto curto e uma barba bem feita, com um toque de cinza nas suas têmporas e queixo.

— Bem-vindo ao Salão da Associação de Ascendentes da cidade de Cargidan, Ascendente Grey. Nós já ouvimos bastante a seu respeito.

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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