O Começo Depois do Fim

O Começo Depois do Fim – Cap. 299 – Peças Perdidas

 

Foi com uma pontada de pesar que me sentei com o cubo de pedra que recebi da projeção do djinn durante minha primeira aventura nas Relictombs. Depois de minhas primeiras tentativas de entender a relíquia em Maerin, passei muito pouco tempo estudando as formas geométricas internas.

Ainda assim, minha interação anterior com a pedra angular deve ter feito algo; as Relictombs perceberam que eu tinha algum conhecimento desse edito do éter, seja lá o que fosse, e nos atraíram para esta zona para me testar. Ou talvez tenha sentido o próprio cubo, escondido em minha runa de armazenamento extradimensional, e só isso foi o suficiente para nos trazer aqui.

Por ser um povo pacífico, os djinn pareciam ter uma metodologia muito obscura em como treinavam e protegiam suas artes etéricas.

Sentando-me de pernas cruzadas no chão com o cubo no colo, confiando em Regis e Haedrig para cuidar de mim enquanto trabalhava, comecei.

Como antes, imbuí éter na relíquia, e seu éter se comunicou de volta comigo. Minha visão se desvaneceu em uma parede roxa, e empurrei através dela, encontrando-me mais uma vez cercado por incontáveis formas geométricas flutuantes e giratórias.

Usando o éter, fui capaz de manipular as formas, movendo-as e classificando-as para tentar entender seu significado.

Me senti como uma criança brincando com blocos do alfabeto. Não havia ritmo ou razão para as formas geométricas e, embora pudesse interagir com elas, não tinha nenhum fundamento para entender, nenhuma ideia do que deveria estar fazendo.

Ainda assim, tinha que acreditar que o djinn não teria me dado essa relíquia se não houvesse maneira de eu resolver isso. Comecei coletando símbolos de formato semelhante e agrupando-os em grupos. Em seguida, uma vez que eram geométricos e não baseados em runas, procurei maneiras de encaixá-los, tratando-os como um quebra-cabeça abstrato.

Isso pareceu fácil no início, pois havia formas suficientes para que eu sempre pudesse encontrar uma peça que se encaixasse. Depois de juntar algumas dezenas de peças, percebi o problema. Diante de mim, um grande fractal multidirecional havia tomado forma, mas eu tinha ficado sem peças que se conectariam à forma que eu havia criado.

Sem outra escolha, quebrei o quebra-cabeça e comecei novamente.

Todo o tempo, senti meu éter sendo retirado de mim e consumido pelo cubo. Sua força de sucção não era tão ruim nas Relictombs como tinha sido quando eu a estudei em Maerin, permitindo-me ficar mais tempo, mas ainda colocava um limite na quantidade de tempo que eu poderia gastar trabalhando na relíquia em uma única sessão.

Organizei minhas peças novamente e comecei a construir meu quebra-cabeça pela segunda vez, tendo em mente quais peças eu havia usado na primeira tentativa. Desta vez, porém, me encontrei em um beco sem saída ainda mais cedo, mas estava cansado demais para recomeçar.

Meus olhos se abriram e levou um momento para minha mente entender a sala de espelhos com seu movimento constante e pequeno exército de figuras refletidas.

Regis estava enrolado na minha frente, um olho aberto e rastreando os outros de perto. Ezra e Haedrig pareciam estar dormindo, enquanto Kalon vigiava Ada. Sua boca foi coberta para abafar o fluxo constante de vitríolo e mentiras.

— Quanto tempo estive fora? — perguntei, assustando Kalon, que praticamente pulou de pé.

Ele pigarreou e sentou-se novamente.

— Várias horas, pelo menos. Você fez… o que quer que estivesse tentando fazer?

— Fiz algum progresso. — respondi evasivamente. Tive a sensação de que ele não gostaria de ouvir que eu não tinha ideia do que estava fazendo.

De seu banco do outro lado da fonte, Ezra disse:

— Já se passaram horas e tudo o que você pode dizer é que fez “algum progresso”?

O jovem ascendente se levantou, olhou para mim e se afastou, pisando forte na escuridão.

— Eu já passei horas estudando o… dispositivo antes de chegarmos aqui. — disse, falando com Kalon. — Não sei quanto tempo vai demorar, mas estou fazendo o que posso.

Com sua expressão estoica, Kalon perguntou:

— Tem certeza de que não há nada que possamos fazer para ajudar?

— Só não deixe seu irmão me apunhalar enquanto em transe. — disse, levantando uma sobrancelha.

Kalon riu, fazendo com que a contida e amordaçada Ada rosnasse para ele e se contorcesse dentro de suas amarras como se o som a machucasse. Kalon olhou para ela tristemente por um momento antes de se virar para mim.

— Faça o que você precisa fazer, Grey.

Me senti como uma esponja bem torcida; quase todas as gotas do meu éter foram gastas. Eu não precisava dormir muito, mas precisava de tempo para reabastecer meu núcleo de éter.

De pé, executei uma série de movimentos marciais que Kordri havia me ensinado em Epheotus para me ajudar a tirar a rigidez de meus membros. Após vários minutos da rotina, sentei-me ao lado de Regis e comecei o processo de absorção do éter ambiental.

Senti meu companheiro se mexendo nas proximidades antes de ouvir sua voz em minha cabeça.

— Como que é lá?

— Não tenho certeza de como descrever, honestamente. Pensei nas formas díspares, nos padrões que projetei, nas paredes de energia etérica prendendo tudo… Como é a sensação de entrar no meu corpo?

— É como nadar.

Abri os olhos, interrompendo minha meditação, e encarei Regis. O lobo das sombras encolheu os ombros.

— Você perguntou.

Fechando meus olhos, concentrei-me no éter ao meu redor, em atraí-lo através de meus canais de éter e para o meu núcleo. Dentro dessa relíquia é conhecimento puro. Sinto como se estivesse tentando entender o conteúdo de um livro complicado queimando e inspirando a fumaça.

— Alguma ideia de quanto conhecimento você precisa inalar para nos tirar daqui?

— Mais. — transmiti — Muito mais.

A terceira tentativa de juntar as peças do quebra-cabeça não foi exatamente um encanto, mas cheguei a um momento inesperado de compreensão. Sem tomar uma decisão consciente de fazê-lo, parei de tentar usar todas as peças e, em vez disso, apenas construí um grande quadrado.

A forma era relativamente direta, encaixando-se naturalmente em minha mente. Depois de decidir o que construir, quase parecia que as peças se apresentavam para mim quando eram necessárias.

Quando o quadrado estava completo, ele começou a brilhar e cintilar como óleo na água, então as linhas das peças individuais desapareceram, deixando uma moldura quadrada flutuando sem suporte no espaço como uma janela para lugar nenhum. As ondas escorregadias de óleo se acomodaram e pararam, e dentro da moldura eu pude ver o corredor de espelhos.

Regis ainda estava em seu lugar ao meu lado. Kalon agora dormia enquanto Ezra cuidava de sua irmã. Haedrig, fiquei surpreso ao ver, estava com a mão contra um dos espelhos, aparentemente em uma conversa profunda com seu habitante. Entretanto, nada do que eles disseram foi audível. Na verdade, nenhum som veio da janela.

Estava perdido. Embora eu claramente tivesse feito algum tipo de descoberta, não entendia como essa janela para o mundo exterior me ajudava, ou o que ela revelou sobre o edito do éter que eu estava tentando dominar.

Saindo do quadrado por enquanto, comecei a construir um segundo quadrado menor com as peças restantes. O que acabei com, no entanto, parecia mais um pedaço afiado de massa enrolada do que um quadrado perfeito, já que eu não tinha os pedaços para torná-lo perfeito.

Foram necessárias mais três tentativas, construindo a forma cada vez menor, para criar um segundo quadrado perfeito. Esperei, mas nada aconteceu, nenhuma luz, nenhuma coalescência de energia, nenhuma janela para o mundo exterior.

Foi quando tive meu segundo momento de compreensão.

E se o quadrado, ou teoricamente, qualquer forma representasse o conhecimento subconsciente de algum aspecto do edito de éter que eu estava tentando aprender? Se eu assumisse que o ato de construir o quebra-cabeça era metafórico para estudar o próprio edito, então estudar o mesmo pensamento, representado pelo quadrado, não me levaria mais longe na compreensão do todo?

Com isso em mente, desconstruí o quadrado menor, mas então meu núcleo de éter estava quase vazio.

Quando abri os olhos, encontrei as coisas exatamente como as tinha visto pela janela.

— H-Haedrig. — disse, encontrando minha voz rouca pelo uso indevido.

A mão do ascendente se afastou do espelho cujo habitante ele estava falando e rapidamente caminhou em minha direção.

Tomei um longo gole do odre de água que descansava ao meu lado, pingando um pouco pelo meu queixo.

— Cuidado com isso. — disse Haedrig. — Podemos todos nos arrepender de não ter embalado tantos suprimentos quanto você antes de escaparmos deste lugar.

— Quanto tempo?

— Eu diria que talvez doze… quinze horas desde que você entrou. — Haedrig estava me observando com cuidado, quase nervoso.

— Na verdade, já se passaram treze horas e quarenta e oito minutos. Não que eu esteja contando nem nada.

— Nossa. Estou durando mais, pelo menos.

— E estamos quase sem comida! — Ezra interrompeu, olhando para mim incrédulo. — Você espera apenas ficar aí até o resto de nós morrer de fome?

— Você deveria estar racionando seus suprimentos. — rebati, mas antes que Ezra pudesse responder tirei meu pacote de comida da runa de armazenamento dimensional extra no meu antebraço e joguei para ele.

— Eu posso sobreviver por alguns dias. — Olhando para Haedrig, acrescentei, — Certifique-se de que isso seja dividido, e racionado desta vez.

Ezra jogou o pacote no banco ao lado dele e sentou-se novamente.

— Obrigado, herói.

Tentando esconder seu sorriso, Haedrig se sentou ao meu lado e bebeu de seu cantil. Quando fiquei em silêncio, ele se virou para mim e ergueu uma sobrancelha.

— E então?

Balancei a cabeça.

— Fiz algum progresso, mas nenhuma epifania ainda.

Haedrig tomou outro gole, então riu de si mesmo e guardou seu frasco em seu anel dimensional.

— Olhe para mim, sem dar ouvidos ao meu próprio conselho. — Ficamos em silêncio por um momento enquanto eu comecei a repor meu éter. — Então, éter…

Suspirei. Embora eu não quisesse discutir o assunto, também fiquei surpreso por ter demorado tanto para um deles trazer o assunto à tona depois que mencionei o éter à falsa Ada. A melhor maneira de mentir, eu havia decidido, era contar o máximo possível da verdade.

Falando baixinho para que Ezra não ouvisse, disse:

— Esta não é minha primeira viagem às Relictombs, embora você não pudesse chamar minha visita anterior de uma ascensão, na verdade.

Haedrig parecia totalmente não surpreso com esta revelação, olhando-me impassível.

— Obrigado por finalmente declarar o óbvio.

— Acordei em uma sala de santuário, meio morto, sem nenhuma lembrança de como tinha chegado lá. A primeira sala que cheguei estava cheia dessas horríveis coisas-quimeras-zumbificadas, e elas quase me mataram, mas enquanto eu estava lutando contra elas percebi que poderia usar um novo tipo de magia. Éter.

Haedrig fez um gesto na direção de Regis.

— O lobo?

— Sim, ele foi a primeira manifestação. Então eu aprendi aquele… truque de teletransporte que usei para nos tirar da última zona. — Quando Haedrig apenas balançou a cabeça, me virei para encará-lo. — Você parece surpreendentemente relaxado com tudo isso.

— Eu sabia que havia algo diferente em você. — respondeu dando de ombros. — Eu podia sentir isso. Para ser honesto, é por isso que queria acompanhá-lo em sua ascensão. Para ver o que aconteceria ao seu redor.

Pensei na descrição de Alaric das Relictombs, e como ela mudava com base em quem estava dentro dela. Alguns ascendentes, ele me disse, fariam cada ascensão com um novo grupo, na esperança de descobrir novos e inexplorados alcances da criação dos magos antigos.

— E os djinn?

— É como os magos antigos se chamavam. — respondi com sinceridade. Eles se foram, graças ao Clã Indrath. Eu não via nenhum mal em compartilhar o nome agora. — Encontrei um… espírito, ou manifestação, ou algo assim… foi o que me deu a relíquia.

Haedrig balançou a cabeça e me lançou um olhar de puro espanto.

— Você descobriu mais sobre as Relictombs em duas ascensões do que eu em vinte. Seu sortudo miserável.

Seus olhos caíram para a relíquia em meu colo.

— Ainda assim, é arriscado ter segurado isso. Os Vritra-Soberanos o esfolariam vivo se soubessem que você descobriu uma relíquia e não a entregou no momento em que saiu das Relictombs.

— Felizmente para mim. — disse, pensando sobre os guardas imbecis que me encontraram no portal de saída em Maerin. — saí em uma pequena cidade atrasada. Eles ficaram tão surpresos de me ver lá quanto eu de estar lá.

— Sortudo miserável. — disse ele novamente, balançando a cabeça.

— Como estão as coisas aqui? — perguntei depois de uma pausa. Era bom apenas… conversar, e percebi que não queria que nossa conversa terminasse tão cedo.

— Tenso e instável. — Haedrig respondeu com naturalidade. — O menino está quase fervendo. Ele comeu suas rações e metade do que retiramos do anel dimensional de Riah. Sujeitar-se à raiva e ao medo das reflexões não está ajudando, mas ele não parou, mesmo quando seu irmão ordenou.

— Isso é praticamente manifestação de sua própria agitação interna. — disse, pensando sobre minha vida como Grey depois que a Diretora Wilbeck foi assassinada. Eu havia atiçado as chamas da minha raiva de todas as maneiras que pude. — Acho que é catártico para ele.

Haedrig apenas grunhiu e ficamos em silêncio.

Procurando um tópico de conversa, de repente me lembrei da reação de Haedrig quando perguntei à falsa Ada sobre o éter mais cedo.

— De volta ao tópico do éter. — comecei, um tanto sem saber como perguntar o que eu queria saber. — Mais cedo, quando mencionei isso… bem… você pareceu surpreso.

Haedrig encontrou meu olhar e então olhou para o chão, deixando seu cabelo verde cair sobre seu rosto.

— Você é observador, Grey. V-você mostrou muita confiança em mim. Se a pessoa errada descobrisse como você chegou àquela relíquia, você poderia ser executado.

Não havia nenhum indício de ameaça nas palavras de Haedrig. Em vez disso, ele parecia genuinamente grato pela confiança que demonstrei nele; Disse aos outros apenas que era um dispositivo para abrigar conhecimento, e esperava que fosse o suficiente para satisfazer suas curiosidades por enquanto.

— Estudei um pouco o éter. — continuou ele — mas não posso falar sobre isso com frequência. Não é um… tópico de conversa adequado na maioria dos círculos, e minha família não aprova. Na verdade. — acrescentou com uma risada amarga. — Minha família realmente não aprova nada que eu faça. Eles esperam que eu fique em casa como um bom e pequeno…

Haedrig se interrompeu e me lançou um olhar envergonhado.

— Desculpe, família é um assunto um pouco delicado para mim.

— Eu te entendo. — disse com um sorriso triste. — Não importa o quanto tentemos, não podemos ser filhos perfeitos.

— Não, não podemos. — respondeu Haedrig, com certa amargura. — Talvez meus pais biológicos tivessem pensado de forma diferente, mas eu não fui criado por meu próprio sangue. A casa que me criou, bem, eles não apreciam minhas aspirações como ascendente.

— Mas os ascendentes são muito considerados em…

Me impedi de dizer “Alacrya”, ao invés disso, me atrapalhei por um momento antes de terminar.

Na maioria das famílias.

— Oh, não me entenda mal; meu sangue adotado está muito ansioso para estabelecer seu nome, tanto como soldados na guerra contra Dicathen quanto como ascendentes, seja por sangue ou patrocínio. Mas eu não fui feito para esta vida… pelo menos, não de acordo com eles.

Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, Haedrig se levantou e endireitou sua armadura.

— Sinto muito, Gray, mas acho que gostaria de algum tempo a sós com meus pensamentos. Vou deixá-lo com sua meditação. — Depois de um momento de pausa, ele acrescentou. — Obrigado por ouvir, e foi embora.

— Não achei que fosse possível, mas aquele cara parece ter tantos segredos quanto você. — disse Regis com uma risada. O lobo das sombras estava enrolado entre eu e Ezra, seus olhos fechados, embora claramente estivesse prestando muita atenção.

— Você acha que ele é outro Dicatheano preso em Alacrya e escondendo sua identidade para evitar ser caçado pelos Vritra? —  sorri e empurrei as costas de Regis com minha bota.

— Não, seu tolo, mas ele definitivamente não está nos contando tudo.

— Você pode estar certo. Ainda assim, não posso deixar de confiar nele. — Eu não tinha percebido até aquele momento, mas era verdade. Apesar de meu, apesar de nosso curto entendimento, confiei em Haedrig para cuidar de minhas costas. Não poderia dizer o mesmo sobre os irmãos Granbehl.

— Que seja. Confie, mas se ele fizer algo estranho, ainda assim arranco seu braço com uma mordida.

Sorrindo e balançando a cabeça, voltei à minha mediação, preparando-me para mais uma tentativa na pedra angular.

 

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Quando empurrei a parede roxa em torno do campo de formas geométricas, encontrei a janela quadrada ainda intacta. Dentro dela, observei Haedrig caminhar pelo corredor sombrio, seus olhos baixos, sua expressão pensativa.

Minha perspectiva mudou, focando em Ezra enquanto se levantava e caminhava em minha direção. Regis abandonou imediatamente sua pretensão de estar dormindo, erguendo a cabeça e olhando para Ezra. O jovem ascendente parou, encontrou os olhos do lobo das sombras por vários segundos, depois se virou para ir embora, embora não tenha ido tão longe a ponto de perder Ada de vista.

Forcei minha consciência para longe da janela, me concentrando nas formas restantes. Eu já sabia que criar outro quadrado não adiantava, então comecei a construir a primeira coisa que me veio à mente: um triângulo equilátero.

Era mais difícil do que o quadrado. As peças não pareciam se encaixar corretamente. Eles não pularam em mim como fizeram antes, me guiando, então me vi desmontando e reconstruindo a forma repetidas vezes. No momento em que meu núcleo de éter estava vazio, ainda não tinha construído com sucesso um triângulo perfeito.

Mesmo assim, uma vez que minha mente estava decidida, me senti compelido a ver o que estava acontecendo. Sabia instintivamente que deveria haver uma maneira de combinar as formas e figuras na imagem em minha mente, e na próxima vez que entrei na pedra angular, tentei novamente.

Mas não foi até meu terceiro dia, minhas viagens para a pedra angular estavam durando quase dezesseis horas neste ponto, com o tempo restante dedicado a reabastecer meu éter e dormir um pouco, que consegui forjar um triângulo equilátero perfeito.

Como antes, as peças brilharam e formaram uma forma sólida e, quando o brilho diminuiu, pude ver através dele a sala do espelho, embora a imagem que me mostrasse fosse diferente. O quarto estava vazio. Então eu apareci, saindo de um portal suspenso no ar.

Observei enquanto recuava, me defendendo de ataques que nunca aconteceram. Me ouvi perguntar,

— Q-quem são eles?

Então Kalon e Ezra apareceram, batendo em mim.

— Mas que merda é essa?

Eu estava vendo o passado, percebi, como se tivesse sido capturado por um artefato de gravação. A janela quadrada me mostrou o presente. No triângulo, eu podia assistir à reprodução anterior como um vídeo caseiro.

Meu coração bateu rapidamente enquanto eu considerava a terceira forma. Isso era possível?

Minha atenção foi atraída de volta para a janela quadrada. Haedrig se sentou ao lado de Regis, seus dedos percorrendo a espessa juba do lobo das sombras. Os olhos de Regis estavam fechados, sua língua pendurada no canto da boca , a própria imagem de um animal de estimação satisfeito desfrutando de um bom cafuné.

Traidor, pensei, sorrindo.

Atrás deles, Kalon estava sentado com Ada, a cabeça entre as mãos, e Ezra estava de pé diante de um dos espelhos, sua mão pressionada contra ele.

Soltei um suspiro. Idiota. O garoto estava apenas se torturando ao interagir com esses espíritos. Eles não tinham nada para compartilhar, exceto sua loucura e ódio. Ouvi-los só poderia levá-lo à escuridão e ao desespero.

Voltando às imagens visíveis através do triângulo, observei enquanto nosso tempo na sala dos espelhos se desenrolava novamente. Achei difícil me virar, observando pela segunda vez Ada ser pega pelo fantasma.

A falsa Ada deslizou pela sala sem ser vista, distraída como todos estávamos, e subiu em cima de Riah. Riah parecia inconsciente, mas ainda se encolheu quando Ada se inclinou e pressionou seus lábios contra os de Riah.

Riah teve uma convulsão, um puxão agudo e não natural, depois ficou imóvel, pálida como um fantasma.

O fantasma de alguma forma tirou a força vital diretamente de Riah, matando-a instantaneamente. Presumi que fosse algum tipo de ser etéreo, como a maioria dos monstros nas Relictombs, mas não tinha visto nada tão poderoso ou mortal quanto isso.

Na minha frente, a falsa Ada, agora contida, avançou, quase mordendo Kalon. Não, não mordendo, quase beijando Kalon. Não tínhamos ideia do quão perto da morte ele estivera naquele momento.

Afastei os pensamentos dando voltas em minha mente. Reviver esses momentos passados era uma armadilha, como viver a vida em um círculo. Precisava começar a construir a próxima forma… e sabia exatamente o que ela precisava ser.

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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