O Começo Depois do Fim

O Começo Depois do Fim – Cap. 296 – A Sala dos Espelhos

 

Minha mente girava em confusão enquanto passava pelo portal e entrava na próxima zona. Uma figura saltou da minha esquerda e eu puxei minhas mãos para desviar do golpe, mas nada aconteceu. Um movimento no canto do olho me fez virar bruscamente, esperando um ataque pelo flanco, mas nenhum ataque veio daquela direção também.

— Pulando nas sombras agora, Princesa? — Regis ria em minha mente. — Olhe.

— Quem–quem são eles?

Por toda parte, as pessoas olhavam para mim através das janelas retangulares, cada uma com uma expressão de angústia, os rostos molhados de lágrimas, retorcidos de raiva ou contorcidos em gritos silenciosos. Alguns ficavam parados, embora a maioria estivesse em meio a ataques maníacos, gesticulando descontroladamente, golpeando e arranhando a si mesmos ou o chão, como enfermarias de um asilo.

Antes que eu pudesse investigar mais.

Kalon e Ezra estavam tropeçando em mim, Riah entre eles.

— Mas que merda é essa? — Ezra disse, se afastando de mim e das figuras dentro das janelas.

No centro da sala havia uma fonte quadrada, com quase dois metros de largura e cercada por bancos.

— Ali. — disse, apontando para um banco. — Coloquem-na lá.

Os irmãos carregaram a amiga da família pela sala, um fluxo constante de seu sangue escorrendo dos restos decepados de seu pé, espirrando sangue escuro no chão de mármore.

Ada veio em seguida, seus passos parando, seus olhos vidrados.

— Este–este é o santuário? — olhou para uma das figuras próximas, com as suas sobrancelhas franzidas em confusão. Ela na verdade se inclinou em direção a ele e apertou os olhos para tentar se focar nisso, como se não acreditasse em seus próprios olhos.

A figura, um homem muito corpulento que usava apenas calças de linho, um par de botas de aço e manoplas com espinhos, não olhou para trás, mas ajoelhou-se de quatro, martelando uma enorme manopla no chão de novo e de novo.

Haedrig, o último a entrar, colocou a mão suavemente no ombro dela e a guiou passando por mim, em direção à fonte no centro da sala.

— Não, esta não é uma sala santuário. — disse, sua voz baixa e sinistra.

Kalon estava envolvendo o toco de Riah com bandagens de seu anel dimensional enquanto Ezra olhava, impotentemente mexendo com sua lança. Se virou quando Haedrig falou.

— O que você quer dizer com esta não é a sala do santuário? Isso… — olhou em volta e se encolheu novamente, como se visse o espaço pela primeira vez. — precisa ser…

Haedrig guiou Ada até os bancos e a encorajou a se sentar antes de se virar para Ezra.

— Claramente não é, e depois dessa primeira zona você teria que ser um tolo para pensar que acabaríamos em um lugar tão esperado como uma sala santuário.

Ezra olhou com petulância para Haedrig, mas o veterano de cabelo musgoso parecia totalmente despreocupado. Eles se olharam por um longo momento antes de Ezra bufar e se virar, desta vez olhando para sua irmã.

Voltei a prestar atenção ao espaço. Tinha apenas cerca de quatro metros e meio de largura e dois e meio de altura, o que o fazia parecer muito baixo e claustrofóbico após a enormidade da última zona.

Embora a área perto da fonte fosse fortemente iluminada por orbes de luz que pairavam sobre a água corrente, a sala desvanecia nas sombras além da borda da luz, tornando difícil dizer a extensão da sala. A luz refletida nas muitas janelas que nos mostravam as figuras torturadas dava a sensação de que a sala se estendia eternamente.

— Não são janelas. — transmitiu Regis. — São espelhos. Olhe. 

Regis estava certo. Quando me aproximei do espelho mais próximo, pude ver o quarto refletido nele, embora, é claro, o homem no espelho não fosse eu, e nem existisse fora desse reflexo. Ele era um homem mais velho com uma espessa barba grisalha. Se sentou de pernas cruzadas, olhando sem piscar para mim, seus lábios se movendo incessantemente.

Inclinei-me para a frente, inclinando a cabeça fazendo meu ouvido quase pressionar o espelho e percebi que podia ouvir o leve sussurro de uma voz, embora não conseguisse distinguir as palavras.

— Bem. — Kalon disse, chamando minha atenção de volta para os outros. — Riah está dormindo. Ela perdeu muito sangue, mas aquele cataplasma que você lhe deu salvou a vida dela, Ada. Se pudermos sair daqui rápido o suficiente, ela ficará bem.

Kalon se aproximou de um espelho perto da fonte. O homem dentro dela usava um elmo com chifres afiados e negros como cimitarras, dando a ele a aparência de um Vritra. Ele ficou com os braços cruzados e um sorriso arrogante espalhado por seu rosto. Baseado em sua armadura, couro preto e placas de aço enegrecido com runas azeviche incrustadas por toda parte, ele era um ascendente, e um bastante rico.

— São todos ascendentes, disse Haedrig. — como se tivesse lido minha mente.

— Observe o design e o material de suas roupas e armaduras. — Kalon apontou. — Especialmente os chifres. Não é comum usar elmos com chifres faz, o que, várias décadas? Eles estão presos aqui há um bom tempo, não estão?

Ninguém respondeu, embora um arrepio coletivo percorresse o grupo enquanto todos nós considerávamos ficar presos nesta sala por toda a eternidade.

— Por que, em nome de Vritra, estamos aqui? — Ezra disse, movendo-se para ficar ao lado de Kalon. — Esta é uma preliminar. Já era pra ter acabado! — O jovem de ombros largos se virou para mim. — Você! Não sei como, mas a culpa é sua, não é?!

— Chega. — Kalon disse calmamente. — Independente do motivo de estarmos aqui, é apenas mais um teste. Esta é uma zona de quebra-cabeça. Precisamos começar a procurar por pistas que nos ajudem a resolver a sala e seguir em frente.

A expressão desanimada de Ada desapareceu quando se levantou, forçando um sorriso amarelo.

— Isso mesmo! Nós conseguimos fazer isso! Por—

Ada olhou para a Riah adormecida, as bandagens já manchadas de sangue.

— Por Riah!

A bravura da ascendente de primeira viagem pareceu esfriar a cabeça quente de Ezra, e ele deu um abraço lateral na irmã, estremecendo ao fazer isso.

— E quanto a você? — perguntei para ele. — Você se machucou muito?

— Não é nada. — disse, seu queixo levantado, seu olhar altivo. — Vou ficar bem.

Balançando a cabeça, me virei e comecei a examinar os espelhos, um por um, em busca de qualquer dica ou pista sobre como proceder.

Kalon se aproximou de mim.

— Foi um feitiço impressionante aquele que você usou para se teletransportar lá na última sala.

— Obrigado. — disse simplesmente.

— Vou admitir, eu não era o melhor aluno na academia. — Kalon continuou — e era particularmente ruim com runas antigas, nunca realmente entendi aquilo, sabe? Sempre soube que seria um ascendente, e ascendentes não lutam entre si.

Me virei para Kalon, encontrando seus olhos.

— Aonde você quer chegar?

Ele ergueu as mãos e sorriu calorosamente, mas eu podia ver a tensão na maneira como ele mantinha e como seu sorriso não alcançava seus olhos.

— Estou apenas conversando, Grey. Pensando sobre aquele feitiço. Nunca vi nada parecido. Estudamos todos os tipos de runas na academia, torna-la mais complicada aumenta o prestígio, eu acho.

— Estava curioso. — fez uma pausa, olhando para a sala na direção de seu irmão e irmã. — Se eu pudesse ver o seu… O que é que você tem? Um emblema? Parece muito poderoso para uma crista.

Quando eu não respondi imediatamente, Kalon abriu um sorriso surpreso.

— Não é uma regalia, certo? É por isso que você não exibe suas runas? Quem é você?

— Escute. — disse. — haverá muito tempo para histórias de guerra quando sairmos daqui, beleza? Por enquanto, vamos apenas resolver esta sala quebra cabeça.

Kalon balançou a cabeça e me deu um tapinha no ombro.

— Ainda vou te entender, Grey. — Ele se virou para caminhar pela sala, seguindo seus irmãos, então parou. — Oh, e sinto muito pelo Ezra. Não ligue para ele, ele é apenas protetor com as garotas.

— E um imbecil. — Regis disse em minha mente.

Sorri e voltei para os espelhos, focando novamente na tarefa em mãos.

 

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— Alguma ideia aí?  Regis perguntou depois de examinarmos uma dúzia ou mais dos reflexos. — O que nós estamos procurando, Arthur?

— Se todos aqui são ascendentes, então provavelmente eles estão presos de alguma forma. Talvez tocando nos espelhos?

— Tudo bem, não toque nos espelhos, anotado. Porém como nós saímos daqui?

Parei quando uma das figuras por quem passamos acenou freneticamente com os dois braços, claramente tentando chamar minha atenção. Ele era um homem barbudo que também tinha um elmo com chifres, com mechas de cabelo castanho ondulado que escorriam pelo queixo. Seus olhos estavam inchados e com olheiras profundas, mas se animou quando eu parei.

Eles podem nos ver, pensei, a compreensão me invadindo.

O ascendente preso pressionou a mão no interior do espelho, gesticulando para que eu fizesse o mesmo. Quando eu não respondi imediatamente, ele sorriu e acenou com a cabeça, então gesticulou novamente com mais urgência.

— É uma armadilha, você sabe que é. E se você for sugado depois de tocar naquele espelho? E se ele se soltar e tentar matar todos os outros? 

— Você consegue me ouvir? — perguntei em voz alta, apontando para o espelho. O homem balançou a cabeça e gesticulou novamente para sua mão pressionada contra o interior do painel. Balancei a cabeça.

O rosto do homem caiu, e quando olhou para cima, havia um ódio tão puro e malévolo em seus olhos que dei um passo para longe do espelho. Ele começou a gritar, chegando mesmo a tirar o capacete e usá-lo como uma picareta para tentar escapar.

— Caramba… alguém acordou do lado errado do espelho. — disse Regis, rindo de sua própria piada.

Ignorando Regis, passei pelo ascendente enfurecido.

Depois de mais alguns minutos examinando inutilmente os espelhos, agora consciente de que os habitantes estavam me observando tão de perto quanto eu, Ada gritou.

— Sou… sou eu! — Ada disse, sua voz ecoando pelo corredor, que parecia ser muito mais longo do que parecia à primeira vista. Ada estava parada na frente de um espelho, a cerca de seis metros de distância e, de onde eu estava, pude ver a figura lá dentro.

O espelho-Ada acenou e sorriu calorosamente, um gesto que a verdadeira Ada imediatamente retornou. Então, movendo-se de forma idêntica, era quase como se um fosse genuinamente o reflexo do outro, ambas levantaram as mãos e fizeram menção de pressioná-las contra a vidraça.

— Ada pare! — Gritei — Não toque no… — a mão direita de Ada pressionou contra o espelho, assim como o reflexo, e a energia roxa, essência etérica, subiu como vapor da pele de Ada, então se moveu como névoa soprada pelo vento ao longo de seu corpo até ser absorvida pelo espelho.

Usando Passos de Deus, estava ao lado dela em um instante, mas mesmo assim já era tarde demais. Seu corpo caiu em meus braços, e eu assisti com horror quando a energia roxo-escuro do espelho escoou através dela e foi absorvida por sua pele.

O cansaço caiu sobre mim como um cobertor quente. Usar Passos de Deus duas vezes em tão pouco tempo aparentemente me afetou bastante. Eu teria que ficar muito mais forte antes de poder usar o éter de maneira mais consistente. Nesse meio tempo, pelo menos poderia usar o Passo Explosivo agora sem rasgar meu corpo.

Passos pesados atrás de mim anunciaram a abordagem de Kalon e Ezra. Olhei da inconsciente Ada em meus braços para o espelho, e meu estômago embrulhou. Ada, a verdadeira Ada, parecia estar batendo no interior do espelho com o punho, praticamente cega pelo pânico e lágrimas que escorriam por seu rosto e pingavam de seu queixo.

Mesmo que eu não pudesse ouvi-la, suas palavras foram claras.

— Por favor. — disse. — Por favor.

— O que aconteceu? — Ezra retrucou, inclinando-se sobre o corpo caído de sua irmã e colocando a mão na dela. — Ada? Ada!

Quando eu abri minha boca para explicar, os olhos de Ada se abriram, fazendo com que todos nós recuássemos de surpresa; eles eram de um violeta profundo, escuro e brilhante.

Kalon olhou da Ada de olhos roxos para o espelho, onde a chorosa e frenética Ada ainda gritava:

— Por favor, por favor!

Os olhos do irmão mais velho estavam injetados de sangue enquanto tentava reunir cada grama de compostura que lhe restava, sua mão chegando mais perto do espelho.

— Pare! — liberei uma pulsação de intenção etérica, fazendo com que todos, Haedrig se juntou a nós pouco antes, congelassem no lugar.

— Tocar no espelho foi o que causou isso. Acho… — Fiz uma pausa, considerando cuidadosamente a melhor forma de explicar o que vi. — Acho que Ada foi atraída para o espelho e então algo saiu do espelho para habitar o corpo dela.

Ezra, agarrando-se a esse pensamento, agarrou a mão de Ada e puxou-a em direção ao espelho.

— Então, nós apenas o faremos voltar!

Peguei o braço de Ezra, mas Kalon me parou.

— Deixe ele tentar.

Antes que eu pudesse argumentar, Ezra, apesar das objeções aterrorizadas da Ada de olhos roxos , pressionou a mão dela contra o vidro. No outro lado, nossa Ada refletiu o gesto.

Nada aconteceu.

— Por favor. — disse Ada. — Me solta, Ezra. Está me machucando.

Uma única grande lágrima brotou daqueles olhos de outro mundo.

— Por favor.

Ezra a soltou e se afastou, fazendo uma careta. Olhou de Ada para Kalon e vice-versa, com a angústia estampada em seu rosto. No espelho, a imagem de Ada caíra de joelhos, as mãos sobre o rosto, todo o corpo destroçado por soluços.

— Como sabemos. — Kalon disse, falando deliberadamente enquanto as lágrimas  brotavam de seus olhos. — Que a Ada no espelho é a verdadeira Ada? E se for algum tipo de truque, ou armadilha?

— Os olhos roxos brilhantes não denunciam? —perguntei, incapaz de manter o aborrecimento fora da minha voz. Kalon não respondeu, mas Ezra deu um passo em minha direção agressivamente, seus punhos cerrados e seus olhos cheios de fúria.

Virei minha cabeça e encontrei seu olhar, uma intenção quase palpável vazando de mim.

— Não faça nada de que vá se arrepender, garoto.

Ezra parou e rangeu os dentes, os punhos ainda erguidos em um desafio cauteloso.

— Este não é o momento para lutarmos entre nós. — acrescentei suavemente, deixando escapar um suspiro.

Ezra me encarou nos olhos por um longo momento, respirando com dificuldade. Então se virou de repente e pressionou a mão no vidro da prisão espelho de Ada.

Embora eu não pudesse sentir nenhuma mudança, estava claro que algo estava acontecendo com Ezra. Seu corpo inteiro ficou tenso e, quando se virou para olhar para Kalon, seu rosto estava pálido e seus olhos brilharam com lágrimas.

— Ezra! Kalon engasgou.

— Eu posso ouvi-la. — Ezra disse, sua voz embargada pela emoção. — Quando toco no espelho, posso ouvir Ada. Ela parece tão assustada…

Seguindo o exemplo de seu irmão, Kalon pressionou a palma da mão contra a superfície do espelho. A expressão de Kalon escureceu imediatamente. Ele não precisava dizer nada para eu saber que ele também podia ouvir os gritos dela.

Querendo dar aos irmãos um momento de privacidade enquanto compartilhavam o sofrimento de sua irmã, me virei para Haedrig, mas ele não estava em lugar nenhum. Olhei na direção da fonte, onde Riah dormia, mas também não estava lá. Não conseguia vê-lo na luz fraca nas bordas da sala.

Um choque de medo percorreu meu corpo e comecei a procurar nos espelhos próximos por qualquer sinal dele.

Passei por uma jovem de cabelos ralos que estava deitada no chão, nua, rolando para a frente e para trás com as mãos estendidas sobre a cabeça como uma criança brincando na grama; uma figura em uma armadura volumosa cujo rosto tinha sido tatuado até que apenas os chocantes olhos azuis permanecessem intocados; e um homem que usava mantos como um monge, mas que tinha a aparência estúpida e assassina de uma besta de mana.

Haedrig não estava lá.

Olhei de volta para os outros; Kalon e Ezra ainda tinham uma mão pressionada contra o espelho de Ada e a outra colocada no ombro um do outro. No espelho, Ada pressionava as mãos nas deles.

A Ada de olhos roxos estava rastejando despercebida para longe deles, em direção à fonte ao lado da qual Riah dormia. Havia algo estranho e malévolo na maneira como Ada se movia, e seus olhos cintilantes se estreitaram em um brilho quando me pegou a observando. Dei um passo em direção a ela, mas parei quando o som de vidro quebrado encheu a sala.

— Haedrig?

Chamei na escuridão, a criatura disfarçada de Ada momentaneamente esquecida.

— Tudo bem, estou bem. — Haedrig disse, caminhando em minha direção  saindo da escuridão, sua espada desembainhada.

Instintivamente, retirei a adaga branca que reivindiquei do covil do milípede gigante. Os olhos de Haedrig pareciam quase atraídos para a arma quando seu olhar se fixou na lâmina branca. Com um sobressalto, pareceu perceber que sua própria lâmina era medíocre, imediatamente a embainhou dentro de seu anel dimensional.

— Me desculpe se eu te assustei, Grey. — disse, sua voz firme, suas mãos  estendidas para os lados para mostrar que não estava armado. — Eu encontrei minha própria imagem em um espelho mais adiante no corredor e, bem, pode ter sido um pouco imprudente, mas fui levado pelo instinto e o esmaguei.

— Oh, sim, ótima ideia, vamos destruir as malditas prisões-espelho, tenho certeza de que nada de ruim vai acontecer. — resmungou Regis.

— Aquilo foi… — não tinha certeza se elogiava Haedrig por sua bravura ou repreendia-o por sua falta de consideração, mas fui poupado do trabalho de terminar minha frase quando os olhos de Haedrig se arregalaram e ele gritou:

— Ada!

Virando-me, já certo do que veria, preparei-me para o Passo Explosivo até a fonte, onde sabia que encontraria a falsa Ada agachada sobre a forma inconsciente de Riah.

Arthur, seu idiota! Me repreendi. Não deveria ter tirado meus olhos dela.

Ativei o Passo Explosivo, pretendendo me mover quase instantaneamente para a borda da fonte, então pular a distância restante e enfrentar Ada. Infelizmente, Kalon também se moveu, disparando em direção a Ada e pisando diretamente no meu caminho.

Atingi o irmão Granbehl mais velho ombro a ombro, fazendo-o cair de cabeça para baixo no ar. Incapaz de manter o equilíbrio ou a trajetória, me vi virando de cabeça para um dos espelhos, sem jeito de parar meu impulso.

Girando, bati primeiro no canto superior do espelho, encontrando-me de repente fora do corredor de espelhos. Por um momento nauseante, vi uma escuridão vazia se estender abaixo de mim, mas fui capaz de agarrar a moldura do espelho, apesar das bordas irregulares do vidro remanescente mordendo meus dedos.

— Não olhe para baixo. — insistiu Regis.

Olhei para baixo.

Escuridão. Escuridão sem fim.

A única coisa para quebrar o nada era o retângulo brilhante que dava para a sala do espelho, uma janela flutuando no abismo. Estava pendurado na moldura, sangue começando a escorrer pelas minhas mãos e antebraços pelos cortes em meus dedos.

Tentei me puxar para cima e para trás através do espelho, mas uma letargia fria estava se infiltrando em meus músculos. Minha mente estava nebulosa, meus membros fracos e sem resposta. Não conseguia me concentrar…

— Arthur! — Regis gritou na minha cabeça, sua voz cortando a névoa como o facho de um farol. Levantei, sentindo o vidro arranhar os ossos dos meus dedos, mas consegui passar um cotovelo sobre a borda do espelho.

Então Haedrig apareceu acima de mim, estava me puxando para cima pela minha capa, meio que me sufocando no processo. Minha força voltou rugindo assim que voltei para o lado certo do espelho, e me libertei de seu aperto no momento em que fiquei de pé, correndo em direção a Ezra e Ada, que estavam lutando sobre o corpo caído de Riah

Ezra envolveu ambos os braços ao redor do corpo de Ada, prendendo seus próprios braços ao lado do corpo, mas ela estava se contorcendo e se sacudindo descontroladamente sob seu aperto. Jogou a cabeça para trás, esmagando o nariz do irmão e quase se soltando.

Eu os ataquei, derrubando os dois irmãos Granbehl no chão, então ajudei Ezra a imobilizar Ada. Seus olhos roxos brilhavam com luz e fúria e ela chutava, arranhava e nos mordia. Quando não conseguiu nos machucar, começou a bater a cabeça no chão com um baque surdo.

Kalon apareceu, jogando-se na pilha e ajudando a mantê-la imóvel e impedi-la de se machucar.

— Ada, pare! Por favor… — Sua voz falhou implorando à criatura que controlava o corpo de Ada.

— Regis, preciso que você vá e veja o que está habitando o corpo dela. — não tinha certeza se funcionaria, mas pensei que se Regis pudesse entrar na pedra de Sylvie, talvez ele pudesse habitar o corpo de Ada também.

— Nojento. Você quer que eu entre no corpo de outra pessoa? E se—

Podia sentir a repulsa saindo de Regis, mas não havia tempo para discutir.

— Apenas faça. Agora! 

O lobo das sombras saltou do meu corpo, caminhou uma vez ao redor de nossa pilha turbulenta, então hesitantemente se dissolveu em Ada. No início, nada aconteceu. Então a luta diminuiu e Ada ficou mole, embora seus olhos ainda brilhassem com a luz violeta.

Kalon, Ezra e eu mantivemos nossas posições, esperando para ver se Ada voltaria a lutar. Meus olhos dispararam ao redor da sala, observando a cena. As figuras nos espelhos ao nosso redor haviam parado com suas gesticulações selvagens; cada um agora estava parado, seus olhos fixos nos quatro de nós deitados no chão em um bolo. O espelho quebrado agora refletia para o nada sombrio, como uma órbita ocular vazia.

Haedrig estava sobre nós, embora não estivesse olhando para o nosso grupo. Seu olhar estava voltado para o banco onde Riah estava deitada, quieta e imóvel. A bandagem em sua perna tinha sido parcialmente desembrulhada, revelando o coto sangrento e roído embaixo. O sangue não escorria mais da ferida.

O rosto de Riah estava pálido, preso em uma expressão de medo e agonia. Embora seus olhos vidrados ainda olhassem para o teto baixo, eu sabia que eles não mais enxergavam.

Riah estava morta.

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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