Uma leve batida na porta me fez abrir os olhos. Refinar meu núcleo de éter a noite toda aumentou não somente a quantidade de éter que podia guardar, como também a velocidade em que ele corria pelas minhas novas passagens. A melhoria foi minúscula quando comparada com o meu tempo nas Relictombs, mas qualquer progresso fazia eu me sentir melhor do que não fazer nada.
— Ascendente Grey. — uma voz suave me chamou através da porta.
Depois de levantar e fazer Regis entrar de volta no meu corpo, abri a entrada de madeira vendo uma garota que parecia Loreni, exceto que alguns anos mais nova e com o cabelo mais longo, esperando timidamente.
Por um momento ela simplesmente me encarou enquanto esperava ela falar, com sua boca sutilmente aberta.
— Sim? — finalmente disse.
— Ah! — balançou sua cabeça. — Minhas desculpas, Ascendente Grey. Meu nome é Mayla e eu fui instruída por minha ir- Loreni a auxiliar o estimado ascendente durante sua estadia em Maerin.
Então elas são irmãs. Pensei antes de responder.
— Você veio em uma boa hora, Mayla. Gostaria de saber que horas seria a concessão hoje.
— Vai começar somente na parte da tarde, então o Senhor Ascendente Gray terá um tempo para descansar e se aprontar se desejar participar. — respondeu, mantendo seu olhar para baixo.
— Na verdade, está ficando um pouco quente aqui, então gostaria de dar uma volta. Você se importaria de me acompanhar?
— Claro! — Mayla exclamou.
— Ah, mas antes disso, tenho um carrinho cheio de bestas de mana. Você poderia arrumar alguns homens para levá-las a alguma loja em que eu possa vendê-las?
— É para já! — Mayla me fez uma breve reverência apressada antes de volta para a cidade.
Depois que ela foi, peguei uma das carroças puxadas a cavalos vazias atrás da casa e comecei a tirar as bestas da minha runa extradimensional.
— Isso tudo é necessário? — Regis perguntou.
— A história que estamos usando é que eu perdi meu anel dimensional, lembra?
Quando Mayla chegou de volta com três homens robustos da cidade, havia acabado de empilhar os corpos na carroça surpreendentemente firme.
— Is-Isso… — O homem barbado usando regata de forma a exibir seus músculos empalideceu ao olhar para as bestas de mana enquanto sua companhia deu um passo para trás em choque.
Eu franzi as sobrancelhas.
— Tem algum problema?
— N-N-Não mesmo, estimado Ascendente. — Disse o homem barbado, enquanto empurrava cuidadosamente a besta de mana que se parecia com um urso com a ponta do dedo.
— É que… essas bestas são consideradas perigosas até para um grupo de magos médios.
Sem ter qualquer referência sobre o quão poderoso é um mago de nível médio, dei de ombros.
— Por favor, levem-nas para a cidade e entreguem o dinheiro para Mayla ou Loreni.
Mayla e eu levamos nosso tempo descendo o pequeno morro que dava na praça de Maerin quando notei ela olhando para a runa no meu antebraço direito.
— Tem algo lhe incomodando? — perguntei, repentinamente ciente de que ter uma runa no braço talvez fosse anormal.
— Minhas desculpas por encarar, Ascendente Grey. — disse, olhando para o outro lado. — Eu ouvi que muitos nobres e até os Alto Sangues tem runas tatuadas em seus corpos mas é a primeira vez que vejo uma em pessoa.
— A-Ah. — murmurei. — Não é comum por aqui?
— Tinta permanente capaz de aguentar as propriedades da mana fluindo pela pele é bem cara e rara de se encontrar, e as leis são bem estritas sobre essas marcas porque elas podem ser usadas para forjar marcas fajutas, que é o porquê tatuar pelas costas é estritamente proibido, então ao invés de ser popular… — Mayla riu enquanto ela esfregava seu braço nervosamente. — Minhas desculpas, Ascendente Grey. Eu tenho certeza que você já sabe disso.
— Parece que você e o resto do pessoal dessa cidade recorrem a se desculpar frequentemente. — comentei com um sorriso. — Está tudo bem. Você parece ter bastante conhecimento sobre o assunto. Você é uma maga?
— Ah não, não mesmo! Mas…hoje também é o dia de minha concessão. — admitiu, ficando vermelha de vergonha.
— Parabéns adiantado. — a parabenizei enquanto me aproximava do portão da cidade. — Alguma classe ou elemento em especial que você gostaria de aprender?
— Mesmo eu sendo um pouco mais velha e minhas chances sendo baixas, gostaria muito de ser uma instilora. Eu sei que conjuradores e atacantes são os mais procurados em academias e pelos sangues poderosos, mas eu não sei lutar, Mayla admitiu.
Pensei por um momento sobre suas palavras. Eu tinha ouvido falar sobre as três classes de magos de batalha e também sobre a classe de suporte ‘sentinela’. Nas notas da Aya, haviam informações detalhadas da sentinela poderosa que conseguiu usar sua magia para criar um caminho na floresta mágica de Elshire para o exército Alacryano invadir Elenoir.
O nome dela era… ‘alguma coisa’ Milview se eu me lembro corretamente. Também sabia que era um dos muitos magos capazes de usar magia elemental para escoltar e guiar por longas distâncias, porém, eu nunca tinha ouvido falar de instilores.
— O que você gostaria de fazer como uma instilora? — perguntei, esperando conseguir mais informações sobre essa classe.
— Quero criar artefatos necessários para ajudar pessoas pobres em toda Alacrya. — Mayla disse, com seus olhos brilhantes. — Por exemplo, sei que existem artefatos capazes de purificar água, mas no momento eles são muito caros para serem feitos em larga escala. Porém, dei uma pesquisada e descobri que nem todos os componentes para o artefato são necessários e muitos deles podem ser substituídos por materiais mais baratos ent—
Mayla deu um suspiro e se curvou em minha direção.
— Não foi minha intenção te lecionar, estimado ascendente,
— Fui eu que perguntei, Mayla. — comentei. — Seria muito bobo eu ficar com raiva por você me responder. Especialmente quando você está tão entusiasmada.
Mayla me lembrava da Emily lá em Dicathen. O entusiasmo e paixão dela por inventar eram inabaláveis. Pensar na minha amiga de cabelos encaracolados me deu um aperto no peito.
— De-de qualquer maneira, tem algum lugar que gostaria de visitar primeiro, Ascendente Grey?
— Já que eles vão lidar com as bestas de mana, que tal se a gente passar nas academias?
— Com certeza! Seria uma honra se um estimado ascendente fizesse uma visita! Sei que estudantes da nossa escola de atacantes adorariam algumas dicas–claro, se isso for o que o estimado ascendente deseja fazer, disse Mayla.
A ironia de treinar futuros soldados que iriam atacar Dicathen fez uma risada escapar da minha boca. Cobri minha boca com minha mão, tentando abafar minha risada.
Mayla deu um olhar confuso.
— Eu disse alguma coisa estranha?
— Não, não… é nada. — disse, me recompondo. — De qualquer maneira, vamos dar uma olhada nas academias.
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A visita a academia dos conjuradores foi breve. Estavam praticando do lado de fora hoje então podia vê-los através da cerca ao redor da área de treinamento, cada um dos estudantes invocadores atirando flechas de pura mana. Do poder de suas magias a quantidade que podiam atirar e também suas precisões, cada uma das crianças mostravam diferentes níveis de competência.
— Que coisa fofa. — Regis comentou.
— Parece que esses estudantes não estão usando suas marcas. — comentei.
— Os estudantes aqui ainda estão se ajustando a sua marca elemental, então ainda não são permitidos de usá-las. Quando se tornarem um mago nível básico, serão permitidos a praticar o feitiço elemental que suas marcas carregam. — Mayla explicou, enquanto assistíamos do outro lado da cerca.
Ela virou sua cabeça para um lado e para o outro como se estivesse procurando alguma coisa, até que deixou escapar um suspiro.
— Ah! Esqueci que os estudantes primários estão praticando na arena hoje em preparação para a próxima apresentação. Minhas desculpas, estimado ascendente. Ambos, os estudantes e os instrutores estão muito mais entusiasmados esse ano graças recrutador vindo da Academia Stormcove.
— A Academia Stormcove é tão prestigiosa assim? — Perguntei, genuinamente curioso.
Mayla pensou por um momento antes de responder.
— Bem, é uma academia oficial, então estudantes aceitos nela terão alojamento e necessidades básicas providas para eles no campus para estarem totalmente imersos no treino. Stormcove também é uma academia de ranque alto não só na cidade de Aramoor, como também na região inteira de Grevorind. Dito isso, ainda é tudo relativo.
Nós dois começamos a andar a caminho da escola dos escudos enquanto Mayla continuou explicando.
— Comparada ao resto das academias de elite no resto do domínio de Etril e até nos outros quatro domínios, que tem academias ainda mais prestigiosas, acho que Stormcove não é para tanto. Provavelmente esse é o motivo do estimado ascendente nunca ter ouvido sobre a academia. — Mayla esfregou seu pescoço enquanto corava levemente. — Posso apenas imaginar o quão deplorável nossas escolas se parecem comparadas as prestigiosas academias dos Alto Sangue no domínio central.
Me mantive em silêncio enquanto digeria toda a informação. Parecia que toda a economia de Alacrya glorificava o auto aperfeiçoamento de sua força e era até mesmo centrada em volta disso. Teria isso tudo sido financiado por Agrona? Não conseguia imaginar uma maneira viável para uma economia decente se formar em torno de apenas treinar, além de caçar bestas de mana e explorar Relictombs.
— S-será que eu falei muito de novo, estimado ascendente? Minha irmã, quero dizer, Loreni. — sempre briga comigo por causa disso.
— Não! Eu até gosto. — respondi rapidamente. Mayla era uma mina de ouro para informações e a melhor parte é que eu não precisava perguntar coisas que normalmente seriam senso comum. Parei no meio de um passo, alarmando a pequena garota.
— Mayla, você sabe o que as masmorras são?
— Masmorras? Claro–minha mãe me contava a história o tempo todo quando eu era criança. — ela respondeu. — É realmente incrível como os grandes Vritras liderados pelo poderoso Agrona venceram todas aquelas perigosas masmorras para nos manterem seguros.
Era tanto difícil quanto fácil imaginar Agrona e o resto de seu clã dizimando todas as masmorras para poder construir uma economia em volta da exploração de relictombs.
— O que você sabe sobre o outro continente então? — perguntei, estudando sua expressão.
— Dicathen? — Mayla inclinou sua cabeça. — Eu ouvi histórias de mercadores passageiros sobre o quão selvagem e pouco desenvolvidos eles são. É assustador pensar em um continente inteiro onde magos são raivosos e masmorras ainda existem. Ainda bem que o soberano Agrona decidiu livrá-los.
— Livrá-los? — ecoei, empurrando para dentro a quente raiva subindo no meu peito. — Entendo.
A academia dos escudos era um pouco mais interessante, mas nós também não ficamos por muito tempo. Mayla achava que os escudos de classe primária também estariam na arena já que os escudos e conjuradores frequentemente treinavam juntos. Fazia sentido levando em conta que o treino de um escudo era tomar dano por seus aliados se fossem um escudo corpo a corpo ou criar defesas de longe se fossem um escudo a distância.
Depois de assistir a classe secundária focar em fazer sequências de movimentos enquanto mantendo uma estável camada de mana de proteção sobre seus corpos. Finalmente nós chegamos na escola dos atacantes, onde ambos os estudantes primários e secundários estavam presentes e prestes a se enfrentarem.
— Lembrem-se, liberem e foquem sua mana do seu núcleo para os grifos de runa que formam sua marca! Prestem atenção ao calor que se espalha de sua marca e deixem o sentimento guiá-los. Não tentem controlar! — Sugeriu a mulher carrancuda vestida em uma roupa de várias camadas de cores esmaecidas.
Além de seu cabelo grisalho e rugas em seu rosto expondo sua idade, ela se movia com firmeza enquanto caminhava em volta dos dois estudantes vestindo equipamento de proteção de couro enquanto o resto da turma estava sentada encostada na parede.
Pelo o que eu puder ver nos espaços para o resto do equipamento de proteção que eles vestiam, os dois estudantes aparentavam ter a mesma idade que Mayla. Cada um deles lutava só com as mãos e, mesmo sem ser capaz de sentir mana, uma fraca camada de proteção se agarrava aos seus corpos.
— Comecem! — A mulher vociferou.
Os dois estudantes que estavam se encarando em uma postura neutra, uma garota e um garoto, ativaram seus feitiços com uma rapidez impressionante.
O feitiço da garota se materializou primeiro, uma curta lâmina de fogo ao redor de suas palmas. Ela pulou em direção ao garoto que mal foi capaz de conjurar suas braçadeiras de fogo a tempo de bloquear o primeiro ataque.
As suas duas chamas se entrelaçaram por causa do impacto enquanto o garoto foi forçado a recuar alguns passos. Gritos de excitação surgiram das crianças ao lado em apoio a garota enquanto alguns amigos do garoto fizeram piadas.
Com os dentes rangendo, o garoto rapidamente foi para frente e começou a lutar. Mesmo com sua pouca idade, cada um deles mostrou uma quantidade chocante de agilidade e força enquanto suas técnicas pareciam infundidas nos seus movimentos.
— A professora é boa. — murmurei, lembrando vagamente os elogios de Chumo e Sembi a essa mulher enquanto eu e Mayla assistíamos do pátio.
Continuamos a assistir do pátio conforme o duelo logo chegava a um fim. A professora interviu quando a menina estava prestes a lançar um ataque crítico no lado com abertura do garoto. A instrutora idosa deu os resultados e estava prestes a começar com outro par de crianças quando me viu.
Mayla se curvou perante a instrutora enquanto me analisou com seus olhos afiados.
— Instrutora Resbin, esse é o Ascendente Grey. — disse ela sem levantar a cabeça.
Seus olhos se abriram por um momento e depois se mantiveram calmos enquanto ela abaixava sua cabeça em um gesto informal.
— Minhas desculpas por não te dar boas-vindas antes, Ascendente Grey. Você escondeu sua mana tão bem que eu não sabia que tal poderoso indivíduo estava tão perto.
Eu levantei minha mão em um gesto apaziguador.
— Está tudo bem. Não tinha intenção de interromper sua aula.
Nesse momento, as crianças que antes encontravam-se espelhadas encostadas na parede estavam todas de pé me espiando. Suspiros e sussurros logo preencheram a sala até que a instrutora Resbin os silenciou, mas isso não impediu que seus olhos brilhantes me perfurassem.
— A instrutora Resbin já foi uma instrutora da academia Stormcove. — disse Mayla antes de se virar para a instrutora mais velha. — O Ascendente Grey acabou de me dizer o quão boa professora você é!
— Obrigada, Ascendente Grey. — respondeu enquanto seus olhos continuavam a me inspecionar.
— Eu simplesmente falei o que vi. — disse concordando polidamente. — Por favor, continuem.
Me virei, sem ter nenhuma razão em particular para ficar mais tempo, quando a instrutora Resbin me chamou.
— Me perdoe pela minha insolência Ascendente Grey, mas como você sabe, a exibição anual é em apenas dois dias. Meus estudantes e eu ficaremos muito honrados se um estimado ascendente nos desse umas dicas.
Olhando para trás pelo ombro eu encarei a mulher.
— Você diz dicas, mas seus olhos dizem que você quer sangue. Não tenho nenhum interesse em uma luta sem sentido só para você testar sua própria força. — Eu dei um sorriso para ela. — Agora, se me der licença.
— Você não é divertido. — Regis pontuou. — Eu estava esperando um show.
— Sei que você está entediado. Apenas aguente por mais uns dias.
Na hora em que cheguei na cidade em si, a praça central tinha sido redecorada para cerimônia de concessão enquanto uma fila de mais ou menos vinte crianças já havia se formado. Perto do fim da fila estava uma criança que eu reconhecia.
— Ei, não é aquele moleque que tentou te esfaquear ontem à noite? — Regis perguntou.
Era Belmun. Podia ver mais de suas características na luz do sol, mas isso parecia apenas realçar o quão malnutrido ele era por baixo de uma camisa de botões limpa que era obviamente muito grande para ele.
Pensamentos sobre se ele ou sua família conseguiram comer ontem à noite e se foram capazes de vender o couro surgiram na minha mente.
— Você não disse que a cerimônia começava mais tarde? — perguntei, me tirando dos pensamentos e me repreendendo por me preocupar com a criança.
— Sim, mas normalmente as filas se formam muito antes. — disse, seus olhos observando nervosamente enquanto a fila crescia.
— Então você não devia estar indo também?
Mayla se virou para mim.
— Ah não! Está tudo bem, estimado ascendente. É minha responsabilidade lhe acompanhar então eu vou apenas entrar na fila quando a cerimônia de fato começar.
Eu deixei escapar um suspiro.
— Apenas vá. Vou ficar bem.
Tinha um traço de relutância em sua expressão, mas sua impaciência lhe venceu. Após me agradecer, voou para o fim da fila.
— Ela é uma boa menina. — Regis falou. — Muito triste que ela e todo o resto das pessoas nesse continente tenham sofrido lavagem cerebral por Agrona.
— Não sei se lavagem cerebral é o termo correto, mas sim.
A cerimônia progrediu quando um homem vestido completamente de preto andou até a plataforma elevada com duas figuras encapuzadas de cinza atrás dele. A parte mais notável de sua vestimenta era um cajado de obsidiana que carregava. Uma pequena gema era embutida no topo que brilhava com as cores não só dos atributos elementais mas também um traço fraco de éter.
Regis também notou e eu conseguia sentir sua fome pela gema.
— Estimado ascendente. — uma voz chamou suavemente por trás.
Me virei para ver Loreni em sua vestimenta de trabalho, uma camada de suor acima de suas sobrancelhas.
— Por favor me perdoe. Esqueci completamente que Mayla teria sua concessão novamente hoje.
Minhas sobrancelhas se franziram
— Novamente? Mayla já foi agraciada antes?
— Ah, ela tem tentado conseguir sua primeira marca há três anos já que as crianças tem que ser testadas desde seis anos de idade. — Explicou, sua expressão tingida de preocupação — Se uma marca não se formar durante a premiação de hoje, temo que ela será dada como uma sem adornos igual a mim.
— O quão ruim é isso… — comecei antes de adicionar rapidamente. — por aqui?
— Não ser um mago é sempre algo que te faz ser menosprezado, mas Mayla é bem conhecida por todos em Maerin, então ela deve ficar bem. — disse com um leve sorriso. — Também fiquei devastada quando fui dada como sem adornos, mas ainda bem que todos ainda são legais comigo–oh, está prestes a começar!
Eu assistia junto ao resto da cidade conforme a primeira criança se subiu correndo as escadas e se ajoelhou em frente ao oficial segurando o cajado de obsidiana. Depois de murmurar um encantamento longo em uma língua que eu não reconhecia, o oficial andou em volta do menino ajoelhado e colocou a ponta de seu cajado logo acima de seu cóccix.
Sangue escorreu das costas do garoto quando a gema começou a brilhar até que finalmente o oficial removeu sua arma e instruiu o garoto a se virar e levantar sua camisa.
— Fiorin da Cidade de Maerin foi adornado com a marca do conjurador! Que ele traga orgulho ao seu sangue e extermine todos que se encontram no caminho dos nossos soberanos!
Excitação se alastrou e eu podia ver o garoto brilhando de orgulho mesmo enquanto lágrimas de dor desciam por seu rosto. Depois de ele descer e correr para sua família, a próxima criança subiu.
O dia da concessão continuou, com todo espectro de emoção sendo mostrado pelas crianças e suas famílias, da felicidade total e orgulho à desespero e até raiva.
Enquanto o evento era interessante e até explicativo a cerda das culturas de Alacrya, fiquei entediado… até Belmun subir no palanque. A ansiedade crescia enquanto eu o assistia subir as escadas até o oficial inexpressivo.
Podia ouvir alguns sussurros de desaprovação e até alguns de desgosto enquanto Belmun se ajoelhava silenciosamente na frente do oficial. Porém, a expressão de todos mudou quando o cajado do oficial brilhou mais que o normal. Até mesmo o rosto inexpressivo do oficial tinha os olhos cheios de brilho até que a gema se apagou e Belmun caiu no chão.
Com a multidão completamente silenciosa, o oficial rapidamente levantou a camisa do Belmun e deu um suspiro afiado enquanto o ajudava a se levantar.
— Belmun da cidade de Maerin foi adornado com a crista de um atacante! — exclamou enquanto Belmun olhava para o homem em choque absoluto.
— Uma crista? — Loreni falou desordenadamente.
A praça inteira parecia dar um suspiro em uníssona antes dos sussurros aumentarem o volume. Porém, dois adultos me atingiram em cheio conforme começaram a chorar enquanto se abraçavam. Belmun praticamente pulou para fora do palco em direção ao que pareciam seus pais e caiu em seus abraços.
— Belmun da Cidade de Maerin será avaliado posteriormente antes de ser colocado em uma academia apropriada! — O oficial declarou enquanto recobrava sua compostura.
Observei os assistentes encapuzados escoltarem Belmun e sua família para longe.
— Por acaso Belmun é alguém que o estimado ascendente conhece? — Loreni perguntou, me tirando do meu transe.
— Hã? — Eu virei para Loreni. — Por que a pergunta?
— O estimado ascendente estava sorrindo por um momento então pensei… — Loreni sacudiu sua cabeça. — Me perdoe por tirar conclusões.
A concessão continuou normalmente, com crianças conseguindo uma marca ou não, até Mayla subir na plataforma.
Loreni juntou as mãos enquanto olhava para sua irmã ajoelhando no palco.
Não sabia o que aconteceria já que Mayla era uma das crianças mais velhas aqui, mas o que eu não esperava era que o cajado do oficial ficasse ainda mais brilhante do que com Belmun.
— Is-Isso… o oficial sussurrou, completamente pasmo dessa vez. — Mayla da Cidade de Maerin foi adornada com o… emblema da sentinela!
Eu escutei Regis soltar um assobio conforme a praça caia em adoração. A multidão e até mesmo o oficial estavam extasiados enquanto o homem de manto preto até deu um tapinha em suas costas. Porém, Mayla e Loreni estavam com um olhar sério com o desenrolar do evento.
— Você não está feliz de sua irmã ter ganhado um emblema? — perguntei, curioso.
— Oh n-não, claro que eu estou feliz, estimado ascendente! Eu estou muito orgulhosa dela. — disse enquanto seu olhar caiu. — Por favor me dê sua licença, estimado ascendente. Vou parabenizar minha irmã.
Observei enquanto caminhava até o estágio, usando sua manga para limpar seu rosto.
— Uma crista e até um emblema, uma voz murmurou atrás de mim.
— Parece que nossa cidade vai ganhar muitos recursos extras esse ano. Mas é uma vergonha para Loreni. Ouvi dizer que sentinelas são treinadas rigorosamente e em sua maioria mandadas para as relictombs
— Shhh, não diga isso, seu idiota. Mayla deveria estar orgulhosa que vai estar apta a melhor servir nossos soberanos em achar as relíquias!
Outra voz disse.
Então era isso, pensei enquanto olhava para Mayla e Loreni. As duas caíram em lágrimas que eu poderia ter entendido como felicidade se eu não soubesse.
Ignorando a dor no meu peito, segui meu caminho para fora da praça e de volta para a casa.
Tradução: Reapers Scans
Revisão: Reapers Scans
QC: Bravo
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