O mago me encarou com olhos de pânico quando os fragmentos desmoronados da pedra negra caíram do meu aperto.
Houve um momento tenso enquanto esperava que algo acontecesse em meio à zona de guerra, além do caos que já estava.
De repente, como se um interruptor tivesse sido ligado, todos os animais de mana nas proximidades pareciam ter sido provocados pela minha ação.
Os olhos outrora vidrados e sem vida dos animais agora ardiam de fúria. Mas não foi só comigo; os animais de mana começaram a rosnar e sibilar um para o outro, mostrando presas, garras e chifres um para o outro.
Não demorou muito para o inferno ser instaurado. As bestas se atacavam sem nem um pouco de lucidez entre elas. Pularam para mim com imprudência, muitas vezes sendo pegos um pelo outro no processo.
Tirando rapidamente as duas espadas que recebi da ferreira Flamesworth, me tornei uma enxurrada de lâminas. Cortei e apunhalei os órgãos vitais das bestas de mana que me atacaram até que um monte de carcaças sangrentas foi acumulado sob meus pés.
No entanto, apesar do massacre que recaiu sobre aqueles que se aproximaram, as bestas de mana continuaram atacando e jogando suas vidas fora como se estivessem possuídas.
— Arthur! Não aguento mais! — A voz urgente de Sylvie atravessou minha mente.
Me virei para ver o animal gigantesco se libertar, os olhos fixos em mim conforme batia o chão em preparação para atacar enquanto a pilha de cadáveres continuava a crescer.
No entanto, não deixei de ver a sutil diferença no comportamento da fera gigantesca. A maneira como a fera olhou para mim ainda indicava raiva, mas o ato muito direcionado e ameaçador de roçar o chão mostrava algum nível de inteligência.
Isso mostrou que não estava pensando em atacar cegamente como antes, mas esperando que eu reagisse de alguma forma ao seu ato de agressão.
Quanto a mim, ao invés de ter o luxo de reagir à fera gigantesca, eu estava ocupado pelas intermináveis bestas de mana que pareciam empenhadas em arrancar meus membros.
— Basta! — gritei, liberando cada grama de intenção assassina que eu tinha reprimido ao longo do tempo.
A olho nu, nada havia mudado, mas para quem tinha um pingo de senso, sentiu. Até os animais, por mais perturbados que fossem, congelaram e começaram a tremer, por instinto.
Isso pode não ter funcionado enquanto estavam em seu estupor momentos atrás, mas agora os animais ao meu redor se encolheram de medo, alguns dos mais fracos desmoronaram.
Com finalmente algum espaço para respirar, dei um passo em direção à fera gigantesca. Um caminho se abriu enquanto eu andava, as bestas de mana incapazes de suportar estarem muito perto.
Fechei os olhos com o colossal monstro da classe S que se destacava acima do mar de bestas de mana causando estragos entre si, dirigindo toda a minha inabalável sede de sangue. Era algo primitivo a se fazer, como flexionar os músculos na frente do oponente para desencorajá-los, mas funcionou.
O monstro colossal quebrou o contato visual comigo, seu corpo afrouxando. Finalmente, com um berro triste, o animal da classe S virou e saiu, pisoteando bestas de mana menores a cada passo.
— Faz um tempo desde que senti sua sede de sangue. Um bom lembrete para não te provocar demais. — disse Sylvie enquanto se juntava a mim ao meu lado.
Abri um sorriso antes de responder.
— Parece funcionar apenas nas bestas mais inteligentes e poderosas.
As bestas de mana que haviam sido temporariamente paralisadas por minha intenção rapidamente se libertaram e retomaram sua farra.
Virando-me, vi o mago alacryano. Apesar de estar coberto de sangue e incapacitado, ainda estava vivo. Nenhum dos animais parecia querer sequer se aproximar dele.
Vendo como o animal enlouquecido agia, não poderia ter sido por pena ou mesmo por lealdade ao suposto mestre.
— Agora … — olhei para o mago assustado. — Eu me pergunto como você ainda está vivo.
Sylvie esticou o pescoço e começou a cheirar o mago que eu havia pregado no chão.
— Não tenho certeza se tem alguma coisa a ver com isso, mas há um cheiro repulsivo vindo deste humano.
O mago alacryano soltou um gemido abafado quando meu vínculo mostrou suas presas para ele, mas havia pouco mais que ele poderia fazer.
Enquanto eu pensava em levar o mago para interrogá-lo ou matá-lo imediatamente e continuar diminuindo o número de inimigos, o mago soltou um som um pouco mais coerente.
— Ah in-inferno ooh, ah inferno ooh. — ele murmurou através do gelo derretendo que mantinha sua boca fechada.
Trocando olhares com Sylvie, derreti o gelo em torno de seu rosto.
— Fale. Qualquer palavra inútil e eu mato você no ato.
— Eu-eu vou te dizer por que eles não atacam. Prometa que vai me deixar viver.
Eu deixei a ponta da minha nova espada repousar na boca do mago, apenas cortando levemente o canto de seus lábios.
— Odeio fazer promessas que sei que não cumprirei.
Lágrimas rolavam pelas bochechas do mago enquanto ele olhava furioso para mim.
— Então por que eu deveria lhe contar alguma coisa?
A sujeira e o sangue no rosto pouco fizeram para mascarar o quão jovem o inimigo era, mas seria desleixado demonstrar misericórdia. Empurrei a lâmina um pouco mais fundo; o mago soltou um grito de dor.
— Porque… uma morte rápida e indolor é melhor do que uma longa e dolorosa.
Usando magia de fogo para aquecer a lâmina da minha espada, eu a pressionei contra a bochecha do mago. Enquanto as bestas de mana ao nosso redor estavam causando estragos, a maioria da horda de feras ainda estava caminhando em direção à Muralha. Não podia perder muito tempo com isso.
— Tudo bem! Por favor, pare! — gritou, esticando a cabeça o mais longe da minha espada que seu pescoço podia. — N-nós temos um soro que as bestas corrompidas não podem suportar durante seu estado frenético.
— Onde o conseguiu? Quem mais tem esse soro?
O alacryano balançou a cabeça vigorosamente.
— Eu realmente não sei disso! Apenas sei que é precioso, o suficiente para que quem consiga comprar, possa apenas borrifar apenas uma vez.
Com um aceno conciso, enfiei minha espada no coração do mago alacryano. Os olhos do jovem mago se arregalaram, mas o que me surpreendeu foram seus lábios que se curvaram em um sorriso.
— É inútil… mesmo que você saiba. — cuspiu, o sangue vazando da boca.
— Vida longa…
Incapaz de terminar sua sentença, o mago ficou inconsciente com o choque. Ele provavelmente morreria em alguns minutos, sem dor durante o sono.
Puxei minha espada com um empurrão rápido e segui em frente. Havia muito mais trabalho a ser feito.
Passei as próximas horas no chão, cortando, esfaqueando e atirando em bestas de mana com espadas e feitiços. Minha orientação sob Kordri havia aprimorado meu corpo para durar dias com a ajuda das artes de mana e da técnica marcial. Não houve esforço desperdiçado em meus movimentos e ataques, enquanto os animais de mana, estejam em estupor ou em seu estado frenético, caíam sem vida ao meu lado.
Até o tempo gasto treinando com Kathyln, Hester, Buhnd e Camus deu frutos. Ter experiência em lutar contra vários oponentes realmente ajudou a saber como reagir melhor às ondas incessantes de bestas de mana, algumas das quais foram capazes de lançar magia de longa distância, sem sobrecarregar minha mana. Juntamente com os discos de medição de mana que Emily havia testado comigo, era capaz de limitar a força dos meus feitiços à sua máxima eficiência.
— Como está aí do seu lado, Sylvie? — perguntei soltando um grunhido. Puxei minha espada revestida de raio de dentro da órbita queimada dos olhos de uma besta gigante de mana. Muito parecido com o animal gigantesco da classe S que tinha assustado mais cedo, este tinha uma pele forte o suficiente para colocar uma lasca na minha nova espada.
A fera colidiu com o chão, achatando algumas bestas infelizes de mana abaixo dela. Seu corpo sem vida ainda estalava com arcos de raios, enquanto seus membros se espasmavam.
— Um pouco cansada, admito, mas estou bem. — respondeu ela, com a voz mental clara, mesmo com a distância entre nós.
— Já está cansada? Só passaram quatro horas de luta sem parar. — provoquei, esfaqueando e tirando minha espada da caixa torácica de uma grande besta primata.
As espadas curtas que recebi como um conjunto com minha espada mais longa rapidamente tornaram-se inutilizáveis, deixando-me apenas com Canção do Amanhecer e minha fina espada longa que já tinha ficado cega.
Enquanto nós dois continuamos nosso ataque, meu foco principal mudou para encontrar os outros magos alacryanos. O soro que o mago inimigo tinha me contado sobre ser capaz de basicamente esconder o usuário de bestas corrompidas era uma recompensa sedutora, eu já sabia para que usá-lo.
No entanto, mesmo após horas de busca, nossos esforços foram infrutíferos. Apenas o grande número de bestas mana sozinhos tornou quase impossível distinguir pulsações maiores de mana, muito menos um humano.
— Droga. — amaldiçoei, enfiando minhas duas lâminas no pescoço grosso de uma besta de mana réptil. — A gente está ficando sem tempo.
— A Muralha está se aproximando, Arthur. Os conjuradores e arqueiros estarão ao alcance para atacar em breve. Então será ainda mais difícil encontrar os magos inimigos. — informou Sylvie.
— Você está certa. E quando a horda de bestas chegar à Muralha e a armadilha que todos armaram ativar, será impossível encontrá-los. — respondi cortando outro bando de bestas caninas frenéticas.
— O que você sugere? — Meu vínculo perguntou conforme lutava em seu caminho através das hordas de bestas entre nós para chegar a mim.
Não há escolha a não ser confiar no Realmheart para procurar os magos.
Houve um momento de silêncio em nossas mentes enquanto sentia Sylvie pensar sobre suas próximas palavras.
— Eu quero manter sua família segura também, Arthur, mas é sábio desviar de suas obrigações como General e Lança? Usar o Realmheart vai custar um grande preço para você e, mesmo assim, corremos o risco de ser por nada.
Rangendo os dentes, pulei nas costas de Sylvie. Memórias da minha luta com meus pais durante minha última viagem à Muralha inundaram minha mente e de meu vínculo. Foi mais rápido deixá-la saber assim do que tentar explicar.
— Não é sábio, Sylv. Eu sei disso. Mas, por favor, só por um tempo. Preciso ser capaz de dizer a mim mesmo que estou dando tudo que tenho para manter minha família segura, e encontrar um soro pode fazer justo isso.
Supondo que tudo corresse de acordo com o plano, teríamos que sacrificar partes da Muralha e as rotas subterrâneas, e seria muito mais seguro para nossas tropas corpo-a-corpo lutar. Mas, mesmo assim, com tantas pessoas que eu me importava participando desta batalha, era impossível não estar ansioso e com medo por eles.
— Entendo. — Sylvie enviou empatia enquanto suas poderosas asas batiam. Com uma rajada de vento, nós dois subimos para o céu, atirando em qualquer uma das bestas aéreas de mana antes que pudessem reagir.
— Vou contar com você para lutar contra qualquer besta de mana enquanto me concentro em procurar os magos. — disse em voz alta.
Respirando fundo, acendi a Vontade da Besta de Sylvia do fundo do meu núcleo de mana e deixei seu poder fluir livremente para dentro do meu corpo.
Senti as mudanças físicas no meu corpo enquanto a onda quente de energia me encheu por dentro. Longas franjas brancas obstruíram minha visão, as runas cobrindo meu corpo e estendendo-se aos meus membros cresceram brilhantemente, mesmo através das roupas grossas que usava.
Logo, minha visão se transformou em tons de cinza antes que manchas de luz colorida começassem a emergir do nada.
Não importa quantas vezes eu tenha usado essa habilidade, era de tirar o fôlego todas as vezes. Não importa quantos feitiços foram arremessados por magos e animais, foi quando pude ver fisicamente a mesma substância que compelia toda a magia na atmosfera que parecia que eu tinha realmente caído em um mundo mágico.
— Foco, Arthur. Você pode distinguir qualquer um dos magos alacryanos? — Sylvie disse com um toque de inveja. Meu vínculo ainda tinha que entender essa habilidade, apesar de romper o selo que sua mãe colocou nela antes do nascimento.
— Na verdade, não. — respondi, estreitando meu olhar para tentar identificar flutuações de mana que pareciam diferentes da magia que as bestas eram capazes de lançar.
Sylvie continuou voando através do comprimento do exército, evitando ou matando qualquer besta de mana voadora que entrou em seu caminho, eu vasculhava qualquer sinal dos magos alacryanos escondidos entre eles. Foi só quando desliguei meu olhar da vista abaixo que notei algo estranho em direção à Floresta de Elshire.
— Sylvie, pode nos levar mais alto por um minuto? — Perguntei ao meu vínculo, tentando descobrir o que estava acontecendo no norte.
Sentindo minha confusão e preocupação, subimos imediatamente até que fosse impossível ver as bestas mana individualmente abaixo de nós. Mas do jeito expansivo e ameaçador que a horda de bestas apareceu, meu foco estava em uma ameaça muito maior.
Não eram apenas as flutuações de mana que pareciam ser compostas de dezenas de milhares de magos, era a trilha, uma trilha brilhante de mana, levando do exército do que só poderiam ser os alacryanos, direto para o coração do Reino de Elenoir.
Tradução: Reapers Scans
Revisão: Reapers Scans
QC: Bravo
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