POV ARTHUR LEYWIN
— Eu vou com você! — A voz de Ellie soou por trás.
Eu parei no meu caminho e o guarda ao meu lado também parou. Voltando para encarar minha irmã, lutei para segurar as palavras: “é muito perigoso”.
Sylvie já tinha lido o que eu queria dizer, mas ficou quieta ao meu lado.
— Você prometeu, lembra? — O olhar de Ellie permaneceu resoluto caminhando até mim.
— Uma horda enorme de animais corrompidos. — murmurei suavemente.
— Você estará comigo. — respondeu imediatamente. — E terei a proteção da Muralha.
— Entendo seu dilema, mas esta é uma boa oportunidade. — afirmou Sylvie. — Estarei com ela também e atirar flechas do topo da Muralha é pouco mais do que prática de tiro para ela.
— Mas e se os animais romperem a Muralha?
— Eu sei que você não deixará isso acontecer. — respondeu com uma suave onda de confiança.
O guarda ao meu lado coçou a cabeça e continuou olhando para a saída, impaciente.
— General Arthur…
— Vamos. — afirmei quando comecei a caminhar em direção à saída do campo de treinamento mais uma vez.
Olhando por cima do ombro, chamei minha irmã.
— O que você está fazendo? Vamos lá.
Ellie visivelmente se iluminou quando um sorriso contagioso floresceu em seu rosto. Ela me seguiu em uma corrida completa.
— Vamos lá, Boo!
Imediatamente do lado de fora do campo de treinamento havia um mago desconhecido, com um grande pássaro parecido com um pardal pousado em seu ombro. Depois de fazer contato visual, ele respeitosamente inclinou a cabeça.
— Saudações, general Arthur. Sou o oficial Julor Strejin. Um membro do meu esquadrão inspecionando a Clareira das Feras foi a pessoa a detectar a horda. Vou informá-lo da situação na Muralha.
— Oficial Julor. — reconheci com um aceno de cabeça.
Sem perder tempo, o oficial começou a me informar de tudo o que eu esperava saber. Dois outros magos, aventureiros altamente talentosos antes de ingressarem no exército, nos acompanhariam como apoio adicional à Muralha. A melhor estimativa do tamanho da horda de feras era algo em torno de vinte mil. Embora a maioria parecesse ser da classe D para a classe B, várias bestas da classe A e até um pouco de bestas de mana da classe S foram avistadas.
— Infelizmente, não conseguimos chegar muito perto por causa dos magos Alacryanos, mas estamos certos de que há pelo menos uma dúzia de bestas de mana da classe S. — declarou Julor solenemente.
Olhei de volta para Ellie.
— Uma dúzia de bestas de mana da classe S. E o fato de estarem corrompidos significa que serão ainda mais fortes e ferozes.
O rosto de Ellie empalideceu, mas sua expressão permaneceu firme.
— Ficarei bem.
Minha irmã decidida, talentosa e protegida nunca tinha visto uma besta de mana além dos vínculos domesticados em Xyrus. Duvidava que ela pudesse imaginar o quão assustador era um animal da classe S, mas aqui estava eu, levando-a direto a não apenas um, mas uma dúzia… junto com vários milhares de outras bestas
— Elas são apenas bestas de mana, Arthur. — consolou Sylvie.
— Certo. — respondi mentalmente.
Me virei para Julor.
— Algum sinal de retentores ou foices, oficial?
— Nenhum — respondeu confiante. — Foi por isso que o comandante Virion considerou que apenas era necessário enviar uma única lança.
— Certo. Quantos dias temos até que a horda chegue à Muralha? — perguntei.
— No ritmo em que estão marchando, esperamos que cheguem em não mais de dois dias. — respondeu ele antes de dar uma olhada onde Sylvie e minha irmã estavam. Poderia dizer que ele estava prestes a dizer algo, mas segurou a língua.
Andamos em silêncio pelo resto de nossa pequena caminhada até chegarmos à sala da doca. Era relativamente silencioso dentro do habitual espaço movimentado. Além dos vários trabalhadores amarrando selas em bestas gigantes de mana semelhantes a falcões, eu só podia ver Virion com uma pequena comitiva quando chegamos.
— Arthur! — Virion gritou, sua disposição antes alegre tinha desaparecido, substituída por olhos cansados de guerra. Ao lado dele havia dois soldados magos e algumas criadas atrás deles.
— Comandante. — saudei antes de caminhar até o velho elfo.
— Tenho certeza de que o oficial Julor informou você da situação, então deixe-me apresentá-lo rapidamente aos dois magos que escolhi para apoiá-lo na Muralha. Este é Callum Hembril. Ele é jovem, mal saiu dos trinta, mas já é um conjurador de fogo aperfeiçoado no estágio central amarelo sólido.
O mago de cabelos castanhos deu um passo à frente, sua longa franja enrolada cobrindo a testa. Ele tinha um olhar curioso que rapidamente cobriu com um sorriso amável.
— Callum, como apresentado pelo comandante. Prazer.
Virion apontou o polegar para uma figura alguns metros atrás de Callum.
— Esse grandalhão aqui é um aumentador de núcleo amarelo-escuro, mas esteve na Clareira das Feras por mais de quarenta anos.
O homem de peito de barril que era quase um pé mais alto que eu e duas vezes minha largura estava coberto do pescoço para baixo em uma pesada armadura prateada que brilhava sombriamente. Ele tinha cabelos curtos e a face inferior estava escura com barba por fazer. Com um olhar penetrante que parecia estar avaliando cada centímetro do meu corpo, estendeu a mão em minha direção.
— Gavik Lund.
Apertei sua mão, que parecia quase tão larga quanto as patas de Boo, antes de voltar para Virion.
— Então, qual é o plano? Vendo aquelas montarias se preparando, estou assumindo que vamos viajar pelo ar?
— Mhmm. Essas são as montarias de Callum e Gavik. — informou Virion. — O portão de teletransporte mais próximo fica na cidade de Blackbend e o trem ainda não foi totalmente finalizado. É uma sorte que a localização do castelo esteja relativamente perto da Muralha.
Me virei para o meu vínculo.
— Posso voar sozinho. Você acha que poderá carregar Ellie enquanto segura Boo?
Finalmente entendendo a situação, Boo soltou um gemido de protesto.
— Se a viagem não for muito longa, vou conseguir, respondeu Sylvie. — ignorando o vínculo gigante da minha irmã.
— Espere, a criancinha e seu filhote de estimação estão vindo conosco? — Gavik perguntou com uma careta. — Comandante, isso é sábio? Haverá um exército maciço de bestas de mana.
— Ela é uma conjuradora hábil que será valiosa ser alocada na Muralha. — interrompi. — E desde quando estava tudo bem referir-se à irmã de um general como uma “criancinha”?
Gavik, apesar de ter cerca de três vezes a minha idade, empalideceu.
— Minhas… desculpas. — murmurou. — Não sabia que ela era sua irmã, general Arthur.
A expressão de Virion estava preocupada, mas não comentou sobre Ellie ir comigo. Em vez disso, acenou para os criados que estavam atrás dele. Subiram, carregando um grande baú de madeira com runas gravadas em toda a superfície.
— De qualquer forma, antes de você sair, preparei um pouco. Não é muito, mas acho que usar algo um pouco mais atraente pode ajudar com o nível do moral na muralha.
Virion colocou a mão na tampa e as runas se iluminaram antes de abrir com um clique. Vários compartimentos surgiram do baú para revelar uma roupa totalmente nova para mim.
— Jand, Brune, ajudem o general a se vestir. — ordenou Virion. Antes que pudesse protestar, seus criados me agarraram e me levaram para o lado da sala, onde um camarim havia sido convenientemente montado antes.
O homem imediatamente começou a me despir, enquanto a atendente começou a trabalhar no meu cabelo. Depois de escová-lo, ela o amarrou em minhas costas ordenadamente e aparou minha franja.
Deveria cortar meu cabelo logo, notei mentalmente. Meu cabelo ficou comprido o suficiente para passar dos meus ombros. Se não fosse a minha altura e ombros relativamente largos, poderia facilmente ter sido confundido com uma garota por trás.
— E de frente. — acrescentou meu vínculo, seus pensamentos invadindo os meus. — Você é mais bonita do que algumas das nobres mulheres que vi no castelo.
Gemi internamente. É… eu definitivamente deveria cortar meu cabelo em breve.
Assim que meu cabelo foi domado, começaram a trabalhar na roupa. Usava uma camisa preta de colarinho alto que cobria convenientemente as marcas de queimadura no meu pescoço, que obtive do primeiro retentor contra o qual lutei. Calças que pareciam surpreendentemente grossas, apesar da leveza, caíam bem abaixo dos meus joelhos, que foram projetadas intencionalmente para que as finas caneleiras cinza-escuras pudessem deslizar confortavelmente sobre minhas canelas.
Os criados então equiparam suspensórios do mesmo material e cor das minhas caneleiras sobre meus braços antes de colocar luvas apertadas e sem dedos sobre minhas mãos.
Enquanto a aparência da roupa era um pouco exagerada, com seus intrincados ornamentos e armaduras gravadas em minhas canelas e antebraços, Virion sabia exatamente que tipo de armadura seria melhor para mim. A proteção era mínima, os suspensórios e as grevas me permitiam alguma forma de defesa, deixando meus movimentos desimpedidos.
— O último toque, general Arthur. — anunciou o criado, enquanto colocava cuidadosamente sobre mim um manto de cintura que estava forrado de pelo branco.
Saí do camarim e, apesar das camadas mais grossas de roupa que vesti, meu corpo parecia mais livre e mais leve do que antes.
Callum e Gavik já haviam pulado em suas montarias, prontos para partir.
— Ah! Muito melhor. — Virion disse com um aceno de aprovação.
— Onde meu irmão foi? — minha irmã brincou enquanto olhava ao redor da sala.
Revirei os olhos, voltando para o comandante, que usava um casaco cinza forrado de pele que caía logo abaixo dos tornozelos sobre o habitual robe solto.
— Você realmente gosta de suas peles.
— Esse manto é uma roupa antiga que eu usava quando era mais jovem. — disse Virion, seu olhar ficando mais suave como se estivesse relembrando o passado. — Embora não pareça tão bom em você quanto em mim, deixarei você ficar com ela.
Eu levantei uma sobrancelha de surpresa.
— Obrigado pela roupa.
Ele sorriu com afeto.
— Obrigado por impedir que a Muralha caia.
— Pode deixar.
As grandes portas dobradas que ocupavam uma parede inteira se abriram, deixando entrar um fluxo constante de ar enquanto o piso abaixo de nós deslizava lentamente em direção à grande saída. Fiz um gesto para Sylvie e minha irmã me seguirem caminhando em direção à borda do castelo. Meu vínculo logo alcançou, andando atrás de mim levando Ellie e Boo.
Gostei da bela vista do céu abaixo de nós.
— Às vezes esqueço o quão alto o castelo está no céu!
— Pois é! Pelo menos não podemos ver o quão alto estamos por causa das nuvens abaixo. — gritou minha irmã sobre o som do vento.
Eu soltei uma risada.
— Só não se esqueça de segurar Sylvie com força!
— Eu não vou te soltar. — garantiu meu vínculo.
Boo soltou outro gemido.
Sylvie balançou a cabeça.
— Eu não vou largar nenhum de vocês.
A visão de Callum e Gavik nas montarias passou zunindo. As bestas domesticadas de mana mergulharam na beira do cais antes de reaparecerem com as asas abertas.
— Vamos lá! — gritei correndo em direção à borda.
Sylvie começou a brilhar quando se transformou em sua forma dracônica.
— Salte, Ellie! — ela gritou, sua voz um tom mais profundo do que era antes.
Assisti o dragão obsidiano navegar acima das nuvens com Ellie nas costas e Boo nas mãos com garras.
Usando o som dos gritos de Ellie como sugestão, pulei da borda também, seguindo o resto.
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— Como você está indo? — perguntei ao meu vínculo, cuja velocidade parecia estar ficando mais lenta.
— Parece que, apesar de todas as minhas capacidades mágicas e físicas, não fui projetada para ser um meio eficiente de transporte. — respondeu ela, olhando para o grande urso pendurado em seus braços.
Várias horas se passaram desde a nossa partida e, além das vistas deslumbrantes do céu e das nuvens, foi uma jornada chata. Chegamos a uma velocidade confortável em direção ao sudeste, com Callum e Gavik liderando apenas algumas dezenas de jardas à frente. Depois que a excitação inicial de minha irmã, e o terror de Boo, de voar diminuiu, os dois adormeceram, uma nas costas de Sylvie e o outro nas mãos.
À frente, Callum conjurou um clarão e sinalizou que estávamos descendo. Os dois magos então conduziram seus corcéis voadores sob o mar de nuvens, ambos desaparecendo de vista.
— Parece que estamos quase lá. Você poderá descansar assim que aterrissarmos. — transmiti ao meu vínculo antes de seguir Callum e Gavik.
O manto de vento que eu lançara sobre meu corpo mantinha toda a umidade das nuvens longe de mim, mas Ellie não teve a mesma sorte. Observando Sylvie descer através da espessa camada de vapor d’água, não pude deixar de rir ao ver minha irmã acordada, pingando e irritada.
O pelo grosso de Boo estava encharcado e emaranhado em sua pele, fazendo-o parecer mais magro do que imaginava.
Eu atirei um sorriso para minha irmã, mas seu olhar estava colado abaixo, a mandíbula aberta.
— Arthur. Olhe para baixo. — Sylvie enviou junto com uma onda de preocupação.
Olhei para baixo, a camada de névoa era fina o suficiente para finalmente ver através. E o que vi foi realmente uma visão de se contemplar.
Eu só poderia descrevê-lo como um mar. Um mar de preto e cinza formado pelo que só podiam ser os animais corrompidos. Estávamos várias milhas acima do solo e a horda de feras ainda estava a mais de um dia de distância, pelo menos, mas meu peito já estava apertado em suspense.
Callum e Gavik pararam de descer para contemplar a vista abaixo, trocando olhares preocupados um com o outro a cada poucos segundos.
A Muralha, a fortaleza que era um abrigo, para várias centenas de magos e soldados, responsável por manter este exército de feras à distância, parecia pequena “insignificante” em comparação.
Podia sentir meu coração acelerando e meu sangue fervendo na medida em que minhas mãos estavam tremendo.
A presença de Sylvie entrou em minha mente, tirando-me do meu devaneio.
— Arthur. Você está sorrindo.
Tradução: Reapers Scans
Revisão: Reapers Scans
QC: Bravo
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