Dei um passo para trás quando Lady Vera posicionou sua vara de metal fina que chamava de “folha” para um balanço horizontal. Ainda assim, de alguma forma, a folha conseguiu dar um tapa no meu braço esquerdo.
— Como? — resmunguei, esfregando a ferida fresca. — Pensei que tinha me esquivado disso.
— Você está muito focado na minha arma — respondeu Lady Vera, mantendo o corpo imóvel. — Sua visão deve abranger seu inimigo, ou inimigos, como um todo. O que você vê de diferente agora?
Eu olhei para a “folha” ainda apontada para mim.
— Além do óbvio?
Isso me rendeu outro golpe com a arma dela.
— Não banque o esperto comigo, garoto.
— Está bem, está bem! — gritei. — E tenho um nome, você sabe.
— Estou ciente de que você recebeu o nome de uma cor bastante chata,
disse Lady Vera abruptamente.
— Agora, responda a minha pergunta.
Com medo de ser acertado de novo, examinei a mulher alta. Ela usava uma camisa escura e calças pretas justas, o que só enfatizava seus longos cabelos ruivos encaracolados.
Depois de me salvar de meus captores há vários meses e depois de meus ferimentos estarem completamente curados, comecei minhas lições há algumas semanas. Os métodos dela eram brutais e sua personalidade era tão quente quanto um bloco de gelo, eram eficazes.
— Bem? — ela pressionou, me tirando dos meus pensamentos.
Soltei um suspiro e apontei para o pé dela.
— Você girou usando a perna dianteira, trazendo o pé traseiro para frente para um alcance mais longo.
— Bom. — assentiu em aprovação. — Embora, se você não fosse capaz de ver isso na pista no chão…
— Sim, sim. Então não mereceria ser seu aluno. — concluí. — Agora, como eu fico melhor?
Minha mentora murmurou algo baixinho antes de caminhar para o lago artificial que tinha em seu quintal. Todo o “campo de treinamento” que nós estávamos, que se estendia por cinquenta metros quadrados, era seu quintal.
O simples fato de ela ainda ter um quintal em uma cidade onde edifícios altos ocupavam todos os lotes de terra disponíveis falava muito sobre sua riqueza e poder. Além do fato de todo o seu quintal, que parecia algo saído de uma antiga revista de natureza, também ser bloqueado do mundo exterior por uma parede de seis metros me fez pensar que tipo de posição ela realmente ocupava na Academia Wittholm, a academia militar em que ainda estava matriculado.
Quando chegamos ao lago claro que continha peixes, peixes vivos reais, Lady Vera se sentou na beira e fez um sinal para me juntar a ela.
— Tente pegar um peixe com as mãos. — disse ela. — Sem usar ki.
— O quê? Eles não vão morrer se saírem da água? Acho que não posso me dar ao luxo de substituir um peixe vivo como esse.
Ela me deu um sorriso raro.
— Não se preocupe com isso e apenas tente.
Olhando com cautela para os animais aquáticos que eu só tinha visto de forma congelada e processada, estendi a mão e tentei pegar um. Assim que meus dedos mal tocaram a água, no entanto, o peixe dourado e preto disparou para o outro extremo do lago.
— Tão rápido! — exclamei, maravilhado com sua velocidade. Ela estalou o dedo para chamar minha atenção. — Novamente.
Foram necessárias apenas mais uma dúzia de tentativas para perceber que havia uma mensagem que deveria estar recebendo de tudo isso. Frustrado e molhado, passei a mão sem me importar se machucaria o peixe ou não, apenas para escorregar na pedra molhada e cair na água.
— Gah! — bati na superfície, deixando escapar um suspiro quando minha mentora apenas riu.
Mal conseguindo sair da lagoa profunda, deitei na grama.
— Qual é o sentido disso, afinal? É impossível pegar um com apenas suas próprias mãos.
— É assim mesmo? — minha mentora disse com uma voz altiva.
— Sim, é impossí…— levantei minha cabeça, apenas para ver que ela estava segurando um peixe na mão. — O quê? De jeito nenhum! Faça isso novamente!
Lady Vera deu de ombros e jogou o peixe de volta na lagoa.
— Certo.
Me levantei e fiquei observando atentamente, caso tentasse puxar rápido e usar ki ou trapacear de alguma outra maneira.
Inclinando-se para a frente, Lady Vera esperou com a mão perto da superfície. Quando outro peixe estava prestes a nadar, ela mergulhou a mão lentamente na água. Como eu esperava, o peixe disparou para frente. Mas com o menor movimento de sua mão, o peixe quase se aninhou em suas mãos.
Ela me lançou um sorriso presunçoso, segurando o peixe na mão antes de jogá-lo de volta.
— Agora você acredita em mim?
— Eu não entendo. Você fez isso tão devagar… — murmurei. — Espera! Você treinou esses peixes para que fossem para sua mão?
— Pareço alguém que gasta tempo fazendo algo tão inútil quanto isso? — Minha mentora olhou para mim, inexpressiva.
Cocei minha cabeça.
— Acho que não… mas ainda não entendo a razão disso, a menos que seja para você apenas se exibir.
Minha mentora jogou água no meu rosto com a minha observação.
— Fiz isso para mostrar que você e esses peixes, aqueles que foram capazes de te fazer de bobo, são similares.
Franzi minhas sobrancelhas.
— O quê?
De repente, a mão de Lady Vera disparou em direção ao meu rosto, fazendo-me virar a cabeça para o lado.
— Sua velocidade de reação é rápida, assustadoramente. — explicou minha mentora, dando um tapinha no meu ombro. — Mas é instintiva, não dominada, assim como esses peixes.
— Não entendo. O que você quer dizer com “dominada”? — perguntei.
— Você pode não estar ciente disso, mas, por meio dessa “habilidade”, no momento em que os braços de seu oponente flexionam para dar um soco, seu cérebro já enviou um sinal ao seu corpo para reagir. Agora, se seus oponentes estão no nível de estudantes daqui, você tem uma grande vantagem sobre eles. No entanto, se for deixado assim, oponentes mais fortes podem prever facilmente como você vai se esquivar, assim como eu previ que o peixe tentaria esquivar quando agarrei.
Pensei por um momento e percebi que o que Lady Vera disse precisamente correto.
— Então, como domino essa capacidade?
— Respondendo, não reagindo. — respondeu ela, levantando-se e assumindo uma postura ofensiva.
— Não é a mesma coisa?
Ela balançou a cabeça.
— Um é intencional, o outro é instintivo. Focamos principalmente no condicionamento básico, mas acho que você está pronto para começar a aprender como começar a responder.
Meus olhos brilharam de excitação com o pensamento de finalmente aprender a lutar com Lady Vera.
— A parte divertida!
— Diversão para mim. — ela respondeu com um sorriso sombrio, balançando a “folha” de alumínio. — Para sua sorte, sua próxima aula começará em breve, então começaremos com este exercício amanhã.
Soltei um gemido e esfreguei o vergão no meu braço de onde ela me bateu mais cedo.
— Tem um carro esperando você voltar para a escola. — disse Lady Vera me afastando. — Agora vá embora.
— Obrigado pela lição. — resmunguei antes de pegar meu uniforme e mochila pendurada na porta ao sair.
Enquanto a volta para a escola levava menos de uma hora, ainda consegui cair em um sono profundo o suficiente para que o motorista tivesse que me acordar depois de chegar.
Respirei fundo ao sair do elegante veículo preto, preparado para os olhares afiados dos meus colegas, com o simples luxo de poder andar de carro particular. No entanto, o pátio externo, que geralmente estava cheio de estudantes matando aula, estavam reunidos em torno da entrada do prédio da administração, à esquerda. Bloqueando o perímetro havia várias vans fortificadas que pareciam um pouco diferentes da força habitual da polícia da cidade.
— O que está acontecendo? — murmurei para mim mesmo, fazendo o meu caminho em direção à multidão.
Guardas blindados de preto, com seus sabres retos costurados nos quadris, impediam todos os estudantes curiosos de se aproximarem das portas do prédio. Esses não eram policiais normais; eram executores.
Peguei o aluno mais próximo.
— O que aconteceu? Por que os executores estão aqui? Houve um arrombamento ou um ataque?
— Você acabou de chegar aqui? — o garoto zombou. — Você perdeu a enorme explosão que aconteceu nos campos de treinamento.
— Explosão? Você sabe o que causou isso?
— Aparentemente, era um estudante. — O garoto sorriu maliciosamente.
— Agora, saia fora do caminho. Quero tentar chegar mais perto.
O garoto desapareceu no mar de estudantes, me deixando pasmo.
Qual era o tamanho da explosão para os executores terem que vir? Me perguntava, olhando para os soldados vestidos com finos uniformes blindados que foram projetados para fortalecer quando imbuídos de ki.
Não pude deixar de lembrar como Nico continuara falando sobre o quão revolucionário era o material de que esses uniformes eram feitos… “fibra de veia” era o nome. Ele também mencionou o quanto a fibra era cara, era por isso que eram fornecidas apenas a reis e soldados de elite, seja para a operação especial de soldados que realizavam missões internacionais ou para executores dos esquadrões antiterroristas.
Falando em Nico, se alguém soubesse o que estava acontecendo, provavelmente seria ele, pensei, meus olhos percorrendo a multidão na esperança de encontrar a ele ou Cecilia.
Incapaz de ter uma boa visão, me virei e subi em um dos postes de luz até encontrar um familiar garoto de cabelos escuros. Ele estava bem na frente, um pouco além do perímetro que os policiais haviam estabelecido, mas não tinha certeza se era Nico. Eu estreitei meus olhos, focando nele até que finalmente se virou.
— Aí está você. — pulei e fiz o meu caminho através da multidão de estudantes. Depois de bater nos ombros e lutar durante dez minutos, consegui me espremer e chegar à frente.
— Nico! — Eu chamei.
Meu amigo se virou e a primeira coisa que notei foi a trilha de sangue escorrendo por seus lábios. Isso nunca foi um bom sinal.
— Cinzinha! — exclamou, fazendo o seu caminho para mim.
— Seus lábios estão sangrando, Nico. O que está acontecendo? — perguntei, meus olhos se deslocando entre Nico e os policiais a poucos metros de distância atrás da fita de advertência vermelha.
— Um cara me disse que aparentemente houve uma explosão causada por um estudante.
— Eu não sei o que aconteceu. O limitador de ki deve estar com defeito. Mas verifiquei apenas alguns dias atrás e estava tudo bem. Não sei o que aconteceu! É tudo culpa minha! — disse, mordendo os lábios novamente em preocupação.
— Devagar, Nico. Não está fazendo nenhum sentido. — respondi.
Nico enterrou o rosto nas mãos. — É Cecilia. Ela sofreu um acidente.
POV ARTHUR LEYWIN
Abri os olhos, deixando escapar um suspiro profundo. Faz apenas alguns dias desde o meu último “sonho” e este foi particularmente ruim. Foi uma memória que nunca esqueceria, sonho ou não. Juntamente com a morte da diretora Wilbeck, foi nesse dia que minha vida se desenrolou do jeito que aconteceu.
Olhei pela janela para ver que o sol ainda não nascera completamente, o que significava que eu tinha tido no máximo apenas duas ou três horas de sono.
Com um gemido, saí da cama me lavei, esperando que a água fria ajudasse a lavar o cansaço que parecia ter feito um lar permanente no meu corpo.
— Você está acordado? — meu vínculo perguntou, sem se importar em falar.
— Sim. Acho que não consigo adormecer de qualquer maneira. Quer se juntar a mim em uma esticada matinal lá fora?
— Por mais atraente que pareça, infelizmente, isso exige que eu saia da cama. — respondeu puxando as cobertas sobre a cabeça.
— Crianças em crescimento precisam dormir. — concordei com uma risada, secando meu cabelo com uma toalha.
— Essa resposta imatura fala muito sobre quem realmente é a criança entre nós. — respondeu casualmente.
Soltei uma risada.
— Você me pegou nessa.
Depois de vestir uma camisa larga e calça escura, saí, passando pela minha mesa. Olhando para o papel bagunçado, cheio de pedaços do poema que tentei lembrar, mudei de planos.
Pensando bem, darei a Rahdeas uma breve visita. Espero que ele esteja funcional o suficiente para repetir o poema ou me dar uma explicação direta.
Cumprimentei as poucas empregadas e trabalhadores que estavam terminando o turno da noite descendo em direção à masmorra.
Andando pelo longo corredor mal iluminado que levava à entrada do primeiro andar, vi um rosto familiar guardando a porta… Usando o termo “guardar” muito vagamente.
Albold, o elfo da família Chaffer que Virion havia introduzido estava cochilando para dormir estando parado ao lado da grande porta de metal.
Com um sorriso, apaguei minha presença e suavizei minha respiração. Cobri meus passos em mana da mesma maneira precisa de quando estava treinando sozinho nas florestas de Epheotus.
Aumentei a velocidade quando me aproximei do guarda adormecido, mas assim que estava a poucos metros da porta, os olhos de Albold se abriram e uma espessa camada de mana cobriu seu corpo e espadas quando as balançou na minha direção.
Facilmente peguei as duas lâminas com as mãos, mas ainda estava surpreso.
— General Arthur? — disse incrédulo, rapidamente embainhando suas lâminas duplas. — Desculpe por isso, juro que senti alguém se esgueirando por aqui.
— Eu estava me esgueirando. Você não estava dormindo? — perguntei, desconfiado.
— Ah… Eu fui pego. — Albold coçou a cabeça de vergonha. — Por favor, não conte ao comandante Virion. Mal tenho alguns dias fazendo serviço de guarda! Não posso mais ficar aqui!
— Relaxe. — fiquei impressionado, eu ri. — Virion estava certo, seus sentidos são bons.
— Haha, salvaram minha bunda mais de duas vezes na minha vida. — respondeu Albold. — Então, o que posso fazer por você, general?
— Eu preciso falar com um prisioneiro. — respondi. — Gentry está lá dentro?
Albold assentiu enquanto abria a porta.
— Não consigo pensar em um momento em que ele não tenha estado lá dentro.
Nós dois entramos e logo encontramos Gentry dormindo em uma cama dentro de uma das celas da masmorra do nível superior.
— Quem… O-O que está acontecendo? — Gentry murmurou quando o sacudimos para acordá-lo. — Ge-General? O que posso fazer para você?
— Você pode abrir a cela de Rahdeas por apenas um momento? Há algo que quero perguntar a ele. — expliquei.
O interrogador esfregou os olhos quando começou a destrancar a entrada do nível mais baixo da masmorra.
— Claro. E novamente peço desculpas pelo problema que causei ao chamar todo o Conselho. Tinha certeza de que o traidor iria revelar algo importante.
Depois de alguns cliques, Gentry fez sinal para Albold ajudar, e os dois abriram as portas.
Meus olhos se arregalaram com o que vi. O assistente de Gentry estava espalhado no chão com vários espigões pretos perfurados em seu corpo. Vendo os espinhos, meu olhar imediatamente se voltou para a cela em que Uto estava, apenas para fixar os olhos no Retentor.
Imediatamente imbuí mana ao meu redor, temendo que Uto pulasse em nós, mas o Retentor estava completamente quieto e silencioso, nenhum sinal de vida em seus olhos brilhantes. Ele sorria. Albold soltou um suspiro agudo quando fortaleceu seu corpo também e sacou suas espadas.
— Shester! — Gentry falou, desatento ao Retentor fora de sua cela.
— Ele-Ele está morto. — murmurei, olhos focados apenas em Uto. Por causa de seu corpo negro, não notei os espigões perfurados em seu peito e estômago também com sangue ainda vazando.
— Rahdeas! — Entrei na masmorra e as restrições de magia na sala puderam ser sentidas imediatamente. Saltando sobre o cadáver do assistente, abri a porta da cela de Rahdeas que havia sido destrancada, apenas para ver que o velho anão havia encontrado o mesmo destino que Uto e Shester.
Ele estava morto.
Tradução: Reapers Scans
Revisão: Reapers Scans
QC: Bravo
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