O corredor estava quieto, enquanto o olhar de todos seguia o longo dedo torto para mim.
Franzi minhas sobrancelhas.
— Eu?
Minha mente girou, tentando pensar por que Rahdeas iria querer falar comigo e o que ele poderia me dizer nessa situação.
— Depois de basicamente dividir todo o reino dos anões e me fazer limpar essa cagada, quem é ele para exigir com quem irá falar? — Buhnd bufou.
— Você acha que ele está tentando fazer algum tipo de acordo com o General Arthur? — Blaine perguntou.
— Duvido. Se ele quisesse fazer um acordo, teria uma chance muito melhor de fazê-lo com o Comandante Virion ou qualquer outra pessoa no Conselho. — Merial respondeu.
— Talvez seja por causa de seus laços com Elijah? — Virion se perguntou.
— É… do que eu mais tenho medo. — Suspirei.
No meio da discussão, Gentry soltou uma tosse para chamar nossa atenção.
— Membros do Conselho e Lança. Seria um eufemismo dizer que tem sido difícil para mim, conseguir que o traidor fale. Talvez seja melhor aproveitarmos essa conquista e conversarmos com ele enquanto ainda é capaz?
Todos os olhos caíam no comandante, respondeu com um aceno conciso.
— Lidere o caminho, Gentry. — disse, caminhando pelas portas reforçadas.
Aguentando o cheiro familiar de mofo da masmorra do castelo, caminhei silenciosamente atrás de Gentry, o restante ficou relutantemente para trás. Ele acenou para os dois soldados que guardavam os níveis mais baixos, onde Uto e Rahdeas eram mantidos, para abrir a porta.
Respirando fundo, esperei Gentry destrancar cuidadosamente a cela do tamanho de um armário de sapatos.
— Estarei esperando do lado de fora da porta, General Arthur. Tenho certeza que você já sabe, mas evite tocar em qualquer outra coisa. — Gentry avisou antes de se afastar quando abriu a porta da cela.
Esperei até o velho sair antes de mudar meu olhar para o homem ajoelhado algemado.
— Rahdeas.
O homem estremeceu com o som de seu nome antes de um sorriso se formar.
— Minha gratidão pelo seu tempo e presença. — Ele baixou a cabeça respeitosamente. — Permita-me começar.
— Começar? — perguntei, mas o homem manteve a cabeça e o olhar baixo.
Mantive minha guarda, inquieto por causa de seu comportamento estranho.
— Um rapaz de origens humildes, nascido embrulhado em trapos como uma toalha. — Ele começou, finalmente levantando a cabeça. — Por dentro, porém, ele era mais. Assim como as cinzas despretensiosas de uma ave de fogo em particular.
— E, como todos os futuros heróis, o rapaz tinha a aparência e a força. — Rahdeas esticou um braço enquanto a outra mão estava sobre o peito. — Sua mãe lhe ensinou sobre o mundo, seu pai o ensinou a lutar.
Assisti, pasmo, enquanto o homem torturado continuava seu épico.
A voz de Rahdeas ficou mais profunda, mais escura.
— Isto é, até o dia chegar, quando o rapaz soube que havia um palco maior para domar.
— Seu sangue sabia que eles não podiam mais conter, o fogo do rapaz que desejava reinar.
— Então eles pegaram suas malas e desejaram boa sorte à pequena cidade. — Rahdeas deixou escapar um suspiro. — Mas aí, como todas as histórias, a tragédia aconteceu.
— Rahdeas! — Gritei, mas fui silenciada por um dedo levantado.
O homem continuou.
— Mas nunca se preocupe, nunca duvide, porque, como todas as histórias, um herói nunca desiste.
— Então ele cresce e cresce. Através de sua mágoa e sua agonia da morte, Nunca cessando, superando.
Rahdeas olhou para a fraca luz trêmula acima de nós.
— Infelizmente, toda luz precisa de uma sombra. Todo herói precisa de um inimigo.
— Quanto mais brilhante a luz. Mais escura é a noite.
Finalmente, olhando fixamente para mim, ele me lança um sorriso.
— Mas eu te pergunto isso, futuro herói. O que acontece quando seu inimigo, que atravessou o tempo e o espaço, é realmente mais brilhante que você?
— Talvez o cavaleiro brilhante de uma donzela justa. É a praga mortal de outra pessoa. E o lado da escuridão e da luz. É apenas uma questão de quem ganha o direito?
Um silêncio desconfortável permaneceu quando ele terminava a apresentação, por falta de uma palavra melhor, e justamente quando pensei que as coisas não poderiam ficar mais estranhas, Rahdeas, com os braços acorrentados ao chão, estendeu a mão e agarrou minha mão com os dedos cobertos de sangue.
Seus olhos brilhantes e sem alma se transformaram em crescentes quando sorriu para mim e assentiu.
— Ah, bom, você é real. Tive medo que você fosse apenas mais uma ilusão e que minha apresentação havia sido desperdiçada.
Olhei para baixo, sem realmente saber como reagir enquanto o guardião de Elijah continuava segurando minha mão.
— Hmm. Tinha esquecido o quão quente uma pessoa poderia ser. — Seu olhar permaneceu longe, acariciava minha mão como se fosse um animal de estimação.
Afastei minha mão de suas mãos.
— Parece que o tempo que você passou aqui te tornou… desequilibrado.
— De todas as palavras mais precisas por aí, você escolheu “desequilibrado”? Não “maluco” ou “insano” ou “louco”, mas “desequilibrado”? — Rahdeas riu.
— Prefiro não perder meu tempo com palestras sobre minha escolha de palavras, especialmente de alguém “desequilibrado”. Enfatizei, estreitando os olhos.
Rahdeas encolheu os ombros.
— Independentemente disso, é de seu livre arbítrio se você escolhe ignorar minhas palavras ou não, poesia ou prosa.
— Então esse poema que você acabou de recitar…
— Bem, pensei que uma conversa de coração para coração seria um pouco chata. E embora não seja muito versado na arte da poesia, tive que fazer algo para passar o tempo aqui. — Rahdeas respondeu seriamente por um segundo, até que seus olhos brilharam.
— Ou… Você sabe, isso pode ser apenas a divagação de um homem “desequilibrado”.
Um suspiro me escapou quando balancei minha cabeça.
— Seja honesto, no entanto. Minha rima pode ter sido um pouco elementar, mas era cativante, não era? — sorriu, rugas revestindo sua pele medonha.
Aborrecimento borbulhou, aparecendo no meu rosto.
— Acho que você não entende a gravidade da sua situação, Rahdeas. Você ficará aqui por muito tempo e vai ser desagradável. Revelar qualquer coisa que possa ajudar o Conselho acabará por decidir quão desagradável será. Agora não é o melhor momento para se preocupar se suas rimas são cativantes ou não.
Ele combinou com o meu olhar, sem ser afetado, antes de repente cair de costas, descansando a cabeça nas mãos, como se não se importasse com o mundo.
— Sei exatamente em que tipo de posição estou e já lhe disse exatamente o que queria. Novamente, o que você ganha com isso não é da minha conta.
Rangi os dentes de frustração esperei em silêncio por mais um tempo, esperando que ele pudesse mudar de ideia. No final, o traidor me mandou embora com um aceno de mão, começando a cantarolar no ritmo do poema que havia recitado para mim.
Soltando um escárnio da atitude do traidor até o fim, chamei Gentry e o mandei trancar a cela de Rahdeas.
Virei-me para sair, frustrado e sem palavras, quando meu olhar pousou em outra cela, uma ainda menor que a de Rahdeas. Apesar da inibição da mana do material misterioso do qual a cela era feita, uma aura sinistra constantemente vazava.
Por um momento, fiquei tentado a abrir a cela.
Em pouco tempo, havia crescido e chegado a um estágio que rivalizava com os melhores magos de Dicathen. O medo que senti ao enfrentar Uto, mesmo com a ajuda de Sylvie, deixou uma profunda impressão em mim que queria me livrar. E pensei que confrontar o Retentor novamente aliviaria isso.
Por mais bobo que parecesse, especialmente porque ele estava amarrado e severamente enfraquecido, me peguei caminhando em direção à prisão de Uto.
Não há nada a ganhar, Arthur. Me repreendi, balançando a cabeça.
Saí da masmorra, expulso com o som do zumbido de Rahdeas, os trechos do poema que ele tão teatralmente recitou ecoando na minha cabeça.
Os membros do Conselho ainda estavam esperando por mim quando voltei. Os olhares deles se fixaram em mim, esperando que eu dissesse alguma coisa, qualquer coisa.
Eu atirei um polegar para baixo.
— As táticas de interrogatório de Gentry parecem ter feito Rahdeas perder um pouco de sua sanidade. A única coisa que ele fez foi recitar um poema para mim.
— Poema? — Blaine disse incrédulo.
Todos conheciam Rahdeas como um anão educado, inteligente e esforçado. Me ouvindo dizer que ele estava basicamente balbuciando como um louco levantou algumas sobrancelhas.
— Sobre… O que era o poema? — Virion perguntou hesitante.
— Para ser sincero, não sei dizer. Como mencionei, ele estava um pouco… desligado, mas algo no poema dele ainda me incomoda. — Respondi. — Mesmo que não dê em nada, deixe-me tentar descobrir mais sobre o poema antes de dar respostas definitivas.
— Minhas táticas às vezes deixam os prisioneiros em um estado menos que o desejável. — disse Gentry com uma tosse. — Minhas desculpas pelo alarme falso. Sinceramente pensei que ele estaria confessando algo importante.
— Visto que nada de substancial foi revelado ainda, que tal discutirmos mais sobre isso em nossa próxima reunião? — Alduin sugeriu.
— Apoio isso. — Buhnd resmungou. — Podemos escolher decifrar o seu poema… uma vez que tenhamos dormido um pouco.
— Se o estado de espírito de Rahdeas é como você sugeriu, as palavras dele provavelmente não têm peso. — Disse Merial, já se virando para sair.
Assim, a reunião improvisada do Conselho na calada da noite, nos andares mais baixos do castelo, foi encerrada.
Voltei para meu quarto e, apesar do meu corpo implorar por descanso, estava bem acordado. A falta de sono me deixou irritado na frente do anão, mas queria acreditar que suas palavras ainda tinham algum mérito.
Escurecendo o artefato de luz sobre a mesa, na sua configuração mais baixa para não acordar meu vínculo, comecei a anotar as partes do poema que lembrei.
Embora minha memória não estivesse perfeita, pude escrever muito no papel com a ajuda das rimas e da estrutura simples do poema.
Recostando-me na cadeira, li o poema novamente. Se foi por causa do meu estado exausto ou porque estava tão confuso com o comportamento de Rahdeas, não estava confiante com a minha lembrança.
A principal mensagem que recebi deste poema foi sobre um herói… isso é verdade, mas havia algo mais do que isso.
Sob a suposição de que Rahdeas não estava louco, disse explicitamente que o poema era o que ele queria me dizer. Isso me levou a pensar que talvez esse “herói” tenha algo a ver comigo.
Tinha certeza de que o poema começou com algo sobre um rapaz de origens pobres, e como ele estava embrulhado em um pano… ou talvez uma toalha. Mas não conseguia lembrar o que ele costumava rimar com toalha.
Coruja? Rosnar? Ave?
Eu estralei minha língua e segui em frente. Supondo que esse garoto fosse eu, como Rahdeas sabia detalhes da minha infância? Não era apenas o fato de eu ter uma educação bastante modesta em Ashber, mas o poema também dizia que o rapaz desejava boa sorte à cidade antes de uma tragédia.
Provavelmente não era muito difícil para Rahdeas fazer uma verificação de antecedentes comigo usando seus recursos enquanto ainda fazia parte do Conselho, mas mesmo assim, tudo isso não parecia bem.
Frustrado com Rahdeas pela mensagem desnecessariamente enigmática e comigo mesmo por descartar seu poema pela tagarelice de um louco, segui em frente.
Pelo menos comecei a prestar um pouco mais de atenção aqui, pensei.
A segunda metade do poema foi um pouco mais ambígua, pois começou a soar cada vez mais como uma profecia exagerada predita em quase todas as histórias de heróis que li ao longo das minhas vidas.
Linhas como “quanto mais brilhante a luz, mais escura a noite” provavelmente tinham algo a ver com o meu inimigo ficar mais poderoso quanto mais forte eu me tornava… como se eu escolhesse meus inimigos por sua força em relação à minha.
Independentemente disso, as últimas linhas foram um pouco complicadas e senti como se tivesse ouvido errado ou lembrado incorretamente. — […] cavaleiro sendo uma praga de alguém?
Passei pelo poema incompleto por mais meia hora antes de desistir.
Pedirei a Rahdeas que repita o poema mais uma vez amanhã.
Ainda estava cético sobre se o poema significava alguma coisa, e provavelmente foi por isso que não me incomodei em ouvir atentamente quando o anão disse, mas ainda estava curioso.
Ao me deitar na cama, tentei me livrar dos meus pensamentos sobre o poema, concentrando-me no que deveria fazer para melhor ajudar nessa guerra.
Ainda assim, enquanto o sono me superava, me peguei tentando reconstituir o poema, tentando lembrar todas as palavras que rimavam.
Tradução: Reapers Scans
Revisão: Reapers Scans
QC: Bravo
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