O Começo Depois do Fim

O Começo Depois do Fim – Cap. 193 – Próximo Estágio

 

POV STEFFAN VALE

— Oh, Grande Vritra. — murmurei baixinho, vendo o escudo perder o equilíbrio, quase sendo pisoteado no processo.

— Escudos, mantenham esses painéis defensivos! Não deixe nenhuma das bestas se afastar. — gritei antes de olhar para o misterioso minério preto que recebi a ordem de quebrar quando todos os animais estivessem dentro da floresta de Elshire. Assistia enquanto as centenas de bestas corrompidas eram conduzidas através das paredes de painéis translúcidos lançadas pelas equipes de escudos. Era uma visão peculiar conforme monstros que normalmente não estariam nem perto um do outro caminhavam lado a lado lentamente. Aranhas do tamanho de cães, lobos grandes e até serpentes com cabeças em ambas as extremidades “marchavam” juntas, sem saber o que estava acontecendo.

Vários “sem adornos”1Tem uma nota no final do capítulo explicando esse e mais termos. tinham a função de proteger cada um dos escudos, caso alguma das bestas se libertasse. Até os “sem adornos” têm seus propósitos. Melhor que um deles morra do que um mago. Lancei meus olhos neles com armaduras de ferro, empunhando armas comuns de aço, incapazes de fortalecê-las. Deplorável. Me virei para a sentinela designada para minha tropa, um homem magro com franja que cobria seus olhos.

— Você consegue fazer uma leitura dentro da floresta?

Ele pôs suas mãos no chão antes de clicar sua língua.

— Meu alcance é reduzido para um quarto lá dentro.

— Parece que você terá que ir conosco. — eu suspirei.

Ele se afastou de mim.

— O quê? Não é isso que—

Antes que pudesse terminar, agarrei a sentinela pela nuca.

— Veja. Eu não me importo se vocês sentinelas pensam que são importantes por causa da sua magia voyeurista pervertida. Você estará seguro com meu escudo e conjurador pessoais.

— Tu-tudo bem, mas se algo acontecer comigo… — As ameaças inúteis do garoto eram dignas de risada pelo seu tremor. Misericordioso Vritra, como ele pode se ver como um soldado se está com medo de chegar perto de uma batalha?

— Você ficará bem. — enfatizei, soltando o colarinho dele. — Agora forme o elo mental comigo e somente comigo. Algo me diz que você não é muito bom em fazer várias coisas ao mesmo tempo. — A sentinela assentiu, colocando dois dedos na minha cabeça e se concentrando.

— Vo-você pode me ouvir? — Uma voz familiar soou diretamente na minha cabeça. Como é que você gagueja mesmo dentro da sua cabeça, pensei.

— Só pra você saber, eu só consigo fazer uma linha de comunicação mental unidirecional, então eu não vou poder receber notícias suas.

— Ok — disse em voz alta, segurando a vontade de revirar meus olhos. Apesar de suas falhas, ter uma sentinela era um grande bônus, pois meu escudo e conjurador não teriam que ficar tão perto de mim e depender do feedback da sentinela. Voltando minha atenção para a missão em questão, observei equipes de magos aguardando conforme mais e mais das bestas corrompidas desapareciam na floresta densa e nebulosa que abrigava os elfos em Dicathen. Assim que os últimos dos monstros conduzidos do Norte da Clareira das Bestas estavam bem no fundo da densa variedade de árvores, segurei o minério preto.

— Sem ador- não magos, posições de linha de frente com armas estendidas. Atacantes, atrás deles com seus escudos e conjuradores perto. Preparem-se para atacar a qualquer aviso dado! — pedi enquanto todos se embaralhavam no lugar. Não sabia como aquelas bestas corrompidas eram sedadas, mas os artefatos que me foram confiados pareciam funcionar como uma espécie de encanto. Assim que quebrei o minério, rosnados e rugidos cruéis irromperam dentro da floresta. Vários sem adornos carregando suprimentos começaram a distribuir frascos de um líquido rançoso para todo mundo borrifar em suas roupas. Caro e temporário, mas era a única maneira de as bestas corrompidas não nos atacarem. Momentos de silêncio tenso se seguiram enquanto todos esperavam pelo meu sinal. Flexionei minhas mãos, ansioso para entrar em ação com minha crista recém-desbloqueada.

Ainda não tinha passado uma temporada desde que treinara minha marca inicial para formar minha crista, verdadeiramente louvável pra alguém que tinha acabado de completar 18 anos, ainda assim estava sedento por mais. Assim como meu pai, também queria ter o privilégio de entrar no Cofre de Obsidiana pra esperançosamente obter um emblema. Esperava voltar para Alacrya. Sabia que meu pai sobreviveria aos testes que o Cofre de Obsidiana dava àqueles que entravam e eu não queria nada mais além de ver com que tipo de emblema ele sairia de lá. Talvez seja abençoado com uma lendária regalia.

Embora jovem, ele ainda era apenas um mago de nível intermediário afinal, o mesmo que eu, embora duas vezes a minha idade. Enquanto respeitava sua força e talento, ele ainda era um escudo. Me permiti um leve sorriso que durou apenas um breve segundo quando um estrondo retumbou à distância. Com meus sentidos básicos aprimorados pela minha crista, pude ouvir os gritos fracos que só poderiam ser dos elfos patrulhando a área. Olhando para trás para ter certeza de que o artefato de sinalização estava no lugar para nos guiar de volta para fora da floresta, me preparei.

— Atacar! — rugi, revestindo todo meu corpo em mana, outra vantagem da minha crista recém-adquirida.

Os não-magos atacaram sem nenhuma dúvida ou relutância, enquanto até os magos avançavam com vigor incomum. Levando apenas um rápido momento para olhar para baixo, percebi que era provavelmente o brilho suave que emanava do meu corpo que enchia minhas tropas de confiança. Confiança que resultou de minha força e mentalidade. Não importava se os Dicathiens tivessem magia estranha e versátil. Para mim, essa era apenas uma missão a cumprir e a receber mais conquistas, conquistas que favoreceriam meu sangue esperando por mim em casa.

Atravessei o labirinto de árvores, incapaz de ver meus próprios pés por causa da densa névoa. No entanto, foi fácil identificar a batalha entre os elfos e os animais de mana corrompidos que havíamos libertado em suas terras.

Embora em menor número, os elfos estavam se mantendo muito bem contra as bestas corrompidas. Flechas brilhantes disparadas com precisão surpreendente caíram, besta após besta, pequena ou grande. Vários soldados élficos conseguiram controlar as árvores ao seu redor para prender e sufocar várias das bestas maiores.

Um mago inimigo se destacou. Uma mulher mais velha, com cabelos loiros, que escorria do capacete. Ela não tinha armas, mas de suas mãos saíam lâminas mortais de vento capazes de cortar várias bestas de uma só vez.

Esse era o meu alvo.

— Seren, foque escudos em mim e fique longe com Mari. Sentine… Ashton, fique perto deles e retransmita minha posição, caso eu esteja em perigo. — ordenei, acelerando meu ritmo. Painéis poligonais de mana pairavam ao meu redor, prontos para se defender contra qualquer projétil enquanto um zumbido fraco soava por trás, conforme Mari começava a carregar sua magia.

Canalizei mana através da minha crista, uma ação que era tão natural quanto respirar agora. Desembainhando minha espada, fortalecida por um instalador famoso, acendi a arma com um fogo irregular que rasgava e cauterizava ao invés de queimar.

Circulei mais mana pela minha crista e pelo resto do meu corpo para fortalecer meus membros. O poder correu através de mim enquanto corria para frente da batalha como um verdadeiro atacante. Minha espada vibrou, brilhando como um farol para minhas tropas quando me aproximei do primeiro elfo no meu caminho.

O elfo magro, com cabelos curtos e sobrancelhas severas, virou-se para mim, arregalando os olhos. Sua boca se moveu e o vento começou a se acumular em torno de suas adagas duplas, mas era tarde demais.

Acho que é verdade que os magos de Dicathen, embora versáteis, são lentos. Que ineficiente e primitivo.

Minha espada rasgou os punhais que ele havia cruzado para se defender antes de cortar seu torso. Inesperadamente, senti minha espada passar por uma camada de mana.

Então até magos fracos como ele são capazes de se vestir de mana. Que estranho.

Não desperdicei outra respiração quando finalizei o elfo debilitado. Tomando um rápido momento para olhar em volta, vi que muitos dos meus magos já tinham se envolvido com os elfos inimigos. Como previsto, as marés estavam mudando rapidamente a nosso favor. Os animais corrompidos eram mortais por não se importarem com sua própria segurança e atacaram cruelmente qualquer coisa em seu caminho.

Quando me aproximei da elfa usando magia de lâmina de vento, a voz de Ashton tocou mais uma vez na minha cabeça.

— Suas leituras de mana são um pouco diferentes, ma-mas ela deve estar no nível inferior de um mago de nível intermediário. Sua conjuradora está preparando o feitiço para alvo único. Prossiga com cautela e informarei quando sair do caminho.

Então é assim que é ter uma sentinela, mesmo uma mais ou menos. Não é à toa que eles são considerados valiosos, apesar de não terem uma única forma de magia ofensiva ou defensiva.

A magia de chamas que tinha sido desbloqueada através da minha marca na cerimônia de despertar permitiu que minhas chamas assumissem uma qualidade irregular que arrancava qualquer coisa em seu caminho. Uma rara marca intermediária. No entanto, depois de ter dominado essa magia a ponto de evoluí-la para uma crista, consegui utilizá-la de uma maneira totalmente nova.

Abaixando minha velocidade, embainhei minha espada e circulei mais mana pela minha crista. Meu corpo entrou em erupção, cobrindo-me com uma armadura de fogo enquanto liberava quatro foices flutuantes de chamas irregulares. Elas orbitavam ao meu redor, prontas para atacar com um pensamento, ao mesmo tempo em que me concentrava inteiramente em controlá-las.

A elfa, vestida em uma armadura, soltou outra lâmina de vento, matando mais duas bestas antes de voltar toda a sua atenção para mim.

Ao contrário do elfo anterior que acabei de matar, sua boca não se mexeu enquanto soltava uma lâmina de vento em mim.

— Es-escudo preparado para proteger o ataque. Prossiga. — informou a sentinela.

Me movi, meu movimento fortalecido pelas chamas que envolviam meu corpo. Os escudos poligonais em camadas na minha frente, preparados para enfrentar a lâmina de vento. O primeiro painel quebrou com o impacto e o segundo se rachou, mas resistiu ao ataque antes que o vento se dissipasse.

Usando essa oportunidade, pude entrar no alcance para enviar minhas foices para o meu oponente.

— Uma flecha vinda da esquerda. Pato!

Sem hesitar, caí no chão. Isso quebrou minha concentração em controlar as foices voadoras de chamas, mas fui capaz de desviar da flecha revestida em mana que zunia sobre mim. Apenas pelo som que ele fez, sabia que contar de novo com o escudo era um risco que era melhor não correr.

Preciso terminar isso rápido. Não quero desperdiçar muita mana em apenas um único inimigo. A desvantagem de usar a forma completa da minha crista era que era preciso muita mana para mantê-la. Sem mencionar que cada uma das três foices pegou mana adicional para se manter, algo que eu precisava melhorar se quisesse controlar mais foices.

Empurrando com as mãos e os pés, corri em direção à elfa, que estava prestes a soltar outra lâmina.

Enviei uma única foice nas mãos dela reunidas. Apesar da velocidade do meu ataque repentino, ela conseguiu se esquivar da foice a tempo de salvar suas mãos de serem cortadas. No entanto, isso me permitiu enterrar um punho coberto de chamas diretamente em seu peitoral, quebrando-o e fazendo-a voar para trás e em uma árvore.

Liberando minha forma revestida de chamas para poupar mana, puxei minha lâmina para acabar com a elfa quando uma presença aterrorizante se agarrou a minha própria alma.

— S-S-Steffen. Sa-Saia daí. Agora!

Eu queria. Eu não queria nada além de sair daqui, mas me vi de joelhos, agarrando meu peito porque não conseguia respirar.

O que em nome do Grande Vritra é essa presença sufocante?

Tentei me arrastar para longe, isso era tudo que eu conseguia. Nem me importei em manter as aparências. Se eu não saísse daqui, sabia que nem iria viver para sentir vergonha.

Foi quando uma pessoa pousou na minha frente.

Eu olhei para cima e vi o garoto, seus longos cabelos ruivos amarrados atrás dele com olhos azuis impressionantes que irradiavam poder. Ele olhou para mim com um aborrecimento que nem sequer foi direcionado a mim.

Eu era filho de Karnal Vale, herdeiro da Casa dos Vale, mas na frente desse garoto que não parecia mais velho que eu, eu não era nada.

Meu corpo tremia e convulsionava quando um poder palpável irradiava dele e pesava sobre mim.

Só então, entretanto, ouvi um leve zumbido antes que um raio de puro gelo bombardeasse o garoto. Me encolhi e tentei rolar para evitar ser pego na explosão.

Uma sensação fugaz de esperança me permitiu voltar às minhas pernas enquanto tentava fugir, mas antes que eu pudesse dar dois passos, uma dor lancinante irradiava do meu braço direito e o chão deslizou debaixo de mim.

Caí para frente, incapaz de me levantar. Olhando atrás de mim, só podia ver uma poça de carmesim se espalhando de onde meu braço costumava estar. Desesperado, usei meu único braço bom para tentar rastejar, ainda incapaz de me levantar. Meus olhos procuraram meus companheiros de equipe, apenas para ver Seren, Mari e Ashton fugindo.

Minha visão esmaeceu quando me vi no nível dos olhos com as raízes brotando do chão, meus últimos pensamentos sendo que não era esperado que acabasse assim.

 

POV ARTHUR LEYWIN

Examinei meu entorno. A exuberante floresta verde estava salpicada de sangue e cadáveres. Até a névoa espessa fez pouco para encobrir os vestígios da batalha.

— Obrigado, general Arthur, por sua ajuda… — disse a elfa que eu mal havia salvado, sua voz rouca e com dor.

Meus olhos caíram para os soldados élficos que morreram tentando proteger seu lar.

— Sinto muito por não poder vir mais cedo. Tudo isso poderia ter sido evitado se eu tivesse chegado antes que os animais fossem reunidos na floresta.

A elfa balançou a cabeça.

— Por favor, não peça desculpas. O resultado dessa batalha teria sido muito diferente se você não tivesse chegado. Agora, se você me dá licença, tenho que ajudar e reunir meus homens.

Mantendo a armadura dela, a elfa correu, procurando por quaisquer sinais de vida enquanto mais elfos chegavam para ajudar.

Foi isso que Agrona quis dizer quando disse que a guerra está progredindo para o próximo estágio?

Isso marcou o primeiro ataque ao território élfico e, mesmo que esse ataque em particular tivesse falhado, ele havia cumprido sua função.

Até agora, apenas Sapin havia sofrido o impacto do ataque, o que facilitava a alocação de recursos para um local central, mas agora que nossos inimigos estão atingindo também outros lugares, como o Conselho escolheria lidar com isso?

Vou ter que checar a General Aya para ver se precisa de ajuda, pensei antes de olhar para o Alacryano que consegui manter vivo. Tinha cortado seu braço dominante, mas de outra forma o manteve capaz. Quanto mais saudável ele estava agora, mais tempo ele duraria durante a extração de informações.

— Vocês. Soldado carregando as armas. — gritei para um elfo próximo designado para recolher os pertences de seus camaradas caídos.

O jovem elfo olhou para as armas em seus braços antes de perceber que ele era o único a ser chamado.

— S-Sim, general Arthur?

Apontei para o Alacryano no chão.

— Traga este cara para o acampamento e enfaixe suas feridas para que ele não sangre.

Havia um olhar de desdém que passou pelo rosto do elfo, mas rapidamente o escondeu e inclinou a cabeça em compreensão.

— Ah, e certifique-se de que ele não se mate antes de eu o interrogar. — acrescentei quando o elfo pegou o inimigo ferido.

— Sim, senhor! — disse com renovado vigor, sabendo que seu inimigo talvez tivesse um destino pior que a morte.

——————————————————————————————————————–

Nota: É referido às pessoas que protegem os conjuradores de escudos como “unads”, que seriam pessoas “sem adornos” e, no contexto de Alacrya, seriam pessoas sem aquelas cristas que permitem o uso da magia, será referido a eles como “sem adornos”. Pelo contexto, os “sem adornos” é como um tipo de insulto.

Guia para entender o exército e níveis de poder em Alacrya:

Atacante – um mago que luta na ofensiva.

Escudo – um mago que foca somente na proteção do atacante.

Sentinela – um mago especializado em detectar e localizar.

Quando se fala em sangue, está falando sobre família/clã/linhagem do Alacryano em questão.

A ordem das runas baseadas na força, em ordem crescente, é: marca, crista, emblema e regalia.

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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