O Começo Depois do Fim

O Começo Depois do Fim – Cap. 130 – Reunião

Vendo o rosto familiar de Helen Shard, líder dos Chifres Gêmeos que o pai de Art um dia havia liderado, acenei animadamente para ela e para o resto dos Chifres Gêmeos atrás dela. 

— Oi pessoal!

Dei um grande abraço na líder dos Chifres Gêmeos antes de cumprimentar o resto de sua equipe.

— Gente, eu gostaria que vocês conhecessem Helen Shard, Durden Walker, Jasmine Flamesworth, Adam Krensh e Angela Rose dos Chifres Gêmeos. Já falei sobre eles antes, certo? 

Apontei para os meus companheiros de equipe, apresentando-os também. 

— Esses são Caria Rede, Darvus Clarell e Stannard Berwick.

— É um prazer conhecê-la, Madame. — Darvus correu para apertar a mão de Angela, a feiticeira dos Chifres Gêmeos. — Darvus Clarell, quarto filho de Darius Clarell, e devo dizer que você é uma visão e tanto, para esses meus olhos doloridos.

— Ugh, típico. — Sussurrou Caria. — Ele vai direto para aquela com os grandes… 

Ela não terminou sua frase enquanto simplesmente segurava o espaço na frente de seu peito exageradamente.

Olhei para os meus próprios seios. Nunca realmente me importei com a minha aparência, mas olhando para os dois garotos praticamente babando sobre a figura feminina de Angela, não pude deixar de me perguntar se até Art preferia…

— Há quanto tempo você está aqui, princesa? — A voz de Helen me trouxe de volta à realidade.

— Hã? Ah, estamos aqui há cerca de três meses, eu acho. — Respondi. — E por favor, me chame de Tessia.

— Desculpe. Nós apenas nos vimos algumas vezes e elas foram todas breves, então eu pensei que seria rude. — riu.

— Você acabou de chegar? — perguntei, meus olhos mudando para a visão de ambos Stannard e Darvus tentando flertar com Angela.

— Esta tarde. Estávamos na muralha por cerca de quatro meses antes de nossa equipe ser enviada para cá para ajudar com a escolta. — Explicou enquanto fazia sinal para ela se sentar ao meu lado em torno do fogo crepitante.

A Muralha era como todo mundo chamava o trecho de fortes construídos ao longo das Grandes Montanhas para garantir que a batalha não chegasse ao outro lado. Enquanto sabia que as forças Alacryanas poderiam estar invadindo da costa ocidental, o Vovô disse a todos, inclusive a mim mesma, para explicitamente manter isso em segredo até que as preparações adequadas tivessem sido feitas.

Felizmente, as comunicações com os anões estavam indo bem nesses últimos meses e eles concordaram em deixar os humanos e os elfos se abrigarem em seu reino subterrâneo, se necessário.

Ninguém esperava que chegasse àquele estágio, especialmente aos elfos, porque a distância entre o Reino de Darv e o Reino de Elenoir fazia com que apenas teletransportes pudessem ser usados. Por enquanto, muitas das tribos ao longo da metade sul de Elenoir haviam migrado através da Floresta Elshire e das Grandes Montanhas, perto das cidades centrais de Sapin. Por enquanto, o plano do Vovô, assim como o resto do Conselho, era retirar o máximo de civis possível da costa ocidental e ficar longe da Clareira das Bestas.

— Como é lutar ao longo da Muralha, Helen? — Perguntei, curiosa sobre onde ocorriam muitos dos principais combates. — Você já lutou contra magos alacryanos?

— Sim. — respondeu severamente. — As forças de Alacrya são poderosas. Na Muralha, não são apenas os soldados Alacryanos que temos que lutar, mas as bestas de mana que eles de alguma forma colocaram sob seu controle também.

— Entendo. — olhei para a minha espada, insatisfeita que a única luta que eu tive desde que tinha entrado na guerra era contra as bestas de mana sob o controle das forças Alacryanas.

Percebendo o olhar no meu rosto, Helen acrescentou: 

— Mas as batalhas que estão acontecendo aqui são tão importantes quanto, talvez até mais, confie em mim. Quanto mais bestas de mana nós matarmos aqui, menos haverá na superfície. E se encontrarmos e matarmos um mutante, as forças de Alacrya perderão centenas de fantoches lutando por eles.

Assenti silenciosamente em resposta. Sabia que ganhar as lutas por aqui era crucial para essa guerra. A principal tarefa dos soldados reunidos aqui era encontrar o mutante nas profundezas da masmorra. Mutantes eram bestas de mana, principalmente líderes de sua própria masmorra, que eram controladas pelos alacryanos. Eles usavam o mutante para controlar as centenas de bestas de mana que o serviam. Enquanto esses mutantes existissem, bestas de mana de sua espécie os seguiam, lutando ao lado dos soldados Alacryanos.

Havia dúzias de esquadrões lá, bem no fundo de várias masmorras, tentando encontrar e matar os mutantes antes que juntassem bestas de mana suficientes e avançassem em direção à Muralha.

Normalmente, não haveria tantos soldados dentro de uma masmorra, mas um de nossos batedores encontrou sinais de que uma besta de mana de classe S havia se transformado em um mutante.

— De qualquer forma. Porque o mutante escondido aqui dentro é supostamente uma besta de mana da classe S, seu avô mandou mais magos para cá, e é por isso que estamos aqui! — O grande homem chamado Durden entrou na conversa.

— Agradeço aos céus por isso. E para o querido avô por trazer um anjo tão justo para os meus braços. — Acrescentou Darvus, passando um braço pelas costas de Angela.

Angela apenas riu, considerando Darvus como um filhote fofo, quando Caria deu um tapa na cabeça de Darvus e o arrastou para longe, onde poderia manter suas mãos para si mesmo.

Stannard, que havia sido ridicularizado por Angela quando ela arrulhou e acariciou sua cabeça como um animal de estimação, se moveu ao lado de Durden, brincando com sua arma em forma de besta com uma carranca no rosto.

— Conte-me mais sobre as lutas que acontecem em frente à muralha, Helen. — Voltei para a líder dos Chifres Gêmeos.

— Olha, princesa… Adam Krensh cuspiu. — As brigas que acontecem na muralha não são histórias de ninar que sua babá lê para você dentro de sua cama de dossel. É guerra! Pessoas morrem, dos dois lados.

O portador de lança com uma cabeça de cabelo ruivo que parecia o fogo em que estávamos amontoados olhou para mim como se estivesse repreendendo uma criança. Eu estava prestes a dizer algo quando Durden entrou entre nós. 

— Você não pode levar as palavras de Adam para o coração ou todos nós o teríamos matado mais de uma vez durante seu sono.

Inconscientemente, eu já estava em pé enquanto Durden intervinha. Suas palavras reprimiram minha raiva o suficiente para que eu me sentasse de novo, mas ainda estava encarando o ruivo magrelo. Arthur mencionou como Adam poderia ser quando descreveu os Chifres Gêmeos, mas eu não percebi o quanto eu tinha subestimado suas palavras.

— Adam, vá montar nossas tendas em torno de uma das fogueiras vazias. — Helen ordenou com uma quantidade surpreendente de autoridade em sua voz que não estava lá quando ela estava falando comigo. — Angela, você pode ajudá-lo?

Com uma alegre saudação, ela levou o Adam resmungando para longe do nosso acampamento, deixando apenas Helen, Durden, e Jasmine, que ficou em silêncio desde que chegaram.

— Adam, apesar de como suas palavras saíram daquele músculo defeituoso que ele chama de língua, só disse isso porque ele não queria que você soubesse. — Suspirou Helen. — Você acha que está aqui lutando contra bestas, mas na realidade, os soldados Alacryanos são muito mais monstruosos do que quaisquer bestas de mana aqui. Pelo menos as criaturas que você batalha aqui lutam pela sobrevivência e pelo instinto. Eles lutam para matar e, até certo ponto, isso é misericórdia.

— O que você quer dizer com isso? — Stannard perguntou, seu rosto afastado da arma que estava limpando mais uma vez.

Houve hesitação no rosto de Helen, enquanto tentava fazer o possível para adoçar o que estava prestes a dizer, até que Jasmine se aproximou e explicou por ela.

— A informação é a mais importante em uma guerra. — Disse uniformemente. — Ambos os lados, eles estão tentando obter informações uns dos outros. Isso significa sequestro… tortura.

Ficamos todos em silêncio por um momento, até mesmo a expressão normalmente indiferente de Darvus endureceu.

— Batalhas aqui são preto e branco, bestas são ruins, você é bom. Quando você está lutando contra outros humanos, elfos e anões que podem falar, gritar de dor e implorar por misericórdia… as coisas ficam mais cinzentas e fica difícil distinguir o que é certo e errado. — Jasmine continuou, seu rosto continuava usando uma máscara de pedra apesar de todos os horrores que ela estava descrevendo.

A atmosfera uma vez animada de uma reunião ficou tensa quando troquei olhares com meus companheiros de equipe.

De repente, uma série de altos estrondos fez com que todos nós virássemos a cabeça para uma das entradas bloqueadas que levavam mais fundo à masmorra.

— Por favor, depressa, deixe-me entrar! 

Uma voz abafada gritou por detrás de uma das portas. A sentinela encarregada daquela entrada rapidamente verificou a identidade do homem antes de abrir a porta.

A caverna inteira estava mortalmente silenciosa, enquanto todos que estavam estacionados dentro ou descansando depois de uma excursão estavam de pé, suas mãos segurando suas armas e seus olhares focados na entrada.

Quando as duas pesadas portas se separaram, o homem que gritara do outro lado caiu inconsciente.

— Isso acontece com frequência? 

Helen perguntou, seu arco pronto na mão enquanto sua outra mão já estava em sua aljava.

— Não, não acontece. 

Respondi, minha mão apoiada no pomo da minha espada.

A sentinela imediatamente puxou o batedor para dentro antes de fechar as portas.

— Me consiga um médico! — A sentinela rugiu, erguendo o batedor ensanguentado em seus ombros. Não havia emissores estacionados aqui, já que a maioria estava na muralha, curando os feridos lá. No entanto, sempre houve algumas pessoas bem adeptas de tratamento médico.

— Você quer ver o que é tudo isso? — Stannard olhou para mim.

— Nós temos a autorização para entrar? — Helen perguntou, o pescoço esticado para fora para ver.

— Ser uma princesa é uma espécie de autorização, certo? — Darvus deu de ombros, ansioso para saber o que havia acontecido.

Deixando escapar um suspiro, fiz sinal para me seguirem. 

— Nem todo mundo, no entanto.

Eventualmente, Helen e Stannard se ofereceram para vir comigo. Chegando à tenda de dossel branca na parede oposta das entradas e mais próximo da saída de volta à superfície, dois guardas nos impediram de entrar antes de reconhecer quem eu era.

— P-princesa. O que te trás aqui? Você está ferida? 

O maior dos dois guardas de armadura perguntou, abaixando a cabeça para olhar melhor para mim.

— Não. Eu conheço o batedor que acabou de chegar e estou preocupada com ele. Você se importa em nos deixar passar? — menti, dando-lhe um sorriso solene.

Os dois guardas trocaram olhares hesitantes, mas acabaram abrindo a lona removível que servia de entrada.

Esperava muito mais barulho acontecendo lá dentro, especialmente pela chocante entrada do batedor, mas a tenda estava vazia, exceto pelo médico lá dentro, seu assistente, o líder de nossa expedição e o batedor, que ainda estava inconsciente, na cama.

Em nossa chegada lá dentro, o assistente e o líder da expedição, um ajudante de peito de barril chamado Dresh Lambert, levantaram-se de seus assentos.

— Princesa? O que aconteceu? Você está ferida? — Dresh perguntou, preocupação gravada em sua face. Seu rosto virou-se para Stannard, depois Helen antes de seu rosto se iluminar. — Helen Shard?

— Prazer em revê-lo, Dresh, ou acho que devo chamá-lo de líder, certo? — Helen se aproximou e apertou a mão do homem corpulento, cuja armadura parecia conter seus músculos em vez de protegê-los.

— Haha, por favor, você é mais do que apta para tomar o meu lugar e muito mais. Seu sorriso desapareceu quando nos olhou maravilhado. — Então, o que traz vocês dois aqui? Está tudo bem?

— Não se preocupe, Líder, está tudo bem. — balancei a cabeça.

— A princesa aqui provavelmente está curiosa sobre as novidades que nosso pequeno príncipe adormecido nos trouxe, certo? — Disse a médica, uma mulher idosa com um palpite e um rosto naturalmente carrancudo, confirmou.

— Haha, eu não posso esconder nada de você, Senhora Albreda. — virei a cabeça.

— Bah! Será que esta pobre desculpa de um centro de tratamento parece um ponto de fofoca para você? — resmungou enquanto organizava uma prateleira cheia de ervas e plantas.

— Claro que não. — Helen entrou na conversa. — Mas eu fui trazida aqui com a minha equipe para ajudar a encontrar a fera da classe S que foi transformada em um mutante e enviar atualizações para os meus superiores de volta à muralha periodicamente. Pensei em descobrir mais rápido o que estava acontecendo conversando com esse cara. — Helen apontou para o homem inconsciente deitado na cama com os olhos.

— Certo. Você estaria certa em pensar isso, mas infelizmente ele ainda não acordou. — Dresh suspirou, olhando por cima do ombro para o batedor dormindo pacificamente.

Stannard aproximou-se cuidadosamente do homem. 

— O que aconteceu com ele?

— Desidratação e fadiga massiva. O rapaz não está ferido, mas parece que não teve nada para comer ou beber por alguns dias e pelo estado de seus pés, eu diria que esteve correndo sem parar por quem sabe quanto tempo. — A senhora Albreda levantou os lençóis para revelar os pés enfaixados do batedor, manchas de vermelho já se infiltrando na gaze.

— Entendo. — Helen respondeu. — Dresh, você pode nos avisar assim que ele acordar?

— Claro. — O líder desta expedição de masmorras assentiu.

Quando estávamos prestes a sair da tenda, no entanto, um suspiro agudo nos fez voltar. O batedor tinha se levantado com uma série de tosses secas.

— Q-quanto tempo estive apagado? O batedor disse entre os ataques.

— Acalme-se, soldado. Um dos sentinelas reconheceu você; seu nome é Sayer, certo? — Dresh tinha o braço atrás das costas de Sayer, apoiando o batedor.

— Sim, senhor. — respondeu antes de engolir o copo de água que o assistente tinha acabado de entregar a ele.

— Bem, Sayer, faz apenas dez minutos desde que você voltou. O que aconteceu? Onde está o resto da sua equipe? — Questionou o nosso líder da expedição.

— Mortos, senhor. Eu tinha ficado para trás… — O batedor chamado Sayer hesitou. — Eu tive um desentendimento com meus companheiros de equipe, então eu tinha ficado para trás.

— Desentendimento? — Repetiu Dresh.

— Eu me senti péssimo por deixar meus companheiros de equipe irem mais fundo sozinhos, então eu os segui quase imediatamente depois que foram embora! 

Sayer acrescentou, a culpa praticamente gravada em sua testa. 

— Mas eles, sem saber, entraram em uma emboscada de gnolls muito mais mortais do que os que estão aqui em cima, senhor.

Todos na tenda ficaram em silêncio enquanto processávamos as palavras de Sayer.

— Devia ter centenas deles, senhor. E havia essa grande porta atrás deles. Como se estivessem protegendo o que quer que estivesse do outro lado! — O batedor gaguejou, tomando outro grande gole de água antes de continuar. — Acho que encontramos, senhor. Acho que encontramos a toca do mutante!

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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