O Começo Depois do Fim

O Começo Depois do Fim – Cap. 123 – Batalhas em vários cenários

 

— Espere, você fez essa espada? — disse com óbvio ceticismo. Desde que me deparei com uma espada tão misteriosa, sempre me perguntava quem seria esse “WK IV”. Mais de uma vez vasculhei a biblioteca da Academia Xyrus na esperança de encontrar o ferreiro com essas iniciais, apenas para ficar desapontado.

— Estou falando um idioma diferente? — Wren respondeu secamente, seus olhos ainda inspecionando a Canção do Amanhecer.

Ignorando sua piada, mudei de abordagem.

— Certo, supondo que você forjou esta espada, o que estava fazendo em Dicathen?

Até agora, tinha entendido que minha espada era de origem anã por causa de sua especialidade neste ofício. Um homem com uma barba e braços esbugalhados, cobertos de cabelos e mãos endurecidas com calos, sempre vinham à mente ao imaginar o criador da Canção do Amanhecer; o estereótipo típico associado a ferreiros e outros metalúrgicos. Em vez disso, esse homem ossudo que parecia estar cansado de segurar uma caneta por muito tempo afirmou que ele havia forjado essa espada.

— A Canção do Amanhecer foi uma das minhas armas experimentais, mais ou menos um fracasso. Joguei-a nas Clareiras das Feras do seu continente em uma das minhas visitas para coletar minerais, assumindo que ninguém seria capaz de dizer que era outra coisa senão um bastão preto, muito menos abri-lo. Pensar que de alguma forma acabou em sua posse… Quais são as probabilidades?

O Asura começou a calcular a probabilidade, mas o interrompi antes disso.

— Uma falha? Nunca vi uma espada de melhor qualidade e fabricação na minha vida. O que a torna um fracasso? — pressionei.

— Por mais que suas palavras sejam um elogio, comparando minhas armas, não importa quão pobres sejam em qualidade, com as ferramentas primitivas usadas por vocês raças menores apenas me insultam. estalou a língua. — Forjei essa espada como uma arma que serve para todos. Devia estar bêbado quando achei que era uma boa ideia. Essa espada acabou se tornando uma ferramenta afiada, nada mais, nada menos. — Wren finalmente retirou seus olhos da espada e trocou olhares com Windsom. — Mas isso torna as coisas interessantes.

Olhando por cima do ombro, pude ver o rosto estoico de Windsom se abrir em um sorriso quando respondeu: — Pensei que poderia. Então, o que você acha depois de conhecê-lo? Você vai fazer isso?

— O que está acontecendo? — interrompi, perdido.

Comecei a ficar com medo de que o Asura pudesse pegar sua arma ou até mesmo descartá-la completamente por causa de seu orgulho. Não havia dúvida de que nunca encontraria uma espada dessa qualidade, apesar de ser um “fracasso”.

— Arthur, eu trouxe você aqui à Wren para realizar duas coisas. O primeiro, havia mencionado anteriormente. Embora seus métodos não sejam convencionais, Wren tem um olho afiado na teoria prática do combate. A segunda razão estava na esperança de que produzisse uma espada que fosse mais apta para sua própria forma única de combate.

— Isso é verdade? — me virei para Wren. — Você realmente forjará uma espada para mim?

— Não forjo espadas, pirralho. Eu as crio. E só vim treiná-lo porque devo um favor ao lorde Indrath. Seu favor não se estende ao desperdício de meu tempo, fazendo uma espada para um ser menor. — Wren voltou Canção do Amanhecer na bainha. — De qualquer forma, vou segurar essa espada por enquanto.

— Por enquanto? Então você me devolverá? — Confirmei ainda apreensivo.

— Rapaz, a Canção do Amanhecer pode ser apenas uma ferramenta afiada, mas ainda assim você escolheu. Não tenho orgulho desta peça em particular, mas não vou tirá-la de você. — respondeu.

O Asura então esticou o braço na frente dele e uma espada emergiu subitamente do chão abaixo. Agarrando a espada pelo punho, ele a jogou para mim.

— Por enquanto, use isso durante o treinamento. A criei para medir os movimentos que o usuário produz e a força de impacto que recebe.

— E você pode simplesmente invocá-la do chão a qualquer momento? — perguntei, segurando a espada curta aparentemente normal em minhas mãos.

— De tudo o que eu fiz até agora, você está surpreso com isso? — Wren balançou a cabeça, apontando a mão para mim. — Deixe-me também segurar a pena do dragão.

— O quê? Por que isso também? — Recuei, apertando a mão sobre o braço para cobrir a pena branca.

— Você tem um desejo inato de questionar tudo o que faço? — o Asura curvado resmungou.

Relutantemente, entreguei a pena branca a Wren, arranhando a cicatriz que recebi depois de ter feito o vínculo com Sylvie. Sem a pena para cobrir senti-me nu, como se minha pele tivesse sido removida.

Wren enfiou a pena no casaco.

— Agora, eu sei que vocês, seres menores, precisam de muito mais sono do que nós, então descanse um pouco.

— Espere, então estamos passando a noite aqui no centro desta cratera estéril? — perguntei, olhando em volta.

— Quem disse algo sobre nós? Windsom e eu temos assuntos a tratar. Além disso, nem sempre haverá uma cama macia esperando por você durante a guerra, então estou fazendo isso por você. — O Asura tinha um sorriso malicioso no rosto quando Windsom conjurou um portão de teletransporte.

— Tente descansar um pouco, Arthur. — aconselhou Windsom antes de entrar no portão.

Quando as runas brilhantes que faziam o círculo de teletransporte desapareceram, ficou assustadoramente silencioso. Os assobios ocasionais do vento eram os únicos sons a serem ouvidos quando soltei um suspiro. Vestindo minhas roupas empoeiradas, conjurei duas lajes de terra para formar uma barraca improvisada.

Devo ter sido nocauteado assim que deitei minha cabeça contra a pilha de pedras que eu tinha reunido, porque um tremor violento me fez bater a cabeça contra meu travesseiro de pedra, me acordando de dor. Abaixei a tenda de pedra que havia criado, para me assustar ao ver inúmeros golens rodeando meu acampamento. Cada um deles empunhava uma arma diferente, mas todos erguiam suas armas acima de suas cabeças de pedra e desciam em uníssono.

Meu corpo agiu no piloto automático quando instintivamente levantei uma cúpula de terra para me proteger. Com um baque explosivo, a cúpula desmoronou e os destroços caíram em cima de mim. Ainda estava atordoado com a situação quando a voz amplificada de Wren ressoou de cima.

— Você nunca estará verdadeiramente em repouso enquanto estiver no meio de uma guerra, garoto. Você precisa se acostumar a lutar efetivamente em um estado abaixo do ideal. Agora, tire a roupa e retome a batalha.

— Que lunático maldito. — amaldiçoei.

Ainda podia ouvir os movimentos dos golens ao meu redor, esperando que eu voltasse.

Reunindo mana ao meu redor, esperei que eles se aproximassem o mais perto possível. Uma vez que os passos deles estavam ao alcance, soltei meu feitiço.

[Força do Vendaval]

Em vez de apontar para eles, soltei o feitiço no chão abaixo de mim, criando uma grande nuvem de areia e detritos para me cobrir. Alguns dos golens mais próximos foram empurrados de volta à força, dando-me espaço suficiente para manobrar enquanto a areia cobria sua visão de mim.

Eu me joguei no golem mais próximo, levantando minha espada de teste com um golpe fluido. Sabia que Wren queria imitar o ambiente da guerra, então agia como se os golens fossem humanos de verdade. Cortei a jugular do golem e, como esperado, o golem caiu no chão, soltando um líquido vermelho em sua ferida.

Outro golem, este empunhando uma grande alabarda, me atacou por trás. Enquanto abaixava sua posição para lançar sua arma em mim, girei com minha espada em posição de aparar a ponta da alabarda. No entanto, mesmo com um corpo fortalecido com a vontade de Sylvia, fui jogado à força ficando desequilibrado. Girei para aliviar parte do impulso causado pelo golpe, mas não tive tempo de respirar quando outro golem me empurrou com seu escudo de ferro.

Irritado, bati com um soco, meu punho coberto por um raio. O escudo de metal desmoronou e o golem foi jogado no chão. Só então, o golem empunhando a alabarda balançou a arma na minha cabeça.

No entanto, outro golem, de uma cor diferente, bloqueou meu atacante com seu escudo.

— Você terá aliados em batalha, Arthur. Como um dos principais lutadores da batalha, cabe a você decidir escolher a ofensiva, atravessando as fileiras de inimigos, ou ficando perto de sua equipe, mantendo-os vivos.

Vi Wren no alto, flutuando no céu enquanto se sentava em um trono de terra junto com Windsom.

A batalha recomeçou enquanto cadáveres de golem se empilhavam uns sobre os outros no campo de batalha. Imaginei as convocações antropomórficas feitas de pedra como seres humanos. A cena de volta na masmorra, Cripta da Viúva, surgiu na mente, deixando-me um pouco enjoado.

Enquanto as horas passavam, a guerra simulada que Wren me fez suportar começou a cobrar seu preço. Entendi cada vez mais por que ganhar essa experiência foi tão crucial.

Havia experimentado guerras apenas na linha de trás, criando estratégias para diferentes cenários em um nível macro. Agora, estando no meio do campo de batalha, havia tantos fatores que diferiam dos duelos habituais aos quais me acostumara desde a minha vida anterior: os cadáveres e membros cortados pelos quais se podia tropeçar, o sangue que se acumulava no chão para formar poças nas quais se podia escorregar. Mesmo com as cores brilhantes indicando os diferentes lados em que os golens estavam, era fácil acertar acidentalmente em um aliado no calor de uma batalha, criando um peso mental que ataques imprudentes poderiam potencialmente colocar aliados em perigo.

Por mais que eu odiasse dar crédito ao Asura excêntrico, Wren se saiu bem ao criar um ambiente de aprendizado ideal. Não tinha certeza de que tipo de magia ele havia usado, mas o líquido vermelho que os golens sangraram era muito semelhante ao do sangue. Logo, como os cadáveres dos golens inimigos e aliados aumentou e o líquido semelhante ao sangue tingiu o chão, um cheiro ruim exalava o campo de batalha.

Percebi como minhas reservas de mana eram preciosas à medida que as horas de batalha contínua se arrastavam. Mesmo com o meu núcleo de mana no estágio prata e meu uso da rotação de mana, tinha que saber como conservar meu uso de magia. Magias chamativas e de longo alcance eram deixadas para os conjuradores na linha de trás, enquanto usava minha mana me protegendo e apenas em casos de emergência.

Durante toda a batalha, Wren gritava alguns avisos, aconselhando-me a evitar ser encurralado em um canto, enquanto continuava a cortar os golens inimigos. De vez em quando, golens mais fortes que o habitual apareciam, me deixando desprevenido enquanto massacravam os golens do meu lado. Não queria admitir, mas tinha certeza de que Wren poderia facilmente conjurar um golem capaz de me matar, se quisesse.

O dia terminou quando eu fui capaz de derrubar todos os principais golens que Wren tinha sido tão gentil em distinguir com coroas de ouro em cima de suas cabeças.

— Isso foi brutal. — suspirei, deitado no chão.

Estava em um estado quase constante de batalha desde o momento em que fui rudemente acordado, sem chance de comer, beber ou até fazer alguma necessidade.

O jantar foi passado em volta de uma fogueira depois que Wren removeu casualmente os golens e o sangue falso com um golpe de sua mão. Começamos analisando a batalha; Windsom ainda não retornara de onde quer que ele e Wren tivessem ido ontem à noite, então apenas Wren estava presente para apontar os erros que tinha cometido, dos menores aos potencialmente fatais.

— O número total de baixas do seu lado foi de 271 golens, enquanto o outro lado teve 512. Não foi uma vitória impressionante, considerando o nível que eu fiz os golens do lado inimigo. — Wren leu suas anotações.

— Talvez seja porque eles pareçam gorilas de pedra que eu não sinta empatia por eles, independentemente de estarem ou não no meu time. — respondi, mordendo uma substância semelhante ao tofu que Wren me deu para comer.

— Vou manter isso em mente. Vá dormir agora. Amanhã não vai ser mais fácil. — respondeu Wren, enquanto realizava algumas anotações.

Havia me acostumado com a maneira afiada de falar de Wren, como se suas palavras fossem uma mercadoria escassa. Afastando-me dele, conjurei uma cama improvisada de areia macia e esperava que da próxima vez que eu fosse despertado não fosse por um exército de golens.

Meus pensamentos ficaram descontrolados durante esse período de descanso. Pensei no meu papel no mundo anterior. Embora houvesse muitas falhas na maneira como o mundo era governado na minha vida passada, tinha que admitir, as coisas eram mais simples para mim. Quando o resultado de quase todos os problemas se baseava em apenas uma batalha, era preto ou branco. As guerras quase nunca aconteciam, a menos que se tratasse de uma disputa entre países. Mesmo assim, batalhas em grande escala aconteceram em ambientes controlados para minimizar a contagem de mortes. Esta guerra iminente não teria isso. Havia muitos tons de cinza para serem contabilizados.

Especulei sobre os diferentes cenários que poderiam potencialmente acontecer por causa dessa guerra. Quais seriam as baixas? E até que ponto o fim dessa guerra supera a importância dessas baixas? Ponderei. Não tinha ninguém com quem eu me importasse na Terra. No entanto, eu estava disposto a sacrificar meus entes queridos pelo “Bem maior”? Sem dúvida não.

Não me lembro de ter adormecido, mas dificilmente fazia isso ultimamente. Para minha surpresa, consegui uma boa noite de descanso. Enquanto meus braços e pernas doíam do uso excessivo, não havia golens à vista, deixando-me mais desconfiado do que aliviado.

De repente, um grito assustador por trás me fez dar meia-volta. O que eu vi me deixou perplexo tanto quanto me encheu de horror.

Com dois chifres pretos brilhando ameaçadoramente contra o sol da manhã, um Asura do clã Vritra estava sobre mim. Coberto do pescoço para baixo em armadura completamente revestida de preto, o basilisco em forma humana abriu seus lábios em um sorriso triunfante para revelar uma fileira de dentes irregulares e em suas mãos era alguém que pensei que nunca veria aqui.

Eu mal consegui formar uma palavra quando outro grito estridente foi arrancado da refém dos Vritra.

— T-Tess?

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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