Eu me odiava pelo que tinha acontecido. Uma parte de mim desejou ter dito a Arthur que estava tudo bem… que ele ainda era da família.
Mas a maior parte de mim, a parte que eu odiava, desejava que ele nunca tivesse nos contado.
Eu sabia desde o início de sua vida que Arthur era diferente. Sempre foi muito calmo e maduro para a idade, e até quando agiu como sua idade, parecia… ensaiado. Desde o início, suas ações sempre exibiam um certo senso de previsão; sempre havia uma razão para ele fazer alguma coisa, um objetivo ou plano de algum tipo.
Talvez por isso, estava tão envolvido com o motivo dele nos contar isso. Não teria sido melhor para todos, até para ele mesmo, se tivesse mantido isso em segredo? Qual era a razão? Qual era seu objetivo?
Por que foi tão difícil para mim, aceitar isso? Foi porque foi contra o meu próprio orgulho? Meu próprio orgulho egoísta de que talvez, apenas talvez, eu tivesse gerado e criado um gênio que só aparece uma vez a cada milênio?
Os sinais estavam sempre lá. Seu comportamento estranho desde novo, suas proezas inexplicáveis como espadachim e talentos como mago.
Mais uma vez… eu subconscientemente escolhi ignorar todos esses sinais para poder manter meu ego mesquinho? Decidindo apenas aceitar o fato de que minha própria carne e sangue, meu… filho, poderia ser tão impressionante?
Eu não pude deixar de rir de mim mesmo de como era difícil dizer “filho”, um termo tão simples de carinho.
Levei um tempo para arrastar meus pés tristes de volta para a caverna. Olhando em volta, a única que eu pude ver foi a Anciã Rinia, que embalava algo pelo fogo. Olhei para a barraca em que minha esposa e filha estavam, mas por algum motivo não consegui entrar. Em vez disso, sentei-me ao lado de nossa benfeitora.
— Ele foi embora, sabe? — Os olhos da elfa idosa continuaram colados à bagunça de cobertores que ela estava segurando em seus braços enquanto falava.
— Imaginei. — suspirei, me sentindo uma criança sendo repreendida.
— Eu tinha medo do dia em que ele lhe contaria.
— Você sabia, Anciã Rinia? — Tirei meus olhos do fogo e me virei para a elfa sentada ao meu lado.
— Eu vejo muitas coisas, mas apenas com esse garoto eu tenho que moer minha cabeça velha para tentar juntar o que está reservado para ele. — Ela encontrou meu olhar, seus olhos escureceram com cansaço.
— Hehe, ele dificilmente é um garoto. — zombei, inclinando-me para frente, enquanto me perdia nas chamas dançando à minha frente.
— Bah! Ele ainda é uma criança para mim, assim como você também é criança. — Anciã Rinia riu de volta. Recostando-se cuidadosamente em seu assento, continuou. — Eu sempre achei divertido… os preconceitos que as pessoas têm sobre idade e inteligência, que quanto mais velho alguém é, mais sabedoria ele ou ela deve possuir, e quanto mais inteligente alguém é, mais lógico ele ou ela deve ser. Junte essas duas características e o resultado deveria ser alguém frio e calculista, astuto… você não concorda?
Percebendo minha expressão confusa, revelou um sorriso suave, gentilmente pousando no chão o embrulho que estava segurando e se inclinou para mais perto de mim.
— Você me vê como alguém astuta, fria e calculista? — A elfa idosa me deu uma piscadinha.
— Não, claro que não. Mas… eu não entendo o que isso tem a ver com Arthur… – gaguejei de volta, pego de surpresa.
— Você não estava desejando que Arthur tivesse ficado de boca fechada? Que você não se sentiria melhor ignorando quem realmente o garoto é? Aposto que você também estavam se perguntando por que o garoto disse a você em primeiro lugar, certo?
Antes que eu tivesse a oportunidade de responder, a elfa idosa me cutucou suavemente no peito… bem no meu coração.
— O coração continua sendo o maior inimigo do cérebro. Bem, na verdade, para os homens, o inimigo mais formidável do cérebro provavelmente é…
O olhar da Anciã Rinia caiu para abaixo da minha cintura. Quando percebi a que ela estava se referindo, meu instinto imediato foi cruzar as pernas, mas logo me vi rindo ao lado da velha elfa.
A Anciã Rinia se endireitou e continuou.
— Como eu dizia, a emoção “o coração” constantemente se choca com coisas como eficiência, utilidade… qualquer coisa lógica. É isso que nos machuca ou até mesmo mata, mas parece que não conseguimos evitar. Torna-nos menores como indivíduos, mas maiores como grupo.
— Então… Arthur estava agindo mais pela emoção do que pela razão quando nos contou isso?
— Bah! Como eu podia saber o que ele estava pensando? — Ela balançou a cabeça. — Mas eu sei disso. Conheço o garoto desde que ele era uma criança pequena neste mundo e desde então percorreu um longo caminho. Grande parte daquela concha fria dele derreteu lentamente. Talvez sua “saída” tenha sido um grande passo que teve que tomar para sair daquela concha em que encontrou segurança e conforto.
A Anciã Rinia se levantou e se esticou dolorosamente antes de me entregar o maço de lençóis que ela estava embalando.
— Segure isso para mim, para que eu possa preparar um pouco de comida para sua esposa. Suspeito que ela não tenha muito apetite, mas ainda precisa cuidar de seu corpo.
— Obrigado, Anciã. O que é isso, afinal?
Me inclinei um pouco antes de perguntar.
— O mestre de Arthur apenas me disse que era um presente para a família Leywin.
Havia um sorriso misterioso em seu rosto, causando uma curiosidade quanto ao que poderia ser.
Depois de retirar cuidadosamente a camada de cobertores, não pude deixar de ficar boquiaberto.
Era um animal de mana, um animal de mana filhote para ser mais preciso. A pequena criatura parecida com um urso era de cor marrom escura, exceto por duas manchas escuras acima dos olhos que faziam a besta parecer carrancuda e um tufo de pelo branco no peito.
— Awww! Tão bonitinho! Papa, o que é isso? Posso ficar com ela?
A súbita exclamação de Ellie me assustou, quase me fazendo largar a besta de mana.
— Querida, você me assustou! E não tenho certeza se…, — naquele momento, a besta de mana acordou e fixou seu olhar na minha filha. — é uma boa ideia…
Minha voz sumiu quando os olhos da minha filha e da besta começaram a brilhar em um ouro fraco. Fiquei quieto, testemunhando o que eu poderia apenas assumir como o processo de vínculo. Eu ainda tinha que formar um vínculo com um animal de mana, mas Arthur e agora Ellie já tinham.
Suspirei para mim mesmo, reconhecendo amargamente o fato de que seria melhor para minha filha ter um vínculo para protegê-la, enquanto a imagem de mim no topo de um poderoso urso de mana em batalha lentamente desmoronava.
O brilho diminuiu de ambos os olhos quando uma insígnia dourada se imprimiu na clavícula direita da minha filha.
A besta de mana parecida com um urso esticou os braços, como se quisesse ser pega por Ellie, e soltou um gemido suave.
— Hehe! Vou te dar o nome de Boo. — minha filha riu enquanto pegava a besta de mana.
— B-Boo?
Contestei, imaginando a fera de mana que cresceria e seria chamada de algo tão fofo.
— Isso aí! Porque os pontos negros fazem com que pareça que ele está sempre com raiva! Então, Boo! — declarou.
— Vamos ajudar a vovó, Boo!
Minha filha pulou, apenas para parar e virar.
— Oh, certo! Papai, mamãe está acordada.
Imediatamente me levantei e fui para a barraca.
A tenda da Anciã Rinia era muito maior por dentro do que parecia ser do lado de fora. Silenciosamente entrando em nosso quarto que foi separado por outra aba, sorri quando vi minha esposa sentada.
— Como você está se sentindo? — perguntei gentilmente, sentando-me ao lado dela.
— Há quanto tempo eu estou dormindo? — gemeu, esfregando as têmporas.
— Apenas por algumas horas.
Coloquei meu braço em volta dela e a puxei para perto, para que ela pudesse descansar a cabeça no meu ombro.
— O-onde está Arthur? Ele… se foi?
— Sim. — Eu a segurei com força quando ela começou a tremer.
— Eu sou uma pessoa terrível, Rey? — Ela fungou.
— Não, você não é. Por que você pergunta isso?
— Chamei Arthur de doente. Eu não o levei a sério quando nos contou seu segredo… eu não queria levar a sério! — Ela olhou para mim, com os cantos dos olhos cheios de lágrimas.
— Isso é normal. Eu não confiaria em alguém que pudesse aceitar facilmente o que Arthur havia nos dito. — a consolava, passando gentilmente meus dedos pelos cabelos dela.
— Então sou uma pessoa terrível por duvidar se Arthur é nosso filho?
— …
Eu queria dizer que não, mas como eu poderia, quando me chamei de terrível por pensar exatamente a mesma coisa? A dor que eu estava sentindo desde que soube a verdade sobre Arthur, era dos desejos e sonhos egoístas que coloquei na criança que chamei de filho. Alice foi quem realmente deu à luz ao Arthur. Ela passou pelo estresse, desconforto e dor da gravidez por nove meses antes de suportar a agonia do trabalho de parto. Ela cuidou dele, alimentou-o, cuidou dele quando ele estava doente e ensinou-lhe os caminhos deste mundo. Agora, tudo o que sabia sobre a criança acabou por se tornar uma mentira…
Mordi meu lábio trêmulo, tentando ficar em silêncio.
Eu precisava ser o mais forte…
Eu precisava ser aquele em quem minha esposa pudesse confiar…
— Sinto muito. — minha esposa sussurrou de repente. Sua cabeça ainda estava encostada no meu ombro, então eu não sabia dizer que tipo de expressão ela tinha.
— Você não fez nada para se desculpar, querida. Nós… só precisamos de tempo para resolver nossos sentimentos. Arthur sabia disso, e foi por isso que ele nos disse antes de ir embora.
— Por quanto tempo ele ficará fora? — perguntou.
Eu poderia estar ouvindo errado, mas a voz da minha esposa soou um pouco brusca quando perguntou.
— Ele disse que ficará fora por alguns anos. — respondi, esperando que Alice fosse surpreendida. Em vez disso, me deu um leve aceno de cabeça enquanto murmurava: — Entendo.
— Alice, o que há de errado?
Afastei minha esposa a um braço de distância, tentando ver melhor o rosto dela. Seus olhos estavam sem brilho, quase sem vida, enquanto se recusava a fazer contato visual comigo.
— Eu me pergunto como seria nosso filho se Arthur não tivesse assumido o controle. — murmurou, olhando para o chão.
— A-Alice… por favor, não diga isso. Não pergunte algo assim. — eu disse, com voz de choro.
— Ele teria sido corajoso e extrovertido como você? Ou talvez ele tivesse sido um pouco mais cuidadoso e tímido como eu… — ela continuou, com lágrimas rolando pelas bochechas.
— Q-querida, não. Só não… — Lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto, apesar de fazer tudo o que podia para firmar minha voz. — Arthur é… Arthur…
— Arthur é o quê? Nosso filho? — Minha esposa encontrou meus olhos e eu pude ver o quanto ela estava desesperada… como estava perdida. — Se você não percebeu, Rey, não nos referimos a Arthur como nosso filho uma vez desde que começamos a conversar!
Lembrei-me especificamente de abrir a boca, tentando refutar, mas nenhum argumento saiu; sem som, sem palavras… apenas silêncio.
Respirei fundo e enxuguei as lágrimas do rosto de minha esposa antes de falar.
— Assim como é para você, também é difícil para mim, chamar Arthur de filho. Espero que isso mude da próxima vez que o vermos, mas Alice, isso não muda o fato de considerá-lo família há mais de treze anos. Nós rimos, brigamos, comemoramos, derramamos lágrimas juntos. Não foi isso que nos aproximou? Não é o sangue correndo através de nós, não é quem éramos no passado, mas o que passamos juntos?
Abraçando minha esposa com força, continuei falando.
— Lembra quando Arthur sacrificou sua vida por você nas montanhas a caminho de Xyrus? Ele fez isso esperando morrer naquele dia. Você sabe muito bem que ele não teria feito algo assim se não a considerasse importante. Então não vamos insistir no “e se” e vamos tentar aceitar o que está acontecendo ao nosso redor.
Eu podia sentir minha esposa tremendo em meus braços quando caiu e chorou. Agora me lembrei de onde reconheci aquele olhar sem graça e sem vida que Alice tinha nos olhos dela. Foi o mesmo olhar que ela carregou depois que pensamos que Arthur havia morrido. Era ela tentando escapar da realidade.
Ficamos um tempo nos braços um do outro até que nossas lágrimas secaram e nossos soluços foram reduzidos a gemidos suaves.
— Alice, você não é uma pessoa horrível. Acredite, eu pensei pior do que você. Mas vai levar tempo para entendermos isso… — minha voz parou quando eu segurei o rosto da minha esposa e olhei profundamente, estudando todos os detalhes da mulher que eu amava.
— Pare de olhar. Devo parecer nojenta agora. — resmungou, sua voz rouca de tanto chorar.
— Você é linda. — afirmei, encarando seus olhos vermelhos e inchados com o nariz escorrendo.
Minha esposa fechou os olhos suavemente e se inclinou para frente. Pressionei meus lábios suavemente contra os dela quando pude escutar a voz de Ellie do lado de fora da tenda.
— Mamãe! Você está se sentindo melhor agora? Deixa eu te mostrar a Boo!
— Ellie, vem cá, venha brincar com a vovó. Seus pais estão… descansando! Sim, descansando!
Também era possível escutar a voz da Anciã Rinia ao lado de fora da tenda.
— Aww, tudo bem. Vamos, Boo. Vamos brincar com a vovó!
Alice e eu trocamos olhares no que pareceu ser um longo tempo e ela finalmente sorriu.
— O que é esse “Boo” que Ellie está falando? — Minha esposa perguntou, erguendo uma sobrancelha.
— Eu vou te contar mais tarde. — Atirando nela o que deveria ser uma piscadela com meus olhos inchados, limpei outra lágrima perdida de seu rosto e voltei para onde tínhamos parado.
Tradução: Reapers Scans
Revisão: Reapers Scans
QC: Bravo
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