O Começo Depois do Fim

O Começo Depois do Fim – Cap. 103 – Congregação Peculiar

 

POV ARTHUR LEYWIN

Havia uma expressão de divertimento ligeiramente mais leve na sobrancelha levantada dos olhos afiados de Windsom. O asura, ainda vestindo um uniforme militar combinando com um penteado aparado, segurava meu vínculo.

— Sylvie!

Exclamei. Me levantei do meu assento, mas tomei um cuidado extra ao pegá-la das mãos de Windsom. Após uma inspeção cuidadosa, não havia feridas em seu corpo, e pela respiração rítmica, parecia que ela estava simplesmente dormindo.

Soltando um suspiro aliviado, eu cuidadosamente coloquei o dragão adormecido na minha cabeça antes de olhar para o asura diante de mim.

— Obrigado.

Dei a ele um aceno significativo ao qual respondeu com um olhar que os pais dariam ao filho depois que ele ou ela se comportou mal.

— Eu sabia que você era imprudente, mas pensar que você e senhorita Sylvie seriam apanhados tão cedo, e pelos envolvidos com o Vritra. — repreendeu.

— Para ser justo, eu estava salvando a academia dos Vritra. — dei de ombros, como se isso validasse minhas ações.

— Você precisa entender que a sua segurança e a da senhorita Sylvie possuem maior importância.

— Windsom, havia pessoas dentro desta academia, cujo a vida eu considero mais importante que a minha.

Fiquei extremamente sério, refletindo a determinação em minha voz.

Windsom me olhou por um momento antes de falar novamente.

— Essas seriam a princesa elfa?

Perguntou como se já soubesse a resposta.

— Não é apenas ela. — defendi, minha voz saindo muito menos confiante do que eu queria.

— Não importa. — o asura suspirou. — O que está feito está feito. Por falar nisso, o que eu não entendo, é por que o autor desse incidente levou seu amigo Elijah.

— Eu também não sei…

Também estava confuso e não importava quantas vezes eu pensasse dentro da minha cela, não consegui encontrar uma explicação razoável.

— Não sei — repeti. —, mas preciso que você nos ajude a sair daqui, Windsom. Preciso descobrir para onde eles levaram Elijah e…

— E o quê? Salvá-lo? — o asura interrompeu, seus olhos profundos, frios e penetrantes. — Você não pode escapar deste lugar, mas acha que tem a capacidade de salvá-lo?

Depois de soltar um profundo suspiro, abaixou a voz e continuou. — Além disso, eu sei aproximadamente para onde o homem chamado Draneeve levou seu amigo.

— Sério? Onde?

Sem perceber, agarrei sua manga enquanto dizia isso.

— Depois de investigar o artefato deixado na Academia Xyrus, eu suspeito que era um dispositivo de teletransporte que Draneeve usou para escapar junto com seu amigo… o mesmo dispositivo que ele utilizou…

— …para chegar aqui. — terminei a frase, um sentimento de pavor crescendo dentro de mim. — Eles levaram Elijah de volta para Alacrya, não foi?

— Provavelmente. — respondeu, com a voz fria.

Eu caí contra a parede, olhando para os meus pés enquanto nenhum de nós falava por um tempo.

— Windsom, seguindo minha linha de raciocínio, sugeriria que eu seguisse Elijah até Alacrya na esperança de que ainda estivesse vivo para que eu pudesse salvá-lo. Você provavelmente responderia me dizendo que eu nem poderia sonhar com isso, pois seria morto assim que pisasse…

Olhei para ele e um raro momento me ocorreu: eu não tinha a resposta.

— Então o que eu faço?

— Bom, eu não diria que você morreria assim que pisasse. — o asura sorriu levemente, e leves tons de empatia se reproduziram da sua voz normalmente fria. — Mas sim, isso seria suicídio. Felizmente, o peão que o Clã Vritra enviou, foi antes de você chegar, caso contrário, eles seriam muito mais cautelosos com você. A partir de agora, eles têm interesse em você o suficiente para que o desejem em sua posse vivo, mas se descobrirem que você realmente tem a “vontade da besta” da senhora Sylvia, assim como sua filha, tenho medo de que até os asuras tenham dificuldade em manter vocês dois seguros.

— O que devo fazer então? Desistir do meu melhor amigo? — eu retruquei — Pensei na possibilidade de receber ajuda do Rei dos elfos e também sabia que você nos ajudaria a escapar, mas mesmo assim, não haveria um lugar seguro para ficarmos. Considerando que o conselho está trabalhando para os Vritra, eu teria que ficar escondido com minha família, ou me esconder em algum lugar no fundo das Clareiras das Feras.

— Se eu ficar escondido com minha família, não poderei treinar sem revelar meu rastro de mana das lanças, e colocaria em risco minha família e a de Tessia. Se eu escolher ir para as Clareiras das Feras, provavelmente não vou sobreviver o tempo suficiente para concluir qualquer treinamento razoável.

Pensei nos ecos das bestas gigantes de mana que nos atingiram no caminho até aqui e como até as lanças eram cautelosas o suficiente para não seguirem o caminho descaradamente.

— Você parece ter um bom entendimento da situação em questão. — reconheceu o asura, me dando um breve aceno. — Quanto você conseguiu associar os Vritra ao Conselho?

— O suficiente para suspeitar razoavelmente que os mais intimamente ligados aos Vritra são os Greysunders. Os humanos parecem favorecer a opinião dos anões, mas tenho um pressentimento de que estão relutantes. — pensei em voz alta.

— Impressionante. — admitiu Windsom. Deslizando para trás a manga esquerda, o asura olhou para o relógio. — Arthur, já é hora de…

— Quem é você? — Uma voz interrompeu. Windsom e eu viramos a cabeça para ver que era Bairon.

— Parece que ele já terminou de cuidar das coisas. — Windsom murmurou baixinho para si mesmo.

— Como você chegou aqui? — Os olhos da lança se estreitaram quando seu olhar oscilou entre o asura ao meu lado e o dragão que estava em cima da minha cabeça. Apesar de quão precipitado Bairon agiu na minha frente, percebi que era realmente muito cauteloso e equilibrado em circunstâncias normais. Ele analisa Windsom com cuidado, não deixando nenhuma abertura em sua guarda, mesmo estando separados por uma grade reforçada.

— Eu perguntei como você chegou aqui? — Bairon rosnou, com seus olhos grudados no visitante misterioso. — Você está com o outro intruso?

— Sim. — Windsom respondeu de maneira indiferente, dando um passo rumo a lança.

— Então uma explicação não é necessária. — Bairon levantou seu punho como um canhão carregado enquanto a eletricidade acumulada estralava em volta do seu braço.

[Reflexo Relâmpago]

Saltei freneticamente para fora do caminho já sabendo o que estava vindo.

Windsom esqueceu de remover o artefato preso em meu peito que impedia o fluxo de mana. Se eu fosse atingido por aquela magia, não sobraria nem cinzas para enterrar.

Uma esfera condensada de eletricidade que disparou do punho da lança desintegrou as barras de metal reforçado como se fossem de tecido. No entanto, Windsom ficou em sua posição enquanto a magia rapidamente se aproximava dele.

Me preparei para quando a bola de raios atingiria o asura, mas quando a magia de alto nível de Bairon estava para atingir Windsom, o asura simplesmente pegou o feitiço como se fosse uma bola de borracha.

Eu sabia, sem dúvida, que Windsom seria capaz de lidar com o ataque, mas não esperava que fizesse isso tão facilmente.

Esmagando a esfera de eletricidade condensada na palma da mão, virou para mim, fazendo um movimento com a cabeça.

— Parece que temos nossa saída.

Soltei uma risada, mas antes que pudéssemos dizer mais alguma coisa, Bairon já havia alcançado Windsom.

— Criança, não há mais motivo para você lutar comigo.

Disse Windsom friamente enquanto evitava facilmente os ataques e chutes imbuídos de raios. Ao contrário de mim, a magia de raios de Bairon parece consistir principalmente em feitiços externos.

[Lança Trovão]

Bairon ativou um feitiço no meio de seus ataques, conjurando cinco lanças feitas de raios para esfaquear Windsom.

Eu havia me movido dentro da cela para evitar os impactos da luta, mas enquanto continuava observando, parecia que Windsom estava na verdade… entediado.

— Basta.

Com um simples movimento do braço que parecia lento em comparação com a rápida sucessão de ataques de Bairon, o rosto da lança foi enterrado no chão. A cela inteira tremeu quando uma rachadura em formato de teia de aranha dividiu o piso reforçado, sendo a cabeça de Bairon o epicentro.

Desde pegar o feitiço até enterrar o rosto, Windsom estava fazendo um bom trabalho humilhando um dos magos mais fortes do nosso continente.

— Suspiro

Windsom suspirou impaciente, enquanto a lança lutava para libertar a cabeça do chão. Embora o rosto de Bairon estivesse arranhado e um pouco ensanguentado, ele estava inabalado.

— Bairon, chega.

Meus ouvidos se animaram com a voz familiar. Era Varay, a lança feminina que capturou Sylvie e era capaz de lutar contra duas lanças sozinha.

— Eu não entendo. Ele está com o intruso!

Bairon falou, virando-se para encarar sua companheira.

— Ele é uma divindade, não é alguém com quem você deveria estar se dirigindo tão irreverentemente!

Varay retrucou, sua voz era particularmente fria.

— Minhas desculpas, Ó Grande. Nosso Rei humildemente solicita sua presença.

Apesar de saber o que Windsom era, ainda me surpreendeu ver Varay se curvar a alguém. Em comparação, Bairon parecia tão confuso que foi realmente muito divertido.

— D-Divindade?

A lança gaguejou estupidamente.

— Correto. E agora que você sabe o que eu sou, a ignorância não é mais uma desculpa. — respondeu Windsom, olhando bruscamente para Bairon. — Curve-se.

Pelo jeito que a cabeça de Bairon bateu no chão novamente, parecia que Windsom havia feito algo para forçá-lo a se ajoelhar, mas era uma visão agradável.

Fomos levados de volta à sala onde meu julgamento havia acontecido, exceto que desta vez eu não estava acorrentado. Bairon, com muita relutância, quebrou meus grilhões e removeu o artefato que inibia meu fluxo de mana após todo o fiasco terminar.

Um guarda diferente da última vez abriu a porta para nós, revelando as pessoas dentro da sala.

— Bem-vindo.

O Rei Blaine foi o primeiro a falar, levantando-se de sua cadeira. Sua pele, junto com a da rainha Priscilla, era quase doentia quando se sentavam ao redor de uma mesa oval que não existia anteriormente.

Sentados ao lado do Rei e da rainha humanos, estavam os pais de Tess, Alduin e Meralith, junto com a lança encapuzada que me entregara o bilhete na noite anterior. Tanto o Rei quanto a rainha dos elfos me reconheceram com uma saudação desconfortável, mas ficaram calados. Também sentado à mesa, estava a Diretora Cynthia, que usava uma expressão desconcertante para elogiar sua aparência desgrenhada.

Quando fixei meu olhar no homem sentado ao lado dela, sem saber, pulei de volta em guarda. Todos os cabelos do meu corpo se arrepiaram, com todas as fibras do meu ser implorando para fugir do homem idoso com um único olho na testa.

— Arthur. Está tudo bem. — Windsom consolou.

Achei estranho que os Greysunders não estivessem presentes, mas o resto das pessoas dentro da sala, menos a única pessoa que eu não conhecia, se levantaram de seus assentos e deram uma pequena e respeitável reverência a Windsom.

Reconhecendo os gestos deles, fez um sinal para eu me sentar com ele à mesa. Quando me sentei ao lado de Windsom, pude sentir as engrenagens na minha cabeça girando, tentando entender essa situação que tinha em mãos. Aqui estava eu, sentado ao lado do Conselho e de suas lanças, a Diretora Cynthia, que havia sido prisioneira condenada à morte e um homem cuja identidade eu não tinha ideia.

Havia uma tensão palpável na sala, o suficiente para que uma pessoa normal ficasse encharcada de suor e apavorada de medo. Eu tinha colocado Sylvie no meu colo durante esse tempo, acariciando-a para seu conforto, quando ouvi alguém se levantando do assento.

Inesperadamente, quem se levantou foi o homem de quem eu queria instintivamente escapar. Parecia que ele tinha três olhos, mas dois deles estavam fechados. Seus cabelos brancos estavam presos nas costas, lembrando-me de Virion quando o conheci.

— Para quem não sabe quem eu sou. — o olho roxo na testa se concentrava em mim. — sou Aldir.

— Windsom e eu fomos enviados para cá para dar a vocês seres menores, uma chance de sobrevivência na guerra iminente contra os Vritra. — continuou o asura sem pausa.

— Então, como temíamos, realmente haverá uma guerra… — Alduin falou em voz alta como se estivesse simplesmente expressando seus pensamentos.

— Eu terminei o primeiro passo para descartar os corrompidos. Meu papel aqui agora é supervisionar o restante do que vocês seres menores chamam de ‘Conselho’ e instruí-los sobre os preparativos necessários para lutar contra o continente de Alacrya.

Assim que a palavra “corrompidos” saiu, Blaine e Priscilla Glayder congelaram, suas peles ficando ainda mais pálidas.

— V-vossa Majestade. Se eu posso dizer uma coisa…

Blaine foi quem falou e, pela maneira de falar, parecia que algo devia ter acontecido para fazer o Rei parecer tão manso.

— Você nos mostrou claramente suas capacidades, o suficiente para eu acreditar que você não é alguém deste reino. A diferença em nossas habilidades está no ponto em que não sei por que você precisaria de nós. Você não pode simplesmente ir ao continente de Alacrya e derrotar os Vritra?

— O que esse outro asura quis dizer com “descartar os corrompidos”? Inclinei-me para Windsom, sussurrando em seu ouvido.

— Os Greysunders foram eliminados e suas lanças estão agora sob o meu controle, respondeu Aldir no lugar de Windsom.

Tudo fazia sentido. Parecia que os asuras matavam os que trabalhavam diretamente para os Vritra, enquanto deixavam os Glayders com algum tipo de aviso. Por isso que o Rei e a rainha humanos estavam tão nervosos.

— E quanto ao seu argumento, Rei Glayder. Sim, seria simples o suficiente reunir os asuras e lutar pessoalmente contra os Vritra. No entanto, o Clã Vritra, junto com os três outros clãs que estão sob seu comando, são todos ex-asuras que violaram nossa lei. Mesmo nós não podemos calcular o quão mais forte eles se tornaram. Além disso, uma batalha dessa magnitude, sem dúvidas, nivelará o mundo. E isso é minha previsão conservadora. — continuou Aldir, encarando a face do rei assustado.

O Rei Glayder respondeu com um silêncio atordoado, enquanto todos tentávamos imaginar a magnitude de uma batalha que poderia afundar continentes.

Aldir continuou falando:

— Nós asuras e o Clã Vritra, concordamos com um tratado em que nenhum ser superior poderia atacar diretamente um ao outro ou quaisquer seres inferiores em tempos de guerra. Em vez de—

— Espera. O fato de você ter matado dois “seres menores” não vai contra suas palavras? — o cortei.

Os olhos roxos brilhantes do asura se estreitaram quando me encararam, mas depois de um breve momento, os lábios de Aldir se curvaram em um sorriso.

— Dicathen não recebeu ajuda direta de nós asuras, mas agora enfrenta uma população governada diretamente por Agrona dos Vritra. Mesmo com minhas ações, ele não seria precipitado o suficiente para quebrar o tratado simplesmente para nos tirar do jogo.

Windsom respondeu no lugar de Aldir.

— Além disso, — acrescentou Aldir. — a guerra ainda não foi oficialmente declarada.

— E os demônios de chifre preto que estão invadindo nossas terras há anos? Um deles foi responsável por matar uma lança. — retruquei, ainda incapaz de aceitar a atitude irreverente do asura.

— Você está falando sobre o dono desse fragmento?

Foi a diretora Goodsky quem respondeu, segurando o fragmento preto do ser com chifres que matou Alea Triscan.

— Rapaz, vejo que não era mentira quando Windsom disse que você não é simples. O responsável por matar a lança e aqueles que se infiltraram neste continente não são asuras. Esses monstros são seres menores como você, que passaram por inúmeras experiências. — Aldir diz enojado.

— Então, existem monstros que não são asuras, capazes de destruir os magos mais fortes do nosso continente? É possível vencermos?

Merial Eralith falou pela primeira vez.

— Sim, mas eles são limitados e são preciosos trunfos de Agrona nesta guerra. Agora que sabe da minha presença, não os enviará de forma tão imprudente como antes.

Aldir sentou-se novamente, com todo o seu corpo voltado para mim.

— Pense em mim como um general nesta guerra que se aproxima. É para o melhor interesse dos asuras que sejamos capazes de defender este continente. Agora, Windsom, não tem algo que você e o garoto precisam fazer? Eu vou cuidar do resto aqui. Nós necessitamos de incontáveis ​​preparativos antes que possamos nos defender.

Dando um aceno ao asura de três olhos, Windsom me puxou, levando a Sylvie adormecida e eu para fora da sala.

— Algo que temos que fazer, Windsom? Não é importante que participemos da discussão? Não deveríamos estar lá na sala também?

Perguntei enquanto eu seguia o asura.

— Essa não é sua luta. Aldir sabe o que está fazendo e fará o possível para prepará-lo para a guerra iminente. Quando chegar a hora, se você não quer ser um inútil, precisamos de você mais forte.

— Faz sentido. Então o que nós vamos fazer?

— Primeiro, vamos visitar sua família. Você precisará dizer adeus a eles.

As costas do asura ainda estavam voltadas para mim, tornando impossível determinar se ele estava brincando ou não.

— Adeus? Que despedidas? Para onde vou?

Afastei o braço do asura, surpreso quando se virou tão facilmente.

— Vou levar você e lady Sylvie para a terra dos asuras. Seu treinamento será realizado em Epheotus.

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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