O Caçador Imortal de Classe SSS – Vol. 09 – Cap. 217 – A Regra de Ouro (1)

 

Eu precisava perguntar: 

— Por que você fez esse tipo de pessoas suas amantes?

Ametista um dia construiria a Torre e reuniria todas as pessoas abandonadas do universo. As crianças sacrificadas pelo fanatismo religioso, os guerreiros que morreram em um desastre injusto, a mulher cuja vida foi encarcerada em um fenômeno invencível… Ela traria essas vidas abandonadas e arruinadas para a Torre e ofereceria a elas um novo mundo.

Ela construiu a Torre para todas as vítimas do universo.

Então, por que ela tinha assassinas como suas amantes? Olhei para a Viscondessa Ametista, que sorriu para mim.

— O que você quer dizer com “esse tipo de pessoas”? — perguntou Ametista.

— Essas mulheres cometeram crimes graves. Uma chicoteou uma criança até a morte, outra comeu pessoas, e uma delas começou uma guerra que matou inúmeros civis. Por que você as ama? Por que permite que elas mantenham sua nobreza? Você eventualmente construirá a Torre. Está tão perto de ser onipotente, então por que não puni-las?

— Você é uma pessoa muito gentil.

— O quê?

— Aqueles que escalarem a Torre com você serão muito felizes.

Inclinei a cabeça em confusão, mas ela não elaborou mais. Em vez disso, se sentou em uma cadeira e olhou diretamente à frente. Segui seu olhar e continuei observando enquanto a discussão escalava.

— Recomendar alguém que nem tem vinte anos para o ducado é uma piada!

A Condessa Presa do Tigre da Torre, da facção conservadora – que tinha um corte de cabelo como uma juba de leão – parecia irritada.

— A Viscondessa Ametista tem dezoito anos. Dezoito! Não importa quantas rebeliões ou reinos de dragões ela tenha acabado. Há uma hierarquia inegável neste reino.

Desta vez, uma nobre da facção de Ametista falou, mas somente após inalar profundamente uma baforada de seu narguilé.

— Entendo. A Condessa Presa do Tigre da Torre está certa. Eu não conseguia entender por que as rebeliões nas últimas décadas estavam ficando mais fortes a cada dia, sem falar em serem subjugadas… Sinto que meus olhos estão abertos agora que a escutei. Enquanto uma criança de dezoito anos lutava contra os rebeldes, grandes nobres como a Condessa Presa do Tigre da Torre garantiam que o reino estivesse em ordem. Graças a nobres como ela, sei por que o reino prosperou até agora.

Os nobres da facção de Ametista riram.

— Você está certa. Eu estava me culpando por colocar todo o fardo em uma jovem garota, mas deveria ter criticado ela por ousar realizar feitos durante uma guerra.

— Isso mesmo. Se nossa líder de facção não tivesse dado um passo à frente, duzentas mil pessoas teriam sido mortas ao subjugar o Dragão Dourado novamente. Não, milhões de cidadãos ainda estariam sofrendo se as Unhas Vermelhas não tivessem sido derrotadas. Ela protegeu a vida de centenas de milhares de soldados e a segurança de milhões de pessoas, mas por que isso deveria significar algo? Ela ainda tem apenas dezoito anos. Dar a ela o ducado é um absurdo.

— Você está certa. A benevolência da Condessa Presa do Tigre da Torre é verdadeiramente bela. Ela se preocupa com a ordem do reino!

As amantes de Ametista lançaram ondas de ataques. A Marquesa Coelho Brancaneve, a assassina de crianças, olhava ao redor com cautela. Enquanto a Viscondessa Pura Sacranoir, a canibal glutona, apoiava suas colegas, a Viscondessa Grande Pérola de Camarão ria abertamente. Suas reações variavam, mas todas apoiavam Ametista.

— Ha… — O rosto da Presa do Tigre da Torre ficou sério, provavelmente porque ela se sentiu humilhada por perder a discussão. — Os cães da cortesã realmente têm um latido e tanto.

A sala de descanso ficou em silêncio. Os nobres que até então ridicularizavam a condessa de forma descontraída ficaram frios, seus sorrisos desaparecendo de seus rostos. Apenas a raiva ardia em seus olhos.

— O que acha? — Ametista sussurrou em meu ouvido, baixo o suficiente para que apenas eu pudesse ouvir. — Não é engraçado? Todas as pessoas que estão do meu lado são assassinas, como você disse. São pecadoras, mas olhe. Olhe para seus rostos.

Ametista se sentou no braço da cadeira. 

— Elas estão sofrendo. Me chamar de cortesã é um insulto, mas ela não está realmente errada. Eu encantei inúmeros nobres e reais com minha música, dança e palavras doces, portanto, sou uma cortesã. Mesmo assim, a Condessa Presa do Tigre da Torre foi educada. As pessoas nas ruas me chamam de prostituta. Olhe, senhor Gong-Ja.

Ametista puxou gentilmente minha manga. Embora ela não estivesse realmente puxando com força, eu me inclinei até que meu ombro estivesse no mesmo nível de seu rosto.

Ametista acrescentou: 

— Uma delas chicoteou uma criança até a morte, a outra ao lado se banqueteou com humanos, e a general ali massacrou civis. No entanto, todas estão feridas porque me chamaram de cortesã. É tão engraçado.

Ametista entrelaçou seu braço com o meu. Parecia uma cobra rastejando pelo meu corpo. 

— O reino tem centenas de volumes de códigos de leis. De acordo com leis específicas, os pecados dos criminosos podem ser medidos e usados para responsabilizá-los. É um trabalho irritante, mas as sentenças são fáceis de executar. Se eu desejar, posso fazer com que todos esses criminosos sejam executados imediatamente. O que devo fazer, senhor Gong-Ja? Devo matá-las?

— Hm…

A cobra sorriu, seus olhos roxos brilhando sob suas pálpebras longas. 

— Sim. Você acha que isso é muito severo, não é? Você é gentil e acha que é muito severo matar até mesmo aqueles que fizeram coisas erradas. Essa é a impressão que você me dá. Por causa de quem é, você é completamente diferente de mim.

— O que quer dizer?

— Não tem como simplesmente matá-las ser demais.

Ametista segurou meu queixo e me forçou a olhar para a nobre com cabelos brancos como os de um coelho – a Marquesa Coelho Brancaneve. Ela estava olhando ansiosamente ao redor para as pessoas de várias facções.

— A Marquesa Coelho Brancaneve assassinou uma criança quando ela mesma era criança. O marquesado entregou dinheiro de compensação à família enlutada. De um lado está uma prestigiada família nobre na capital, e do outro, uma família comum de cidadãos. Eles chamaram de dinheiro de compensação, mas bem, é mais como um ultimato, não é?

Isso parecia correto.

— A criminosa era menor na época. Além disso, ela é uma nobre e até mesmo fez um acordo com a família da vítima. Nesse caso, a sentença que a Marquesa Coelho Brancaneve receberia é… bem? A mais severa seria tirar sua nobreza. Para sua surpresa, essa é a punição mais severa garantida por lei — disse Ametista de forma brincalhona.

“Por outro lado, a família enlutada está arruinada. Diferentemente das famílias nobres, as famílias comuns são devastadas com uma facilidade surpreendente. Havia três deles na família – a neta, o avô e a avó. A neta que a Marquesa Coelho Brancaneve assassinou era a única descendente dos avós.”

“Você entende, senhor Kim Gong-Ja? A família está acabada. Está arruinada e destruída. De que adianta receber centenas em ouro como dinheiro de compensação? Você pode montar o corpo quebrado de uma criança com ouro? É possível encontrar um juiz gentil e justo que siga majestosamente a grande e digna lei do reino para que a Marquesa Coelho Brancaneve milagrosamente perca seu marquesado. Mas isso resolverá todo o ressentimento da família enlutada?”

Eu não respondi.

— Um pecador os arruinou. Mesmo se você matar o pecador, a mágoa e o ressentimento não desaparecerão. Pense nisso. Em um dia de inverno, sua neta morre no campo de neve porque um nobre a chicoteou até que sua carne ficasse exposta e sua espinha fosse esmagada. Uma única morte seria suficiente para acabar com o ressentimento?

— Então, o que deve ser feito?

Eu entendia o que Ametista estava dizendo. Era semelhante ao problema que eu havia contemplado quando acolhi o Assassino de Constelações.

Para as pessoas que já haviam cometido pecados, às vezes, suas vítimas ainda estavam por aí. Como as vidas arruinadas delas poderiam ser compensadas? Até mesmo alguém como a Bruxa Negra havia mergulhado as mãos em sangue inúmeras vezes, e eu era seu amigo. Eu ainda não havia encontrado uma resposta sobre se isso era a coisa certa a fazer e o que fazer se não fosse.

— Dor — respondeu a mestra da Torre. — A dor é a única resposta.

Ela acariciou meus cabelos. 

— Nos últimos seis anos, os avós tiveram que suportar a dor de perder sua neta e ainda terão que passar o resto de suas vidas com a dor de nunca mais vê-la. Devolver exatamente a mesma dor ao pecador é como a lei deste mundo deveria ser, e é isso que desejo estabelecer no reino.

Ametista falava como se fosse uma sênior dando conselhos a seu júnior querido, mas seus olhos roxos tinham algo mágico, fazendo com que sua consideração gentil parecesse uma maldição maligna. Provavelmente era por isso que ela também parecia um demônio tentando um transeunte.

— Vou reconstruir este reino sob a lei do sofrimento, mas não terminará apenas com ele. O próximo será este mundo inteiro, e depois todos os outros mundos que verei e pisarei. A Torre é uma maneira de fazer isso.

Fiquei sem palavras por um momento. 

— Isso é possível?

— Há duas maneiras de tornar o impossível possível. Uma é enlouquecer. Tudo o que você precisa fazer é perder a sanidade e tornar o impossível possível em sua ilusão.

— E a outra?

Ametista riu. 

— Ser a pessoa no poder. O poder é algo que você possui e domina. Eu encantei seis duquesas, seduzi uma rainha e capturei três imperadores dragões.

Ela levantou um dedo. 

— Fiz isso apenas para me tornar a pessoa mais poderosa do mundo.

Ela bateu no braço da cadeira duas vezes. Impulsionadas pelo som, as mulheres que estavam encarando Presa do Tigre da Torre pararam o que estavam fazendo e esqueceram o que queriam dizer. Ao sinal de sua mestra, todas viraram a cabeça.

O mesmo aconteceu com a facção oposta. No início, eles continuaram falando, mas quando todos do outro lado viraram seus olhares de uma vez, não puderam deixar de sentir que algo estava errado. Assim, os nobres da outra facção também se viraram para olhar para Ametista.

Com todos os nobres fixados em uma pessoa, os servos pararam de servir bebidas, e os artistas pausaram enquanto escolhiam a próxima música. Todos olharam para Ametista.

Treze segundos. Foi tudo o que levou para que as centenas de humanos na enorme sala de descanso olhassem para Ametista. Os gritos ferozes, o sarcasmo sutil e a raiva fria evaporaram em um instante.

O silêncio pairava no ar.

Com centenas de olhos sobre ela, Ametista disse: 

— Caros colegas nobres, vocês vieram à sala de descanso para repousar, mas estão engajados em discussões acaloradas até aqui. Não posso esconder o quão orgulhosa estou de ser membro do reino, mas estou preocupada que a assembleia não vá pagar horas extras. Vocês não podem estar trabalhando horas extras sem serem pagos.

— Acredito que descansamos o suficiente. Voltem para o salão de conferências e retomem seu trabalho — afirmou Ametista, usando meu ombro como apoio para se levantar.

Os nobres pertencentes à facção de Ametista também se levantaram, deixando para trás os copos dos quais estavam bebendo, independentemente da quantidade de bebida restante. Os nobres se reuniram ao redor dela sem um momento de hesitação. Era uma cena verdadeiramente bizarra, considerando que cada um deles possuía um poder incomparável ao de um plebeu.

Ametista segurou meu pulso e ofereceu um sorriso brilhante. 

— Agora, senhor Gong-Ja, vou lhe mostrar um milagre esta noite.