O Caçador Imortal de Classe SSS – Vol. 09 – Cap. 213 – O que a Deusa Possui (3)

 

O Dragão Dourado vivia em uma enorme torre conhecida como Lança Assassina Celestial, que se dizia perfurar o céu. A torre tinha outro nome, Pavilhão do Céu Dourado, porque era feita de ouro. Seu nome mais antigo era Pavilhão do Rio do Submundo, o que significava, essencialmente, espiar o outro mundo a partir da terra dos vivos.

Sete mil anos se passaram desde que o Dragão Dourado construiu a torre. Não importava para onde alguém virasse a cabeça na parte sudeste do reino, era possível vê-la. Ela existia muito antes da fundação do reino.

Mesmo após sete milênios, o ouro que envolvia as paredes da torre ainda era brilhante e sagrado, como um cordão umbilical conectando a terra e os céus. As pessoas veneravam a torre como um dos mistérios do mundo.

O pavilhão celestial nunca mudava. Os humanos, no entanto, sim. Mesmo sendo escravos dos dragões, eles estabeleceram sua própria nação.

— Todos os nobres, ouçam. Eu emito um decreto real para uma expedição punitiva. Vou organizar um exército para essa expedição. Os lordes são obrigados a enviar seus soldados.

Os dragões riram. Os humanos eram tolos e fracos. Devido à sua curta vida, era improvável que sua nação durasse muito tempo. Os dragões estavam certos, mas os humanos não eram estúpidos o suficiente para esquecer qual espécie os escravizava.

O reino fez disso uma missão nacional: eliminar todos os dragões do mundo.

— A quantidade de soldados que vocês precisam enviar depende do seu título. Um marquês deve enviar mil soldados. Um visconde, duzentos. Um barão, cinquenta. Um visconde honorário…

Centenas de milhares de soldados se reuniram, formando um grande exército. No entanto, a expedição punitiva falhou puramente devido à Autoridade do Dragão Dourado. Cada dragão nascia com uma habilidade própria, e a Autoridade do Dragão Dourado era sobre instintos – ela liberava a ganância humana.

Assim que um guerreiro corajoso entrava na terra do Dragão Dourado, a sede de sangue os consumia. Soldados inocentes ficavam dominados pela luxúria. Os aventureiros que se chamavam de irmãos jurados começavam a lutar pelo espólio.

A primeira, segunda e terceira expedições punitivas do reino foram grandes fracassos. Era assim que as coisas haviam sido até agora, então o Dragão Dourado achava que essa expedição não seria diferente.

O Dragão Dourado olhou para a mulher à sua frente. Ela lembrava um botão de flor prestes a desabrochar completamente. O dragão podia sentir, levemente, um perfume venenoso escapando pelas fendas das pétalas da mulher.

— Como você mantém a sanidade? — perguntou o dragão.

Falando fluentemente a língua dos dragões, o botão de flor imitando um humano disse: 

— É simples. Já vivo pelos meus instintos. Consigo algo porque quero. Mato porque estou viva. Se alguém que segue seus instintos é chamado de louco, então estou louca há muito tempo. Imperador Dragão Dourado, você pode trazer uma pessoa louca de volta aos sentidos, mas não pode tornar alguém que já é louco ainda mais louco.

— Faz sentido.

O Dragão Dourado olhou por cima do ombro da garota para as dezenas de humanos reunidos atrás dela. Nenhum deles falava.

O Dragão Dourado continuou: 

— Mas isso é só você. Como eles também mantêm sua sanidade?

Ametista sorriu. 

— Bem, você está certo. É estranho. Por que você acha que é assim? Dê um palpite, Imperador Dragão.

O Dragão Dourado olhou para a líder humana novamente. Não havia nada de errado com seu poder. Os humanos respiravam pesadamente, seus punhos cerrados ao lado do corpo, como se quisessem se matar a qualquer momento. Seus rostos também estavam vermelhos pelo desejo de derrubar alguém e violá-lo. Apesar do silêncio, desejos giravam dentro deles.

Os humanos tinham algo em comum. Uma emoção mais forte que a sede de sangue e a luxúria os dominava. O Dragão Dourado era melhor que qualquer um em ler emoções, então reconheceu facilmente o que era – medo.

— Entendo. Todos eles têm medo de que você os odeie.

O sorriso do botão de flor estava em plena floração. 

— Sim, eles me amam muito.

O Dragão Dourado ficou emocionado com a resposta. Essas pessoas estavam fervendo em sede de sangue e luxúria. Era apenas que elas desejavam não ser odiadas por Ametista ou desapontá-la, então esses sentimentos superavam seus instintos. Eles não temiam a morte tanto quanto temiam esses desfechos.

O Dragão Dourado teve que perguntar novamente: 

— Amor?

Isso era amor?

Ametista assentiu. 

— Sim, as pessoas frequentemente dizem que amam a si mesmas acima de tudo, como se fosse a coisa mais natural. Qual é o verdadeiro significado do amor, então?

Ela cantarolou. Cada som que saía de sua boca parecia uma nota musical.

— Há muito poucas pessoas que realmente se amam tanto que não conseguem se conter. É muito raro. Quando as pessoas dizem que se amam, o que querem dizer é que não querem morrer e perder tudo.

Ametista lentamente estendeu a mão. 

— Nesse caso, seria seguro chamar de amor o sentimento de não querer me perder. Duquesa da Espada Suprema?

Uma duquesa se aproximou do lado de Ametista e se ajoelhou para beijar sua mão. A duquesa era uma Ascendente que vivia há mais de dois mil anos. Ela também era, sem dúvida, a melhor espadachim do reino, mas se ajoelhou como se fosse algo muito natural.

— Em vez de me perder, eles preferem desistir de suas vidas. Isso é quem eu sou para essas pessoas. O Pavilhão do Rio do Submundo é dito ser inexpugnável, mas acontece que a única maneira de romper sua defesa é o amor. Clichê, mas divertido. E você? Está se divertindo também?

O Dragão Dourado podia dizer quem era o forte e quem era o fraco nessa situação. Ela¹Embora o autor utilize a expressão “o dragão” e o título “o imperador”, o gênero da personagem é feminino, sendo referida pelo pronome “ela”. tremia.

— Quero viver. Não me mate, por favor.

O dragão encolheu para sua forma humana. No último andar da torre do pavilhão, havia um jardim de flores com uma fonte no centro. O dragão sentou-se ao lado da fonte dourada, os tremores que sacudiam seu corpo criando ondulações na superfície da água.

Ametista acariciou o queixo do Dragão Dourado. 

— Claro que não vou. Não posso te matar. Você é linda demais.

— Por favor.

— Mas você ainda não respondeu minha pergunta. Imperador Dragão Dourado, você sabe como cuidar daqueles que já morreram?

— Não sei. Realmente não sei, mas acho que outros podem saber. Outros imperadores dragões. Conheço eles. Vou te contar seus nomes e localizações.

O toque de Ametista era suave e compreensivo. 

— Sim, três expedições punitivas ocorreram para tomar este lugar. A mais recente foi há vinte anos. O número de baixas naquela época foi de aproximadamente cem mil. Se eu incluir aqueles que não puderam ser contados, o número provavelmente chega a duzentos mil. A família real e os nobres farão um grande alvoroço, exigindo que eu corte sua cabeça.

O dragão tremia ainda mais.

— Não se preocupe. Vou cuidar disso de alguma forma.

A água respingou. Ametista deixou o Dragão Dourado na água, seus cabelos se espalhando em todas as direções e balançando junto com as ondulações.

— Mas preciso de algo em troca.

— O quê? — perguntou o dragão.

— Me ame, por favor.

Gotículas de água caíam da fonte.

Olhar do Dragão Dourado

Classe: EX

Efeito: Os instintos dominam qualquer um que entre no alcance da habilidade. Sua racionalidade fica paralisada e embotada. Os desejos e a ganância que eles vinham suprimindo são liberados.

Esta habilidade revela a verdadeira natureza de uma pessoa. Pode ser usada em pessoas vivas e também em objetos. Se desejar, você será capaz de reconhecer a natureza de todas as coisas. Você verá o mundo de uma perspectiva onisciente.

※ Você também está incluído no alcance da habilidade.

O Dragão Dourado tornou-se o animal de estimação da Viscondessa Ametista.

— Você encontrará o Dragão de Ossos Terrestres no deserto que se estende além das montanhas.

O Dragão Dourado deu tudo de si à sua amada após se apaixonar pela primeira vez em sua vida. Ela usou seu poder e recitou seu conhecimento para Ametista, sacrificando seu futuro pelo bem de sua amada. Embora soubesse muito bem que tipo de destruição aguardava um dragão que se apaixonava por um humano, seu conhecimento importava menos que o piscar dos olhos de sua amada.

— Dragão de Ossos Terrestres, você diz?

— Sim, o Dragão de Ossos Terrestres tem o poder da imortalidade. Tudo o que ela toca vira areia e se espalha. Quando toma as vidas espalhadas em suas mãos, ganham vida eterna. O método é um pouco heterodoxo, mas…

Ametista riu. 

— Interessante.

O dragão ficou feliz.

Crânio do Dragão de Ossos Terrestres

Classe: SSS+

Efeito: Você pode armazenar memórias dos vivos em uma Caixa.

Esta Caixa só pode ser destruída por você, a pessoa que possui a habilidade. Enquanto a Caixa não for destruída, você pode criar um recipiente carregando as mesmas memórias repetidamente.

Este novo recipiente pode viajar pelo universo, formar novas memórias e atualizar aquelas na Caixa. Claro, eles precisam da sua permissão para fazer isso. Mesmo que o recipiente pereça, a Caixa não sofrerá nenhum dano.

Conceda o privilégio da imortalidade àqueles ao seu redor.

※ As memórias do ser recipiente não podem ser atualizadas na Caixa.

O Dragão de Ossos Terrestres logo se tornou o animal de estimação de Ametista.

— Talvez ainda nos falte alguns ingredientes.

O Dragão Dourado e o Dragão de Ossos Terrestres esfregavam suas bochechas nos joelhos de Ametista. Ela brincava lentamente com o cabelo loiro do Dragão Dourado com uma mão e com o cabelo preto do Dragão de Ossos Terrestres com a outra. Toda vez que suas mãos tocavam suas testas, os dragões tremiam de felicidade.

— Ganhei os olhos que veem tudo e a mente que pode armazenar memórias. Mas ainda não é o suficiente para trazer de volta aqueles que já morreram. Não há uma boa maneira de fazer isso?

— Você encontrará o Dragão de Água Gélida no fim do Grande Lago — disse o Dragão Dourado suavemente. — O lugar onde ela vive é extremamente frio. O vento uiva com neve, e o curso d’água está coberto de gelo.

— Interessante. Me conte mais, por favor.

— O Dragão de Água Gélida congela a pessoa de quem gosta de uma maneira especial… Ela a transforma em um pilar de gelo. Apenas o Dragão de Água Géliada pode destruir ou derreter os pilares. Quando ela derrete o pilar, a pessoa presa dentro surpreendentemente volta à vida como se tivesse apenas fechado os olhos por um momento.

— Em outras palavras…

O Dragão Dourado colocou o rosto no colo de Ametista e olhou para sua outra metade significativa. 

— O Dragão de Água Gélida tem o poder de parar o tempo. Se alguém pode pará-lo, significa que também pode acelerá-lo. Eles podem basicamente controlar o tempo. Não acha?

A Viscondessa Ametista sorriu. 

— Você é fofa.

O dragão ficou ainda mais feliz.

Sopro do Dragão de Água Gélida

Classe: EX

Efeito: Você pode controlar como o tempo afeta os outros.

É possível retroceder ou congelar o tempo. Você pode enviar a pessoa para qualquer momento na linha do tempo que você observou.

※ Você não pode enviar a pessoa para um momento no tempo que não observou diretamente.

O Dragão de Água Gélida tornou-se o animal de estimação de Ametista.

Tudo estava pronto. Ametista finalmente pôde suspirar de alívio.

— Isso é bom.

Seu suspiro aliviado deixou os dragões felizes.

— Realmente é.

Ametista também estava feliz. Provavelmente.

Ato 3: Caça ao Reino.

Nesse ponto, nenhum político poderia deter a Viscondessa Ametista.

Havia seis duquesas no reino, cada uma com sua própria facção. A facção dos artistas seguia a Duquesa Lúdica. A facção dos desbravadores jurava lealdade à Duquesa da Espada Absoluta. A facção religiosa depositava sua fé na Duquesa Panteão. A Duquesa Interior liderava a facção Interior. A Duquesa Fundação comandava a facção Fundação.

Todas as seis duquesas “amavam” Ametista. Mesmo na situação sem precedentes de uma viscondessa possuindo dragões, os nobres não conseguiam levantar oposições abertamente.

Se a família real considerasse Ametista perigosa, havia uma chance de detê-la. Afinal, uma família real poderia deter um nobre se ninguém mais pudesse. A governante do reino era a Rainha Sol. Ela estava no trono há mais de noventa anos. Nos últimos sessenta, ela não havia comparecido a uma única reunião na Assembleia Nobre.

Quando uma rebelião eclodiu há sessenta anos, a Rainha Sol executou sua própria filha. A nação só podia ser sustentada matando a própria família. Ela não conseguia considerar tal nação digna, nem tinha motivo para viver em um reino pelo qual não se importava. A rainha se encarcerou.

Durante os sessenta anos em que o sol esteve preso, o reino apodreceu e desmoronou. As pétalas tinham o perfume mais forte quando estavam apodrecendo.

— Vossa Majestade, por favor, conceda meu pedido — disse Ametista suavemente. — Você se arrepende de ter matado sua filha, não é? Você acha que uma rebelião eclodiu porque você governava o país. Não importa que política você implemente ou como cuide dos assuntos nacionais, alguém inevitavelmente será sacrificado em algum lugar neste reino. Em política, quanto mais você faz, mais sacrifícios precisa fazer. É o mesmo para todos, então você não pode escapar do destino. Fazer nada pode ser melhor.

A rainha não disse nada.

— Deixe os sábios exercerem sua sabedoria. Quem quiser ganhar poder, que venha buscá-lo. Você simplesmente existe. Se esse é o único caminho que pode trilhar…

Ametista sentou-se ao lado do trono e estendeu a mão, tocando a bochecha da rainha. Ela acariciou lentamente o rosto que estivera inexpressivo pelos últimos sessenta anos.

— Por favor, deixe comigo.

Um perfume como pêssegos esmagados encheu a sala do trono.

— Ninguém conseguiu suprimir a revolta das Unhas Vermelhas e a Assembleia de Pedra, mas eu consegui. Esmaguei a rebelião que o Gato Quebra-Céu começou no sudeste.

“Reavivei o exército real que foi abolido por um tratado desigual. O Dragão Dourado ameaçava a parte sul do reino, o Dragão de Ossos Terrestres estava invadindo o Grande Deserto, e o Dragão de Água Gélida havia congelado o curso d’água a leste do Grande Lago. Derrotei o primeiro, acolhi o segundo e capturei o terceiro.”

“A Duquesa Lúdica, a Duquesa da Espada Absoluta, a Duquesa Panteão, a Duquesa Interior, a Duquesa Fundação. As seis duquesas estavam apodrecendo no tempo, mas seus corações voltaram a bater depois de me darem seu amor. Viu? Realizei tarefas que ninguém mais fez. Sou capaz. A mais capaz.”

Os sussurros do súdito mais competente da geração eram mais doces que os elogios dos súditos traiçoeiros da era dourada. Seus olhos roxos tinham a forma de luas crescentes.

— Então, Vossa Majestade, deixe comigo. Tem medo de tomar uma má decisão? Vá em frente. Se isso acontecer, eu corrigirei. Tem medo de perder a cabeça? Tudo bem. Enlouqueça. Você pode simplesmente enlouquecer por mim.

A rainha sem emoções, que outrora fora elogiada como o sol do reino, ficou perplexa. Ela finalmente perguntou: 

— Por quê? Se é tão capaz, o reino não tem utilidade para você. Enquanto pode dar tudo ao reino, ele não tem nada a te oferecer. Por que quer meu favor? Não posso te dar nada.

— Com todo o respeito, Vossa Majestade, você está enganada sobre algo.

— Sobre o quê exatamente?

Ametista pressionou gentilmente a palma da mão no colo da rainha e se levantou, seus olhos fixos na monarca. 

— Estou tendo uma audiência com você. O que quero é você, Vossa Majestade. Assim como quer e sonha com alguém infinitamente mais capaz que você mesma, eu quero você. Por favor, torne-se minha governante incompetente.

Ela se inclinou, perto o suficiente para que a rainha sentisse o hálito de Ametista em seu rosto.

— Eu farei de você a governante mais sábia de todos os tempos.

O perfume de pêssego desmoronou a estátua de pedra. O sol foi cativado pelas flores de pêssego. Enquanto desmoronava, a rainha falou uma última vez.

— Os pecados que já cometi são graves. Muitas pessoas morreram. Não mereço viver como uma governante sábia, então não deveria me desculpar com todos permanecendo uma governante incompetente na história? Assim como você não pode trazer os mortos de volta, você não pode desfazer pecados já cometidos. Seria bom para mim morrer para que você possa servir a um novo governante.

Era a mesma maldição que a Bruxa Noir havia despejado uma vez. Ametista não conseguira dar uma boa resposta.

— Haha, tudo bem, Vossa Majestade.

Era diferente agora. Ela era um pouco mais capaz.

— Posso cuidar daqueles que já estão mortos e de todos os outros no universo.

— Como?

Ametista sorriu de forma sedutora. 

— Deixe tudo comigo. Mas me ame, por favor.

Em dezembro daquele ano, Ametista tornou-se uma duquesa – a Duquesa Kaleido. Era o sétimo ducado criado na história do reino, e o ducado mais jovem a ser estabelecido.

No reino, havia o costume de as pessoas darem outros nomes às duquesas. A Duquesa da Espada Suprema era a Duquesa da Espada Absoluta, e a Duquesa Incondicional era a Duquesa Lúdica.

A Duquesa Kaleido era frequentemente chamada pelo nome que o povo lhe dava – Duquesa da Queda Nacional. Ela era a duquesa que havia derrubado o país em seu benefício.