O Caçador Imortal de Classe SSS

O Caçador Imortal de Classe SSS – Vol. 09 – Cap. 207 – O Easter Egg (3)

 

Quando disse que queria conversar com ela, a mestra da Torre me encarou. Após cerca de um minuto, finalmente assentiu.

— Tudo bem. Me siga. Por aqui.

Então, eu a segui.

Casas hanoks1Casa tradicional coreana. imagem. antigas alinhavam-se na rua inclinada. Não pareciam tão bem cuidadas quanto as que poderiam ser encontradas em vilas hanok2Hanoks hoje em dia tendem a ser encontrados em grupos e formam suas próprias vilas, separadas de casas e apartamentos ocidentais. As vilas são boas atrações turísticas hoje em dia.. Ervas daninhas consumiam as velhas telhas do telhado. Os restos das paredes de pedra, que haviam desmoronado há muito tempo, nunca foram reparados, apesar de carregarem marcas do passar do tempo.

Que tipo de hanoks são esses?

Senti uma sensação de desarmonia e estava prestes a expressar minha confusão.

— Esses hanoks foram construídos durante o período colonial japonês — disse a mestra da Torre em voz baixa enquanto continuava caminhando. — Quando a guerra eclodiu, esta cidade foi praticamente destruída imediatamente. Por causa disso, os vestígios do passado estão mais intactos aqui do que em outros lugares.

— Guerra?

— Estou falando da Guerra da Coreia. Essas casas escaparam da destruição por pura sorte.

O cheiro de água estagnada vinha dos esgotos. Eu me sentia observado pela fileira de hanoks, cujos donos não tinham nada além de uma longa árvore genealógica. Em vez de parecerem elegantes, lembravam um rosto coberto de manchas de idade. Caminhamos ao longo de uma parede de pedra em ruínas, abrimos um portão cuja camada de tinta estava descascando e passamos por um quintal árido onde nem mesmo ervas daninhas cresciam.

— Por favor, espere aqui um momento.

Me sentei no daecheongmaru3Imagem e esperei. Não havia nem mesmo um ventilador mecânico, quanto mais um ar-condicionado, então o único lugar para se refrescar era a sombra sob o telhado. As cigarras continuavam cantando sob a luz do sol.

Um momento depois, a mestra da Torre voltou carregando uma bandeja. 

— Receio não ter nada para servir a um convidado.

Segurei a xícara de água educadamente com ambas as mãos. 

— Não, fui eu quem invadiu. Desculpe.

A xícara era de aço inoxidável, como as usadas em refeitórios escolares4Imagem.

A líder da Torre se sentou e inclinou a cabeça. 

— Esta é provavelmente a primeira vez que nos vemos. Sou Ja Su-Jeong, do 3º ano, classe A, da Escola Secundária Shinseo.

Pensando bem, eu nem havia me apresentado. 

Ah, sim. Meu nome é Kim Gong-Ja.

— Sim, senhor Kim Gong-Ja. Sobre o que você quer conversar comigo?

O que eu deveria dizer? Ela parecia ser a mestra da Torre, então eu queria saber por que ela estava aqui. Esperava que pudesse me contar como veio a criar a Torre. Mas uma pergunta completamente diferente saiu dos meus lábios. 

— Você disse que seu nome é Ja Su-Jeong.

— Sim.

— Posso perguntar o que significa?

— Meu sobrenome significa que meu clã familiar é de Joongwon5Um antigo distrito na Coreia. Não existe mais..

A mestra da Torre tirou um caderno de sua maleta. Seu lápis afiado bordou o papel branco de preto enquanto escrevia os hanjas que compunham seu nome.

Este é o nome da mestra da Torre.

Talvez esse fosse o nome que ela usava neste mundo. Ainda assim, eu era a primeira pessoa da minha Torre a ver o nome da mestra da Torre.

Ja Su-Jeong.

Repeti o nome na minha cabeça para nunca esquecê-lo. Perguntei: 

— Há outros membros da família aqui?

— Eu morava com meu tio até o último ano, mas agora estou sozinha.

— Posso perguntar o que aconteceu?

— Um estranho invadiu e o matou. Três homens que estavam com meu tio na época também foram mortos. A investigação ainda está em andamento, então não há muito que eu possa te contar.

Não consegui sentir uma única emoção em sua voz. Não, ela estava assim desde que nos conhecemos. 

— Você sabe algo sobre a Torre?

— De qual torre você está falando?

— A Torre de Babel. Ela apareceu no nosso mundo um dia. Para chegar à Torre, tudo o que se precisa fazer é pensar que quer ir até lá, embora ainda tenha que passar por alguns passos. Quando você entra, um mundo totalmente novo se desdobra… Ummm.

Senti um pouco de vergonha ao falar sobre isso. Quanto mais eu falava, mais parecia um seguidor de um culto religioso. Limpei a garganta. 

— De qualquer forma, você não sabe sobre isso?

A mestra da Torre balançou a cabeça. 

— Não, não sei.

— E sobre Pilares? Você já ouviu falar de Caçadores?

— Sinto que as palavras que você menciona têm significados diferentes do que estou acostumada. Eu apenas entendo essas palavras como substantivos comuns.

— Entendi.

À medida que a conversa continuava, a sensação de desarmonia se tornava mais forte. A garota à minha frente realmente não sabia nada sobre a Torre ou tinha qualquer memória de ser a mestra dela.

Apenas a voz é a mesma. Ela parece uma pessoa completamente diferente.

Eu não sabia qual era a história da mestra da Torre. No entanto, a garota à minha frente não tinha nem o poder nem as memórias da mestra da Torre. Ela apenas vivia silenciosamente a vida que lhe foi atribuída. Mesmo que eu a pressionasse sobre a Torre, não conseguiria nada.

Redirecionei minha curiosidade por outro caminho. 

— Você tem respondido todas as minhas perguntas até agora. Posso te perguntar outra coisa? Disse que houve uma invasão recentemente. E se eu também for um criminoso malicioso, senhorita Ja Su-Jeong?

— Está tudo bem — respondeu a mestra da Torre. — Se você fosse um criminoso, teria iniciado o contato em outro lugar, não no cruzamento.

— O quê?

— Eu passo por dois viadutos no caminho de volta da escola. Um deles é deserto. As luzes estão quebradas, então está escuro e há lacunas nas paredes. Um criminoso esperaria para me atacar em um dos viadutos.

A mestra da Torre mal se movia enquanto falava.

— Você não parecia que ia cometer um crime impulsivamente. Seu olhar estava fixo no meu rosto o tempo todo, especialmente nos meus olhos. Se estivesse preocupado que eu fugisse, teria olhado para minhas pernas. Minhas mãos também, se estivesse preocupado que eu lutasse. Ou meu corpo inteiro, se me quisesse. Mas você só olhou para meu rosto. Esse é um comportamento comum entre pessoas tentando reconhecer alguém.

— Uh…

Eu não sabia o que dizer.

— Você também estava mais interessado em saber mais sobre meu nome agora há pouco. Isso é prova de que está curioso sobre minhas informações pessoais. Mesmo quando saí para buscar água, você não olhou ao redor da casa em detalhes. Se fosse um criminoso, teria aproveitado o tempo para verificar se havia outras pessoas ou como a casa é estruturada.

A mestra da Torre bebeu um pouco de água de sua xícara de aço inoxidável.

— Todas as suas ações não se encaixam com as de um criminoso, então acredito que você não é um criminoso com intenções malévolas contra mim. Então, para responder à sua pergunta, não, não acho que você tenha más intenções.

O som das cigarras ecoava no daecheongmaru. Por um segundo, me perdi nos sons do verão.

Acorda!

Voltei a mim. 

— Wow, você é muito eloquente e inteligente.

— Sim, de fato — concordou a mestra da Torre.

Percebi que, mesmo que ela tivesse perdido suas memórias, a garota à minha frente não era comum.

— Desculpe, mas está tudo bem se eu for ao banheiro por um momento? — perguntei.

— Você o encontrará se der a volta por trás da casa. Tenha cuidado ao voltar.

Fui até uma latrina de fossa. Só depois de sair dela entendi por que a mestra da Torre disse “Tenha cuidado ao voltar”, em vez de “Por favor, tenha cuidado”.

— Hã?

Senti uma presença fraca vindo de um armazém construído em um canto do quintal. Não se movia, mas algo parecia estar agachado silenciosamente além da porta do armazém.

O quê?

Embora fosse um dia quente de verão, os pelos da minha nuca se arrepiaram. Quando olhei para a velha porta do armazém, a presença permaneceu imóvel, como se quisesse me enfrentar diretamente.

O que é?

Eu me aproximei. Cada vez que dava um passo, a presença ficava mais forte.

Sssssss…

A sensação semelhante a uma mão fria segurando a parte de trás do meu pescoço tornou-se clara.

Ei, o que você é?

Por precaução, tentei disparar um raio de aura na direção do armazém, mas não houve reação. A presença permanecia forte, não importava quantos passos eu desse em direção a ela.

Que porra é essa?

Engoli em seco enquanto segurava a maçaneta da porta do armazém.

— Não.

Fui agarrado pela barra da minha roupa por trás, então me virei. A mestra da Torre estava olhando para mim sem expressão.

— Não entre.

Quando ela chegou tão perto de mim?

Eu franzi a testa. 

— O quê?

— Se você entrar, assustará as crianças.

— Hã, crianças?

— Por favor, espere aqui um momento.

A mestra da Torre abriu a porta do armazém. Com a porta agora aberta, a presença cresceu exponencialmente. Até agora, parecia que alguém estava acariciando minha nuca, mas agora unhas estavam arranhando minha pele.

— Desculpe. Temos um convidado.

Ela não estava falando comigo. Pacotes de cortinas estavam espalhados por todo o armazém. Quando a mestra da Torre levantou uma cortina, vi apenas um espelho de corpo inteiro atrás dela. Assim que o espelho foi revelado, a presença desapareceu.

— Fique quieto.

A mestra da Torre pegou uma toalha que estava por perto e limpou a superfície do espelho. Não tive escolha a não ser ouvir enquanto ela trabalhava.

— N-Não tem algo estranho com esse espelho?

— Sim, é uma criança estranha — respondeu a mestra da Torre.

Eu semicerrei os olhos preocupado. 

— Acho que isso pode machucar pessoas…

— Esta criança não machuca mais as pessoas.

Ela guardou a toalha e cobriu o espelho novamente com a cortina. Eu ainda podia sentir a presença, mas não era tão feroz quanto antes. Parecia um gato que se encolheu para dormir.

— Isso pode mudar no futuro, certo?

A mestra da Torre deu de ombros. 

— O mesmo pode ser dito sobre os humanos também.

Miau.

Olhei para baixo. Um boneco de cachorro estava deitado em cima do meu pé. Não tinha boca nem cordas vocais, mas inconfundivelmente miava como um gato.

— Q-Que é isso?

— É o Miau.

Esse nome definitivamente não parecia adequado para um boneco de cachorro.

A mestra da Torre acrescentou: 

— Você nunca deve acariciá-lo na cabeça só porque é fofo.

— O que acontece se eu fizer isso?

— Ele continuará miando na sua cabeça a cada seis segundos até encontrar seu próximo dono.

— Sério?

— Sim.

— Que porra…

— Agora está quieto porque o coloquei em um cachorro de pelúcia. Ele está se perguntando se é um gato ou um cachorro, então encontrar o próximo dono se tornou uma prioridade secundária. A criança tenta descobrir sua identidade sozinha antes de depender dos outros. Não é diligente?

— E-Eu acho que ainda é perigoso.

— Está tudo bem. Uma vez que ele descubra sua identidade, vou movê-lo para um boneco de esquilo.

— Hã?

— Então ele começará a se perguntar se é um esquilo ou não. Essa criança é segura enquanto eu mudar seu corpo a cada dez ou treze meses. Vamos lá, Miau. Você não pode incomodar o convidado. Venha aqui.

A mestra da Torre agarrou o boneco de cachorro pela nuca e o colocou em uma prateleira.

Miauuuuu.

— Meu Deus.

Olhei ao redor do armazém em transe. Inúmeros mistérios se alinhavam nas prateleiras. Havia um retrato na parede. Quando o olhei, a imagem mudou para a de Raviel.

— O que é isso?

— Essa criança mostra a pessoa que você mais ama — respondeu a mestra da Torre calmamente. — Não olhe por muito tempo. Quanto mais olhar, mais suas memórias da pessoa amada desaparecerão. À medida que as memórias desaparecem, as fotos se tornam cada vez mais realistas. Quando as memórias desaparecerem completamente, ela mostrará a pessoa que você ama em segundo lugar.

Rapidamente desviei o olhar. 

— P-Por que você coleta essas coisas?

— Quando estão lá fora no mundo, podem causar problemas para as pessoas.

— N-Não são assustadoras? São como fantasmas.

A mestra da Torre inclinou a cabeça.

 — Essa é uma pergunta estranha. Você também tem um fantasma ao seu lado, senhor Kim Gong-Ja.

Eu pisquei. 

— O quê?

Ela levantou a mão e apontou atrás de mim. 

— Ali, um fantasma com músculos salientes. Ele está bem ao seu lado.

O Guardião estava flutuando exatamente onde ela apontava. Sua boca estava escancarada.

— Hã? O quê? Ela pode me ver?

Eu deveria ser o único que podia ver e ouvir o Guardião. No entanto, a mestra da Torre assentiu e disse: 

— Sim.

Ela também podia ver o Guardião.

 


 

Tradução: Rlc

Revisão: Pride

 

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