O Caçador Imortal de Classe SSS – Vol. 06 – Cap. 147 – Os Amigos (3)

 

O sorriso do presidente da classe era simplesmente perfeito. Os cantos da boca se ergueram no ângulo exato, e os cantos dos olhos tinham um toque de intriga. Pouco depois, seu sorriso aparentemente perfeito vacilou, e seus olhos voltaram ao normal, retornando à sua costumeira expressão neutra. Senti como se estivesse sob o efeito de um feitiço ou algo assim.

O presidente da classe subiu ao púlpito enquanto murmúrios enchiam o auditório. Me deixando de lado, ele pegou outro microfone.

— Alunos da Escola Shinseo, o vídeo que vocês estão assistindo agora mostra Hwang Eun-Seo, do Segundo Ano, Classe 5, participando com outros alunos de atos de bullying contra Kim Yul, outro estudante da mesma classe. Este vídeo não é encenado. Ele mostra exatamente o que aconteceu.

O presidente da classe não segurava papéis. Seu discurso era completamente diferente do que havíamos ensaiado.

— Eu obtive isso graças a um informante anônimo. Sim, vocês ouviram corretamente. Há mais vídeos como este. Os crimes de Hwang Eun-Seo estão registrados em 103 gravações de áudio, 311 vídeos e 30.790 fotos.

Crimes? Vídeos? Fotos?

— Líder do Clube de Transmissão, por favor, exiba o PPT — instruiu o presidente da classe com um gesto.

— Sim, sim…

Um projetor exibiu fotos uma após a outra. A qualidade não era muito boa, mas ainda assim eram claras o suficiente para mostrar que todos estavam usando o uniforme da nossa escola.

— Após a apresentação de hoje, denunciaremos Hwang Eun-Seo às autoridades oficiais. É claro que Kim Yul, a vítima, também processará Hwang Eun-Seo.

Denunciar? Processar?

— Gostaria de perguntar se algum dos professores da Escola Shinseo estava ciente do que estava acontecendo… Vejo que não é o caso. Sim, isso mesmo. Apesar das repetidas atividades criminosas no último ano, os professores, que deveriam ser responsáveis pela nossa segurança na escola, não tomaram nenhuma atitude. Esta é a realidade da Escola Shinseo.

As reações dos professores não eram muito diferentes das minhas. A maioria deles não conseguia se recompor. Alguns sussurravam com urgência para seus colegas até que um dos professores principais se levantou.

— Espera um minuto. Ei! Desça do púlpito! O que você pensa que está fazendo?

O presidente da classe continuou. 

— Acredito que os professores também devem ser responsabilizados quando fizermos a denúncia. Afinal, esse é um dos motivos pelos quais estou informando vocês sobre o bullying que vem acontecendo em nossa escola.

— Bem, se você quer fazer as coisas desse jeito…

— Gostaria de chamar a atenção de que minha apresentação está sendo gravada e filmada no momento. Os vídeos, fotos e gravações já foram enviados para algumas agências de mídia esta manhã.

O professor principal se levantou e olhou para o diretor. Na verdade, todos os olhos dos professores estavam no diretor, que abriu e fechou a boca algumas vezes antes de olhar para o celular. 

— M-me dêem um minuto. Por favor.

Se ele estava fazendo ou recebendo uma ligação, não estava claro. Ele apenas abaixou a cabeça e começou a falar com alguém. Sua resposta deixou os professores paralisados.

— Isso é mentira! — gritei no microfone que segurava. — Tudo isso é fabricado! Você está mentindo!

No entanto, os alto-falantes não transmitiram minha voz. O chefe do clube de transmissão havia desligado meu microfone. Apenas a voz do presidente da classe podia ser ouvida pelos alto-falantes.

— Por favor, olhem para Hwang Eun-Seo aqui. Vocês se lembram do que ele disse há pouco em seu pedido de desculpas? Ele disse, “Em vez de parar, eu mesmo participei do bullying.”

Um zumbido de murmúrios veio dos alunos.

— Ele se defendeu dizendo que apenas participou do bullying. Segundo suas palavras, não era o principal ofensor. No entanto, foi ele quem formou esse grupo, filmou os vídeos e os distribuiu. Nunca admitiu esses erros e fingiu sentir remorso na frente de todos vocês.

Todos os alunos me olharam.

— Olhem para o rosto de Hwang Eun-Seo. Lembrem da expressão dele, de seu raciocínio e de como ele tentou escapar ileso do que fez, apesar de ter iniciado o bullying.

Sim, o presidente de classe era aquele que estava secretamente tentando me caçar.

Ele abaixou o microfone e se virou para mim, sua mão direita envolvendo o dispositivo para bloquear todos os sons de serem transmitidos. Ele falou muito baixo, para que apenas eu pudesse ouvi-lo. 

— Ah, isso foi difícil.

Sua voz era tão calma que eu tinha dificuldade em perceber que isso realmente estava acontecendo comigo.

— De qualquer forma, Hwang Eun-Seo, sua vida acabou. Você ficaria surpreso ao saber quantas acusações criminais podem ser aplicadas pelo que você fez. Bem, não posso te mandar para a prisão pelo resto da vida porque você é menor de idade, mas tudo bem. Posso apenas acabar com sua vida social para sempre.

— V-Você…

O presidente da classe suspirou. 

— Foi difícil fingir ser seu amigo. Falo sério. Eu era muito emotivo quando jovem. Falar com você muitas vezes me dava náuseas. É bom que minhas costas não doam, mas eu costumava ter uma visão de mundo tão ingênua… Bem, acho que foi por isso que entrei na universidade assim.

Ele continuou, resmungando. 

— Você sabe que precisa de muito dinheiro para servir à sociedade? Não importa o que faça, mesmo que seja só um pouco, a vida é toda sobre dinheiro. Mesmo se quiser plantar uma árvore, ir a uma região em crise ou ajudar professores de orfanatos, custa dinheiro. Phew. Queria ter sabido disso quando estava na escola…

— Do que caralhos você está falando? — gritei, incapaz de conter minha raiva fervente.

Eu pausei, percebendo que minha voz ecoou muito mais alto no auditório do que eu esperava. Diferente do sussurro quieto do presidente da classe, todos me ouviram gritar.

— Sim. — O presidente da classe sorriu. — Falei besteiras de propósito para te fazer explodir assim, garoto. Você caiu direitinho, não foi?

Seu sorriso fez minha cabeça girar novamente.

— Talvez, a essa altura, essas conexões que você acha que tem… Ha. — O presidente da classe cobriu a boca com a mão esquerda e riu. — Desculpa. É engraçado demais.

Esse desgraçado.

— De qualquer forma, você provavelmente acha que suas conexões vão te ajudar. De jeito nenhum. Sua namorada e eu negociamos várias coisas em troca de deletar os vídeos que a apresentavam. Todos os seus clientes fizeram negociações assim. Lembre. Essas crianças de famílias ricas não se importam com você. A única preocupação delas é que seus nomes não sejam associados a esse incidente.

Enquanto isso, o chefe do clube de transmissão continuava a passar pelo PPT, mostrando mais e mais fotos na tela de projeção. O burburinho dos alunos ficava mais alto, alguns até gritando “Porra” e “Isso é doentio”.

— Desculpe, senhor Kim Yul, mas… isso é tudo o que posso fazer como presidente de classe. Acho que não há como evitar. Eu te disse isso muitas vezes desde que você era jovem, Gong-Ja. — O sorriso gentil do presidente da classe voltou ao seu rosto. — As pessoas fazem o que podem.

Aquele sorriso fez algo dentro da minha cabeça estalar.

— Um dia, você encontrará uma pessoa que o fará pensar que ela destruirá o mundo se for deixada à própria sorte, e provavelmente estará certo. Livre-se dela. Você deve ferrá-la quando puder para se salvar de se arrepender depois.

O presidente de classe riu. Eu gritei e me joguei sobre ele. Embora ele não tenha reagido, continuou a rir baixo.

— É por isso que dizem que você tem que criar bem seus filhos. Para que você possa passar seus últimos anos sem se preocupar com eles…

Eu o acertei no queixo, o derrubando e esmagando com meu peso. Ouvi pessoas gritando atrás de mim, mas não parei.

Filho da puta! Seu filho da puta! Como ousa! Por sua causa, minha vida…!

— Ei, Hwang Eun-Seo! Se acalme! Professores, vocês precisam pará-lo!

— Chefe do Clube de Transmissão, pare de filmar agora!

— M-mesmo que você grite comigo… Eu tenho que fazer isso…

Minha vida! 

[Os requisitos para completar a missão foram cumpridos.]

[Solicitando uma decisão devido às características únicas do cenário.]

Eu fiz o meu melhor na minha vida… Embora não tenha vivido a melhor vida, realmente fiz o meu melhor! Ninguém aqui se esforçou mais do que eu ou levou a vida tão a sério quanto eu!

[Uma decisão foi tomada.]

[O Mestre de Toda a Vida reconhece que o cenário foi concluído.]

Não!

[No entanto, A História da Cidade da Ascensão: História Paralela não será incluída na história oficial.]

Não!

[O cenário foi concluído.]

Eu me recuso a reconhecer que isso está acontecendo! Eu me recuso! Fui enganado! Enganado! Não é justo! Não é certo! Sim, e quanto aos meus direitos humanos? Os meus, de mais ninguém! Todos têm direito a um julgamento justo… Eu também sou humano! Isso está errado!

[Anúncio.]

[O vigésimo nono andar foi concluído hoje.]

Não é justo. Tenha piedade de mim… Vamos lá. Tenha piedade de mim.

[O Mestre de Toda a Vida fala em nome da Torre.]

[Obrigado pelo seu esforço, todos.]

Eu não fiz nada de errado.

[Fiz uma escolha um tanto parcial, mas as outras crianças provavelmente deixarão passar dessa vez, já que tendo a ser um pouco mais generoso com aqueles que passaram por muito.]

Eu não… 

[Que a sorte esteja com você.]

Essa foi minha primeira derrota. Inspirei bruscamente e me levantei reflexivamente, meu coração batendo forte no peito. Não era a primeira vez que eu me imergia completamente em um personagem, mas era difícil me acostumar com a dor no coração que sentia quando voltava a mim. Quando olhei ao redor, percebi que estava em um canto da grande biblioteca.

— Mmm…

— Ugh… 

O Assassino de Constelações e o diretor também se sentaram. Por um tempo, nós três recuperamos o fôlego, exaustos demais para fazer qualquer outra coisa. Nossos pensamentos estavam embaralhados.

Após mais de dez minutos, o diretor sussurrou: 

— Gong-Ja…

— Sim?

— Por favor, venha aqui… — disse ele, gesticulando com a mão.

Por algum motivo, tive um pressentimento sinistro. Quando morava no orfanato, vi seus olhos ficarem ferozes assim depois que as crianças brigavam entre si. Fui calmamente até o lado do diretor e me ajoelhei.

— Estou aqui…

— Há muito tempo, durante o Período de Primavera e Outono, havia alguém chamado Wu Zixu.

Fiquei cada vez mais ansioso. Quando o diretor repreendia as crianças, ele nunca fazia isso imediatamente. Ele sempre fazia uma pausa e contava uma história, assim como pensava sobre uma pergunta por um dia antes de responder.

Pelo que me lembrava, a história de Wu Zixu era um sinal de alerta de nível S entre nós.

— Sim. 

— Já te contei essa história muitas vezes, então tenho certeza de que você se lembra. O homem desenterrou o corpo de um inimigo que matou sua família e o chicoteou até que seus ossos virassem pó. Mas pense um pouco nisso.

Assenti. 

— Tudo bem…

— Vamos supor que, quando Wu Zixu tentou desenterrar o túmulo para se vingar, alguém já tivesse cavado ali, facilitando a exumação. Eles até tiraram o caixão para ele. Você acha que Wu Zixu ficaria feliz e agradeceria por alguém ter exumado antes? Ou acredita que ele ficaria bravo e perguntaria por que mexeram no túmulo do cara que ele tinha reservado para se vingar primeiro? — perguntou o diretor.

— Uh… 

— Metade da história está faltando, não é?¹O raw é 굴묘편시(掘墓鞭屍)에서 졸지에 굴묘가 빠지겠구나.굴묘 mas parece que o (掘墓/exumar) foi deixado de fora repentinamente.

— D-Diretor — gaguejei, confuso.

— Sim?

— Você não está bravo porque eu me esforcei demais? Ou por que escolhi me sacrificar muito e não cuidar de mim mesmo…? Não era isso que você queria me dizer…?

— Gong-Ja, você é adulto agora. Sabe melhor como cuidar de si mesmo, então por que eu diria algo sobre isso? Foi difícil te criar, mas tenho que me preocupar com isso mesmo quando você já cresceu?

A voz do diretor era fria. Incrível. Ele disse isso como se não fosse nada. Não podia acreditar como minhas memórias me enganaram. Eu tinha esquecido que o diretor era realmente assim.

— Quando estava te criando, fiz questão de que você crescesse o mais forte possível. Simpatia é como um presente que te traz alegria se você o recebe de vez em quando, mas se você se acostuma com ela, se torna mais fraco e eventualmente murcha. Gong-Ja, eu não tenho pena da sua vida de forma alguma. Viva da maneira que você quer viver.

O Guardião assentiu.

— Entendo… Estava me perguntando de onde vinha seu temperamento, Zumbi. Você foi ensinado assim desde muito jovem…

De repente, fiquei curioso sobre como meus colegas do orfanato estavam se saindo hoje em dia. Kim Han-Bi era membro da Assembleia Nacional. Será que eu conseguiria encontrar um vídeo dele online?

— Gong-Ja.

— Sim?

— Mesmo se você não tivesse me dado os vídeos ou fotos, eu teria trabalhado até o osso para ferrar… Desculpe. Não, não preciso me desculpar. Você também é adulto agora. Sim, eu teria trabalhado até o osso para ferrar o Hwang Eun-Seo. Por que você foi lá e fez todo o meu trabalho por mim? Queria que eu te repreendesse quando terminássemos?

Ei, sou velho demais para ser repreendido! Além disso, o Guardião e a Brilhinho estão assistindo!

— Não, mas eu também tinha que fazer algo… Além disso, entrei no cenário um ano antes de você e comecei com um nível de imersão de 95%. Isso não faria qualquer um sentir um pouco de pressão?

O diretor fez uma pausa.

Sim! Eu sabia! O diretor fingia que não, mas na verdade ele se importava muito com as outras pessoas. Eu sabia! Sou adulto agora, então posso perceber!

Rapidamente acrescentei: 

— Sim, Diretor. Você nos disse que deveríamos viver da maneira que queremos. Quando entrei neste cenário, fiz o que queria, com base no que você me ensinou.

O Guardião parecia ter tido outra revelação.

— Entendo… Também me perguntava como você conseguiu aprimorar suas habilidades de fala. Sua cara de pau também faz parte da sua educação básica.

Nesse momento, o Assassino de Constelações se levantou. Os cantos de seus olhos estavam úmidos, como se ele tivesse derramado lágrimas enquanto dormia por causa de um pesadelo. Ele olhou diretamente para mim sem enxugar os olhos.

— Rei da Morte, como você esperava, passei a entender Kim Yul depois de experimentar seu passado em primeira mão e lembrar como ele vivia. Aprendi muito, mas tem uma coisa que gostaria de te perguntar. O que você quer que eu faça agora?

Eu disse: 

— Kim Yul é uma vítima que foi assassinada. Há um testamento que ele deixou quando morreu.

“Vocês são os que me mataram. Não esqueçam que vocês fizeram isso comigo.”

As duas frases formavam o ressentimento de Kim Yul. Mesmo que isso significasse abrir mão da própria vida, ele deixou um grito que assombraria seus assassinos, os animais, para que nunca esquecessem o que fizeram. Dessa forma, eles sofreriam para sempre.

Tirei o lenço do bolso e o segurei com força. 

— Mas você esqueceu algo.

O Assassino de Constelações inclinou a cabeça. 

— Esqueci o quê?

— Humanos de inúmeros mundos foram sacrificados porque você matou Constelações. Você esqueceu deles.

No quinquagésimo andar, ao qual cheguei usando um atalho, o Assassino de Constelações disse que não se lembrava do que fez.

— Eu cometi dois erros. Primeiro, não considerei a possibilidade de uma nova Constelação nascer novamente em um mundo onde uma Constelação pereceu. O segundo erro é que subestimei quão grave pode ser a maldição que uma Constelação pode lançar sobre seu mundo ao morrer.

— Não cometerei o mesmo erro no futuro. Para expressar minha gratidão pelo seu conselho, ofereço uma recompensa.

Apertei o lenço ainda mais forte. 

— Você fez isso porque não sabia. Não foi intencional. Tudo bem simplesmente esquecer e seguir vivendo? Kim Yul achava que estava tudo bem os animais esquecerem dele?

O Assassino de Constelações não respondeu.

— As pessoas que intimidaram Kim Yul foram os piores filhos da puta, Assassino de Constelações. Mas isso não lava seus pecados. Não use as mesmas desculpas que esses animais.

O que eu desejava era que ele parasse de ser um fantoche. Se ele pudesse voltar a ser humano, isso seria ainda melhor.

— Enfrente aqueles que te prejudicaram e as vidas que você prejudicou. Por favor, enfrente de frente.

O Assassino de Constelações permaneceu em silêncio.

— Por favor, tome uma decisão. Agora. Se você não quiser que eu te convoque usando a Reencarnação da Legião de Monstros , nunca mais farei isso. Um dia, encontrarei todos os seus fantoches e os destruirei. Mas se…

— Se? — O Assassino de Constelações finalmente olhou para mim. Havia um redemoinho de emoções em seus olhos azuis. — O que acontece se eu decidir enfrentar todos aqueles que prejudiquei?

Eu não sabia se isso era um traço deixado por Kim Yul, um estudante do Segundo Ano, Classe 5 da Escola Shinseo, ou se era uma emoção que o próprio Assassino de Constelações sentia. Por isso, perguntei: 

— O que Kim Yul teria feito?

Sem resposta. 

— O que você quer fazer?

O Assassino de Constelações finalmente disse: 

— Eu…