A lua estava levemente tingida de vermelho por causa do céu empoeirado esta noite. Quando uma pessoa sangrava, também ficava coberta de vermelho. A coincidência me deixava inquieto.
Parecia que a lua estava sangrando. Caminhei, com minha ansiedade me seguindo como uma sombra.
Podia ouvir os servos conversando ao longe.
— Não deveria fazer isso aqui, minha lady!
— Esta é a propriedade da Duque de Ivansia!
— Sei que Sua Alteza a estima, mas é tarde…
— Ela é praticamente uma invasora — murmurou Lady Lírio de Prata enquanto caminhava ao meu lado. Seu tom refletia seu desprezo pelo Inquisidor – não, por Lady Taça Dourada. — Considerando que ela veio a esta hora, provavelmente não está aqui para tomar chá comigo. Mordomo, ela pediu que você organizasse uma visita?
— Não, ela não pediu.
Eu também estava perplexo. Já passava da meia-noite. O Inquisidor não tinha motivo para encontrar Lady Lírio de Prata agora.
Anteontem, tivemos uma conversa.
— Vou trabalhar temporariamente como mordomo de Lady Lírio de Prata. — Eu disse. — É para obter informações sobre ela e usar isso para conquistar este cenário.
— Hmm. — A expressão do Inquisidor mudou sutilmente, embora por pouco tempo. Ele rapidamente retomou seu sorriso brilhante habitual. — Tudo bem! É inevitável para o sucesso da missão. Entendo. Boa sorte, senhor Rei da Morte!
Foi isso que combinamos. Era para ser esse o nosso acordo.
— Tragam meu mordomo!
Nos aproximamos da voz.
— Meu mordomo! Sei que você está aqui!
No jardim de flores da vila de Lady Lírio de Prata, o céu noturno escuro não conseguia esconder completamente a primavera que ali reinava. As magnólias brancas pendiam com o peso da estação. A lua vermelha brilhava sobre elas, criando a ilusão de um jardim repleto de magnólias púrpuras em plena floração.
— Ah!
Uma pétala de magnólia caiu.
— Aí está você, meu mordomo! Eu sabia! — O Inquisidor afastou os guardas no portão.
Enquanto os guardas hesitavam, incapazes de usar força contra uma lady nobre, o Inquisidor ergueu o vestido e avançou pelo jardim, pisando na pétala caída.
Ele sorriu.
— Estava preocupada porque você não voltou mesmo sendo tão tarde. Você fez sua mestra se preocupar tanto que tive que vir até aqui. Não é imperdoável para um servo?
Minha ansiedade atingiu o ápice quando vi o Inquisidor. O luar iluminava seu cabelo loiro, que estava ainda mais longo que ontem.
— Minha lady… — consegui dizer com dificuldade.
— Você é meu único mordomo e meu amigo de infância, então significa mais para mim do que apenas um servo. É muito indelicado de minha parte pedir que você entenda isso?
Não era só o cabelo. Eu podia ver traços do Inquisidor em sua aparência, mas ele parecia, de alguma forma, estranho.
Será que ele usou uma Fórmula Divina para mudar sua aparência? Pensei. Por quê?
— De qualquer forma, você não deveria estar num lugar como este. Parece até que os canteiros deste jardim são venenosos. Agora, meu mordomo. — O Inquisidor se aproximou de mim. — Volte comigo.
— Que insolência a sua. — Lady Lírio de Prata o interrompeu. — Só causar esse tumulto no meio da noite já é crime suficiente para merecer chibatadas. Não me diga que você não sabe onde está levantando a voz agora. Se ajoelhe imediatamente e confesse seu erro.
— Ah, vai bater nas minhas panturrilhas com uma vara depois disso? — O Inquisidor sorriu finamente. — Se for me bater, por favor, bata forte, minha lady. Fico imaginando o que aconteceria se eu mostrasse as marcas nas minhas panturrilhas para Sua Alteza. Será mais uma memória afetuosa para compartilharmos, Sua Alteza e eu.
— C-como ela ousa dizer isso…!
Os servos tremiam. A noiva oficial do Príncipe Herdeiro era Lady Lírio de Prata, mas o Inquisidor ousadamente ameaçava virá-lo contra ela. Vermelhos de raiva, os servos encaravam o Inquisidor.
— Sério? — murmurou Lady Lírio de Prata calmamente.
Os servos pausaram ao ouvir sua voz. Eu também senti um frio no coração por um momento.
— Suponho que sim.
Sua voz congelou o sangue em minhas veias.
— É belo tentar construir memórias durante os dias de escola. Bem, até um mergulho numa lixeira se torna uma memória nostálgica na sua idade. Já que você quer construir memórias belas, eu, como nobre deste Império, vou te ajudar. — Lady Lírio de Prata ergueu a mão esquerda. — Me tragam uma vara.
Os servos tremeram.
— M-meu lorde…
— Lembro de ter ordenado que não me chamassem assim aqui.
— Se Sua Alteza descobrisse isso por algum acaso…
— Ela causou um tumulto na propriedade da minha família. Estão me dizendo que devo simplesmente deixá-la ir? Mesmo que eu o faça, a notícia se espalhará e manchará o nome da família. A lei está acima de tudo, e Sua Alteza é responsável por mantê-la.
Os servos prenderam a respiração. Não pareciam convencidos, pois o Príncipe Herdeiro não era esse tipo de pessoa, mas nenhum deles podia expressar suas dúvidas.
— Minha mão esquerda ainda está vazia — repreendeu Lady Lírio de Prata. — Me tragam uma vara. Não me façam repetir novamente.
Os servos se moveram rapidamente pelo caminho coberto de magnólias para buscar uma vara. Todos mantinham a cabeça baixa, como se temessem que o luar tocasse seus rostos.
Apenas duas pessoas ali, Lady Lírio de Prata e o Inquisidor, mantinham a cabeça erguida.
No fim, não tive escolha a não ser me aproximar do Inquisidor.
— Minha lady. O que está acontecendo? Por que está aqui a esta hora?
— Você faz uma pergunta óbvia. Vim aqui para recuperar o que é meu. — O Inquisidor sorriu. — Estive esperando por você desde a manhã, mas você nunca voltou. A princípio, pensei que era uma emergência, mas então soube que você estava ao lado de Lady Lírio de Prata.
O Inquisidor cobriu a bochecha.
— Percebi imediatamente que ela estava usando sua fraqueza para te ameaçar. Afinal, essa é a especialidade dela. Coitado de você, você foi pego no fogo cruzado por causa de Sua Alteza e eu…
Eu não entendi o que ele estava dizendo.
— Não se preocupe. — O sorriso do Inquisidor ainda era brilhante. — Não vou mais perder nada para ela, seja o amor de Sua Alteza ou sua lealdade. Vara? Ela pode me chicotear o quanto quiser. Não importa. Vou te salvar, meu mordomo. Quem vai se machucar é ela se me bater.
— Não… desculpe. Com licença por um momento. — Me aproximei um pouco mais do Inquisidor para que ninguém ao nosso redor ouvisse o que falávamos. Felizmente, ninguém me impediu. — Minha lady.
— Sim, meu mordomo.
Engoli em seco e sussurrei:
— Senhor Inquisidor.
O silêncio prevaleceu por um momento.
— Sim?
Meu coração batia forte. Meus lábios estavam secos, e eu não conseguia mover a língua. Nunca percebi o quão difícil podia ser tecer palavras numa frase.
Lentamente, eu disse:
— Quando a primavera chegar.
— Perdão?
Meu coração…
— Senhor Inquisidor…
— Do que está falando, meu mordomo?
— Se você está brincando como da última vez, vou ficar bravo. Sério. Estou te perguntando muito a sério agora, então, por favor, me responda direito. Qual é o seu nível de imersão? — perguntei, com urgência.
O Inquisidor piscou.
— Hã? Parece que você é quem está brincando, meu mordomo. Está se sentindo nostálgico? Ou talvez tenha ficado um pouco instável depois de passar um dia inteiro com ela. Hahaha, posso entender isso.
— Quando a primavera chegar…
O Inquisidor riu.
— A primavera já chegou, meu mordomo.
Não.
— Não é uma estação linda? — Lady Taça Dourada riu.
Os servos que haviam se espalhado pela vila retornaram. Mantinham a cabeça baixa enquanto um deles oferecia uma vara a Lady Lírio de Prata.
— E-eu trouxe o item que ordenou…
Era fina. Eu podia dizer que eles correram pela mansão procurando a vara mais fina. Provavelmente era a maneira deles de demonstrar lealdade.
No entanto, Lady Lírio de Prata disse friamente:
— Tragam outra.
Os servos estremeceram e voltaram para dentro da vila.
— Outra.
A ordem foi repetida quatro vezes. A vara ficava mais áspera e grossa a cada vez. Quando o servo mordeu o lábio e trouxe a quarta vara, Lady Lírio de Prata a pegou com a mão esquerda.
— Lady Taça Dourada.
— Por que não me chama pelo meu nome verdadeiro, minha lady?
— Sylvia Evanail.
— Sim, Lady Raviel Ivansia.
A lua e o sol se enfrentaram.
— Você invadiu a propriedade da Duque e causou um problemas. No entanto, não se desculpou. Há uma clara hierarquia no Império, então sua insolência me deixa horrorizada. Punirei seu crime em nome da autoridade que Sua Majestade me concedeu.
— Meu crime? Eu sou quem melhor conhece meu crime. — Lady Taça Dourada sorriu radiantemente. — Meu crime é receber o mais profundo afeto de Sua Alteza, o Príncipe Herdeiro, apesar de ter nascido numa família de barões nas periferias.
Isso não era algo que se dizia à noiva do Príncipe.
— Desculpe por ser amada. — A filha do Barão de Evanail ergueu ligeiramente o vestido com as mãos. Uma taça dourada chegou ao jardim de magnólias e fez uma reverência perfeita, como saída de um livro, ao lírio à sua frente. — Desculpe por receber mais amor do que você, Lady de Ivansia. Isso é suficiente como desculpas?
O vento soprou.
— Mas, Lady de Ivansia, eu tenho uma pergunta. Este é realmente meu crime? O amor só tem significado quando alguém o recebe. As pessoas amam ou são amadas. Sou realmente eu quem deve ser responsabilizada por essa divisão? Talvez… — Lady Taça Dourada não terminou a frase e riu em vez disso.
As pétalas caíram dos galhos escuros.
Lady Lírio de Prata ergueu a mão esquerda.
— Você é uma pessoa horrível.
Sua vara cortou o ar noturno. Lady Taça Dourada não gritou nem gemeu. Ela simplesmente permaneceu ereta. Até o sorriso esculpido em seu rosto não desapareceu, como se fosse uma estátua. Ela – ele – estava confiante na vitória.
[Seu nível de imersão no personagem aumentou.]
Por isso, parecia que a lua estava sangrando aos meus olhos.
[Seu nível de imersão é 40%.]
Esta noite, a lua estava um pouco vermelha no céu empoeirado. Quando um humano jazia no chão sangrando, também ficava vermelho. Por causa do ar empoeirado, Lady Lírio de Prata tossia secamente. Ninguém dizia nada. A noite era silenciosa, exceto pela tosse dela e pelo som da vara chicoteando a pele de Lady Taça Dourada.
— Sylvia! Sylvia! Você está aí, Sylvia!?
Uma onda de tochas chegou, e o som de passos quebrou o silêncio. O Príncipe Herdeiro correu para o jardim segurando uma tocha própria. Os guardas o seguiram apressadamente. Sim, não havia como ele não estar ciente de um tumulto como este.
— Syl…
O Príncipe Herdeiro parou diante do portão. Ao ver o que acontecia no jardim, ele ficou em silêncio por um momento.
— Raviel…! — Sua voz carregava um calor diferente de quando chamou por Lady Taça Dourada. — Saiam do meu caminho!
O Príncipe empurrou os guardas da propriedade. Nenhum deles podia deter o futuro Imperador.
Ele foi imediatamente ao lado de Lady Taça Dourada.
— Como…? Ainda… Como…!
— Estou bem, Vossa Alteza.
— Eu não estou bem! Sua tola…! — O Príncipe Herdeiro verificou rapidamente seu estado e então se virou, encarando Lady Lírio de Prata. — Que desprezível de sua parte!
As palavras podiam ferir uma pessoa.
— Como você pôde tratá-la assim!
Elas deixavam feridas invisíveis, então o dono dessas palavras não percebia.
— Tive que impor a lei do Império, Vossa Alteza — respondeu Lady Lírio de Prata.
— A lei não é mais importante que as pessoas!
— Elas são mais importantes que uma pessoa.
— É por isso que te chamo de desprezível! Você não é diferente de uma bruxa!
O mundo provavelmente se dividia entre aqueles que conheciam as feridas e aqueles que não. O Príncipe Herdeiro era um dos últimos.
Após tossir algumas vezes, ela suspirou.
— Gostaria de me punir?
O rosto do Príncipe se contorceu, mas ele não conseguiu responder à pergunta. Balançou a cabeça, como se não valesse a pena responder, mas isso era apenas negar a realidade. Ele não tinha coragem nem habilidade para lidar com Lady Lírio de Prata.
— Vamos, Sylvia! Você não deveria estar num lugar como este. — O príncipe herdeiro ergueu Lady Taça Dourada.
Nos braços dele, Lady Taça Dourada olhou para mim.
— Meu mordomo, venha conosco.
Em vez de responder, olhei para o Inquisidor.
Como se estivesse rezando, murmurei: Mostrar a janela de personagem.
Nome: Sylvia Evanail.
Afeição: 90
Gênero favorito: Romance
Gênero não favorito: Ficção política
Personagens favoritos: Pessoas que a amam, o príncipe herdeiro, o mordomo, os professores, os veteranos, os calouros, os colegas de classe.
Personagens não favoritos: Raviel Ivansia
Pontos de trama favoritos: Vitória dos fortes, amor verdadeiro
Pontos de trama não favoritos: Derrota dos fracos, traição
Estado de Espírito: Raviel Ivansia, não te darei nada.
A janela de personagem não tinha mais o nome “Inquisidor”. Seu gênero preferido – contos de fadas – e seu personagem preferido – humanos – também haviam sumido. O Inquisidor estava completamente imerso e consumido pelo papel de Lady Taça Dourada.
— Meu mordomo, você virá comigo, não é?
Eu podia sentir que estava perto do fim desta tentativa.
Tradução: Rlc
Revisão: Pride
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