— Parece que é a primeira vez que você ouve isso — disse Lady Lírio de Prata. — A Constelação que te enviou não te contou nada antes? Isso é raro. Quando enviam seu apóstolo, as Constelações geralmente fornecem o máximo de informações possível. Você está, por acaso, em maus termos com sua Constelação?
— Um apóstolo…?
— Você realmente não sabe de nada. Interessante. — Lady Lírio de Prata abriu uma gaveta e tirou uma ampulheta idêntica à que ela acabou de virar.
Ela pressionou levemente o sino em sua mesa, e a porta do escritório se abriu.
— Sim, minha lady.
— Vocês têm mais quinze minutos. Pode ser mais, então diga a todos que podem relaxar — instruiu ela ao servo.
— Parece que está gostando da conversa. Devo trazer um chá?
— Hmm, sim, traga o de Jerny.
— Entendido. — O servo de cabelos grisalhos se curvou e saiu.
Fiquei ali, sem jeito, sem saber o que dizer.
Lady Lírio de Prata olhou para mim, e os cantos de sua boca subiram ligeiramente.
— Tudo bem. Fique à vontade.
Ela claramente não estava me convidando para sentar.
— Qual Constelação te enviou? Mutia? Estrela Tríade? Hismit Critz? Nazaro? Psimae? Hmm, você não parece ter ouvido falar de nenhuma delas antes. Quem, afinal, você está representando?
— O Bibliotecário da Grande Biblioteca de Toda Vida… Não, o Bibliotecário Interno me enviou.
Tropecei um pouco nas palavras. Minha mente estava uma bagunça. Eu sentia que a mulher na minha frente não era comum, mas não sabia que as coisas tomariam esse rumo. A razão pela qual consegui lembrar o título foi apenas porque me agarrei aos últimos fragmentos da minha mente bagunçada.
— Biblioteca… Interno… — Lady Lírio de Prata girou sua pena com a mão esquerda. — Ah, Hamustra.
Ela conhecia o nome verdadeiro da Constelação.
— Hamustra não te explicou nada? — perguntou ela.
— …O Bibliotecário Interno prefere evitar interferir nos assuntos de um livro apocalíptico o máximo possível. Ele gostaria que eu descobrisse as informações por mim mesmo, em vez de me dá-las.
— Um livro apocalíptico?
— …É assim que o Bibliotecário Interno chama um mundo destinado à destruição porque sua barreira colapsou sem sua Constelação — expliquei.
Os olhos de Lady Lírio de Prata semicerraram ligeiramente, como se ela achasse essa frase divertida. Seus olhos vermelhos se destacavam mesmo semicerrados, tinham uma cor que dominava quem quer que ela olhasse.
— É bastante arrogante da parte dele chamar o mundo de outra pessoa como bem entende. Suponho que seja esperado de uma Constelação. Um “livro apocalíptico”. Hmm, um livro apocalíptico… não está errado dizer que este mundo acabará algum dia, mas não posso simplesmente entregar minha alma.
Pisquei.
— …Espera, você ainda parece não ter ideia do que estou dizendo. Você não possuiu o corpo do mordomo de Lady Taça Dourada para tomar minha alma?
Balancei a cabeça. Eu realmente não sabia disso também.
Lady Lírio de Prata franziu os lábios. Ela me olhava como se eu fosse um unicórnio. Com os olhos ainda em mim, ela abriu a gaveta para tirar uma terceira ampulheta.
Ding.
— Sim, minha lady? Por acaso, o chá está pronto. — O servo de cabelos grisalhos sorriu gentilmente.
— Descansem por mais quinze minutos.
— Os outros vão adorar isso. — O servo saiu.
Os olhos de Lady Lírio de Prata não me deixaram nem enquanto ela tomava seu chá preto.
— Mordomo de Lady Taça Dourada.
— Ah, por favor, me chame de Kim Gong-Ja. Esse é meu nome verdadeiro.
— Não quero. É rude da sua parte pedir isso de mim. Se culpe por possuir um mordomo que não é nobre.
Ela parecia estar agindo um pouco arrogante.
— De qualquer forma, entendo que você é uma página em branco. Parece que você nem recebeu o guia de estratégia.
O que era esse guia de estratégia?
— É assim. — Lady Lírio de Prata tirou uma folha de papel tamanho A4 de sua gaveta. Estava marcada com uma escrita cursiva arredondada.
…
Fiquei sem palavras. Que porra?
— Este é o guia de estratégia que o apóstolo que veio conquistar meu coração na sexta rodada carregava. Aquele, enviado pela Constelação chamada Mahos, chamava isso de rota romântica.
Minha boca caiu.
— R-rota romântica…
— Fiquei tão perplexa que o envenenei até a morte e depois peguei o guia — disse Lady Lírio de Prata calmamente. — Quando ele morreu, gritou: “Segui o guia perfeitamente, então por que você não se apaixonou por mim!?” como se ele fosse a vítima. Mas eu era a vítima. Como pode haver um guia de estratégia para o coração de uma pessoa?
[O Coração Prateado expressou sua reclamação.]
— Eles pensaram que eu era fácil. Se realmente quisessem conquistar meu coração, teriam que fazer avanços de forma justa. Mas tudo o que falavam era sobre o guia de estratégia e as rotas românticas. Essas pessoas eram podres.
— Você… você está certa.
— Sinto que posso conversar com você. — Lady Lírio de Prata colocou a xícara de chá na mesa. — Tem uma razão para eu ter uma boa opinião sobre você. Não só é esperto, mas também sinto que vê as pessoas do meu mundo como seres humanos.
— S-sério? Parece que você está me elogiando por ser normal…
— Havia muitas, muitas bestas que não conseguiam atingir esse padrão óbvio. Essas bestas não consideravam as pessoas humanas, mas acreditavam firmemente que elas mesmas eram humanas. São criaturas imundas.
Minha respiração ficou presa na garganta.
Ela apoiou o queixo na palma da mão enquanto me examinava. Após soltar um gemido, ela assentiu.
— Entendo.
Badump.
— O que acabei de dizer significa muito para você.
Badump.
— Você também viu muitas pessoas assim? Alguém já te olhou com esse tipo de olhos?
Badump.
— Se não é nenhum dos dois, então… Entendo. Alguém precioso para você disse algo semelhante…
— Minha lady!
Eu a interrompi, incapaz de suportar mais seu olhar. Era como se ela tivesse aberto meu peito, arrancado minhas costelas e segurado uma lupa sobre meu coração exposto.
[O Coração Prateado olha para você.]
Não podia mais deixar que ela controlasse essa conversa.
— Apesar do que disse, você também me olhou com desprezo por possuir um plebeu, não um nobre.
Lady Lírio de Prata nem piscou.
— O quê? Você está tão chateado porque não te chamei pelo seu nome verdadeiro?
— Só estou dizendo que você não está em posição de reivindicar superioridade, minha lady.
— Não estou em posição de reivindicar superioridade… Você realmente soa como o mordomo mau que virou a academia de cabeça para baixo. — A voz de Lady Lírio de Prata, de alguma forma, tinha um toque de alegria. — No entanto, admito que você tem razão. Então, voltemos à conversa que estávamos tendo originalmente.
Lady Lírio de Prata tossiu.
— Então?
— Perdão?
— Entendo que você não quer minha alma. Então, por que cruzou a fronteira dos mundos e veio até aqui? Este é um mundo onde dez dias se repetem para sempre.
[O Coração Prateado duvida da sua sinceridade.]
— Certeza que a Constelação não te exilou aqui porque te odeia. Ouvi dizer que Hamustra é meio moderado, mas isso não significa que você veio aqui para curtir férias. Ator que interpreta o mordomo de Lady Taça Dourada, responda à minha pergunta.
— Eu… — Minha voz falhou.
— Não aceitarei uma mentira como resposta. No momento em que você adicionar uma pitada de mentira, nunca conseguirá o que quer de mim. Não mostro meu coração para alguém que não me mostra o seu primeiro.
Pensei profundamente. Uma das possíveis razões seria que eu queria que seu mundo se tornasse o vigésimo quinto andar da Torre. Mas esse estágio era realmente necessário para as pessoas da Torre? Não, não seria um problema se outro livro apocalíptico fosse escolhido para o vigésimo quinto andar.
Era verdade que um fragmento da minha espada sagrada estava em algum lugar neste mundo. No entanto, eu precisava coletar todos os fragmentos e completar a espada sagrada? Não, não precisava. Encontrar as irmãs da Brilhinho me tornaria, seu dono, mais forte, mas isso também significava que não havia um significado mais profundo nisso.
Então, por que eu deveria ficar neste livro?
— …Ainda não conheço o amor — deixei escapar.
— O quê?
— Talvez seja mais próximo de sentimentos românticos. Sou ignorante sobre eles. Você pode não saber disso, mas os gêneros deste mundo incluem romance. Então, acho que este é o lugar certo para aprender sobre o amor.
Quando a Mestra estava em sua última partida, o Guardião gritou algo enquanto cruzavam lâminas.
— Gong-Ja ainda não experimentou a felicidade do mundo.
— Sabe de uma coisa, Demônio Celestial? Esse cara nunca se apaixonou por ninguém. Também nunca teve um encontro! Não é engraçado?
Essas palavras ficaram gravadas profundamente em meu coração.
— Se tem algo que me falta, quero aprender. Não parece justo deixar isso desconhecido. Não sentirei que vivi a vida ao máximo.
Lady Lírio de Prata examinou meu rosto cuidadosamente. Talvez fosse minha imaginação, mas seus olhos vermelhos pareciam tingidos de confusão.
— Então, você quer aprender sobre o amor?
— Sim, é isso.
— De mim?
— …Não tenho certeza disso.
— Explique.
Organizei meus pensamentos.
— Para ser exato, é mais como se eu quisesse aprender sobre o amor neste mundo.
— Este mundo…
— Sim, quero saber o que me falta.
— Então, por que veio até mim? Não seria melhor ir até sua Lady Taça Dourada?
O Inquisidor. Lady Taça Dourada.
— Não, não seria — respondi.
— Por quê? Você não gosta de quem a está possuindo?
— Não é uma questão de gostar ou não. Essa pessoa é…
“Se eu fosse como você.”. Disse o Inquisidor.
— Essa pessoa é ainda mais desajeitada nisso do que eu. Se vou aprender, devo aprender com alguém que sabe mais.
Lady Lírio de Prata tomou um gole de chá. Após um momento de silêncio, ela concordou.
— Bem, Lady Taça Dourada nesta rodada não parece o tipo de pessoa que poderia ensinar alguém sobre amor. Parecia que ela mesma precisava ser ensinada.
— Exato.
— Mas isso ainda não parece uma razão para você vir até mim.
— Tenho uma razão — respondi, minha voz crescendo enquanto lembrava do pensamento que tive na masmorra. — Quero te entender.
Lady Lírio de Prata piscou. Algumas gotas de chá respingaram de sua xícara, umedecendo levemente a frente de seu vestido. Parecia que ela não esperava o que eu disse.
— Você quer me entender…?
— Sim. Não sei se é pelo Príncipe Herdeiro ou pelo Império, mas você dedicou sua vida. Estou curioso sobre como você consegue fazer isso. Quero saber que tipo de pensamentos e sentimentos te levam a fazer isso. Se é por amor, desejo senti-lo, assim como você. Estou um pouco envergonhado, mas estou respondendo o mais honestamente que posso.
Demorou um pouco para Lady Lírio de Prata responder.
— Você… você não é como ninguém com quem já lidei antes.
Agora eu podia ver claramente que ela estava nervosa.
— Você quer saber sobre o amor. Essa afirmação por si só mostra que você não sabe o quão assustadoras as pessoas são. Mas você também quer me entender? Essas não são palavras que devem ser ditas levianamente. Elas envenenam as pessoas. Entender não é diferente de responsabilidade. Mas…
— Senhor Bibliotecário — olhei para o teto. Claro, ele não estava lá, mas estaria ouvindo essa conversa. Os Caçadores na Torre também estariam assistindo. — Por favor, pause a transmissão por um momento. Tenho algo que quero dizer apenas para Lady Lírio de Prata.
Um momento depois, ouvi uma voz em resposta ao meu pedido.
[O Bibliotecário Interno aceitou prontamente seu pedido.]
[O Bibliotecário Interno aprovou um salto de dez minutos.]
Certo. Olhei para Lady Lírio de Prata novamente.
— Eu também sou um regressor, mas minha regressão é um pouco diferente da sua, minha lady.
— Como é diferente?
— Você disse que repete os últimos dez dias de sua vida. Quando eu morro, volto um dia. Não é só voltar. Se alguém me mata, posso ver o trauma deles antes de voltar.
— Trauma?
— Sim. — Minha voz ecoou suavemente no escritório. — Posso ver as feridas, memórias e cenas que as pessoas guardam profundamente em seus corações. Se sua ferida vem da destruição de seu tesouro, posso ver aquele exato momento.
Não precisei escolher minhas palavras com cuidado. Apenas abri a boca e deixei minha língua se mover sozinha, e o que eu queria dizer fluiu da minha boca.
— Posso entender outras pessoas com um pouco mais de facilidade.
Enquanto contava meu segredo para Lady Lírio de Prata, de repente percebi que queria compartilhar minha história com alguém que vivia uma vida semelhante a minha.
Lady Lírio de Prata estava quieta. Enquanto continuava minha história, seus olhos ficavam mais calmos. Eu podia sentir que ela me ouvia seriamente.
— É minha Habilidade, uma espécie de técnica. Tenho medo de me acostumar a entender os outros facilmente. Uma das pessoas em quem mais confio me disse que nunca devo depender das minhas Habilidades. Mas…
— Mas? — Ela repetiu.
— Se meu entendimento deles for unilateral…
— …Não seria mais entendimento.
— Mas não posso simplesmente abandoná-los porque…
— Porque se você também desistir deles, murcharão até a morte. Mesmo que seja apenas hipocrisia, você quer que saibam que ainda está lá por eles. Você é muito abençoado por ter essa possibilidade, não é?
Engasguei por um momento.
— …Sim.
— Tolo. — Lady Lírio de Prata fechou os olhos. — Pode levar apenas um momento para entender alguém, mas a responsabilidade durará para sempre. Você está voluntariamente entrando no inferno.
Depois disso, ela ficou em silêncio.
[O Bibliotecário Interno notifica que o salto de cena terminou.]
— Tudo bem, mordomo de Lady Taça Dourada. — Lady Lírio de Prata abriu os olhos. Ela pegou uma das ampulhetas que havia virado na mesa e observou os grãos de areia escorrendo. — Vou te ensinar o amor.
Tradução: Rlc
Revisão: Pride
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