O Caçador Imortal de Classe SSS – Cap. 59 – A Equipe de Expedição Sem Esperanças e Sonhos (1)

 

Lavei o rosto na pia do banheiro da Grande Biblioteca. 

— Está bem. Antes de ir para o murim… vou morrer primeiro.

Como não havia outro humano no banheiro, ele permaneceu em silêncio. No entanto, havia um fantasma e uma espada, e ambos responderam.

— Que parte disso deveria estar bem?

[Brilhinho não entende sua declaração.] 

O Guardião piscou, e a Espada Sagrada cintilou.

— Estou falando de Lefanta Aegim. O primeiro imperador do Império Aegim, e o cara que transformou a Deusa da Proteção em Brilhinho.

[Brilhinho aponta que quem a nomeou Brilhinho foi você…]

— Não sei quem é, mas ele pode viajar entre mundos.

Vesti minha jaqueta. A Bruxa Negra mandou fazer esse terno sob medida para mim. Meu reflexo no espelho parecia um funcionário novo que acabou de se arrumar para ir ao trabalho. De alguma forma, era reconfortante.

— Pensa só. Brilhinho estava no Império Aegim, mas uma das espadas irmãs está no murim que é um mundo diferente. Isso significa que Lefanta Aegim tem a habilidade de viajar de mundo em mundo.

— Ah.

— Ele provavelmente é como um protagonista overpower — senti o cabo da Espada Sagrada pendurada na minha cintura. — Ele é capaz de construir um império, selar uma Constelação depois de dividi-la em pedaços e viajar para um mundo diferente. Seria estúpido pular para o murim atrás de outra espada sem pensar.

Eu precisava ser mais cauteloso.

— Não sou invencível — murmurei.

Sim, recentemente eu estava… me sentindo cauteloso comigo mesmo. Estava preocupado que minha confiança se transformasse em arrogância se eu baixasse a guarda só um pouco.

— Agora sou o Caçador Rank 3, derrotei o Rei Demônio praticamente sozinho, e todo mundo na cidade fala de mim. Além disso, estou até dando ordens para Caçadores que têm títulos.

— E daí? — perguntou o Guardião.

— Sinto que vou baixar a guarda em algum momento.

A Torre tinha cem andares, e eu estava apenas no vigésimo primeiro. Era cedo demais para me sentir seguro do meu sucesso.

Foi assim que cacei o Imperador das Chamas, pensei.

O motivo pelo qual o Imperador das Chamas, Yoo Soo-Ha, baixou a guarda foi seu Relógio do Retornador. Com essa Habilidade, ele não permaneceria morto mesmo se fosse. Era a Habilidade de trapaça suprema que parecia não ter contra-ataque – mas como ele estava agora?

Ele está morto. Após sua morte, até teve que dançar hopak na frente do exército de um mundo inteiro. Ele é o exemplo perfeito de por que um Caçador nunca deve baixar a guarda, independentemente de sua força.

— Acho que é só um exemplo de quão maligno você é, Zumbi… — resmungou o Guardião.

— Enfim, não vou pular para a Crônica do Demônio Celestial antes de bolar uma solução. Devo pelo menos descobrir como Lefanta Aegim é, já que não sei nada sobre ele.

Dizia-se que uma onça de prevenção valia mais que uma libra de cura. Queria reunir o máximo de informações possível antes de entrar no próximo cenário. Por que outra espada sagrada estava no murim, e não no Império Aegim? Por que uma figura overpower chamada Lefanta Aegim dividiu e espalhou os pedaços da Deusa da Proteção?

— Bem, é melhor prevenir que remediar. — O Guardião inclinou a cabeça. — Mas como exatamente vai se preparar? Como você disse, não sabe nada sobre esse tal de Lefanta e não tem como descobrir.

— É verdade que não sei nada, mas… — bati na minha espada sagrada. — …você está errado que não tenho um jeito.

— O quê?

— Esta espada é tecnicamente a Deusa da Proteção. São cinco no total, mas esta Espada Sagrada ainda é uma Constelação — sorri. — Agora vem a questão: se eu me apunhalar com ela, isso é suicídio ou um assassinato cometido por uma Constelação?

— Hã? Hããã? — Os olhos do Guardião se arregalaram de surpresa.

— É uma das duas. Não tenho certeza qual será… Digamos que é cinquenta-cinquenta – vale a pena testar.

Ao desembainhar a Espada Sagrada, ouvi uma voz me chamando urgentemente.

[Brilhinho sinceramente pede que você reconsidere sua escolha.]

— Por quê? — perguntei.

[Brilhinho diz que é constrangedor mostrar seu passado para outra pessoa.]

[Brilhinho solicita fortemente que você proteja sua privacidade.]

Eu sorri. 

— Qual é. O que quer dizer com privacidade? Te mostro tudo sobre minha vida vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. Vamos ser justos.

[Brilhinho implora que você não…]

A Espada Sagrada me perfurou. No momento seguinte, percebi que tinha ganhado minha aposta.

[Você morreu.]

[Foi determinado que sua morte atendeu aos requisitos para ativação da Habilidade.]

[Não é possível duplicar as Habilidades da Constelação: Deusa da Proteção, pois estão seladas.]

Era um pouco triste que eu não pudesse copiar sua Habilidade, mas não era isso que eu buscava agora.

[Sua Classe de Caçador é D.]

[Iniciando a penalidade da sua Habilidade.]

[Recriando o trauma do seu assassino.]

[A intensidade da penalidade é nível intermediário.]

[O tema da penalidade é Reino Preta.]

O momento que eu desejava ver começou a se desenrolar diante de mim.

— Sua longa jornada finalmente terminou — ouvi uma bela voz dizer. — Eu sabia que você conseguiria, herói.

Nunca tinha visto a mulher antes, mas, por algum motivo, imediatamente soube quem ela era: a Deusa da Proteção. Isso era antes de ela ser selada nas cinco espadas. Agora, era uma Constelação com todo seu poder.

— Sim — respondeu o homem que ela chamou de herói.

É ele o Lefanta Aegim?

Lefanta Aegim, um homem elegante de cabelos prateados e o primeiro imperador do Império Aegim, estava sentado num trono sem decoração, parecendo profundamente fatigado.

— Sinto como se fosse ontem que eu estava em pânico após ser invocado para este mundo do nada. Você nunca sabe mesmo como a vida vai se desenrolar.

— Haha. Sinto o mesmo. Você realmente era um civil que não sabia de nada, mas agora é mais forte que eu. A maioria dos espíritos divinos não se com…

— Hã? Eu já vi esse desgraçado antes  — interrompeu o Guardião. Ele examinava o trauma reconstruído comigo.

O quê?

— Tô falando do cara de cabelo prateado. Ele é o Assassino de Constelações. Tenho certeza disso  — disse o Guardião, visivelmente perplexo.

Fiquei completamente pego de surpresa pelo fato de o Guardião e Lefanta Aegim já terem se encontrado.

O que é o Assassino de Constelações?

— É o título dele. Ele conseguiu isso porque é um filho da puta louco que só fazia caçar Constelações e espancá-las.

Espancar Constelações?

— Você viu que a Torre tá conectada a diferentes mundos. Quando chega no quinquagésimo andar, você tem que competir com Caçadores de outros mundos.

Hã? É assim?

— Sim, e esse Assassino de Constelações nunca sai do quinquagésimo andar — disse o Guardião.. — A Torre tá aí pra Caçadores subirem, mas ele tá sempre no quinquagésimo andar. Quando Constelações aparecem de vez em quando, ele imediatamente acaba com elas. Provavelmente matou centenas de Constelações.

…Então Lefanta Aegim também é um Caçador?

— Sim. Eu me perguntava de onde esse psicopata tinha vindo. Wow, não sabia que ele era de Aegim — murmurou o Guardião. — Não achei que encontraria alguém do meu passado aqui.

Hã… Como vocês dois se conhecem…?

— Como assim, como? Nós brigamos. Ele é forte, mas não compete comigo.

Enquanto conversávamos, o trauma continuava a se desenrolar.

— O que você planeja fazer agora, herói? Não há mais espíritos divinos ou demoníacos. Sua longa jornada agora…

— Constelações.

— Perdão?

— Não são espíritos divinos ou demoníacos. São Constelações. — Lefanta Aegim se levantou do trono. — E os mundos pertencem aos humanos, não às Constelações.

Ele se virou para a Deusa, sua aura vermelho-escura inflamando.

— …Herói? Por que você está usando sua aura de repente…?

O primeiro imperador do Império Aegim parou para refletir sobre algo, mas, apesar de sua profunda exaustão, não demorou muito.

— Não vou te matar, já que você me ajudou até agora.

Uma onda de sua aura vermelha atingiu a Deusa.

— Vou dividir sua existência e selá-la, assim, você nunca poderá recuperar seu poder. Quando as Constelações sumirem…

As últimas palavras dele foram abafadas pelo grito agudo da Deusa. Sua própria existência estava sendo despedaçada.

— Desculpe — disse Lefanta Aegim —, mas esse é o caminho certo.

O grito dela foi a última coisa que ouvi antes do mundo do trauma se desfazer.

[A recriação do trauma foi concluída.]

[Confirmado que o ego do sujeito sob a penalidade da Habilidade está intacto.]

[Encerrando a penalidade da Habilidade.]

Após voltar um dia, me tranquei no banheiro novamente.

— …Quem é esse cara? — murmurei. — Achei que teria uma ideia de quem ele é se visse o passado com a penalidade do trauma… mas ainda não faço ideia. Ei, Brilhinho, por que seu antigo mestre te selou?

[Brilhinho responde que também não sabe o motivo.]

Brilhinho brilhou com uma luz fraca. Talvez fosse só impressão minha, mas a luz parecia fraca hoje.

[Brilhinho diz, com franqueza, que lembra de Lefanta Aegim como um herói justo, embora muito quieto.]

[Brilhinho não faz ideia de por que ele a selou e abandonou o império que construiu com as próprias mãos.]

O mistério só aumentava.

— Eu te disse. Quanto mais alto o nível dos Caçadores, mais loucos eles são. — O Imperador da Espada deu de ombros. — Não tenta entender o Assassino de Constelações e esses malucos. Se você olhar pro abismo, o abismo olha pra você. Só fica forte como eu e espanca todos os caras que não gosta. Aí tá tudo resolvido!

Suspirei. 

— Bem, pelo menos sei como ele é.

E mais um fato ficou claro: Lefanta Aegim, o Assassino de Constelações, me enfrentaria assim que me visse por eu ter um pedaço da Deusa da Proteção, que ele selou.

Olhei para o espelho, franzindo a testa. 

— Se vou encontrá-lo no quinquagésimo andar de um jeito ou de outro, quero estar preparado…

— Acorda. Você tá muito longe do nível dele! Ele pode ser mais fraco que eu, mas ainda é um dos Caçadores mais fortes da Torre. E se tem tempo pra se preocupar com o quinquagésimo andar, chega lá, seu fraco!

Ele não estava errado, então passei o dia como antes. No dia seguinte, os Caçadores terminaram de ler os livros apocalípticos e escolheram um para ser o vigésimo segundo andar. Como era a recomendação de ninguém menos que Espada do Luar, a Crônica do Demônio Celestial foi escolhida com oposição mínima.

— Escolheram uma novel murim como a primeira, hein? — Ao ver nossa escolha, o Bibliotecário Interno sorriu misteriosamente. — Não é uma má escolha! Não será exatamente o murim que vocês conhecem, mas tem suas próprias artes marciais e gangho . Dependendo de como conduzirem a trama, podem receber uma joia escondida que vale toneladas de ouro, como uma habilidade do murim parecida com uma Habilidade, usando sua terminologia.

Os Caçadores ficaram animados.

O Bibliotecário Interno logo jogou um balde de água fria no clima.

— Mas tudo é alto risco, alto retorno! Os personagens inimigos também são fortes. Acho que é óbvio, mas se vocês morrerem num livro apocalíptico, morrem na vida real. Claro, não podem escapar de um livro apocalíptico até verem um final apropriado!

Os Caçadores ficaram quietos, como era de se esperar. A menos que alguém tivesse uma Habilidade incomum como a minha, a morte tinha o poder de calar as pessoas.

— O número de desafiantes necessários é de duas a quatro pessoas. Agora! Quem quer ser os personagens deste livro apocalíptico? — perguntou o Bibliotecário Interno.

Os olhos dos Caçadores caíram naturalmente sobre os Rankers Altos, especialmente em mim. O motivo era simples: nos últimos dias, eu estava dando ordens para eles como se fosse o líder. Bem, com grande poder vem grande responsabilidade, e eu não tinha intenção de fugir disso.

— Eu vou.

Minha resposta rápida trouxe sorrisos orgulhosos aos rostos dos líderes das guildas, como se soubessem que eu diria isso. No entanto, a maioria dos Caçadores me olhou com surpresa.

— Também vou — disse Espada do Luar depois de mim. — Fui eu que recomendei o livro apocalíptico, então não posso ficar de fora.

Ele parecia sério, mas os cantos da boca estavam ligeiramente curvados. Dava pra ver que ele estava louco para lutar. Provavelmente estava feliz por, sendo um ávido leitor de murim entrar no murim de verdade.

— Ótimo. O número mínimo foi alcançado! — O Bibliotecário Interno riu suavemente. — Mais duas pessoas podem se tornar personagens deste livro apocalíptico… Qual é a escolha de vocês?

— Por sinal, tem mais um motivo para eu ter recomendado esse livro — anunciou Espada do Luar. — Gostaria que todos dessem uma olhada no motivo pelo qual a serialização foi descontinuada.

Crônica do Demônio Celestial

Gêneros: Murim, fantasia de fusão

Nível de dificuldade: B

Desafiantes necessários: 2~4 pessoas

[O tema da penalidade é Reino Preta.]

Descrição: Este é o mundo onde as pessoas admiram, praticam e dominam artes marciais! O Demônio Celestial aparece e tenta unificar o murim liderando o Culto do Demônio Celestial. As outras facções se levantam contra ele e lutam pelo futuro do mundo… Bem, teriam feito isso se não fosse por uma super praga.

Razão para descontinuação da serialização: Uma praga misteriosa eclode, matando o Demônio Celestial e dizimando o Culto do Demônio Celestial e as outras facções. Fim.

Mesmo olhando de novo, o motivo ainda era absurdo. Não especificava que tipo de praga era, só dizia “dizima o Culto do Demônio Celestial e as outras facções”. Ninguém sabia o que exatamente aconteceu.

Vou descobrir quando entrar nesse mundo.

De qualquer forma, estava claro que o murim ia encontrar sua ruína por causa dessa praga misteriosa.

— Como todos viram, uma praga levou o mundo à extinção. Precisamos não só de Caçadores fortes, mas também de quem entende de doenças. E eu conheço o melhor. — Espada do Luar assentiu e chamou uma pessoa do grupo murim com um sorriso. — Pode vir, Rei da Medicina?

Um homem idoso, com as mãos cruzadas atrás das costas, saiu.

— Ah, eu conheço ele! — gritou o Imperador da Espada.

Por quê? Quem é?

— Lembra da loja que tentei te levar no começo? — lembrou o Imperador da Espada. — Esse cara é o dono da loja que vovô Marcus frequenta. 

Aha, entendi.

— Ele é bom em fazer remédios, sim, mas… — O Guardião hesitou.

Ninguém sabia o motivo melhor que eu.

— Não se preocupem. Eu cuido da maior parte da luta. Se eu não for suficiente, o Rei da Morte vai ajudar, e o Rei da Medicina pode focar em resolver a praga. Nós três podemos… Rei da Morte, tem algo que quer dizer? — Espada do Luar me olhou com uma expressão confusa.

— Sim, tenho. Tem uma pessoa que gostaria que se juntasse a mim — baixei a mão e apontei para a Química.

A Química abriu e fechou a boca algumas vezes, incerta sobre por que foi chamada do nada, antes de conseguir dizer: 

— S-sim? Está falando de mim…?

Assenti. 

— Sim, estou falando de você.

A Química tremeu como se tivesse sido atingida por um raio. 

— S-senhor Rei da Morte… faz menos de uma semana que recebi um título. Sou m-muito fraca! Não vou ser útil! Então por que…?

— Você é a farmacêutica e médica mais competente que conheço, senhorita Química.

— Perdão? O quê…?

— E você me disse antes, não disse, senhorita Química?

— Me avise se precisar de alguma coisa, senhor Rei da Morte! Vou te ajudar de qualquer jeito que puder!

Sorri gentilmente. 

— A menos que não tenha sido sincera, tenho certeza que você vai me ajudar.

A Química me lançou um olhar de puro desespero, como se estivesse vendo um demônio, mas eu não sabia por quê. Fui eu que fiz ela conseguir o título. Se recebeu um impulso, tinha que pagar o preço.