Vi um jato de sangue esguichar pelo meu campo de visão.
Kieeehhhhh!
Um goblin gritou por um longo tempo. Seu grito não se apagava no meu tempo.
— Um caiu — contou o Guardião.
Um leque de sangue cortou o ar, da mesmíssima cor da chuva.
As gotas de sangue ainda voavam, e a chuva não tinha tocado o chão. Mesmo assim, o mundo inteiro era escarlate.
Ajustei o aperto na minha espada.
— Cuida do da esquerda agora.
Eu ataquei.
Antes que o primeiro goblin morresse, cortei o segundo. Foi num piscar de olhos. Os goblins nem me viram chegando. O sangue jorrou, e gritos ecoaram da minha esquerda e direita. Quando um monstro morria, outro já estava morrendo. Isso se repetia.
Outro monstro começava a gritar antes que o grito do último morresse. A gritaria ao meu redor nunca parava. Eu brandia minha espada como a batuta de um maestro, o instrumento principal dessa sonata de gritos também era minha espada.
— Um segundo passou. Não para. Mantém os golpes separados. Conecta os ataques enquanto mata teus inimigos — disse o Guardião.
Eu brandia minha espada.
— Corta de cima pra baixo. Não acabou só porque tua espada tá baixa agora. É como música. Pensa nisso: uma nota grave é só um degrau pra subir de novo.
Gritos perfuravam o ar.
— Conecta eles! Se tua espada tá embaixo agora, sobe ela. Cria uma sequência. É assim que você conecta teus ataques.
Mais um segundo passou.
— Tempo é essencial quando se trata de espada! Um iniciante só consegue controlar um segundo, no mínimo. Um golpe e pronto. Eles ficam cegos por esse um segundo, então não sabem conectar os ataques. Alguém um pouco mais habilidoso controla cinco segundos.
Meus inimigos derramavam seu sangue, eu soltava meu fôlego.
— Não desperdiça o tempo que você tem! Não desperdiça! Não acabou porque você matou um inimigo. Nada acabou. Procura onde deve golpear em seguida! As pessoas deixam o tempo passar, mas um espadachim não deve! Não joga fora teu um segundo. Vive teu um segundo ao máximo.
Minha espada voava entre mim e meus inimigos, eles sangravam enquanto eu terminava de expirar.
— Um espadachim é um homem cuja vida é a espada.
Eu ataquei.
— Você acha que é fácil viver um segundo ao máximo? Você realmente acha que tá vivendo esse segundo?
Fiz de novo.
— Um homem não tá vivo quando só deixa o tempo passar. A única vez que ele tá genuinamente vivo é quando dedica seu tempo a algo. Gong-Ja, você é um espadachim, então tua vida deve ser a espada.
Minha espada foi brandida mais uma vez.
— Faz esses segundos da tua vida brilharem mais forte!
Um goblin arranhou meu braço até sangrar. Fiquei tonto, e meu coração tremia. Apesar da dor horrível, brandi minha espada e continuei olhando para frente.
Monstros sem fim emergiam da nuvem de poeira vermelha, o que significava que a quantidade de inimizade era igualmente imensurável. Todos eram monstros querendo devorar minha carne e beber meu sangue. Eles avançavam contra mim, manchados de vermelho-sangue pela chuva.
— Agora você chegou a dez segundos.
Isso eram dez segundos. Apenas dez segundos.
— Brilha mais forte, Gong-Ja. Não deixa tua vida escapar. Faz ela brilhar.
Apertei minha espada o mais forte que podia.
— Mostra pra eles quem você é.
E eu rugi. Minha voz varreu a linha de frente, até o centro do campo de batalha e depois a brecha escancarada nas muralhas. Por um momento, os arqueiros se encolheram, e os monstros saindo da nuvem de poeira pararam.
— Porra, isso aí! Agora você tá parecendo um pouco menos zumbi, garoto! — O Guardião deu uma risadinha.
Corri para frente. Meu alvo era um dos goblins assustados com meu rugido.
Antes que ele pudesse reagir, cortei sua cabeça. Ela voou pelo ar com a boca escancarada.
Minha próxima presa era o orc que assistia, atônito, enquanto eu matava o goblin. Espetei sua cabeça antes que ele pudesse erguer o porrete. O sangue jorrou da ferida.
Um pouco mais.
Usei minha espada para matar um esqueleto.
Um pouco mais.
O próximo foi outro goblin.
Um pouco mais.
Muitos orcs foram abatidos.
Mais! Um pouco mais.
Continuei brandindo minha espada.
Olhem para mim! Para mim!
Eu estava vivo. Quando usava minha espada, eu estava vivo.
Um ogro uivante surgiu da poeira, balançando seu porrete gigante. Uma, duas vezes… Cada vez que o ogro balançava, uma pequena tempestade seguia. Ela afastava a poeira densa ao redor do portão destruído.
Alguns goblins pequenos foram pegos pelos golpes selvagens do ogro e esmagados contra as muralhas com um estalo nojento. Viraram uma polpa macabra. O ogro não tinha senso de camaradagem. Eu tinha certeza de que ele também não entendia parentesco, simpatia ou misericórdia. Era por isso que o ogro era uma besta – uma besta feia. A besta uivava alto, mostrando os dentes. Sua fúria era dirigida só para mim.
Vem.
Aqui estava um caçador atrás de sua presa.
Vou te mostrar.
O ogro deu um passo. Uma parte da muralha do castelo, que ainda conseguia se manter de pé precariamente, desmoronou impotente.
A besta feia tinha pés gigantes. Sempre que dava um passo, o chão tremia, e algumas das muralhas – a última linha de defesa do Império – desabavam.
— Firma os pés, olha pra frente e brande tua espada pra matar os inimigos.
A tarefa em mãos não mudou nadinha. Joguei-me contra a besta.
A besta enorme deu outro passo. Era o momento que eu estava esperando. No instante em que seu porrete subiu para me jogar fora do caminho, movi minha espada bem na frente dele. A luz branca da espada sagrada disparou nos olhos da besta.
No entanto, o ogro já estava muito avançado no golpe para mudar o curso do ataque.
Por quê? Por que você deu uma Habilidade Classe EX para um desgraçado como ele?
Um momento se estendeu ao infinito. Enquanto desviava do porrete do ogro, pensei em Yoo Soo-Ha, o Imperador das Chamas. Me perguntei… por que a Torre deu a ele a Habilidade de regressão.
Não precisava ser um santo. Bastava dar a Habilidade para uma pessoa mais razoável, sã. Aí não teria problema nenhum – então por quê? Por que diabos você teve que dar essa Habilidade para um psicopata?
O porrete do ogro passou raspando por mim, graças à luz ofuscante da espada sagrada. Isso me deu uma breve abertura, então corri.
Espera… É isso? Yoo Soo-Ha é o único que pode conquistar a Torre? As pessoas têm que ser como ele para chegar ao topo?
Os olhos do ogro se arregalaram quando percebeu que eu estava no ar. A criatura tentou usar o porrete contra mim de novo, mas era tarde demais.
Não seja ridículo! Vou limpar o vigésimo andar no lugar do Imperador das Chamas. Não só o vigésimo – vou fazer o mesmo com a trigésimo, quadragésimo, quinquagésimo, sexagésimo, septuagésimo, octogésimo, nonagésimo, nonagésimo nono e o centésimo andar!
Eu ia mostrar para eles. Até o topo.
[Sua presença se tornou mais forte.]
[O nível do Caçador Kim Gong-Ja aumentou.]
Minha espada cortou o pescoço do ogro com precisão, espirrando sangue pelo chão. A pele dele era dura, mas minha espada era mais afiada. Embora o ogro tivesse uma vitalidade vibrante, era opaca comparada à minha aura.
O ogro se recusava a morrer. Mesmo em seus últimos momentos, ele balançava os braços. Não havia necessidade de pânico. Só ataquei mais uma vez.
[Seus Espaços de Habilidade aumentaram.]
[Sua Classe de Caçador é D.]
A cabeça do ogro caiu no chão.
Seu corpo o seguiu pouco depois.
[Que a sorte esteja com você.]
A nuvem de poeira se dissipou gradualmente.
Vi os monstros marchando para os escombros dos portões. A onda aparentemente infinita de monstros desacelerou, intimidada pela queda do enorme ogro.
Nenhum som podia ser ouvido além da chuva. Os soldados do Império me observavam das muralhas, enquanto os monstros do Rei Demônio eram tomados pelo medo.
Eu estava sozinho. Mais olhos se voltavam para mim a cada momento, e mais criaturas do Rei Demônio começavam a recuar.
— Parabéns, você dominou trinta segundos. — O Guardião sorriu.
Alguém passou por mim. Eu sabia quem era só de ver as costas. Usava um terno preto e tinha cabelos brancos, era o Espada do Luar.
Ele passou correndo, espirrando sangue através de poças. O Caçador mais forte sacou a espada e a varreu na frente dele.
Um ataque custou a cabeça de dezenas de goblins e a parte inferior do corpo de outros tantos orcs, adicionando mais vermelho ao campo de batalha. Um segundo, dois segundos, três segundos… Acabou rápido, mas o sangue fresco era mais escuro que a chuva, tornando o impacto do Espada do Luar impossível de ignorar.
Ele se virou lentamente de sua pintura sangrenta e olhou pra mim. Seus lábios se moveram, mas o tempo ainda estava lento demais para eu entender de verdade.
O Espada do Luar notou que eu estava agindo de forma estranha e sorriu levemente. Ele adicionou um pouco de aura à voz.
— …Foi esplêndido.
O Espada do Luar ergueu sua espada na chuva. Sua cor era vermelha, então a lâmina permaneceu escarlate mesmo depois que a chuva a limpou.
— Meu nome é Marcus Carlenbery, jovem.
Eu não tinha palavras. Percebi que o Espada do Luar estava me prestando respeito à sua maneira.
Era a segunda vez que ouvia o Caçador Rank 1 se apresentar. A primeira foi quando eu ainda vagava pelo primeiro andar. Num beco remoto, o Imperador das Chamas segurou minha cabeça enquanto sussurrava: “Meu nome é Yoo Soo-Ha. Adeus.”
Eu fui morto naquele dia.
Hoje, ouvi minha segunda apresentação. Eram nomes diferentes e pertenciam a pessoas diferentes. De repente, senti que eu também era diferente. Isso me fez perceber que agora eu tinha a chance de fazer algo que não consegui da primeira vez.
— Meu nome é Kim Gong-Ja, senhor.
Hoje, eu pude me apresentar.
Tradução: Rlc
Revisão: Pride
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