Um tambor ecoava no teatro escuro.
Thump…
Não, não era um tambor.
Thump…
Pareciam ser passos, mas ninguém estava pisando forte, pelo menos não de onde o público podia ver.
Thuuump. Thump. Thump.
Ilric, Yumar e Sakum já estavam no palco. Eles viraram rapidamente a cabeça na direção de onde vinham os sons. Lá estava eu, rastejando para o palco, envolta em chamas. Eu era o Imperador das Chamas. Os atores tremiam, suas vozes também vacilavam, como cobras nas sombras.
— Wagar…
— Kar…
— Ke.
— Karkasa…
—Shee.
— Lakh.
— Gur.
Essas palavras não faziam parte do vocabulário atual. Elas vinham de muito tempo atrás, de quando os Terras coletavam bolotas na floresta primordial.
Os atores sibilavam, sussurrando uma língua antiga, de uma era em que ruídos e fala eram indistintos.
Shee. Lakh. Gur. Shee. Lakh. Gur.
Os sussurros perturbadores fizeram o público fechar a boca. Os Terras não entendiam a língua de seus antepassados, mas prendiam a respiração, sentindo a natureza ominosa dos sons que os faziam reagir instintivamente.
—Shee.
— Lakh.
— Gur.
Assustados, os atores me cercaram. A cada passo que davam, minha aura ressoava e tocava música. Quando os atores diminuíam o ritmo, a melodia também desacelerava.
— Shee.
— Lakh.
— Gur.
Conforme se aproximavam de mim, a música ficava gradualmente mais alta. O fogo se espalhava pelo palco escuro. Eu me movia de quatro, como um selvagem elegante.
— Wagar…
— Sim. Eu sou o Imperador das Chamas.
Um grunhido escapou da minha boca. Os atores pararam de se aproximar, temerosos do que eu faria.
— Eu sou o fogo do mundo.
Eu falava usando minha aura, até mesmo emitindo um grunhido animalesco.
— Eu sou bem-sucedido.
O palco tremia, e até o ar no teatro escuro vibrava. Minha aura cheirava a sangue. Minha canção misteriosa e estranha ecoava pelas paredes do teatro.
Shee, lakh, gur.
Shee, lakh, gur.
Deixei escapar um escárnio que insultava o mundo e ridicularizava todos ao meu redor. O público nas primeiras fileiras recuava.
— Me invejem. Tenham ciúmes. Me adorem.
O que saía da minha boca eram simples sons sibilantes. Não havia necessidade de dizer mais que isso. Eu falava com minha aura, não com minha voz.
— Shee.
— O mundo é apenas lenha para que eu brilhe um pouco mais.
Lakh.
— Acho sua inveja irritante porque quero que entendam o quão implicante eu posso ser. Um fogo não queima sem combustível, então seres insignificantes como vocês terão que ser minha fonte infinita de lenha.
— Gur.
— Rio do meu sucesso para poder rir ainda mais alto da sua incompetência. Zombo do seu interesse em mim para ridicularizá-los ainda mais por sua incapacidade de receber atenção.
“Sou humilde. Observo calmamente tudo que a vida me lança com olhos indiferentes. Até meu sucesso perde sua chama diante dos meus olhos. No entanto, constantemente lembro vocês da minha prosperidade porque sou mais bem-sucedido que qualquer um.”
“Meus olhos indiferentes e meu rosto calmo tornam seu sucesso nulo e vazio. Seu trabalho árduo é inútil porque vocês não são bem-sucedidos como eu. Desde suas maiores dificuldades até seus menores sucessos, tudo é insignificante diante de mim.”
Dei um passo à frente. O fogo ardeu mais forte, assustando os atores, que se viraram para fugir. Um sorriso pairava no meu rosto.
— Wagar!
— Vocês, Terras, podem agir como humanos, mas há apenas um verdadeiro humano neste mundo: eu.
O fogo crescia e ardia, engolindo o palco e os assentos do público. Os Terras na plateia gemiam. Alguns, por reflexo, acendiam suas próprias auras para combater meu fogo. Eu ria mais alto, e a música também aumentava.
— Só eu sou humano.
Meu fogo simplesmente agarrava a aura do público e a torcia. Seis fios flamejantes acariciavam suavemente os pescoços dos espectadores.
— Ugh…
Um dos espectadores na primeira fila tremia. Pelo que me lembrava, era o guerreiro de rank 21 do Conselho da Água de Fogo. Ele abriu os olhos, com suor escorrendo pela testa. O teatro já havia sido mergulhado no inferno.
— Digo que meu sucesso é insignificante. O que isso faz de vocês? Vocês não conseguiram nada. Não podem nem chamar isso de nada. Poeira é menos que nada.
Eu ria, agitando os braços, e sorria como o Imperador das Chamas. Ilric de Um Olho, cujo olhar encontrou o meu, estremeceu. Ele fugiu, gritando.
— Amo animais que expõem seus pescoços frágeis. Esses animais inocentes sempre confiam nos outros, deixando-se vulneráveis de bom grado. São macios o suficiente para serem engolidos em uma mordida!
O fogo se ergueu na direção em que Ilric tentava escapar. Ofegante, ele se virou e correu para o lado oposto, mas eu o bloqueei novamente com uma cortina de fogo, encurralando minha presa.
Ilric abria e fechava a boca, mas não conseguia emitir nenhum som.
— Por favor, me salve!
Assim como se pode fazer sons com a aura, também se pode usá-la para bloqueá-los. Eu travei o grito de Ilric e o esmaguei.
— Por que você está fugindo?
— Por favor, não me mate! Por favor…
— Não fuja. Eu sou seu pai.
Até sua voz ficar rouca, Ilric gritava:
— Por favor! Me salve, não me mate… Não me mate!
Mas sua voz não alcançava o público. Da perspectiva dos espectadores, Ilric apenas abria e fechava a boca, se debatendo em sua miséria. O público assistia prendendo a respiração.
Eu me aproximei de Ilric.
— Criança, não vou te machucar.
Prendi Ilric ainda mais com a cortina de fogo, deixando menos espaço para escapar. Ele desabou no chão como uma criança indefesa.
— Não me mate…
— Está tudo bem.
— Por favor… Me salve, mamãe…
Abri a boca e mordi o pescoço de Ilric. Meus caninos não cravaram em sua pele. Em vez disso, minha aura penetrou em sua carne com sede de sangue.
— Aaaah! — Ilric se debatia, gritando de dor.
Não abafei mais o som, deixando o grito explodir e ecoar pelo teatro.
—Aaaaaah! Aaaaaaaaah!
O público, que até então apenas o via se debater em silêncio, recuou com a súbita erupção de som. Eles não achavam que era apenas atuação. Aos olhos deles, Ilric estava realmente morrendo.
— O quê…
— I-Isso é…
Alguns engoliam saliva ou gemiam. Um casal de Terras nas últimas fileiras correu para fora do teatro, pensando que o ator estava realmente sendo assassinado. No entanto, a maioria do público estava hipnotizada, encarando o fogo que tomava o palco.
— Eu sou o fogo do mundo.
A caçada nunca parava. Cercada pelo inferno ardente, me tornei uma fera sedenta por sangue, correndo atrás da próxima vítima. Yumar e Sakum gritavam, fugindo. A música continuava tocando.
— Me salve!
— Um monstro! Um monstro está me perseguindo!
Eu não tinha culpa. Se havia algo errado comigo, era culpa do mundo por me criar. O mundo me fez assim. As pessoas apenas caíam nas curvas do mundo, vivendo como foram criadas. Por que me culpar?
— Vamos dançar!
Shee Lakh. Gur.
— O mundo inteiro é meu palco!
Shee Lakh. Gur.
— Vocês não devem me culpar. Você e eu somos iguais. Assim como vocês, o mundo me criou. Eu sou apenas mais forte que vocês. É a lei da natureza que o forte devore o fraco. É o mundo que vocês devem culpar, não eu.
O fogo ardia em sua glória total. Me tornei um com ele e corri, queimando tudo que tocava e cravando meus dentes nas presas tanto quanto queria.
— Aaaaaaaaaaah!
Yumar caiu. Sakum foi derrotado. Tudo bem. Eles eram animais. Para um humano, animais não eram nada além de carne, então isso não era assassinato, apenas abate.
Thump!
Os sons de tambor ficavam mais altos.
Thump!
O fogo vermelho-sangue queimava o teatro. Mesmo depois que os três atores caíram no chão, eu nunca parei de rugir.
Shee Lakh. Gur.
O público tremia enquanto assistia à dança fervente da aura que crepitava no palco. Um jovem espectador ofegou e desmaiou. Espumando, ele caiu no ombro do Terra ao seu lado, que não pôde ajudar, pois também estava congelado no lugar.
Thump!
A canção finalmente atingiu seu clímax. Um grupo de Terras invadiu o teatro, cercando o público.
— Todos parem! Somos a Polícia do Conselho do Rio de Fogo!
— Todos parem! Parem!
— Estamos aqui porque recebemos denúncias de assassinatos em massa e incêndio! Quem ignorar este aviso e tentar fugir será considerado uma ameaça e será preso!
Eles cortaram a tensão no ar como uma faca. Só então o público conseguiu soltar o fôlego que segurava até agora. Espectadores desabaram como pilares que cederam, escorregando de seus assentos após perderem todas as forças.
Minha imersão também se quebrou, então olhei para os guardas com as sobrancelhas franzidas. Eu não sabia o quão sérias eram as denúncias para que invadissem assim. No entanto, os policiais Terras estavam em alerta, examinando todo o teatro.
— Resgatem as vítimas primeiro!
— Onde está o incendiário?
— Tem pessoas desmaiadas no palco!
Os policiais correram em direção aos atores. Ao verem Ilric, Yumar e Sakum caídos no chão, pensaram que estavam mortos. Claro, ninguém havia morrido de verdade durante a apresentação.
— Ei, esperem um segundo.
— V-Vocês não precisam me ajudar a levantar. Estou bem!
Os atores se levantaram um a um, balançando as mãos.
— Estão feridos em algum lugar? Como estão suas cabeças?
— N-Não estou ferido! Estou totalmente bem!
— Ouvi que ocorreu um assassinato em massa aqui. Onde está o criminoso? Foram feitos reféns?
Ilric parecia perplexo.
— O quê…? Que assassinato em massa? Reféns? Não foi nada disso.
— Estamos atuando, seus imbecis! — gritou Yumar.
Os policiais pararam.
— Atuando?
— Sim! Isso é uma peça! Somos uma trupe! Trupe Latidora! Este é nosso teatro, e estávamos no meio da nossa apresentação!
Alguns dos policiais me seguravam, pensando que eu era o criminoso que procuravam. Se quisesse, poderia me soltar, mas estava tão perplexo que os deixei fazer o que quisessem.
Os policiais se viraram lentamente para mim.
— Recebemos uma denúncia de que havia um incêndio…
Assenti. Minha aura acendeu nas pontas dos meus dedos.
— Essa é minha aura. Parece fogo.
— Disseram que uma fera mordeu pessoas inocentes até a morte.
— Eu interpretei aquele filho da puta do Imperador das Chamas, e meus colegas atores ali interpretaram as vítimas. Claro, eu tinha que derrotá-los durante a peça — dei de ombros. — Parece que alguém denunciou nossa peça porque nossa atuação parecia real demais.
Até os policiais perceberam que algo estava errado. Sua vigilância e beligerância foram substituídas por constrangimento, os deixando sem palavras.
Os espectadores murmuravam entre si. O burburinho rapidamente se transformou em um alvoroço.
— O quê?
— Quem denunciou isso à polícia?
— E a peça?
— Vai acabar assim?
— O que aconteceu?!
— Esses policiais idiotas!
— Vocês invadiram sem perguntar nada de novo?!
Enquanto o público reclamava de todos os cantos do teatro, o rosto do capitão da polícia se enfureceu rapidamente.
Eu me aproximei dele com um sorriso no rosto.
— O que devemos fazer? Senhor, acho que a apresentação de hoje foi arruinada.
— Uhhhh…
— Minhas desculpas a todos na plateia! Devido a um incidente infeliz, a apresentação de hoje termina aqui! A Trupe Latidora seguirá fielmente o aviso da polícia e encerrará nossa peça! Por favor, sigam as instruções da polícia e saiam do teatro de forma ordeira… Ah, a propósito… — sorri radiantemente para o capitão da polícia. — Vocês vão nos reembolsar os ingressos?
O público explodiu, assim como a indústria teatral da cidade, tudo por causa da nossa peça, que foi denunciada por parecer real demais.
Tradução: Rlc
Revisão: Pride
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