— Cresci no interior entediante — disse Yumar. — Não havia empregos por lá. Mesmo depois de crescer, não tinha mais nada para fazer, então apenas brincava com crianças da minha idade. Às vezes, ficava de sentinela para ver se um tigre descia da montanha e coletava impostos dos comerciantes que passavam pela aldeia. A aldeia não era rica. Era tão monótona quanto a casca seca de uma árvore.
Yumar coçou a testa verde enrugada. Ele me perguntou:
— Você já matou alguém?
— Sim — respondi.
Yumar assentiu. Ele não parecia muito surpreso.
— Imaginei que sim. Onde foi a primeira vez que derramou sangue? No campo de batalha? Ou…
— Num terreno de caça. Embosquei minha vítima.
— Ah, isso não é exatamente um feito de guerreiro — disse Yumar com um sorriso.
Quem confessa um assassinato sempre deixa escapar um leve sorriso de escárnio. Não estão rindo do assassinato em si, mas de si mesmos e de sua confissão. Enquanto falam, secretamente esperam que o ouvinte se junte a esse escárnio. Esse é o momento mais importante, porque o ouvinte não deve fazer isso.
Mantive a calma ao responder:
— Sim, é verdade. Eu não era exatamente um guerreiro. E você?
O sorriso sumiu do rosto de Yumar.
— Já faz uns treze anos, acho. O chefe da aldeia viajava constantemente entre aldeias. No início, pensei que ele estava visitando um amigo, mas ia com frequência demais. Sete meses depois, o chefe voltou com uma expressão confiante.
Comecei um negócio para nossa aldeia, seus idiotas.
O negócio era a fabricação de drogas.
— Mmm, você provavelmente já ouviu falar da Vinha de Prata. Vocês, Sylvans, enlouquecem por ela. Usando as flores como matéria-prima, extraíamos a essência e a solidificávamos em pílulas. No começo, reunimos os desempregados da vila, cerca de seis pessoas. No interior, há muitos jovens vadios que só ficam sem fazer nada o dia todo.
— Você não era apenas um traficante. Era o chefe.
— Como sabia?
— Foi uma história curta, mas há pistas. Você é inteligente e tem uma memória notável. Isso aconteceu há treze anos, mas lembra que o chefe da aldeia rondou a aldeia vizinha por sete meses. Você é bom com números.
Servi chá na xícara de Yumar. Graças às lições de Raviel, minhas habilidades na cerimônia do chá haviam melhorado muito. Era uma pena que essa trupe só tivesse folhas de chá baratas.
Continuei:
— Você até conhece a receita da droga. Tenho certeza de que não era apenas um capanga. Você era um executivo importante na organização. Chefe, ou pelo menos vice-chefe.
— Você é muito perspicaz. — Yumar sorriu com amargura e levantou a xícara. Após um gole, seus olhos se arregalaram levemente. — Por que isso está tão bom?
— Porque fui eu que fiz. Pode voltar à sua história?
— Sim. Você está certa. Eu era responsável pelo negócio da aldeia. Também descobri por acaso que tinha um talento para reunir garotos e usá-los bem. Tive sorte também.
Ele não era apenas sortudo, era um gênio. O negócio de Yumar cresceu rapidamente.
— Eu era um empresário abençoado.
Ele reuniu jovens do bairro e formou uma milícia. Eventualmente, sua organização dominou os negócios da região. Yumar, o chefe, supervisionava minuciosamente o processo de fabricação de drogas, garantindo a qualidade. Reconhecidas como produtos de alta qualidade, elas se espalharam rapidamente pelos canais que conectavam os portos Sylvans.
Suco da Graça Celestial e Pó do Estudioso Tardio eram produtos feitos por Yumar. Apesar de sua falta de talento em usar aura, ele tinha cem subordinados que o chamavam de guerreiro supremo.
Quando o número de subordinados chegou a quinhentos, Yumar sentiu que algo estava errado.
— Tive um forte pressentimento de que, se continuasse assim, estaria fodido. O Conselho da Água de Fogo é generoso, e não era como se eu estivesse vendendo drogas para os Terras. Eles não se importavam com alguns bandidos locais que vendiam para Sylvans ricos. No entanto, quando se tratava de cerca de quinhentos bandidos locais, a história era outra.
A organização de Yumar estava indo muito bem.
— Não tinha provas ou motivos para sentir isso, mas, se não fechássemos o negócio, todos nós morreríamos. Eu sentia isso nos ossos.
Yumar reuniu seus amigos e disse que precisavam fechar o negócio. Seus colegas, que antes coletavam impostos juntos na aldeia, agora eram executivos com presas.
Yumar franziu a testa.
— Esses porcos concordaram e assentiram quando eu disse isso.
— Então vocês fecharam?
— Fechar, meu rabo. Naquela mesma noite, eles se juntaram contra mim, me amarraram e me ameaçaram para que eu entregasse a receita. Apontaram adagas no meu pescoço, as mesmas que eu comprei para eles. Desgraçados do caralho.
Chorando, Yumar revelou a receita da droga. Ele até jurou que nunca buscaria vingança ou iniciaria outro negócio. Seus amigos de infância valorizaram seu juramento.
— Eles cortaram meu braço.
Mas pelo menos ele permaneceu vivo. Foi assim que se tornou Yumar de Um Braço.
— Não entrei para o teatro porque queria ser ator. Eu estava apenas vagando pelas ruas, mas o mestre da trupe sentiu pena de mim e me acolheu. Já se passaram mais de dez anos desde então. Bem, atuar acabou se tornando divertido com o tempo.
— O que aconteceu com a organização?
Yumar não respondeu.
— Ela fechou — especulei.
Yumar olhou para sua xícara de chá.
— Menos de um ano depois que fui expulso, eles foram eliminados. O conselho enviou treze de seus cem melhores guerreiros e matou cada um dos membros.
— O que aconteceu com seus amigos da aldeia?
— Foram mortos. Afinal, eram executivos — respondeu Yumar, segurando as lágrimas.
— Você acha que é sua culpa.
Yumar esfregou a borda da xícara.
— Você acredita que, por ter sido tão bom em desenvolver a organização, causou sua própria queda. Se o negócio tivesse ido razoavelmente bem ou falido, as pessoas da sua aldeia não teriam morrido. Você se culpa por não ter conseguido parar o chefe da aldeia.
— Aqueles otários… porra. — Yumar engoliu o chá restante.
Por fim, o ator de uma orelha entrou, segurando um boneco de leão velho nos braços. Seu nome era Sakum.
— Eu era servo de uma família prestigiada… Por acaso, vi meu mestre traindo sua esposa. Na verdade, não vi nada. Só os ouvi através da parede. Não é como se eu quisesse ouvir, não me excitava nem nada, mas cortaram minha orelha porque não gostaram que eu ouvi os gemidos deles. É injusto, né? — perguntou com uma expressão vazia.
Ilric de Um Olho, filho de um jogador.
Yumar de Um Braço, ex-chefe de uma rede de tráfico.
Sakum de Uma Orelha, ex-servo de uma família prestigiada.
Assenti.
— Certo, vamos dançar.
Uma semana depois, o dia da peça chegou. O teatro estava lotado de espectadores.
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— É aqui a Trupe Latidora?
— Que estranho. Já estive aqui antes, mas acho que tinha um nome diferente…
O teatro ficou lotado trinta minutos antes do início da peça. Alguns convidados decidiram vir após verem minha performance na rua, enquanto outros vieram por causa dos rumores que circulavam.
A enorme multidão despertou a curiosidade dos transeuntes. Intrigados pelo grande número de espectadores, eles entraram no teatro. Não apenas os assentos especiais estavam totalmente reservados, mas a seção de pé também estava lotada.
— Sem cerveja de melancia? E batatas fritas de melancia? Uger , não acredito.
— Essa trupe não quer ganhar dinheiro?
— Estou dizendo, tem uma Sylvan incrível trabalhando aqui. Ela usou a aura tão livremente que produziu sons sem tocar instrumentos. Estou falando sério! Por que eu mentiria?
— Uger. Se quem tocou minha bunda não se apresentar, o que vocês verão não será Fogo da Caverna, mas sangue.
— É uma peça, mas supostamente não terá falas.
— Tenho certeza de que exageraram no anúncio.
— Eles prometeram reembolso se os atores disserem uma única fala.
— Tem espectadores demais!
Até o mercado era mais silencioso que este teatro.
De trás do palco, os atores espiavam o público.
— Porra.
Eles estavam muito assustados, especialmente Yumar. Em pânico, ele disse:
— Olha isso! A pessoa com tatuagens vermelhas em um dos assentos especiais é definitivamente Morkan, o guerreiro de rank 21 do conselho. Porra.
— Quem é esse?
— É o lunático que aumenta sua tatuagem em um centímetro toda vez que corta a garganta de um inimigo. Olhem como cobre todo o corpo dele!
Sakum murmurou ansiosamente:
— Os atores da Chama e do Fogo Selvagem também vieram ver a peça.
— Ugek. Onde estão?
— Ali. São aqueles dois caras de máscaras, nos assentos especiais. Eu os reconheço porque os vejo com frequência. Um é Sormacunda, o ás da Chama, e o que está ao lado dele é Jamahan, o mais popular do Fogo Selvagem atualmente…
— Por que vieram nos ver?
— Não vieram — disse Ilric. Ele continuava se olhando no espelho para verificar se sua maquiagem estava no ponto. — Vieram ver a Sonia.
Não havia nada de especial na maquiagem dele. Ele tinha um pano enrolado na cintura e marcações pretas por todo o corpo. Só isso.
— Ele está certo. É incrível. Na verdade, nossa chefinha está no ramo há apenas uma semana. Esta peça é a estreia dela, e mesmo assim está lotada. Deve ser a maior estreia de todos os tempos entre os atores Sylvans.
— Acho que é a maior estreia de todas…
— Vamos nos preparar. — Eu disse.
Os atores, que tentavam aplacar a ansiedade com conversa fiada, pararam de falar de repente.
— Vocês treinaram sem parar por uma semana. Não se preocupem. Tudo bem se congelarem e não conseguirem se mexer. Se isso acontecer, apenas relaxem.
— Não estamos ferrados se fizermos isso…?
— Eu controlarei vocês com minha aura se isso acontecer. Só não resistam à ela.
— Não tem como isso ser possível… espera, acho que para você é possível. Porra.
Nós quatro colocamos as mãos juntas. Enviei minha aura levemente para os outros atores.
— Relaxem.
Minha aura vermelha fluiu para suas mãos e chegou até seus ombros. Os ombros dos atores tremeram, mas parecia que, após meu treinamento especial na última semana, eles haviam se acostumado bastante à minha aura. Logo respiraram fundo e aceitaram ela calmamente. Relaxar os músculos dos atores como se estivesse fazendo uma massagem. Eles pareciam bem menos tensos do que antes.
— Ugor…
Tentei animá-los.
— Não precisam se preocupar. Como vocês já sabem, ninguém lá fora espera que nosso Fogo da Caverna seja perfeito. Na verdade, as expectativas deles são exatamente zero. Contanto que executemos como treinamos, será um sucesso estrondoso entre os espectadores, certo?
Eles assentiram.
Beleza.
— Lá vamos nós — pisei forte, fazendo minha aura vibrar no ar. Chocado, o público parou de murmurar e olhou ao redor.
— Hã?
— O que aconteceu?
Continuei pisando. Havia um ritmo, mas cada passo correspondia a uma nota.
— Aura?
O público ficou surpreso ao perceber que os sons não eram simples batidas, mas notas musicais de verdade. Os convidados mais surpresos eram os VIPs sentados na primeira fila.
— Meu Deus. Isso não é alguém cantando, mas explosões de aura?
— Exato. É aura. Eu te disse, até mesmo anunciando na rua…
Ilric correu para o palco escuro. Como um corredor, ele abria as pernas o máximo possível para cruzar o palco com grandes passadas. Naturalmente, ele atraiu a atenção do público.
Thud…!
No entanto, o público não prestava atenção apenas porque ele apareceu no palco.
Thuuuud…!
Cada vez que os pés de Ilric tocavam o palco, as batidas dobravam em intensidade. Antes que o pânico do público diminuísse, Yumar e Sakum também correram para o palco.
Cada vez que um ator pisava no chão, notas rítmicas fluíam pelo teatro. Agora, havia três melodias se sobrepondo, sinalizando o início da peça.
O público ficou em silêncio. Muitos convidados estavam boquiabertos, murmurando distraidamente.
— Meu Deus.
— Não é possível. Todos esses sons são feitos com aura?
Sim. Não havia necessidade de diálogos quando se podia substituí-los por música. Isso não era uma peça. Era um drama de dança, e eu era a orquestra de aura de uma pessoa só.
Tradução: Rlc
Revisão: Pride
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