O Caçador Imortal de Classe SSS – Cap. 168 – Entre um Mestre e um Amigo (1)

 

Uma semana depois que os Terras e eu despistamos os Cascomontes que nos perseguiam, finalmente chegamos à terra natal dos goblins.

[Os Terras retornaram à sua terra natal.]

[A missão foi concluída!]

[Você escoltou sua espécie de Slimepólis com segurança.]

[Pontos de espécie foram concedidos por completar a missão…]

Como era uma recompensa pela missão principal do trigésimo segundo andar, recebi uma quantidade bastante generosa de pontos. Como fiz durante todo este andar, investi a maioria desses pontos de espécie e guardei apenas cem para mim.

Preciso deles para outra coisa.

Só então olhei para Goru, a terra natal dos goblins. O lugar que eles desejavam há tanto tempo não era… muito agradável. Para ser honesto, parecia ruínas.

O Guardião deu de ombros.

— Bem, claro. Sem ninguém morando aqui, ervas e arbustos se espalharam por toda a vila em pouco tempo. Quando voltei para minha terra natal, era apenas uma selva depois que alguns bandidos do Caminho Demoníaco a saquearam.

Hã? Você passou por algo assim?

— Claro. Vivi muitas coisas na minha vida. Se fosse escrever minha biografia, seria uma obra-prima com trinta e nove volumes na primeira metade, vinte e dois volumes na segunda metade e treze volumes de histórias paralelas.

Realmente não gosto que os números sejam estranhamente específicos…

— Até me tornei um fantasma depois que morri, então a Parte Três está sendo serializada agora com os maiores elogios. Depois que você morrer, vou continuar a Parte Dois das histórias paralelas possuindo outra pessoa.

Não está na hora de terminar?

Olhamos para a antiga terra natal. Goru era dominada por vegetação, principalmente ervas e pequenas árvores. Qualquer traço de alguém ter vivido ali já havia desaparecido. Apenas os pilares de pedra e estátuas dos goblins, que eles haviam feito há muito tempo, permaneciam, cobertos de musgos, como se tivessem feito um acordo com o tempo.

— Ah.

Entre eles, havia uma estátua estranhamente familiar feita de mármore branco. Eu não conhecia a estátua em si porque nunca a tinha visto antes, mas ainda a reconheci. Apesar da rusticidade, a juba e os grandes dentes da criatura haviam sido esculpidos com grande cuidado…

— Até fizeram uma escultura de você? Como você é o precioso Leão Branco deles, até conseguiram mármore para fazer uma escultura sua. Cara, eles se esforçaram, isso é certo. Isso é verdadeira devoção.

Você está certo.

Olhei lentamente ao redor, imaginando o que havia de tão bom nessa selva verde. Os goblins estavam rindo enquanto desempacotavam suas bolsas.

Thump! Thump!

Alguns deles batiam nas árvores usando os martelos de pedra trazidos de Slimepólis para construir abrigos o mais rápido possível.

Mas eu não sou o mestre deles.

Pais não eram nem mestres nem amigos, mas algo entre os dois. Para seus filhos, eles pareciam ao mesmo tempo muito distantes e muito próximos. Os pais podiam agir como mestres ou amigos, mas provavelmente cabia aos pais, não aos filhos, decidir isso.

Antes de deixar este cenário, devo conversar com Gorke sobre isso.

Naquela noite, usei os cem pontos de espécie restantes para comprar um item.

[Você comprou Aparição em Sonho]

[Você usou 100 pontos de espécie!]

[Você agora tem 995 pontos de espécie.]

[Você investiu o resto dos seus pontos de espécie, então eles estão atualmente indisponíveis.]

Entrei no sonho de Gorke e acenei para ele, recebendo uma recepção entusiasmada em retorno.

— Oi, garoto. Faz um tempo.

— Kirrrrr?! O-o demônio! 

— Sua recepção calorosa me faz sentir todo arrepiado. Você estava se sentindo sozinho porque não nos vimos por alguns dias? Desculpe por não considerar seus sentimentos.

Gorke pulou. 

— Se você está realmente arrependido, então pare de aparecer nos meus sonhos! Pensei que ia morrer lutando contra aqueles caracóis da última vez!

— Bem, você não morreu, então está bem. O que não te mata te torna mais corajoso, Gorke. Não deixe o mundo te derrotar. Viva uma vida onde você chuta o cu de todo mundo.

— S-sua boca ainda é suja. De todas as formas que você poderia dizer isso, como pode fazer soar tão vulgar? Ker. Não me importo mais se você é um deus ou um demônio, só gostaria que soasse mais gentil quando fala… Quando você é um leão, é legal, mas nos meus sonhos não é nada como o leão legal que conheço… — Gorke murmurou. Ele parecia como alguém cujo sonhos haviam sido destruídos.

Em vez de negar o que ele disse, concordei com ele. 

— Garoto, é isso!

— Goruk?

— Vocês estão sob a ilusão inocente de que sou seu salvador perfeito e maravilhoso que cuidará de vocês não importa quais dificuldades enfrentem. Mas eu sou, na verdade, um pouco maligno, como você disse.

— Um pouco…? — Gorke perguntou, coçando o queixo com uma expressão franzida, como se estivesse ponderando um dilema filosófico.

Talvez o primeiro filósofo da história dos Terras estivesse prestes a nascer, mas não dei importância a isso. Se ele deixasse um ditado como “Tudo no universo é feito de keruk!”, as futuras gerações de estudantes sofreriam.

— Você é o único que conhece meu verdadeiro eu. Não sou o deus que vocês pensam, mas apenas um ajudante e conselheiro. Gorke, você tem o dever de espalhar a verdade para sua família, amigos e companheiros de espécie.

— Ke! Não gosto disso. Parece muito trabalho!

— Com base na última luta, parece que você ainda não dominou a aura. Vamos ficar aqui por um tempo e focar nisso. Um ano deve resolver.

— Eu amo espalhar a verdade! Vou contar a todos!

A paixão de Gorke foi acesa. Era bom vê-lo assim. Ainda assim, ele mexia com as mãos.

— M-mas eu tenho uma pergunta.

— Hmm?

— Se você não é um deus, por que cuida de nós, Kekerukker? Por que nos salvou do Desastre Primordial e nos resgatou do reinado dos Cascomontes? Não entendo por que faria tudo isso.

— Primeiro, vocês são fofos…

— Ker? Tem algo errado com seus olhos?

Esse desgraçadinho.

— Na verdade, não sou tão diferente de vocês. Se eu tivesse que dar um motivo para cuidá-los… Bem, vocês são um pouco como eu.

— Como você? Estranho. Você não se parece nada conosco.

Cocei a cabeça. 

— Não estou falando de aparências. As pessoas se apegam ao que acham que se assemelha a elas. Eu me vejo em vocês. Sou tão ganancioso quanto vocês, e nossas vidas são semelhantes. Ao olhar para vocês, estou redescobrindo a mim mesmo.

— Gor…?

Acariciei a cabeça de Gorke. 

— Se eu me importo com vocês, é só porque me importo comigo mesmo. Mas se você ainda quer me servir, pense em mim como um amigo próximo em vez de um deus. Isso é o que eu prefiro ser do que ser idolatrado. Confiança é muito melhor que fé.

— Amizade em vez de idolatria, confiança em vez de fé…

— Sim, sou apenas um amigo próximo que visita de vez em quando e fica ao seu lado por curtos períodos. Não seria mais legal dizer “Somos amigos do nosso deus” do que “Somos amados pelo nosso deus”?

Gorke olhou para mim.

[A religião dos Terras está passando por algumas mudanças!]

[A possibilidade da religião primordial Fé do Leão Branco ganhar novas doutrinas aumentou.]

Eu sorri. 

— Viva bem. Tenho que me afastar de vocês por um tempo, então vá em frente e ensine aos outros como usar aura. Deixe-os saber que quero permanecer em suas memórias como um amigo.

— V-você vai partir?

— Sim, trouxe vocês para Goru, então fiz meu trabalho. Ficaria bravo se visse os Cascomontes os intimidando novamente quando eu voltar.

Esfreguei as bochechas de Gorke com força. Ele continuava emitindo sons engraçados, como gor e ker.  

— Ensine a eles sobre meu verdadeiro eu também. Ah, sim. Esqueci de mencionar algo. Bom trabalho durante os duelos. Você foi bem legal. Tenha uma boa vida — disse, dando um leve tapinha no ombro de Gorke.

Gorke abriu a boca para tentar dizer algo, mas saí imediatamente do sonho. Quanto mais tempo demorasse para dizer adeus, mais longo seria o arrependimento, então era melhor partir como se fôssemos nos encontrar novamente amanhã.

[A duração do item terminou.]

O sonho acabou. Assim que me levantei, corri para fora de Goru. Era meia-noite, e os goblins estavam marchando para sua terra natal há várias semanas, então estavam exaustos e profundamente adormecidos. As chances de alguém me seguir eram muito pequenas, mas senti alguém tentando desesperadamente me perseguir.

Hmm. É o Gorke?

Ele me chamou de demônio e tudo mais, mas parecia que se apegou a mim.

Eu temia que isso acontecesse, por isso fui duro ao interagir com ele…

Sentindo o peso da amizade nos meus ombros, corri um pouco mais rápido. Meu perseguidor foi atrás persistentemente, mas não conseguia acompanhar minha velocidade. A distância entre nós aumentava cada vez mais. Depois de correr pela floresta por um tempo, a pessoa que me seguia desistiu.

Balancei minha juba de leão para o lado. 

Os outros Caçadores provavelmente estão pensando a mesma coisa que eu agora.

— O quê?

O Inquisidor mostrou um precedente louco ao ficar no cenário anterior para fazer sua espécie dominar o mundo. Os outros provavelmente estão pensando que é melhor não partir o mais rápido possível.

Eles estariam esperando que os outros partissem primeiro.

O problema é que apenas o Inquisidor pode realizar um feito tão louco.

Ele havia ficado por centenas de anos, mas o próximo cenário poderia estar a milhares de anos no futuro.

Apenas o Inquisidor com sua psicopatia 130% pura pode fazer isso.

No entanto, a eliminação do Inquisidor foi confirmada durante este cenário, já que ele falhou em impedir o êxodo dos escravos.

No final, todos não terão escolha a não ser desistir e dizer que vão concluir o cenário. Eles estão hesitando agora apenas porque sentem que estarão perdendo algo se forem os primeiros a declarar o cenário concluído.

O Guardião assentiu.

— Acho que sim. O que você vai fazer?

O que você acha? Nesse caso, alguém tem que ceder primeiro, mesmo que isso signifique perder algo, apenas para que os outros sigam.

Eu estava agora longe o suficiente de Goru.

Concluí o cenário.

Swish.

Uma luz branca me envolveu.

[O cenário foi concluído.]

[A missão ainda está em andamento.]

[Você será imediatamente teleportado para o trigésimo terceiro andar]

[Sua recompensa será dada após você entrar no trigésimo terceiro andar.]

No momento seguinte, eu estava em um espaço branco. Era a sala de espera onde ficaria brevemente antes de seguir para o trigésimo terceiro andar. Um Caçador já estava lá.

— Haha. Você está aqui!

Era o Inquisidor, o único colega que falhou em completar sua missão, então falhou no cenário.

Ele acenou para mim. 

— Estava esperando por você, senhor Rei da Morte! Exceto por Slimepólis, o império dos Cascomontes ainda está de pé, mas parece que se eu falhar na missão, sou automaticamente desqualificado. Que pena.

Suspirei. 

— Tive dificuldades neste cenário por sua causa. Não, se eu pensar bem, parece que a grande maioria do meu sofrimento é culpa sua, assim como quando estávamos na A História da Academia Sormwin.

— Hã? Lembro de ficar bem quieto na Academia Sormwin.

— Você pode dizer isso, mas para mim, não foi assim de forma alguma…

Ele havia se perdido para a Lady Taça Dourada e sorria de orelha a orelha. A imagem ainda estava vividamente gravada na minha mente.

O Inquisidor juntou as mãos atrás das costas. Seus cabelos loiros curtos balançaram levemente.

— Hmm. Foi há tanto tempo que posso estar lembrando errado. Trabalhei febrilmente por duzentos anos. Fiz o meu melhor! Asseguro que mesmo que eu alcance o topo da Torre, não poderei me esforçar mais do que quando construí o Império Slime. Você entende, senhor Rei da Morte? Mostrei tudo o que era capaz, e ainda assim você me derrotou!

— Eu não te derrotei — rebati. — Todos nós fizemos.

O Inquisidor balançou a cabeça com firmeza. 

— É a mesma coisa! Você é quem uniu os Caçadores do Rank 1 ao 7. Não consegui resistir nem a um golpe, ouso dizer!

Um sorriso brilhante apareceu em seu rosto. 

— Não levo em conta meus sentimentos pessoais quando me avalio. Afinal, este é o meu limite! Meu julgamento, ética e competência são piores que os seus! Sou relativamente mais incompetente que você.

Não neguei isso.

— A arbitrariedade e as ações de uma pessoa incompetente levam à destruição. Não quero me tornar alguém que aperta o botão para a ruína e destruição! Seria melhor deixar os julgamentos para alguém mais capaz que eu.

— Do que você está falando?

O Inquisidor sorriu. 

— Minha lógica é simples, senhor Rei da Morte. De agora em diante, você é meu mestre. Eu o servirei.