Viper, Bruxa Negra e todos os outros também olhavam ao redor com expressões franzidas. Provavelmente, eles também receberam uma missão, e não era difícil adivinhar qual era.
Eles também tinham que ajudar suas espécies a escapar.
O Inquisidor sorriu. Talvez ele também tivesse recebido uma missão, e não era difícil adivinhar qual era a dele.
— Recebi uma missão, haha! Tenho que impedir o êxodo de vocês e defender o império!
Claro, era exatamente o oposto das nossas missões.
— Acredito que vocês provavelmente receberam uma missão para libertar cada uma de suas espécies do Império Slime. Hmm, interessante. Nossos objetivos estão em conflito.
Houve um silêncio estranho entre nós, mas os gritos vindos do coliseu da cidade subterrânea aos poucos o consumiram.
O Inquisidor acariciou o queixo.
— Entendo. Todos, rendam-se a mim.
A Bruxa Negra franziu a testa, como se estivesse se perguntando se ouviu corretamente.
— O quê?
O sorriso do Inquisidor não desapareceu, como se ele tivesse feito uma afirmação perfeitamente racional.
— Sei que vocês estão todos chateados agora! Mesmo que tenham conhecido suas espécies por no máximo quinze dias, vocês cuidaram delas com carinho, mas agora elas foram reduzidas a nada além de escravos. Entendo que não compreendam por que estou pedindo isso, mas é o caminho mais rápido!
O caminho mais rápido para alcançar o quê?
— Se eu não tivesse intervindo, as criaturas deste mundo teriam vagado por milhares de anos! Graças à minha intervenção oportuna, o povo deste mundo entrou na era histórica em apenas duzentos anos. Isso é muito rápido!
— Inquisidor, mesmo que você esteja certo, usar religião e escravidão assim…
— Não estou dizendo que meu método é perfeito, Mestra do Dragão Negro! Imagine as vidas que teriam sido perdidas ao longo de milhares de anos da nossa história. Mesmo que minha civilização maltrate centenas de milhares de criaturas como escravos agora, será apenas por alguns séculos! Farei a história fluir ainda mais rápido — disse o Inquisidor.
Tochas queimavam por toda a cidade subterrânea. A enorme estátua de cão lançava uma longa sombra sobre o Inquisidor.
— Da era histórica para a era medieval, da era medieval para a era moderna, e finalmente para a era contemporânea, o mais rápido possível, colocarei um fim em todos os erros, mal-entendidos e massacres que a humanidade não teve escolha a não ser suportar!
A voz do Inquisidor estava cheia de certeza. Seu sorriso nos comunicava que ele podia fazer isso.
— Todos, por favor, rendam-se a mim! Ficarei neste mundo e guiarei esses caras. Em quatrocentos anos, não, trezentos e sessenta anos, trarei a civilização deles ao nosso nível!
— Você vai ficar aqui por mais trezentos e sessenta anos…?
Sob o pilar gravado com a escritura da civilização dos caracóis, o Inquisidor sorria de orelha a orelha.
— Sim! Por favor, confiem em mim e partam, todos!
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Tivemos uma reunião, mas não conseguimos chegar a uma conclusão. Alguns dos meus colegas sugeriram deixar o cenário para o Inquisidor, enquanto outros se opuseram veementemente. No final, não alcançamos um consenso, mesmo após duas horas.
— Primeiro, vamos ver como estão nossas espécies — sugeri. — Sinto que perdemos a compostura. Se continuarmos assim, vamos apenas brigar uns com os outros. Vamos dar uma olhada em como nosso povo vive. Isso nos ajudará a tomar uma decisão. Amanhã, podemos nos reunir e discutir novamente. Tudo bem?
Meus colegas assentiram, contendo suspiros e gemidos. Nos dispersamos para encontrar as áreas onde nossas espécies viviam.
Eu, claro, fui procurar meu povo. A maioria dos goblins vivia nas minas de sal.
— O turno diurno de hoje acabou, Lime! Voltem para seus alojamentos!
— Fungos, exceto os Chefes de Fosso, não têm permissão para circular lá fora depois do turno!
— Alinhem-se de maneira ordeira!
Os caracóis acenavam seus tentáculos. Os goblins tremiam enquanto entravam nos fossos escavados ao lado da mina de sal. Esses fossos eram os alojamentos dos goblins.
Fiquei sem palavras por um momento e só consegui gemer.
— Isso não faz sentido. Fossos? Goblins amam lama, mas a única coisa que esses fossos têm é um cheiro salgado. No mínimo, os alojamentos deles deveriam ser úmidos.
— Concordo — murmurou o Guardião. — Eles estão procurando água.
Os goblins saíam de centenas de fossos, um ou dois de cada vez. Eles tinham faixas vermelhas ao redor do pescoço e carregavam jarros de água na cintura.
Os Chefes de Fosso, líderes de cada fosso, estavam tentando buscar água. Eram, em sua maioria, mães, e eu imediatamente entendi por quê.
— Por que esse garoto está acompanhando você?
— Kerrr, ele não para de chorar se eu for embora. Por favor, faça uma exceção, ker…
— Tsc.
Os supervisores Cascomontes ordenavam que os goblins, exceto os Chefes de Fosso, não vagassem fora de seus turnos. No entanto, eles não impediam as mães de levarem seus filhos. Portanto, se uma mãe goblin fosse eleita Chefe de Fosso, tanto ela quanto seu filho podiam sair para buscar não um, mas dois jarros de água.
— Gorrrr!
— Água! Ke, água!
Os jovens goblins pulavam na fonte da caverna.
Splash, splash!
Enquanto as crianças nadavam, as mães coletavam água. Seus jarros de cerâmica nem eram vitrificados, então, se caíssem, quebrariam facilmente. No entanto, ainda eram valiosos para os goblins, que viviam como escravos, então as mães tomavam cuidado para não quebrá-los.
Quanto mais eu via, mais não acreditava nos meus olhos. O tempo para coletar água da fonte era o único momento de liberdade que os goblins tinham. Durante sua preciosa pausa, as mães goblins misturavam areia na água, tentando imitar a textura da lama. Usando essa lama áspera, elas desenhavam lentamente marcas na pele de seus filhos.
— Gorr!
— Goreuk, goreuk!
As crianças gostavam da sensação, embora não soubessem realmente por quê. Uma criança usou suas mãos de sapo e sujou a mãe para fazer o mesmo por ela. Era mais um rabisco do que uma marcação adequada, mas a mãe não apagou.
O trabalho delas continuava.
— É hora do turno noturno, Lime!
— Não demorem, fungos! — pressionava o supervisor caracol.
Os caracóis chamavam os goblins de fungos como um termo pejorativo. Na língua dos Cascomontes, um fungo era pronunciado org, e os goblins tinham “gorr” em seu vocabulário. Foi por isso que os caracóis lhes deram esse apelido.
— Saiam logo dos alojamentos!
— Não arrastem os pés, seus orgs preguiçosos.
Fiquei sem palavras com a crueldade de chamar uma espécie por termos pejorativos só porque pronunciavam as coisas de maneira engraçada.
Os goblins não eram os únicos chamados por termos pejorativos. Os Skians eram chamados de refugos, e os Sanguinatos, de sanguessugas. Quanto aos Fingills, eram simplesmente chamados de peixes.
Sob o reinado dos Cascomontes, as características únicas das espécies foram reduzidas a objetos de ridicularização.
— Ao trabalho!
— Comecem o turno noturno!
Thump!
Os goblins golpeavam o sal-gema com seus martelos de pedra, extraindo grandes pedaços de sal duro. O trabalho noturno deles era fragmentar o sal-gema até que ficasse pequeno o suficiente para comer.
— Kerrr…
— Kerrrr. Kerrrr.
O sal-gema se desprendia da parede, exalando um cheiro fétido, semelhante ao de gema de ovo podre.
Thump! Thump! Thump!
Os goblins esmagavam o sal-gema por horas a fio. O cheiro horrível entorpecia seus longos narizes.
— Kerrrrr…
De longe, os goblins pareciam apenas balançar picaretas, mas, ao observar de perto, eu podia ver que todas as suas unhas estavam quebradas de tanto rasgar o sal-gema. O sangue escorria de seus dedos enrugados e se infiltrava no sal-gema. Os goblins gemiam de vez em quando, mas continuavam seu trabalho como se estivessem acostumados a isso.
O supervisor caracol olhou para cima.
— Lime.
Havia apenas um buraco no teto da caverna, localizado no coração do mundo subterrâneo. A luz do sol entrava por ali durante o dia, e a luz da lua à noite. Eu podia ver as estrelas no céu noturno.
— O turno acabou!
— O turno noturno terminou, Lime!
— Todos os escravos, retornem aos seus alojamentos! Coloquem todas as picaretas de volta no lugar. Qualquer fungo que tentar levar uma picareta receberá cinquenta chibatadas! Laime! Não se esqueçam! Qualquer fungo que pegar seu martelo leva cinquenta chibatadas!
Os goblins abaixaram a cabeça e retornaram aos fossos.
—Kerrr… Gor.
Quando voltavam para seus fossos, seus jarros de água e alguns peixes parecidos com carpas, jogados pelos supervisores, estavam esperando por eles. Esses peixes haviam sido pescados pelos Fingills. Os pobres escravos do povo sereia tinham que capturar peixes para alimentar seus companheiros escravos em terra.
Fumaça subia de centenas de fossos enquanto os goblins grelhavam seus peixes. As crianças continuavam tentando pegá-los, embora ainda não estivessem cozidos. As mães, exaustas de cavar sal-gema o dia todo, afastavam as mãos de seus filhos com fraqueza, como se espantassem moscas.
Ainda assim, as crianças continuavam buscando a comida, então eram as primeiras a provar o peixe grelhado, devorando-o.
Os supervisores caracóis do turno noturno riam.
— Não importa o que comam, eles sempre queimam antes de comer, lime.
— Isso é porque o sistema digestivo deles é menos desenvolvido que o nosso.
— São verdadeiros bárbaros. Como podem comer comida carbonizada?
— A propósito, os candidatos que serão enviados ao coliseu em seguida são…
Tarde da noite, os goblins foram dormir. Os supervisores jogavam pedras ou cochilavam nas torres de vigia. Bêbados faziam algazarra à distância, mas o mundo subterrâneo aos poucos caía em silêncio. A essa altura, eu já havia tomado minha decisão.
— Acho que precisarei me desculpar com Raviel depois — disse.
Como se o Guardião esperasse que eu dissesse isso, ele cruzou os braços.
— Você vai regredir?
— Sim, se eu voltar e falar com o Inquisidor, será possível criar um futuro diferente.
— E se você não conseguir convencê-lo?
— Então continuarei tentando. Afinal, tenho cerca de duzentos anos para falar com ele.
O Guardião esfregou o nariz.
— Sou contra.
— Por quê? Você concorda com o que o Inquisidor disse?
O Guardião coçou a cabeça.
— Não, não é isso… Como devo explicar isso pra um canalha como você entender? Vamos dizer, por exemplo, que eu sou seu filho.
— O quê?
— Eu disse por exemplo. Por exemplo! Não me olhe como se eu fosse louco. Enfim, sou seu filho, mas voltei da escola depois de apanhar um pouco. Você voltaria um dia antes pra garantir que eu não levasse uma surra?
— O que você está tentando dizer?
O Guardião olhou diretamente para mim.
— Pense nisso da minha perspectiva. Se eu tivesse um acidente e, infelizmente, isso me matasse, então você deveria regredir. Não pense duas vezes. Na verdade, você deveria morrer e me salvar, não importa o quê. Entendeu?
— Hã?
— Mas se você voltar um dia só porque eu apanhei, isso significa que a surra nunca aconteceu. Não acha que eu me sentiria muito mal? Eu sou quem apanhou, então por que caralhos você voltaria um dia sem me dar uma chance?
— Que chance?
— A chance de dar o troco nos meus agressores. Na verdade, alguém já te contou uma história parecida antes. Há apenas alguns meses, o cara que te criou te deu uma bronca fodida.
O Guardião estava falando da história do diretor do orfanato sobre Wu Zixu.
— Mas…
— Apenas tenha um pouco de fé neles.
— Em quem?
— Nos caras ao seu redor. E em você mesmo, por extensão.
Eu ponderei, com os ratos vivendo na caverna fornecendo uma música de fundo com seus guinchos.
— Hã? Ei, Zumbi. Olhe pra eles.
— O quê?
— Seu pessoal. Os goblins.
Virei a cabeça na direção que o Guardião apontava.
— Eles não estão dormindo.
Era verdade. Os goblins saíam secretamente dos fossos, um ou dois de cada fosso. Após se certificarem de que os supervisores estavam cochilando nas torres de vigia, os goblins partiram com passos abafados.
— Hã, eles estão indo pra mina.
De fato. Dentro da mina, os túneis se entrelaçavam de forma intrincada como um formigueiro. Os supervisores caracóis eram relativamente vulneráveis ao sal, então não podiam entrar tão fundo na mina. Eles sempre gerenciavam os escravos de fora.
— Kerrr…
— Keruk, keruk.
Os goblins sussurravam entre si enquanto caminhavam. Quanto mais fundo iam, mais estreitos os túneis da mina se tornavam e mais baixo era o teto. O lugar inteiro era como um labirinto. No entanto, os goblins encontravam seu caminho com habilidade, como se já tivessem estado ali várias vezes.
O Guardião estava divertido.
— Olha só pra eles! Dizem que é mais escuro sob a lâmpada1É um ditado coreano que significa que, às vezes, a verdade mais óbvia é a mais difícil de enxergar., mas eles realmente criaram uma passagem secreta bem debaixo dos pés de seus superiores.
Os goblins iam cada vez mais fundo, passando por centenas de cruzamentos. Se alguém que não estivesse familiarizado com esses túneis tropeçasse neles, certamente se perderia e morreria.
Finalmente, após descer por mais de uma hora, o túnel deu lugar a uma ampla caverna de mina.
— Ker.
— Kerruk, kerr.
— Kerrrrr…
A luz das tochas iluminava fracamente a caverna escura, fazendo as silhuetas dos goblins tremularem. Não havia apenas uma passagem levando a esse lugar, mas várias. Além dos goblins que eu estava seguindo, grupos de goblins haviam chegado de outro local.
O Guardião estava impressionado.
— Cara… Viu? Eu sempre estou certo! Eles também estão fazendo tudo o que podem. Não estão apenas sentados esperando alguém vir salvá-los!
Talvez em resposta às palavras do Guardião, a Torre sussurrou para mim.
[A reunião secreta dos Terras começou.]
Tradução: Rlc
Revisão: Pride
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1 O minotauro deixou o décimo andar para subir pelo labirinto novamente, dessa vez…