O Caçador Imortal de Classe SSS – Cap. 152 – Brilho (1)

 

Um fio verdadeiramente estranho conectava as pessoas. Podia ser algo trivial, como descobrir que meu novo amigo era o neto do dono do supermercado do bairro. Ou como o Caçador que eu admirava há dez anos acabou sendo um psicopata louco que me matou. E então eu o matei, e agora vivíamos juntos…

Não, melhor parar com essa analogia. O caso do Imperador das Chamas era bem peculiar. De qualquer forma, meu ponto era simples. As relações humanas eram um verdadeiro mistério. Até agora, eu havia conhecido todos os tipos de pessoas estranhas e misteriosas, mas ainda me surpreendia com o tipo de gente que cruzava meu caminho.

Fiquei particularmente impressionado com o homem com quem eu estava em uma videochamada.

— Ei, Kim Gong-Ja. Quanto tempo, hein? Você está com uma aparência melhor do que nunca. Por algum motivo, está mais bonito do que quando era mais jovem. A vida na Torre combina com você, não é? Estou com inveja! Bem, acho que eu deveria ter te seguido quando saí do orfanato. Gong-Ja, o ar e as pessoas aqui fora são ruins. Não é um bom lugar para viver.

Ele tinha a minha idade, mas cara, falava sem parar. Seu terno era impecável, e seu cabelo estava cuidadosamente penteado com uma risca lateral.

— Kim Hanbija…

— Não, não. Agora é Kim Han-Bi, tá? Mudei meu nome.

— Ouvi do diretor que você agora tem um distintivo de membro da Assembleia Nacional. Parabéns, meu amigo.

Esse cara provavelmente era o mais bem-sucedido entre meus colegas do orfanato. Ele agora era um vereador representante proporcional ou algo assim.

— Ele teve sorte e tomou a decisão certa na hora certa — O diretor havia criticado casualmente antes, mas não era fácil fazer algo assim para alguém tão jovem.

— Qual é, cara. Comparado a você, eu sou só o rei de uma colina. Você não navega na internet, tipo, nunca? Você é muito popular. Contribuiu muito para elevar o prestígio do nosso país.

— Desculpa. Não estive online ultimamente, então não sei de muita coisa.

Kim Hanbija sorriu com amargura.

— Ah, sério? Isso é surpreendente. Enfim, meu amigo, por favor, me faça um favor. Vou concorrer como vereador representante distrital na próxima eleição geral. Mas, além do fato de ser jovem e novo, não tenho nada para atrair as pessoas. Se importa se eu divulgar que você e eu éramos melhores amigos no orfanato?

— Não, de jeito nenhum. — Fiz uma reverência. — Boa sorte, Vereador. Por favor, pratique uma política limpa e honesta que coloque o povo em primeiro lugar.

— Hã? Ei! Ei!

Kim Hanbija agora parecia angustiado.

— Gong-Ja! Por favor, por favor! Me ajuda! Desculpe por não te ligar até agora! Quem poderia imaginar que você se tornaria tão bem-sucedido na Torre? Hm… um cartaz! Vou fazer só um cartaz! Por favor, me ajude a manter meu distintivo da Assembleia Nacional…

Desliguei a chamada imediatamente. A última coisa que vi foi meu amigo de infância chorando e implorando, o que me fez pensar novamente.

Eu realmente sou bem-sucedido na Torre.

Um amigo de infância com quem nunca falei depois de entrar me ligou. Eu não podia acreditar que até recebi um pedido trivial de um membro da Assembleia Nacional. Era algo que eu não podia sonhar antes das minhas mais de quatro mil regressões.

Brrrr…!

Assim que desliguei, meu celular tocou novamente. Claro, era Kim Hanbija. Aceitei a chamada.

— Olá — cumprimentei, sem me preocupar em esconder minha irritação.

— Senhor Gong-Ja, sinto muito. Esqueci meu lugar, mesmo que tenhamos saído juntos apenas um pouco quando éramos pequenos.

Esse desgraçado tinha se tornado incrivelmente descarado, provavelmente devido aos seus anos como político. Havia algo a aprender com sua falta de vergonha.

— Sei que você está muito ocupado, mas poderia, por favor, ouvir minha história por um momento?

— Contanto que seja só uma história.

— Senhor Gong-Ja, sei que a nacionalidade não tem significado na Torre. Ainda assim, não somos compatriotas coreanos? Você pode usar isso para construir novas conexões. Há tantas pessoas na Assembleia Nacional e no meu partido que te favorecem.

— Esse tipo de boa vontade muitas vezes transforma alguém em um capacho.

— Só me diga o que você quer…

— Uh, política honesta? Busque a paz global, por favor.

— Não peça o impossível, seu louco!

Entendi… É impossível. Acho que não tem jeito, então. 

Uma ideia cruzou minha mente.

— Ah, tenho um favor a te pedir.

— Eu sabia! A Torre também é onde as pessoas vivem, então podemos trocar favores. O que é? Pode pedir qualquer coisa. Já recebi um cheque em branco do meu partido antes de te ligar.

Eu sorri. 

— Isso soa confiável. Você conhece alguém chamado Hwang Eun-Seo?

Eu, Kim Gong-Ja, diria que os laços que conectam as pessoas são tão estranhos que, às vezes, os mortos se vingam.

— Bem, isso aconteceu.

— É de se esperar — respondeu Espada do Luar após ouvir minha história. — Eu também recebi inúmeros pedidos quando me tornei o Caçador Rank 1. Não só pessoas da minha família, mas também políticos e empresários me ligaram milhares de vezes.

— Ah, os suecos também são assim?

— É igual no mundo todo.

Claaaaang! 

Minha espada colidiu com a dele.

Conversávamos tranquilamente enquanto duelávamos para melhorar nossas habilidades com a espada. Não só estava enfrentando o Espada do Luar, como também estava recebendo conselhos de vida dele.

— Você é inegavelmente uma pessoa de poder agora. Uma com um poder especial, até. Você não ganhou essa força por meio de estratégias políticas, mas por suas habilidades e conquistas. As pessoas do mundo exterior gostam de você. Os Caçadores na Torre te admiram.

— Está me elogiando demais, senhor.

O Espada do Luar balançou sua espada. 

— Isso significa que você precisa ser mais cuidadoso, jovem.

Whoosh! 

Seu golpe de espada afiado mirou meu pulso. Segurei Brilhinho ligeiramente na diagonal e desviei seu golpe. Antes, eu não conseguia nem acompanhar os movimentos de sua espada, mas agora, conseguia desviar e bloquear seus ataques enquanto conversava tranquilamente.

— Não estou sendo cuidadoso à minha maneira? — perguntei.

Whoosh!

Canalizei minha aura em Brilhinho para segurar a espada do Espada do Luar com firmeza.

Ele franziu a testa. 

— A forma como você usa sua aura é incrível.

— Ouvi dizer que sou mais talentoso em utilizar minha aura do que em esgrima.

— Não sei quem te disse isso, mas está certo. A aura é toda sobre poder mental. O poder da aura depende muito de quão forte é a imagem em sua mente. No que acabou de pensar?

Uma mansão queimando em chamas. As crianças dentro dela, com mãos e pés amarrados. Não importava o quanto lutassem, suas amarras não se soltavam.

— D-Dói…

— Por favor, me perdoe…

Circulei minha aura, pensando nas mãos e pés das crianças. Ao imaginar suas algemas, correntes e lutas em minha mente, segurei firmemente contra a espada do Espada do Luar com a minha.

— Bem, é um segredo comercial. Não posso te contar de graça — disse com um sorriso.

Uma emoção estranha apareceu nos olhos azuis do Espada do Luar. 

— Há algo de que me arrependo profundamente. Desisti de ir para a Crônica do Demônio Celestial em favor do Mestre da Seita ODP. A pessoa que você era antes de ir para aquele mundo e a pessoa que é agora são guerreiros completamente diferentes. Mesmo que isso significasse ser teimosamente irracional, eu deveria ter te seguido para dentro do livro.

— Você é do tipo que se arrepende do passado? Isso vai te cansar muito.

O Espada do Luar riu. 

— Não seja convencido! Não tenho intenção de entregar o primeiro lugar no Ranking de Caçadores!

Uma aura azul explodiu da espada do Espada do Luar.

Baaaaaang!

O impacto foi semelhante a uma explosão de ar comprimido. Rapidamente criei uma barreira com minha aura para suprimi-la.

O velho riu energicamente. 

— Haha! Bom, bom!

Em meio à explosão, ele continuou a emanar sua aura azul como um tufão. Em resposta, dei passos cuidadosos para trás e bloqueei seus golpes de espada um a um.

Whoosh! whoosh!

— Nunca pensei que ter um rival pudesse me fazer tão feliz! — exclamou o Espada do Luar sinceramente. — Quando corremos pelo Império Aegim juntos, eu não tinha ideia de que você se tornaria o guerreiro que é agora! Nunca se sabe o que a vida tem reservado para você. Serei eternamente grato por ter conhecido um jovem como você!

Seus golpes de espada avançavam como uma tempestade, segundo após segundo.

Clang!

De alguma forma, consegui contra-atacá-los usando uma combinação de minha espada e aura. No entanto, estava ficando impaciente, o que era óbvio com base nos meus movimentos.

— Não está gostando demais disso?

— Claro que estou gostando! O Mestre da Seita está melhorando dia a dia, e você também. A velocidade do seu crescimento é notável. A vida parece tão bela agora!

O riso do velho cavalheiro ecoou pelo campo. Estávamos no primeiro andar da Torre, Babilônia, a Cidade da Ascensão. Muitos Caçadores estavam gravando e assistindo nosso duelo com olhos arregalados. Eles até faziam anotações em admiração.

— Incrível.

— Se eu dominar a aura, também poderei lutar assim?

— De jeito nenhum! Só aqueles dois conseguem fazer algo assim…

— Como esperado, o Espada do Luar ainda está um nível acima do Rei da Morte.

A competitividade ferveu em meu coração.

Então é isso que a maioria das pessoas ainda pensa, hein? Tudo bem, vou mostrar a eles.

Eu ainda me considerava inferior ao Espada do Luar. Mas o que eu pensava e o que as outras pessoas acreditavam eram duas coisas muito diferentes.

— Senhor Espada do Luar.

— O que é?

— Pessoalmente, não gosto de apresentar formas de artes marciais incompletas porque acredito que isso é desrespeitoso com meu parceiro de treino. — Após bloquear a espada do Espada do Luar, recuei, colocando uma distância considerável entre nós. — Mas você e eu não somos parceiros de treino comuns.

Em vez de me encurralar, ele abaixou sua espada, esperando o que eu diria em seguida. 

— Não sei, Rei da Morte. Temos alguma conexão especial?

Eu sorri. 

— Claro que temos. Somos irmãos de seita, não somos?

O rosto do velho cavalheiro ficou sério. A seita de que eu falava não era o Culto do Demônio Celestial. Era o Guardião, o Imperador da Espada. Assim como eu, o Espada do Luar tinha um Guardião próprio.

Na Crônica do Demônio Celestial, o Imperador da Espada usou todo o conhecimento de artes marciais contra a Mestra.

O Combate Verbal do Guardião e da Mestra foi transmitido na Torre, então qualquer Caçador poderia assisti-lo se quisesse. Claro, o Espada do Luar estava entre os espectadores.

Não há como ele não ter reconhecido.

A maioria dos Caçadores não teria entendido o combate daquele dia. No entanto, mesmo que ninguém mais soubesse, o Guardião ao lado do Espada do Luar teria reconhecido as artes marciais. Ele mesmo as criou, então como não poderia?

Ambos temos um Guardião próprio.

Agora, tanto meu Guardião quanto o do Espada do Luar sabiam da existência um do outro.

Ele não me perguntou sobre isso, no entanto… Provavelmente estava esperando que eu trouxesse o assunto primeiro. Ele estava sendo atencioso.

Ainda assim, ele nunca imaginou que eu traria essa história à tona em um momento como esse. O que ele provavelmente imaginava era uma confissão secreta em um lugar tranquilo.

Como eu esperava, o Espada do Luar ficou muito confuso, olhando urgentemente ao redor para ver se alguém do público tinha ouvido o que eu disse. 

— Jovem… Rei da Morte, se você disser isso aqui…!

— Está envergonhado? — sorri radiantemente. — Ótimo! Por favor, fique ainda mais envergonhado, senhor!

— O-o quê…?

— Ainda não completei esta forma. Por favor, aceite!

Avancei contra o velho. Sim, trouxe o assunto do Guardião com o único propósito de desconcertar meu oponente!

— Whoa, seu canalha barato. Dizem que não há certo ou errado em uma luta, mas isso é…

O Guardião, que não ficava atrás de ninguém quando se tratava de mau humor, ficou impressionado. Deixando ele me elogiar, ergui minha Espada Sagrada antes de abaixá-la.

O fogo em certa mansão. A fumaça sufocante.

Minha aura explodiu. Ela cobriu nossos arredores como tentáculos, engolindo o campo com seu fogo ardente. Tudo o que estava vivo dentro dele foi sufocado. O terreno baldio rapidamente se tornou um inferno.

Só então o Espada do Luar reagiu. Ele rapidamente levantou sua aura azul para contra-atacar. Me senti mal, mas ainda não havia terminado.

— Não quero morrer.

Ressentimento. 

— Estou com fome.

Desejo. 

— Quero viver.

Esperança.

Canalizei todas as minhas emoções errantes em minha aura. Cada fio dela que se espalhava carregava a voz de uma criança diferente, e assim queimava em direções diferentes e com intensidades distintas.

O fogo atacou o Espada do Luar como se estivesse vivo.

— Hmm? — O Espada do Luar agiu rapidamente para deter o fogo. Como as ondas de chamas vinham de todas as direções e precisavam ser detidas uma a uma, ele naturalmente deixou uma brecha em sua defesa. Mirei essa brecha como uma fera.

Novas Artes do Céu Demoníaco,

Primeira Forma: Chama Ardente.

Estas eram minhas Artes do Céu Demoníaco. Sua primeira forma fez os olhos do Espada do Luar se arregalarem.

— Desculpe, Irmão Sênior. Vou vencer esta luta!

Balancei minha espada em direção à cabeça do Espada do Luar.