O Caçador Imortal de Classe SSS – Cap. 149 – O Prólogo (2)

 

Era hora de falar sobre o prólogo de outra pessoa. Os outros Caçadores deixaram a seção de livros proibidos da Grande Biblioteca, restando apenas eu e o Bibliotecário Interno, que parecia querer se despedir de mim em particular. Ele não poderia parecer menor, com estantes de livros antigos de capa dura, semelhantes a muros de tijolos, se erguendo atrás dele.

— Isso foi muito divertido! Sabe de uma coisa, Rei da Morte?

— O quê?

Ele sorriu. 

— A felicidade evapora rápido. É tudo sobre aproveitar um momento que você não consegue se conter. Momentos são como um riacho que flui continuamente, então, se eu deixar minha felicidade flutuar como uma única folha de bordo nesse riacho, estarei sempre feliz.

Vários livros apocalípticos, incluindo os que eu havia concluído, voaram em direção ao Bibliotecário Interno quando ele acenou a mão. Os livros apocalípticos que os outros Caçadores haviam conquistado também estavam lá.

Vigésimo Primeiro Andar: Grande Biblioteca de Toda a Vida

Vigésimo Segundo Andar: Crônica do Demônio Celestial (Gêneros: Murim, Fusão)

Vigésimo Terceiro Andar: O Épico do Cavaleiro de Ferro Espacial (Gênero: Ficção Científica)

Vigésimo Quarto Andar: Diário da Pousada da Montanha do Amanhecer (Gêneros: Mistério, História)

Vigésimo Quinto Andar: História da Academia Sormwin (Gênero: Romance)

Vigésimo Sexto Andar: Livro apocalíptico da Cidade do Festival (Gênero: Esportes)

Vigésimo Sétimo Andar: Épico na Rua da Padaria (Gêneros: Culinária, ficção de negócios)

Vigésimo Oitavo Andar: Nossa Vítima (Gênero: Conto de Fadas)

Vigésimo Nono Andar: A História da Cidade da Ascensão: História Paralela (Gênero: Vida escolar)

Os olhos do Bibliotecário Interno brilharam como os de uma criança. 

— É lindo! A lista de livros não é ruim. Embora não seja perfeita, é incomparavelmente melhor do que as listas de livros que os guerreiros de outros mundos compilaram. Quase sinto que não quero dar esses livros para você.

Todos buscavam seu próprio tesouro na infância – joias falsas feitas de plástico transparente, algumas balas de BB vermelhas e pretas misturadas com as brancas, ou bonecas rudimentares com mãos bonitas. Quando crianças, sempre sentíamos a necessidade de ter um tesouro secreto próprio.

Era assim que o Bibliotecário Interno parecia ao admirar seu próprio tesouro.

— Como os Caçadores de outros mundos fizeram isso?

— Bem, eles ou escolhiam apenas os livros apocalípticos de baixa dificuldade ou apenas aqueles úteis para sua Torre.

— Os Caçadores desta Torre tecnicamente escolheram a última abordagem.

O Bibliotecário Interno cobriu a boca com a manga. 

— Haha, você é muito humilde. Se você estivesse simplesmente tentando concluir os livros, não tinha motivo para aliviar a tristeza da Demônio Celestial. Sabe qual é a estratégia mais simples para concluir o livro?

— Qual é?

— É se esconder em uma caverna isolada.

O mundo ao nosso redor mudou quando o Bibliotecário Interno tocou a Crônica do Demônio Celestial. 

Whoooosh!

A luz me envolveu. Quando abri os olhos novamente, não estava mais na biblioteca. Em vez disso, estávamos flutuando acima de uma montanha nevada, com flocos de neve soprando ao vento.

— Ei. Pelo que vejo, só precisamos esperar até que eles morram…

Caçadores que eu nunca tinha visto antes estavam escondidos na caverna da montanha. Suas roupas eram completamente diferentes das que eu estava acostumado, então percebi que eram de outro mundo.

— Não é tão difícil. Só precisamos tomar cuidado com os zumbis andando por aí.

— Ótimo! Vamos nos animar e aguentar até acabar!

O Bibliotecário Interno olhou para eles e disse: 

— Este é um registro de um passado distante. Esses Caçadores são de uma Torre diferente. Eles aceitaram o desafio da Crônica do Demônio Celestial e escolheram permanecer escondidos até que a Demônio Celestial e o líder da Aliança Murim morressem.

Eu os encarei.

— Dez dias após a chegada dos desafiantes a este mundo, o líder da Aliança Murim morre, e a Demônio Celestial perde a cabeça. Em sua loucura, ela dispersa vigorosamente sua força vital e, então, morre. Ta-da! concluído!

 O Bibliotecário Interno agitou as mãos de forma brincalhona.

— Bem, eles escolheram um mau lugar para se esconder e foram mortos por zumbis. Mas a estratégia em si não é ruim. Se você apenas esperar, a Crônica do Demônio Celestial será concluída de qualquer jeito. Você só precisa vir preparado para o frio, com muitos suprimentos, e ser bom em furtividade para evitar os zumbis e o Demônio Celestial. Não é apropriado o nível de dificuldade B?

Não respondi.

— Mas, Rei da Morte, você não fez isso. — O Bibliotecário Interno olhou para mim. Atrás dele, uma tempestade de neve de muito tempo atrás era projetada como um holograma. — Você sempre tratou os personagens como seres humanos e deu o seu melhor. Você sentiu raiva e tristeza também, e abraçou um livro apocalíptico como se fosse o seu mundo.

Ele tocou A História da Academia Sormwin com a mão esquerda. 

Whoooosh!

A montanha nevada desapareceu completamente. Agora estávamos no porão da vila onde Raviel costumava ficar. Ela estava diante de um homem acorrentado, que estava ajoelhado no chão, coberto de sangue. Parecia que ele havia sido torturado.

— Ei, fui enganado! Enganado! Segundo o guia de estratégias, você gosta de flores brancas! Por que seu Afeto não aumenta mesmo que eu te dê flores, cozinhe os pratos que você gosta e tenha conversas agradáveis com você? Fui enganado! Este final não faz sentido!

Raviel estalou a língua, com desgosto estampado em suas feições. 

— Você é patético. Todos os apóstolos das Constelações são assim?

— S-se apaixone por mim, sua Constelação idiota! Anda logo e se apaixone por mim!

— Será que as Constelações consideram meu mundo como a lata de lixo do universo? É por isso que estão jogando apóstolos aqui um a um? Minha nossa. Minhas mãos já estão cheias cuidando dos cidadãos do Império. A vida fica mais difícil a cada dia.

Raviel derramou veneno na cabeça do homem, derretendo seu couro cabeludo.

— Ugh!!! Aaaaaah!!! Aaaaaaaaah!!! 

O homem se contorceu sob o veneno letal. Com um longo suspiro, Raviel saiu do porão.

Thump. 

A porta do porão se fechou, cortando o grito.

O Bibliotecário Interno deu de ombros. 

— Isso também é do passado. É difícil para os humanos tratarem os outros com compaixão. Eu te elogio por realizar essa tarefa difícil. Embora nunca nos encontremos novamente, lembre de que sempre estarei torcendo por você.

— Nunca nos encontraremos novamente?

O Bibliotecário Interno riu. 

— Agora tenho que convidar e receber guerreiros de outros mundos. Não posso cuidar de vocês para sempre. Existem mundos infinitos por aí, o que significa que também há inúmeras Torres. Um número infinito de guerreiros está escalando suas Torres enquanto falamos! Fiz um acordo com o Mestre de Toda a Vida para recebê-los. Desculpe, não posso te contar mais do que isso.

Ele estendeu a mão direita com um sorriso suave.

— Muito bem, Rei da Morte. Agora a Grande Biblioteca de Toda a Vida desaparecerá do vigésimo primeiro andar. Em vez disso, um pequeno abrigo será criado. Serei generoso e o farei parecer um paraíso como um presente.

Apertei sua mão. 

— Obrigado.

— Realmente não sabemos o que a vida nos reserva, não é? Nunca imaginei que chegaria o dia em que apertaria a mão do meu favorito e tornaria meu outro favorito meu bibliotecário… Hã?

Havia uma razão para o Bibliotecário Interno fazer esse som. Ele tentou se soltar do aperto de mão, mas eu não deixei.

— Rei da Morte? — Ele inclinou a cabeça. — Está triste por se despedir? Aprecio isso, mas você agora concluiu do vigésimo primeiro ao trigésimo andar. Ah, também haverá um abrigo no trigésimo andar. Há um livro apocalíptico chamado História de uma Cidade Resort. Suas instalações recreativas são verdadeiramente como um paraíso. Como bônus, eu te darei…

Olhei para a Constelação sem expressão.

— Rei da Morte? O que há de errado? Você está me assustando um pouco…

De acordo com os termos do Bibliotecário Interno, hoje era o dia em que Kim Yul e o diretor encerraram o longo prólogo e finalmente entraram na história principal. Mas isso não era tudo.

— Senhor Bibliotecário, antes de nos separarmos, quero te perguntar algo.

— O quê?

— Você não tem mais motivo para continuar vivendo, tem?

Desde que concluí a Crônica do Demônio Celestial, eu estava esperando por esse momento.

— Você tem o Assassino de Constelações como seu personagem favorito. Por que você gosta dele? Lefanta Aegim vai de mundo em mundo matando Constelações. Eu entenderia se você não gostasse dele, mas não sei por que teria motivo para gostar dele.

No dia em que terminei de concluir a Crônica do Demônio Celestial, o Bibliotecário Interno e eu pousamos em uma montanha nevada. Pela primeira vez, tivemos uma conversa honesta, com o cadáver enegrecido de um dragão à nossa frente servindo como testemunha.

— Já que é você quem está perguntando, vou te contar. Há esse sonho que tenho há muito tempo.

— Um sonho?

— Sim! É aparecer na novel que eu gosto! — disse a Constelação, com os olhos brilhando inocentemente.

O Bibliotecário Interno explicou que havia uma diferença entre intervir e aparecer em uma novel. Seu desejo era se tornar um personagem que viveu naquele mundo com os outros personagens desde o início.

— Eu me recuso a intervir em uma história, então isso me deixa apenas uma maneira de me tornar um personagem.

— Qual seria? — perguntei.

— É simples se você pensar ao contrário: em vez de procurar um personagem em uma novel, o personagem pode vir me procurar.

— Lefanta Aegim, o Assassino de Constelações, viaja constantemente de mundo em mundo para matar Constelações — ele sussurrou com um sorriso. — Ele está destinado a visitar minha Grande Biblioteca de Toda a Vida um dia para me matar.

— Ele continuará sua história e se apresentará diante de mim um dia, por vontade própria. Nesse dia, finalmente aparecerei na história da Epopeia de Lefanta Aegim. É esse o dia que estou esperando.

O Bibliotecário Interno olhou para o chão agora livre de neve e sorriu amplamente.

— Não é o melhor epílogo que eu posso pedir?

O Bibliotecário Interno amava o Assassino de Constelações porque ele era o único caminho para a Constelação se tornar um personagem em uma história.

— Você não tem mais motivo para continuar vivendo, tem? — perguntei novamente, com mais firmeza desta vez.

A expressão do Bibliotecário Interno ficou séria. 

— Do que você está falando?

— Você disse que seu sonho é um dia se tornar um personagem em uma história sem ter que intervir pessoalmente. O Assassino de Constelações é o único protagonista que tornará esse sonho realidade — disse com um sorriso. — Você ainda está esperando que ele te mate?

Ele não disse nada.

— Você acha que o Assassino de Constelações vai te matar depois de te conhecer, senhor Bibliotecário?

O Bibliotecário Interno olhou ao redor. 

— Eu… não entendo do que você está falando. O Assassino de Constelações que conheceu seu cuidador é simplesmente alguém sob sua Reencarnação da Legião de Monstros. O verdadeiro Assassino de Constelações ainda está vivo e bem no quinquagésimo andar. Ele virá à minha biblioteca algum dia e me matará…

Segurei a mão direita do Bibliotecário Interno um pouco mais forte. 

— Isso é verdade. Mas esse Assassino de Constelações não é da rota que você escolheu quando te perguntei antes.

Rota 1: O Assassino de Constelações no quinquagésimo andar nunca me conheceu ou perdoou o diretor do orfanato.

Rota 2: O Assassino de Constelações me conheceu e finalmente perdoou o diretor.

Eu perguntei a ele qual dos dois ele reconheceria como a história do Assassino de Constelações.

— Você escolheu a segunda rota.

Foi isso que ele escolheu como a história oficial. O Assassino de Constelações possuindo Kim Yul e depois aceitando o pedido de desculpas do diretor foi o que o Bibliotecário Interno aceitou como a vida do Assassino de Constelações. Em outras palavras…

— Suponha que o Assassino de Constelações do quinquagésimo andar te visite um dia, você tem certeza de que pode aproveitar o momento puramente? Ele nem conheceu o diretor. Você pode realmente aceitá-lo como o verdadeiro Assassino de Constelações quando ele nunca experimentou raiva, tristeza ou o desejo de se vingar e perdoar? Realmente será capaz de aceitar o final onde ele te mata?

O Bibliotecário Interno pode não ter pensado nisso, mas ele praticamente destruiu seu próprio sonho.

— Você nunca será capaz de aceitá-lo porque você ama histórias mais do que qualquer um. Não há como você querer ser morto por alguém que você não aceita como protagonista, alguém que é apenas um figurante.

O Bibliotecário Interno ainda estava em silêncio.

— Para sua informação, não adianta negar.

Eu podia lê-lo como um livro aberto e sabia quem ele amava.

Mostrar a janela de personagem.

Nome: Bibliotecário Interno

Afeição: 99

Gêneros favoritos: Fantasia de fusão, romance, mistério, aventura, horror, história, guerra, esportes, ficção científica, mitologia, contos de fadas…

Gênero não favorito: Nenhum

Personagens favoritos: Personagens, o Rei da Morte, Kim Yul

Personagens não favoritos: Nenhum 

Ponto de trama favorito: Histórias concluídas

Ponto de trama não favorito: Serializações descontinuadas

O nome do Assassino de Constelações havia mudado para Kim Yul, e a ordem dos personagens favoritos também mudou. Meu nome costumava estar atrás do Assassino de Constelações, mas agora estava à frente dele.

Quando a história do Assassino de Constelações terminou, ele começou a amar minha história ainda mais.

O Bibliotecário Interno me olhou com descrença. 

— Rei da Morte, o que você… Não, há quanto tempo você está planejando isso…?

— Desde que soube qual é o seu sonho, quando estávamos naquela montanha nevada. Claro, eu não havia planejado todos os detalhes naquela época.

Mas eu já havia terminado de traçar o quadro geral. Meu plano era fazer com que ele gostasse mais de mim do que do Assassino de Constelações. Foi por isso que persegui o Assassino de Constelações quase obsessivamente, mesmo que isso significasse sair do meu caminho. Tudo isso para caçar uma Constelação, aquela que estava diante de mim agora.

— Hamustra.

O Bibliotecário Interno se encolheu por ser chamado pelo seu nome verdadeiro novamente.

— Agora você tem duas rotas à sua frente — disse.

— Duas rotas…?

— Continue vivendo sem nunca realizar seu sonho. Seguiremos caminhos separados. Desista da esperança de que o Assassino de Constelações realizará seu sonho um dia. Fique confinado à biblioteca como você tem feito até agora, apenas servindo e entretendo guerreiros que tratam os personagens como lixo.

O Bibliotecário Interno tremia ligeiramente, tentando instintivamente se soltar do meu aperto de mão. No entanto, sua força física era insignificante, enquanto o aperto da minha mão direita era forte.

— Se você não quer escolher esse caminho, entregue.

— Entregar o quê?

— Um livro que contém sua história. Me dê o livro que registra sua vida.

A presa que eu estava mirando há muito tempo não era outro livro apocalíptico ou livros de outros mundos. Era o livro que tinha a história do Bibliotecário Interno da Grande Biblioteca de Toda a Vida.

— Vou fazer desse livro o trigésimo andar desta Torre. Dessa forma, você naturalmente se tornará um membro desta Torre. Entende? Você também se tornará um personagem em uma história.

A mandíbula do Bibliotecário Interno caiu.

— Torne-se meu colega e escale a Torre comigo, Hamustra.