O Caçador Imortal de Classe SSS – Cap. 124 – Utopia (3)

Um destino cruel aguardava aqueles cativados por histórias. Não era culpa das próprias pessoas, pelo contrário, as histórias pareciam exercer algum tipo de poder sobre elas, as enfeitiçando e até as levando à loucura. Histórias e mais histórias – as pessoas se apaixonavam por todas elas, dedicando a maior parte de suas vidas a consumi-las.

Para elas, a realidade era apenas um mundo incapaz de ser uma narrativa. Faltavam reviravoltas dramáticas ou um final chocante. As pessoas eram apenas pessoas, nunca poderiam ser personagens.

A decepção com a realidade, o desprezo pela humanidade e, acima de tudo, a adoração por histórias eram as razões pelas quais os leitores aplaudiam entusiasticamente quando eventos que pareciam tirados de romances aconteciam na realidade e pessoas reais agiam como personagens fictícios. Os leitores não eram cruéis. Eles apenas esperavam que algo animador acontecesse na vida real, algo que parecesse tirado de uma história.

O leitor supremo estava agora diante dos meus olhos.

— C-crossover… entre você… e Le-Lefanta Aegim?

O homem amava tanto histórias que construiu sua própria biblioteca.

— Essa é certamente uma oferta atraente.

A biblioteca que ele construiu era tão grande e magnífica quanto um mundo. Além disso, continha todas as ideias e princípios da vida, ganhando o nome de Grande Biblioteca de Toda a Vida.

— Mas eu só posso fornecer livros apocalípticos. Essa é a regra inquebrável que estabeleci. Toda história tem o direito de ver seu próprio final, então eu não deveria intervir precipitadamente…

Os lábios do Bibliotecário Interno tremiam agora.

Ele está hesitando.

Eu o observei em silêncio. Estava certo de que o Bibliotecário Interno morderia a isca. Nenhuma lógica realista poderia persuadi-lo, mas seu desejo por um crossover épico poderia arrastá-lo até o inferno. Era uma oferta que ele não podia recusar.

Dei de ombros.

— Bem, podemos esquecer isso se você não quiser ver. Estou apenas sendo generoso, tentando te dar a chance de ver seus personagens favoritos juntos. Se você não quiser, não precisa fazer isso.

O Bibliotecário Interno permaneceu em silêncio.

— Mas você realmente quer ver, não é?

Sua expressão mudou drasticamente, revelando seus sentimentos óbvios. Era agonizante para ele que esse crossover seria de outra forma impossível, o que o tentava a ceder ao desejo de ter essa história como uma sobremesa sofisticada.

O Bibliotecário Interno finalmente conseguiu dizer:

— Eu… fiz um contrato com a Torre.

Ele respirou com dificuldade antes de adicionar:

— Nem todas as Constelações fazem contratos com a Torre, mas apenas aquelas que o fazem podem entrar. Isso nos torna, de certa forma, inquilinos. Em troca de alugar um andar na Torre, recebemos várias restrições.

— Quais são suas restrições?

— Fornecer apenas livros apocalípticos aos humanos. — O Bibliotecário Interno acenou a mão. A cada movimento, um livro que pairava ao seu redor caía no chão. — E, embora uma história apocalíptica possa ter vários significados, O Épico de Lefanta Aegim não é um deles.

Esses livros eram como os guardas do Bibliotecário Interno. Quando os Caçadores decidiram atacar da última vez, ele usou o poder dos livros para subjugá-los.

— Um contrato é um contrato. Não posso violá-lo à vontade. A Torre e seu dono ficariam muito bravos comigo, e eu prefiro não. Bem, inquilinos não podem exatamente discutir com seus proprietários, podem…?

Em outras palavras, ele estava voluntariamente se desarmando.

Com dezenas de seus livros agora no chão, o Bibliotecário Interno me olhou.

— Bem, só para você saber, minha capacidade de combate não é particularmente grande.

Eu não sabia o que dizer.

— Isso é verdade para muitas Constelações. Embora tenhamos habilidades especiais, a maioria de nós é surpreendentemente ruim em lutar. Sou simplesmente um leitor frágil sem meus livros. Hum, então… Você entende o que estou insinuando, Gong-Ja?

Entendi. Compreendo.

— Sim, você não pode quebrar o contrato. — Me aproximei do Bibliotecário Interno com grandes passadas.

O Bibliotecário Interno segurou suas mangas na frente do peito, olhando para mim nervosamente.

— A menos que você violasse o contrato devido a uma circunstância infeliz.

O agarrei pelo colarinho e o levantei no ar facilmente devido ao quão leve ele era. Mesmo que suas mangas fossem muito longas e grossas, elas mal representavam um problema.

— Ugh…! — Ele gemeu.

— Entregue O Épico de Lefanta Aegim, por favor.

— Ah… — Seus lábios tremiam mais forte.

Ele era uma Constelação, o dono de um mundo, mas estava sendo ameaçado por um único Caçador. No entanto, ele não resistiu de forma alguma.

— Que rude… Depois de toda a boa vontade e fé que mostrei a você, nunca pensei que você me trairia assim! Ah, me sinto amargo! É por isso que muitas histórias alertam seus leitores para não confiarem em humanos…

Pensando que suas habilidades de atuação eram péssimas, ri e apertei meu aperto em seu colarinho. O Bibliotecário Interno engasgou.

— Entregue ou eu te mato, seu pervertido.

O rosto do Bibliotecário Interno ficou sério enquanto ele olhava para mim. Estávamos atuando, mas ele sentiu sinceridade na minha voz. Claro, eu estava sendo sincero. Para enganar a Torre, a ameaça precisava ser verdadeira até certo ponto.

— P-pervertido? Gong-Ja, você é muito duro…

— Você coleta cabelos e unhas humanas, e seu sonho de vida é ser morto por Lefanta Aegim. Como mais eu te chamaria? Você realmente acha normal querer que seu personagem favorito te mate?

O Bibliotecário Interno ficou em silêncio.

— Ah, certo. Agora que penso nisso, eu também sou um dos seus personagens favoritos — sorri. — O que acha de seu sonho de vida se tornar realidade agora?

— Agora?

— Quer que eu te mate aqui mesmo?

Com as costas curvadas, o Bibliotecário Interno se encolheu e tremeu como se tivesse sido atingido por um raio. Um fluxo de inveja e desejo podia ser visto em seus olhos enquanto olhava para mim. Com mãos trêmulas, ele lentamente tirou algo de suas mangas.

O Épico de Lefanta Aegim – era o livro desgastado e manchado pelas mãos que ele já havia lido centenas de vezes. Entre suas inúmeras coleções de livros, o valorizava tanto que sempre o carregava consigo.

— Vou te dar…

O Bibliotecário Interno me entregou seu tesouro, que ele valorizava mais do que sua vida.

— Ótimo.

Arranquei O Épico de Lefanta Aegim com uma mão enquanto ainda segurava seu colarinho com a outra.

O Bibliotecário Interno engasgou. Seu rosto era agora uma mistura caótica de emoção e autodesprezo.

O Épico de Lefanta Aegim

Gênero: Não pode ser acessado com seu nível de autorização atual.

Nível de dificuldade: Não pode ser acessado com seu nível de autorização atual.

Desafiantes necessários: Não pode ser acessado com seu nível de autorização atual.

※Atualmente em serialização.

Descrição: Não pode ser acessado com seu nível de autorização atual.

Sem a permissão do Bibliotecário Interno, era impossível ler um livro da Grande Biblioteca. Intrigado por isso, olhei para o Bibliotecário Interno.

— Não consigo ler.

— B-bem, você pode ler livros apocalípticos apenas porque eu permito. Todos os livros armazenados aqui são proibidos por uma razão, então os humanos não podem ler descuidadamente…

— Então me conte a história você mesmo.

Incapaz de recusar minha demanda, o Bibliotecário Interno começou a me contar sobre a vida de Lefanta Aegim, o personagem que ele disse amar mais.

— Lefanta Aegim, o Assassino de Constelações, é do mesmo país que você.

— O quê?

— Ele nasceu no mesmo mundo, mesmo país e é da mesma raça que você. Não apenas vocês dois são do mesmo país, mas também compartilham o mesmo nome.

Isso era algo que eu não esperava de forma alguma.

O olhar do Bibliotecário Interno caiu para o chão enquanto ele continuava:

— O próprio Assassino de Constelações criou o sobrenome Aegim. É uma palavra inventada usando outra língua da região ocidental do seu mundo, não sua língua nativa.

Uma língua ocidental? Inglês? Ae, e gim…

— O nome significa ‘Eu sou Kim’?

— Isso mesmo.

Meu Deus.

— Não te disse? Uma vez é coincidência. Duas vezes é destino. Três vezes é inevitabilidade. Você e o Assassino de Constelações já cruzaram caminhos muitas vezes, então não seria errado dizer que o destino os conecta.

Meus olhos se arregalaram.

Ele é do mesmo país que eu?

Até agora, o único Caçador que conheci do meu país era um maníaco que ficava extremamente bem com seu rabo de cavalo. No entanto, descobri que até o Assassino de Constelações era da Coreia do Sul.

Então isso faz de mim o único Caçador são do meu país.

Enquanto eu questionava inconscientemente se meu país natal estava bem, o Bibliotecário Interno acrescentou:

— O Assassino de Constelações foi convocado para outro mundo quando era apenas um estudante do ensino médio. Naturalmente, ele passou por uma aventura bastante perigosa, mas após ser convocado, ele despertou uma habilidade sobrenatural que o permitiu sobreviver naquele mundo difícil.

— Espera um segundo. Calma. — Tive uma estranha sensação de déjà-vu. A história parecia terrivelmente familiar. — Um estudante do ensino médio convocado para outro mundo. Isso é exatamente como…

— Isso mesmo. — O Bibliotecário Interno assentiu fracamente. — O enredo principal da história de O Épico de Lefanta Aegim é algo assim: um estudante do ensino médio vai para outro mundo e causa caos. Você pode estar familiarizado com o termo isekai escolar. O Assassino de Constelações agora é velho demais para ser chamado de estudante do ensino médio…

Minha mandíbula caiu no chão. Pensei que o termo “isekai escolar” havia se extinguido com os dinossauros. O Assassino de Constelações, Lefanta Aegim, era um dinossauro?

— Claro, seria injusto com o Assassino de Constelações se eu simplesmente definisse sua vida como nada além de caos. Até se tornar o primeiro imperador do Império Aegim, o Assassino de Constelações passou por inúmeras dificuldades…

Enquanto o Bibliotecário Interno continuava com a história de Lefanta Aegim, sua voz se transformou em luz e permeou O Épico de Lefanta Aegim. A luz então se transformou em letras holográficas que soletravam os nomes dos personagens do épico.

Há muito tempo, havia pessoas que viviam no cadáver do Imperador Dragão Primordial.

— O Assassino de Constelações chegou ao vigésimo andar, que você agora possui.

Sem heróis entre eles, começaram a desejar por um.

— Foi onde sua jornada para construir uma nação começou.

Eles rezaram para seu deus, e seu deus concedeu seu desejo.

O livro brilhou branco como os outros livros apocalípticos. O Bibliotecário Interno olhou para ele com um medo sutil.

— E agora, o Assassino de Constelações se estabeleceu no quinquagésimo andar.

Isso era o que o Guardião também havia dito.

— É aí que surge um problema. Você ainda não concluiu o quinquagésimo andar, então ainda está na área de iniciantes. Além disso, diferente de outros andares superiores, o quinquagésimo andar é um lugar realmente especial. Enviar iniciantes para lá é estritamente, e não posso enfatizar isso o suficiente, proibido.

Isso surpreendeu até aqueles que ouviam com a respiração suspensa.

— Os andares abaixo do quinquagésimo são considerados a área de iniciantes?

— Trabalhamos tanto para chegar até aqui…

Eu não estava surpreso. Sabia há muito tempo que tudo até o décimo andar era tratado como um tutorial. O Guardião também me disse que, a partir do quinquagésimo andar, competiríamos com Caçadores de outros mundos.

Em outras palavras, não competir com Caçadores de outros mundos até o quinquagésimo andar é provavelmente uma medida para proteger iniciantes.

Com isso em mente, perguntei:

— Quando você diz proibido, isso significa que você não pode enviar Caçadores para o quinquagésimo andar, não importa o que aconteça?

O rosto do Bibliotecário Interno se tornou novamente uma confusão de emoções.

— Não exatamente… isso pode ser feito se um gerente de andar, aquele que envia o Caçador para cima… pagar o preço.

— Então não importa. Você vai pagar o preço, certo?

— P-pelo menos… — O Bibliotecário Interno soluçou. — Pelo menos, por favor, limite o número de pessoas que estou enviando para apenas você…

Mesmo que o Bibliotecário Interno não implorasse tão desesperadamente, eu já planejava enfrentar Lefanta Aegim sozinho.

— Beleza. Me envie para o quinquagésimo andar.

O Bibliotecário Interno fechou os olhos com força.

— Espero que você não se arrependa disso.

— É por isso que estou indo — respondi firmemente.

O Bibliotecário Interno desistiu e acariciou a capa de O Épico de Lefanta Aegim com mãos trêmulas. Fracamente, ele sussurrou:

— Rei da Morte, eu designo você como um personagem em O Épico de Lefanta Aegim…

[Aviso!]

[Um acesso não autorizado foi detectado.]

[Uma penalidade foi dada ao Bibliotecário Interno.]

O Bibliotecário Interno estremeceu enquanto avisos ferozes ecoavam na minha cabeça. Ele parecia também tê-los ouvido. No entanto, apesar de seus ombros trêmulos, ele não parou.

— A designação foi concluída sob minha autoridade.

[Aviso!]

[Uma penalidade foi dada ao Bibliotecário Interno.]

O Bibliotecário Interno respirou com dificuldade.

— Isso não é importante. Vá, Rei da Morte. Me deixe ver você ao lado do Assassino de Constelações.

Whoosh!

Uma luz branca me envolveu.

[Um acesso não autorizado foi detectado.]

Enquanto o mundo ao meu redor ficava branco, mais avisos continuavam aparecendo.

[Aviso!]

[A bênção do seu Deus da Beleza foi suspensa.]

[Você não pode mais observar a Afeição de outras pessoas!]