O Caçador Imortal de Classe SSS – Cap. 111 – A Maneira Como Ela Ama (3)

 

Corri e a tomei em meus braços. 

— Raviel.

Muitas palavras giravam em minha cabeça. Eu poderia me desculpar por deixar nela uma cicatriz indelével. Eu realmente sentia muito. Talvez pudesse dizer obrigado. Eu era grato por sua fé em mim, por esperar por mim e, acima de tudo, por alguém como eu.

Mas não era isso que eu queria dizer. Não era a primeira vez que me desculpava com ela ou a agradecia.

Esta noite era a noite em que nos encontramos novamente. Queria dizer a ela as palavras que nunca havia dito, mas que só poderia oferecer uma vez. Meu primeiro e último eram o que eu queria oferecer a Raviel Ivansia. E foi por isso que peguei sua mão.

— Vamos nos casar.

Raviel assentiu lentamente. 

— Sou conhecida por muitos nomes. Recebi o nome Lírio de Prata de Sua Majestade, e me dediquei ao Império como herdeira aparente do Duque de Ivansia. Mas deixarei meu nome, Raviel, intocado para que você possa usá-lo.

Nosso beijo foi profundo.

Nós dois acordamos ao amanhecer. O céu fora da janela era de um azul pálido. Virei a cabeça para o lado porque ouvi alguém respirando, e lá estava Raviel, me olhando sem dizer uma palavra.

Olhei para ela e estendi a mão, tomando a dela. Seus dedos frios se entrelaçaram com os meus. Ela era linda. Compartilhamos nossas respirações, entrelaçamos nossos dedos e pressionamos nossas testas uma contra a outra.

— Você é um gênio, Raviel.

Cada encontro ao amanhecer era para discutir um caso secreto de amor, e cada sussurro carregava uma mensagem secreta de amor. As pessoas que passavam o amanhecer juntas eram aquelas que se amavam.

— É incrível como você usou minha penalidade para recuperar minhas memórias — sussurrei. — Realmente, isso foi incrível. Eu nunca teria pensado nisso se fosse você.

— Você tem uma tendência a considerar a dor dos outros como sagrada. — Os dedos de Raviel roçaram minha orelha. — Você também é incrível. Como você conseguiu persuadir a Torre? Mesmo para as Constelações, a Torre é como um gerente incontestável. Eu sabia que você tinha um jeito com palavras, mas nunca pensei que funcionaria com a Torre também.

— Bem, para ser honesto, não me lembro muito bem. A memória está embaçada, como um sonho. Talvez quando você encontrar os mestres da Torre, a memória seja velada como a minha.

— O fato de você ter conseguido não muda. Meu amado é bastante competente.

— E minha amada é um gênio.

— Isso é um fato inegável.

Esfregamos nossas testas uma na outra. Podíamos admirar um ao outro sem um pingo de fingimento. Isso me deixava muito feliz.

— Quando vamos nos casar?

— Está me apressando?

— Acho que você é um pouco má — resmunguei.

Raviel riu suavemente. Era de tirar o fôlego. Um arrepio elétrico subiu pela minha espinha e atingiu minha cabeça. Nenhuma música era tão bela quanto o riso suave de Raviel.

— Primeiro, devo romper o noivado com Sua Alteza.

— Ah…

Ela estava certa.

Raviel assentiu. 

— Sua Alteza e eu estamos noivos, então seria legalmente difícil me casar com você agora.

— Bem, na verdade, não me importo se não estivermos casados legalmente. Uma pequena cerimônia juntos é suficiente para mim.

— Eu me importo. — Raviel acariciou minha bochecha. — Este é o mundo em que vivo. Sou leal a este Império e me importo com ele. Meu mundo e meu país devem reconhecer meu casamento. Mesmo que você seja um plebeu aqui, você é meu amado, então todas as pessoas deste mundo devem te abençoar.

— Ah, mas não é um pouco difícil esperar isso deles…?

— Tudo bem, Gong-Ja — refutou Raviel calmamente. — Vou matar qualquer um que não te abençoe.

O que eu deveria fazer? Ela era muito legal. Mais uma vez, me apaixonei por ela. Queria fazer isso de novo.

— Tudo bem — assenti. — Vamos nos casar no seu mundo. Mas também tenho uma condição.

— Diga.

— Quando você romper o noivado com o Príncipe Herdeiro, não deve ser sua culpa. Não perdoarei aqueles que espalharem fofocas ignorantes sobre você.

Se alguém apontasse o dedo para minha amada, eu quebraria esse dedo. Se alguém falasse mal dela, cortaria sua língua. E se alguém a caluniasse, eu o mataria. Não estava brincando. Eu lhe daria um gosto do inferno.

— Deve ser óbvio para qualquer um que a culpa é do Príncipe Herdeiro. Raviel, você está terminando com ele, não sendo dispensada.

— Ah, está me dizendo para insultar o próximo Imperador? Sabe, sou a futura Duquesa de Ivansia, que trabalha nas sombras pelo país.

— Sim, estou.

— Isso é fácil.

Tomamos um momento para nos beijar. Minha vida ficou um pouco mais colorida.

— Você tem um plano?

— Claro. De quem você acha que está falando? Toda vez que Sua Alteza tem um encontro secreto com Taça Dourada, um documento é adicionado à gaveta do meu escritório. Já há centenas deles nessa gaveta. Preparei todas as evidências e testemunhas. Se levar isso ao tribunal, com certeza vencerei.

O que eu deveria fazer? Ela era muito legal. Mais uma vez, me apaixonei por ela. Queria fazer isso de novo.

— Na verdade, não há necessidade de ir ao tribunal. A Família Imperial não gostaria que esse tipo de questão fosse levantada em público. Só preciso levar as evidências e pedir uma audiência com Sua Majestade.

— Quando você planeja ir ao Palácio? — Me inclinei mais para ela.

— O mais rápido possível. — Raviel afastou minha franja suavemente. — Gong-Ja, casar comigo faz de você o consorte do Duque de Ivansia. A Família Imperial concederá a você um título pessoalmente.

Meu coração batia forte.

— Em ocasiões formais, me referirei a você como meu consorte. Você me chamará de “minha duquesa”. Tudo bem?

— É uma sociedade feudal. A chefe da família Ivansia é você, e eu sou apenas um estrangeiro aqui, Raviel. Não se preocupe. Estou apenas seguindo as leis do Império. Não me importo com isso…

— Fico feliz em ouvir isso, embora soubesse que estaria tudo bem. Vamos tentar agora. Me chame de “minha duquesa”.

Congelei.

— O quê? Está envergonhado? Você está envergonhado. Eu sabia que ficaria. Vou primeiro. — Raviel sorriu, seus olhos se curvando como luas crescentes. — Meu consorte.

Meu coração… Eu podia sentir minha saliva grudando pegajosamente na entrada da minha garganta. Tentei falar lentamente, mas não consegui formar as palavras. Só depois que meu lábio superior escorregou várias vezes, finalmente consegui emitir um som.

— …M-minha duquesa.

Raviel piscou. O silêncio se instalou sobre nós. Minha amada me encarou silenciosamente com aqueles olhos vermelhos. Como eu deveria descrever? Ela parecia alguém que viu a pata de um ouriço. Em resumo, eu não fazia ideia do que essa expressão significava.

— Gong-Ja.

— Sim.

— Diga isso mais uma vez.

— …Minha duquesa.

— Mais uma vez. 

— Mmm, minha duquesa…?

Os cílios de Raviel tremularam e seus ombros se encolheram ligeiramente.

Que reação é essa? Será que é? Talvez? Talvez. Não, isso não aconteceria nem se o mundo desabasse.

A princípio, não percebi por causa da sua expressão impassível, mas não demorou muito para perceber.

 — Raviel, você está envergonhada agora?

— Hmm… — Raviel gemeu. — Meu homem é adorável demais…

A vergonha era muito contagiosa.

Porra.

Meu rosto estava quente e meus lábios secos. Mas minha cabeça estava funcionando bem. Deveria ter contra-atacado com “Raviel, você é a pessoa mais fofa do mundo”. Isso teria sido a revanche pelas minhas derrotas contra Raviel até agora, mas não consegui me convencer a fazer isso. Sentia que ia morrer de vergonha.

Em vez disso, decidi fazer um compromisso. Em vez de fazer um ataque unilateral, flertei de volta, chamando essa partida de empate.

— Minha duquesa.

Talvez Raviel tenha descoberto meu plano porque disse: 

— …Meu consorte.

— Minha duquesa.

— Meu consorte.

— Minha duquesa!

— Meu consorte…

— Eu te amo.

— Eu te amo.

— Minha duquesa…

— Meu consorte.

Isso continuou até o amanhecer se tornar manhã.

— Porra… você é um desgraçado… — murmurou o Guardião. Apesar do que disse, ele manteve as costas voltadas para mim para proteger a privacidade da minha duquesa e minha. — Olha pra vocês: dois loucos apaixonados… Putaaaaaaa que pariuuuuuu. Você sabe o quanto eu gritei desesperadamente por você quando você se enterrou no papel do mordomo? Hein? Mas assim que voltou a si, nem me agradeceu e só começou a flertar com sua amada! Sou apenas uma planta de canto, não sou? Talvez seja realmente hora de encontrar paz eterna.

[Brilhinho oferece consolo ao Imperador da Espada.]

— Ah, agora você é a única que tenho, Brilhinho!

O fantasma e a espada estavam construindo uma amizade misteriosa.

Foi mal e sou grato a vocês dois também.

Mas agora, eu queria amar meu amor um pouco mais.

Enquanto amava meu amor, refletia sobre meu objetivo neste cenário: impedir o apocalipse deste mundo. A causa principal do apocalipse era a herança da minha duquesa, o fragmento da Espada Sagrada, e o desejo que saiu do controle.

O perigo de este mundo ser destruído pelo demônio desapareceria se eu recuperasse a espada irmã, mas esse não era o único motivo pelo qual o mundo encontrava seu fim.

Eu ainda lembrava da invasão no último dia. A Vaca Colhedora de Ruínas, o Cavalo de Guerra das Planícies Eternas e o Pregador da Felicidade Imortal – através das rachaduras no céu, as Constelações de outros mundos enviaram seus apóstolos. Eles viriam novamente, sem dúvida. Isso era claro pelo fato de que eu ainda não havia recebido uma mensagem dizendo que havia concluído o cenário.

Minha duquesa havia despertado como uma Constelação incompleta ao perfurar seu coração com a espada irmã. Uma Constelação era a representante e protetora de seu mundo, em outras palavras, este mundo costumava ter uma barreira, embora incompleta, mas agora minha duquesa não havia apunhalado seu coração com a espada sagrada, então seu despertar como Constelação também foi negado. Isso significava que agora não havia Constelação neste mundo.

— Vou marcar a data do casamento para daqui a um mês.

— Isso é exatamente dez dias a partir do dia em que cheguei aqui — murmurei.

— Sim. Escolhi isso de propósito.

Minha duquesa deliberadamente marcou a data do casamento no dia em que este mundo teria sido destruído. Ela pretendia negar o fim do mundo e torná-lo nosso ponto de partida. Que coragem a dela.

— Isso nos coloca em um cronograma bem apertado. Só poderemos ter o casamento em um mês se tudo correr bem.

— Você pode me dar um exemplo do que deve ser feito?

— A primeira tarefa é romper meu noivado com o Príncipe Herdeiro. E a segunda é herdar o título do meu pai — explicou Raviel casualmente. — É difícil me casar com você apenas como herdeira. Haveria complicações legais, e ter um plebeu como noivo começaria fofocas irritantes na alta sociedade. É melhor me tornar duquesa antes de te tomar como meu consorte. Uma vez que me torne a chefe desta família, há muitas coisas que posso fazer sem complicações.

— Raviel, estou dizendo isso porque ainda tenho muitas memórias do mordomo, mas, bem… não é difícil se tornar a chefe de uma família sem que seu pai passe oficialmente o título para você? Sem mencionar que está herdando o Ducado de Ivansia, o título nobre mais poderoso do Império. Não é como se você pudesse herdar o Ducado se…

— Sim. Se eu não fosse Raviel Ivansia, teria sido difícil — disse Raviel calmamente. — Mas eu sou Raviel Ivansia.

O que eu deveria fazer? Ela era muito legal. Mais uma vez, me apaixonei por ela. Queria fazer isso de novo.

— Os vassalos da família já juraram lealdade a mim. O poder de mobilizar o exército da família também é meu. Se meu pai não quiser abrir mão do poder, a única maneira é correr para Sua Majestade e apelar a ele.

Raviel colocou uma pilha de documentos na mesa com um baque.

— Tenho evidências mais do que suficientes para provar a infidelidade de Sua Alteza. Sua Majestade é tão capaz quanto as forças especiais que comanda, então ele protegeria a dignidade da Família Imperial em vez de permanecer leal ao meu pai, que não tem poder real.

— Isso soa muito leal, Raviel. Mas você não está realmente chantageando Sua Majestade…?

— Meu consorte. — Raviel me lançou um olhar sério.

Eu me encolhi ao som de “Meu consorte”. Nós dois estávamos nos chamando de “minha duquesa” e “meu consorte” mesmo quando estávamos sozinhos para nos acostumarmos com os novos títulos.

— Sim, minha duquesa.

— Seu trabalho está na Torre, não neste mundo. Entendo se você não retornar ao meu mundo com frequência, assim como você sabe que não posso abrir mão da minha nobreza.

Eu me sentia como um cônjuge trabalhando no exterior…

— No entanto, há momentos em que preciso de você ao meu lado, como no início e no fim do ano. Os eventos que participarmos sempre serão políticos. Você está se tornando a lua de Ivansia e será reverenciado como o consorte mais nobre deste Império, depois da Imperatriz. Você precisa se acostumar com a política em algum nível.

— Então… é possível permanecer leal a Sua Majestade e fazer uma ameaça à Família Imperial ao mesmo tempo. Não é uma perda para o Império ter você como Duquesa de Ivansia. Eles têm sorte de ter uma nobre capaz como você, na verdade.

— Meu consorte aprende rápido. Ele é capaz, inteligente e legal.

— Claro… você está falando do seu homem, Raviel.

— Eu te amo.

— Eu te amo.

Tomamos um momento para nos beijar. A vida ficou um pouco mais colorida.

— Pooooooorraaaaa… — Por algum motivo, as bochechas do fantasma ficavam cada vez mais vazias. — Quem foi? Quem ensinou esse louco sobre amor? Quem chamou a porra da sua loucura de amor… Por que esse cara tá apaixonado? Se esse cara não tivesse se apaixonado, eu ainda poderia estar feliz…

[Brilhinho aponta para o Imperador da Espada com tristeza.]

— Alguém, por favor, atira em mim agora… vou aceitar o tiro com prazer…

Tínhamos dias ocupados pela frente para o melhor final feliz – não, o melhor casamento.