Mushoku Tensei: Reencarnação Redundante

Mushoku Tensei: Reencarnação Redundante – Vol. 02 – Cap. 07 – O Dever de Roxy

 

EU ESTAVA SENTADA em uma cadeira no jardim lendo um livro. Pelo canto do olho, eu podia ver Eris e Sieg praticando seus golpes de espada juntos, mesmo que tivéssemos vindo aqui de férias. Arus esteve com eles por um tempo, mas então a tia de Rudy, Therese, pediu que ele fosse a algum lugar, e lá se foi ele. Talvez estivesse no quarto dela agora e ela estivesse lhe dando doces ou algo assim. Aquele menino… Coloque uma mulher com seios grandes na frente dele e ele fica apaixonado. As mulheres seriam um problema para ele no futuro.

Lara, enquanto isso, estava vadiando com Leo no jardim. Eu suspeitava que ela estivesse tramando algo de novo. Ultimamente, tudo o que aquela garota fazia me deixava de cabelo em pé!

Se Arus, Sieg e Lara ficassem em casa e se comportassem, deveria ser um dia sem intercorrências. Sylphie e Norn levaram Lucie e Clive para visitar a Guilda dos Aventureiros. Elas me convidaram para me juntar, mas eu recusei. Não queria que jovens aventureiros viessem até mim na frente das crianças dizendo: “Acha que vai atrair novos membros para o grupo com seus atributos, hein?”

De qualquer forma, aqui em Millishion, um demônio andando por aí certamente receberia olhares estranhos. Além disso, eu queria passar um tempo com Lily e Chris. Agora que elas estavam tirando uma soneca, me vi sem nada para fazer, o que me permitiu relaxar pela primeira vez em muito tempo. Eu ia aproveitar meu livro sozinha.

Felizmente, encontrei um livro bastante intrigante na biblioteca da família Latria. Chamava-se As Origens da Magia Divina. Sua descrição da necromancia era particularmente interessante.

Na Grande Guerra Humano-Demônio, os demônios aterrorizaram o povo de Millis com o gênero de magia conhecido como necromancia: a arte proibida que ressuscita os mortos e os transforma em servos. Mesmo agora, seus vestígios permanecem em monstros, como esqueletos, espectros e armaduras em movimento. A magia divina foi criada para derrotar a necromancia. No período intermediário da primeira Grande Guerra Humano-Demônio, a relação entre os humanos com sua magia divina e os demônios com sua necromancia se desenvolveu em uma espécie de corrida armamentista. Após o fim da guerra, a necromancia foi proibida e a arte se perdeu. A magia divina declinou de seu auge, mas ainda está em uso até os dias de hoje.

O livro não entrava em detalhes sobre círculos mágicos ou encantamentos, e eu não estava planejando experimentar necromancia, mas aguçou minha curiosidade enquanto eu lia. Era épico, essa batalha de magia de eras passadas.

— Senhora Roxy? — Alguém atrás de mim chamou meu nome.

— Sim? — levantei os olhos do meu livro e vi uma das empregadas dos Latria parada ali.

— Sua senhoria… isto é, a Senhora Claire gostaria de vê-la.

Claire Latria. Tecnicamente, ela era minha avó por afinidade e, portanto, superior a mim em posição, apesar de termos mais ou menos a mesma idade. Ela não me lançara um único olhar desagradável até agora, mas era uma expulsora de demônios, então duvidava que estivesse feliz em me ver. O que ela diria? Com toda a honestidade, eu queria escapar disso.

Enquanto pensava nisso, olhei para Eris.

— Vamos, ajeite sua postura! Encolha o queixo! — Ela estava tão animada hoje em ensinar esgrima como sempre. Se Claire tivesse algo a dizer sobre eu ser um demônio, tudo bem, mas e se fosse outra coisa? E se, por exemplo, ela tivesse opiniões sobre como criamos as crianças? Então ela poderia ter palavras para Eris. Eris tinha dificuldade em falar sobre assuntos complicados e não conseguia morder a língua. Se Claire dissesse algo desagradável para ela, ela responderia com os punhos. Era exatamente o tipo de mulher que ela era.

Eu poderia refutar o que quer que Claire dissesse, mas poderia facilmente se transformar em uma discussão.

— Muito bem. — Eu disse à empregada. Isso, supus, era outro dos meus deveres como esposa de Rudy.

Apesar da minha tentativa de me preparar para o desafio, me vi sentada no quarto de Claire enquanto ela bebia seu chá silenciosamente, incapaz de sequer abrir a boca na frente dela. Eu apenas fiquei sentada ali. Por alguma razão, Lilia e Zenith também estavam lá; Lilia estava em um estado congelado semelhante ao meu, e Zenith estava tão quieta como sempre.

Sinceramente, era agonizante. Eu não conseguia nem estender a mão para os doces ao lado do chá. Doces eram meus favoritos, mas senti que Claire me repreenderia. “Você vai estragar seu jantar” ou algo assim. Na verdade, isso era algo que eu costumava dizer a Lara.

Não podia ser coincidência que ela tivesse convocado tanto a mim quanto a Lilia. Tínhamos maridos diferentes, mas ambas poderíamos ser percebidas (com alguma verdade) como concubinas. A fé de Millis não aceitava concubinas.

Que seja! Eu estava pronta. Ultimamente, eu andava um pouco sensível, mas estava preparada para quaisquer palavras duras que as pessoas pudessem me lançar.

Olhei para Lilia enquanto pensava nisso, nossos olhos se encontrando. Parecia que ela se sentia da mesma forma que eu. De fato, talvez ela tivesse antecipado isso por muito mais tempo do que eu. O lado bom de tudo isso era que Claire não havia convocado Eris. Não achava que ela conseguiria lidar com isso com a graça necessária.

— Rudeus saiu, acredito — começou Claire, de repente. Foi a primeira coisa que alguém disse desde que entrei no quarto.

— Ele foi entregar um presente para Cliff.

— Trabalho, então. Ele deveria estar de férias com a família. Ele é exatamente como o Carlisle nesse aspecto.

No início daquela manhã, Rudy foi com Elinalise entregar “a boneca” para Cliff. Eu não tinha certeza se isso era exatamente trabalho. A boneca em questão era uma autômata que ele construíra para cuidar de Cliff. Eu ouvira falar sobre Ann e não tinha opinião formada sobre ela, mas devo dizer que esta nova era um pouco assustadora. Além de suas orelhas curtas e humanas, ela se parecia exatamente com Elinalise, até em sua linguagem corporal e tom de voz.

Aparentemente, essa ideia partiu de Elinalise. Cliff subiu no mundo ultimamente, e sua popularidade com as mulheres também aumentou. Ele foi inundado de pessoas o incentivando a se casar. Ela estava lhe deixando a boneca, em parte, como um impedimento contra tais pragas. O esquema pretendia enviar a mensagem de que este era o tipo de pessoa com quem Cliff se casaria, enquanto mantinha o fato de que ela era uma elfa em segredo. Elinalise passou meses ensinando à boneca seus padrões de fala e linguagem corporal. Dito isso, Ela provavelmente tinha um uso menos político em mente para a boneca.

De qualquer forma, ela ainda parecia insatisfeita com a boneca, dizendo que lhe faltava algo essencial. Não se parecia exatamente com ela quando se olhava de perto, mas à primeira vista era tão semelhante que era sinistro.

Rudy uma vez fizera uma estatueta minha também, mas eu não dei permissão para ele animá-la. Se ele algum dia pedisse, eu pretendia recusar. Mesmo Rudy não faria tal coisa sem permissão. Ele não precisava de uma boneca minha; podia ter a coisa real sempre que quisesse. Eu não era Sylphie, mas não diria não a um pedido ocasional de Rudy – embora preferisse que ele não me pedisse para fazer nada muito pervertido.

Eu não era terrivelmente próxima de Cliff, mas me perguntei o quão felizes os seguidores devotos de Millis ficariam com tal coisa. Rudeus disse que era uma surpresa. Pensei que poderia acabar com Cliff bravo com ele, mas não era meu lugar para comentar.

— Eu não chamaria de trabalho — respondi a Claire. — Cliff é um amigo particularmente próximo dele.

— Entendo. Se fosse eu, mandaria um dos servos entregar em vez de me dar ao trabalho, a menos, é claro, que não quisesse que outros o vissem. Suponho que seja uma diferença de costume.

Oh não, ela estava certa. Ele não queria que outras pessoas o vissem. Além disso, Cliff provavelmente não aceitaria a boneca a menos que fosse acompanhada pela explicação de Rudy e Elinalise.

— A propósito, Lilia, o que a Aisha está fazendo hoje? — Ela perguntou.

— Aisha saiu esta manhã para visitar o Bando Mercenário. Ela disse que voltará à tarde.

Aisha decidiu passar o dia com os mercenários de repente, só depois de ouvir que Arus estaria em casa o dia todo. Ela não queria ficar em casa? Agora que pensava nisso, Norn também decidiu abruptamente se juntar a Sylphie, Lucie e os outros quando ouviu que eles iam sair. Claro, Lucie também implorou a Norn para ir com eles.

— Imagino que aquelas meninas não gostem desta casa — disse Claire com um suspiro. Ela tomou um gole de seu chá, mas franziu a testa, como se o sabor a ofendesse. Com a testa ainda franzida, ela se virou para Lilia. — Lilia, quando você esteve aqui da última vez, fui bastante dura com você.

— Não… — respondeu Lilia, hesitante. — De forma alguma, senhora.

— Desejo me desculpar. Um homem de sabe-se lá onde, que se dizia marido de Zenith, chegou à minha porta pedindo ajuda e, logo quando Zenith foi encontrada, uma mulher apareceu dizendo ser sua outra esposa com uma filha a tiracolo. Isso não me deixou de bom humor.

— Eu entendo, senhora. Não me incomoda.

— Aisha ainda guarda ressentimentos — disse Claire.

O ar quase pareceu estalar. Eu estava ficando com dor de estômago.

— Ao contrário de meus temores, você serviu bem à família Greyrat. Quando Zenith ficou aflita assim, você poderia ter reivindicado maior influência, mas ficou nos bastidores e cuidou dela.

— Você me dá crédito demais. Eu não tinha tal poder.

— Você pode pensar assim, mas o que Zenith disse ontem através da Criança Abençoada deixou claro que a família Greyrat é grata a você.

Lilia ficou em silêncio.

Ela tinha razão. Rudy podia não estar ciente disso, mas ele tentava tratar Lilia da mesma forma que Zenith. Era sua igual, mas a condição de Zenith significava que ela não podia falar por si mesma adequadamente. Se Lilia quisesse, poderia ter trocado seu uniforme de empregada pela posição de mãe dele e senhora da casa. Se o tivesse feito, a harmonia de nossa família ficaria tensa, e Zenith também seria tratada de forma diferente. Mas Lilia não abusou de seus encantos; ela se mantivera nos bastidores, e foi por isso que a família Greyrat era o que era hoje. Claire estava absolutamente certa.

— O mesmo vale para você, Roxy.

— Hã? — olhei para cima, surpresa por de repente ouvir meu nome, mas Claire não estava olhando para mim. Seus olhos se moveram de suas próprias mãos para Zenith. Ela então passou a olhar pela janela.

— Nos últimos dias, tenho observado as crianças. Estão todas felizes e saudáveis. A Lara exagera um pouco nas travessuras, mas não é muito anormal.

— Ah, erm, Lara fez alguma coisa?

— Ontem, ela foi gentil o suficiente para me presentear com um sapo.

Senti uma onda de tontura. O que diabos havia de errado com aquela garota?

— E-eu sinto muito. Não sei o que dizer.

— Não precisa se desculpar. A título de agradecimento, mandei grelhar o sapo e dei a ela de lanche da tarde.

A tontura voltou. Agora que ela mencionou, Lara estava comendo algo em um espeto ontem. Quando perguntei o que era, ela apenas disse: “É um segredo.”

— Naturalmente, meus cozinheiros o prepararam adequadamente — continuou Claire. — Não sou fã de sapo, mas as pessoas comem por aqui.

O Continente de Millis, que era muito chuvoso, tinha muita culinária feita de sapos e lagartos. Eu mesma me sustentei com tal comida quando era aventureira. Antes de saber como usar magia de antídoto, também quase morri depois de comer um espécime venenoso. Tinha certeza de que os cozinheiros haviam inspecionado seus ingredientes, então não teriam alimentado Lara com nada perigoso.

Fiquei surpresa. Pelo que Rudy me contou, eu imaginava Claire como extremamente rigorosa – dificilmente o tipo de pessoa que faria o que ela descreveu.

— Esta manhã, ela me disse que adorou o lanche e que com certeza me agradeceria. Só posso imaginar que forma seu agradecimento tomará — disse Claire.

Ela estava me culpando? Seu tom era tão ácido como sempre e não havia um pingo de sorriso em seu rosto, então provavelmente estava. Então, ela soltou um pequeno suspiro. Ela finalmente nos diria por que estávamos ali?

— Não sei por que vocês estão tão tensas, mas só para que saibam, Rudeus me disse com muita firmeza que não devo interferir nos assuntos de sua família. Há coisas que eu gostaria de dizer, mas manterei minha promessa. — Saiu como uma repreensão aguda, mas, se ela disse.

— A razão pela qual chamei vocês duas aqui hoje — continuou Claire —, é porque, em comparação com as outras, vocês são as mais adultas. Sylphiette ainda é jovem e Eris, imatura. Não posso dizer como Zenith era antes que isso acontecesse com ela, mas em sua condição atual, ela não é capaz de cuidar de ninguém. Parece-me que vocês duas são capazes de dar um passo para trás e ver o quadro geral. E então… khh, ahem…

Ela parou de tossir, e as empregadas correram para o seu lado. Levantei-me e fui em sua direção, pronta para lançar um feitiço de antídoto. Claire dispensou as empregadas como se nada tivesse acontecido e bebeu o resto do chá.

— Estou bem, só engasguei um pouco. Oh, o que é isto? — Claire olhou para Zenith. Até um momento atrás, ela estava olhando para o nada, agindo como se estivesse em outro mundo. Mas quando Claire tossiu, se levantou sem a ajuda de Lilia e agora a encarava com seus olhos vagos.

— Talvez você devesse descansar. — Foi Lilia quem falou, mas quase soou como se as palavras fossem de Zenith.

— Pelo amor de Deus, tanto alarde por uma tossinha, e os olhares de choque que recebo de todo mundo quando veem minha bengala… Posso ter as costas ruins, mas meus pulmões estão ótimos. Zenith, pare de me olhar assim e sente-se.

Quando Claire disse “pare de me olhar assim”, olhei novamente para ela, mas seu rosto estava tão inexpressivo como sempre. Olhei interrogativamente para Claire, que também parecia surpresa. Voltei para minha cadeira, e Lilia pegou a mão de Zenith e a ajudou a se sentar novamente.

Por um tempo, ficamos em silêncio. O choque gradualmente desapareceu do rosto de Claire, mas parecia que seus sentimentos não se acalmariam tão rapidamente.

— Foi a primeira vez dela na sociedade — disse ela, abruptamente. — Na primeira festa nobre a que Zenith compareceu, tropecei e caí nas escadas a caminho de casa. — Ela soava quase afetuosa. Percebi que ela havia baixado os olhos e que outra nota entrara em sua voz, como um soluço oculto.

— Não me machuquei gravemente, e a magia de cura me consertou na hora. Mas é estranho. Agora mesmo, senti como se Zenith estivesse me olhando da mesma forma que naquele dia.

Houve um pitter-patter de algo caindo do rosto abaixado de Claire. Ela pegou um lenço próximo e enxugou os olhos.

— Zenith era muito admirada. Tinha orgulho de chamá-la de minha filha. Eu não… pensei que a havia criado… bem… — Os ombros de Claire tremeram.

Sem saber o que lhe dizer, tudo o que pude fazer foi observar. Um pensamento me ocorreu. Eu já havia pensado de verdade no futuro de meus filhos? Casei-me com Rudy, dei à luz a Lara e Lily, e as deixei aos cuidados da família enquanto ia lecionar na universidade de magia. Sylphie e Lilia cuidavam das crianças em casa, e eu cuidava das crianças na escola. Isso me realizava, então nunca questionei como criávamos as crianças.

Preocupava-me um pouco que Lara, minha própria filha, fosse menos diligente e mais propensa a travessuras do que Lucie. Eu me perguntava se era por eu ser um demônio ou por ela ser meio-humana. Enquanto me preocupava, os anos se passaram e Lara cresceu. Ela se enturmou com as outras crianças e era próxima de Arus e Sieg. Tinha certeza de que ela se acalmaria quando crescesse um pouco mais. Foi até aí que pensei. Bem, na maior parte.

O que eu realmente não havia pensado era o que viria a seguir.

Supostamente, Lara era uma salvadora, o que soava como uma grande responsabilidade. Eu não podia saber exatamente o que isso implicaria. Presumivelmente, ela participaria da batalha contra o Deus-Homem. E depois disso? Mesmo depois da batalha, a vida continuava.

Na verdade, eu estava bem ciente de que se preocupar com o futuro não adiantaria nada.

— Peço perdão — disse Claire. — Deixei minhas emoções me dominarem.

— De forma alguma. — Eu disse.

— A gente se comove facilmente com lágrimas na minha idade.

Os olhos de Claire estavam vermelhos enquanto ela colocava o lenço de volta na mesa. Ela chorou ontem na catedral também, quando a Criança Abençoada transmitiu as palavras de Zenith.

— Ahem. — Ela pigarreou. — Aqui no País Sagrado de Millis, diz-se que famílias desajustadas criam filhos desajustados. Compartilho dessa visão. — Ela nos lançou um olhar penetrante. — As crianças Greyrat parecem saudáveis e nada desajustadas. Zenith certamente também não era desajustada. No entanto, suplico que tomem cuidado. No caso de algo dar errado, serão vocês duas, observando da distância adequada que mantiveram, que notarão primeiro.

Algo dando errado – como quando Zenith fugiu de casa. A possibilidade existia, claro. Com Lara em particular, eu não tinha ideia do que se passava em sua mente. Por outro lado, poderia não ser Lara. As crianças que pareciam mais bem ajustadas poderiam ser as que corriam risco. Lucie, por exemplo, era uma aluna modelo na escola, mas eu realmente notaria se algo estivesse prestes a dar errado?

Ugh. O peso das expectativas sobre mim fez meu estômago se contrair.

— Essa era a mensagem que eu pretendia transmitir a vocês — concluiu Claire, e depois se recostou na cadeira.

Lilia e eu nos entreolhamos. Em contraste com minha confusão, Lilia se virou para Claire com um ar de determinação.

— Entendido, senhora — disse ela. — Farei o que for preciso. — Ela soava como um soldado que recebera uma missão crucial. Devia ser sua confiança por ter criado Norn e Aisha falando. — e Rudy também, pensando bem.

— Eu também farei — acrescentei. — O melhor que puder. — Eu não estava tão confiante. Afinal, como professora, eu passei a cuidar de muitas pessoas diferentes, mas ainda não estava convencida de que era boa em ensinar. Independentemente disso, mesmo que fosse apenas oferecer uma alternativa para as crianças que precisavam de uma educação diferente da que Sylphie e Eris podiam oferecer, eu tinha certeza de que conseguiria. Eu tinha que conseguir.

Outra coisa me animou. Apesar das dúvidas que eu tinha certeza de que Claire tinha, ela me tratou como uma igual. Uma expulsora de demônios não podia deixar de ter aversão a demônios, e eu era o que era. Claire estava cedendo por mim, e senti que deveria corresponder às suas expectativas.

— Hm? — Nesse momento, a porta se abriu e um cachorro branco entrou mancando no quarto. Naturalmente, Lara estava em suas costas. Por alguma razão, ela estava coberta de lama: seus sapatos, roupas, tudo. Quantas vezes eu lhe disse para limpar a lama dos sapatos antes de entrar?!

— Lara, não se deve montar no Leo dentro de casa. — Eu disse, apenas para dizer algo.

Lara fez uma careta, mas desceu de Leo. Mesmo na escola, ela subia nele no momento em que eu virava as costas. Era exasperante.

Depois de descer, Lara se aproximou lentamente de Claire.

— Bisavó, encontrei uma coisa legal — disse Lara.

— O que seria? — perguntou Claire.

— Isto.

Lara tirou algo redondo e dourado do bolso. De onde eu estava sentada, não consegui ver direito, mas parecia um pingente ou algo semelhante. Quando Claire o viu, seus olhos se arregalaram.

— Onde você encontrou isso? — ela perguntou.

— No chão do jardim. Você estava procurando por ele, não é, bisavó?

— Sim, estive procurando por muito tempo… mas como?

— Ontem, a vovó disse que você sempre o usava, então deve tê-lo deixado cair em algum lugar, e depois machucou as costas procurando por ele. — Enquanto dizia isso, Lara olhou para Zenith. Isso não surgiu quando os poderes da Criança Abençoada revelaram dos pensamentos de Zenith… o que significava que Lara devia ter ouvido ela mesma.

— Você foi procurá-lo? — perguntou Claire.

— Queria te agradecer pelo meu lanche de ontem. — Claire ficou em silêncio.

— Estava gostoso, mas prefiro aqueles para o meu lanche — acrescentou Lara, olhando para a mesa onde os doces que acompanhavam o chá estavam descansando.

— Pode pegá-los — disse Claire.

— Obrigada! — Lara pegou um biscoito e o colocou na boca. Outro se seguiu, e depois outro, e em um piscar de olhos, ela devorou tudo o que estava na mesa. Eu estava prestes a dizer a ela para pelo menos lavar as mãos primeiro quando percebi que ela comera os meus.

“Ei.” Resmunguei para mim mesma, embora não fosse realmente grande coisa. Eu só precisava pedir a Rudy, e poderia ter quantos doces quisesse. Eu não ia ficar com raiva da minha filha por pegar minha comida. Mas, sabe, meus doces

— Mmm! — Lara, com as bochechas cheias, mastigou contente antes de dar um grande gole.

Leo lhe lançou um olhar incrédulo que dizia: “E o meu?” Eu provavelmente tinha uma expressão semelhante.

— Muito melhor que sapo! — declarou Lara.

— Então você os terá novamente amanhã — disse Claire.

— Legal. — Com isso, ela pulou nas costas de Leo e os dois saíram do quarto. Fiquei tão atordoada que a observei ir sem repreendê-la por montar em Leo lá dentro.

— E-eu, uh, sinto muito — comecei, atrapalhada. — Ela não tem modos.

Para minha sorte, Claire estava hipnotizada pelo item que Lara lhe trouxe. Inclinando-me para a frente, vi que era um medalhão de ouro com o retrato de um jovem dentro.

— Carlisle me deu isto pouco antes de nos casarmos — disse Claire.

Quando fiquei em silêncio, ela continuou em um tom nostálgico. 

— Um presente tão caro estava muito além de suas posses na época, mas ele juntou o dinheiro e o comprou para mim. Ele disse: “Quando nos casarmos, serei um Latria, e nunca mais poderei te comprar um presente com meu próprio dinheiro.” Perdi-o há cerca de um ano, e tenho me agachado procurando por ele desde então. Foi assim que machuquei minhas costas. Eu já havia desistido de encontrá-lo…

Até as empregadas pareceram surpresas com isso. Ela nem mesmo contara aos servos que o perdera?

— Roxy — disse Claire.

— Sim?

— Boas maneiras não são mais do que mostrar consideração pelos outros. Não há necessidade de se prender à formalidade, não é?

— Bem, suponho que não.

— Lara é uma boa menina com excelentes maneiras. Eu estava enganada.

Mm, eu tinha quase certeza de que Lara não era esse tipo de garota, mas quem era eu para discordar? Eu entendera mal Claire. Depois de ver as carrancas de Rudy e a aversão aberta de Aisha, eu me pus em guarda, mas ela não era nada do que eu esperava. Conhecer Rudy também pode tê-la mudado. Era difícil não ser mudado por ele.

De qualquer forma, senti que esta senhora e eu poderíamos nos dar bem. Mesmo que ela talvez não vivesse muito mais tempo. Assim que esta visita terminasse, eu talvez nunca mais a visse.

— Mantenha-a no caminho certo — disse Claire.

— Sim, senhora — concordei.

 


 

Tradução: Gabriella

Revisão: Pride

 

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