AS CRIANÇAS ESTAVAM crescendo bem. Lucie havia se adaptado na Universidade de Magia de Ranoa. Lara odiava estudar, mas, ei, ela estava feliz. Arus era como Eris, tinha um lado meio bruto, mas era inesperadamente diligente e não intimidava as crianças menores. Ele ficaria bem. Sieg ainda era pequeno e tão chorão como sempre, mas ultimamente tinha se fortalecido um pouco. Quase como se alguém em algum lugar o estivesse treinando. Lily e Chris ainda eram muito pequenas, mas já haviam parado de amamentar e recentemente começaram seu currículo para superdotados. Um sétimo ainda estava por vir, mas seis filhos era mais que suficiente. Todo dia era animado e desafiador. Mesmo assim, com Lara e Arus começando a escola, e Lily e Chris andando sozinhas aprendendo isso e aquilo, parecia que as coisas tinham se acalmado recentemente. Não havia sinal do Deus-Homem tramando nada. Os dias passavam sem preocupações.
Era outra noite animada: Lucie se cuidando agora; Lara levando bronca por brincar com a comida; Arus sendo repreendido por ser seletivo com a comida; Sieg, com as bochechas cheias de arroz; Lily, derramando sopa em seu babador fofo enquanto comia; Chris no meu colo com a boca bem aberta, esperando pela próxima colherada. E então havia minhas três esposas, minha irmã mais nova e minhas duas mães. A mesa de jantar estava cheia de atividade.
Não era só na hora das refeições – nossa casa estava assim o tempo todo recentemente. Como era de se esperar, na verdade. Nunca há um momento de tédio com seis filhos, quer você goste ou não! Arus e Lara eram selvagens e começavam a brigar por qualquer coisa. Lily e Chris tinham mais ou menos a mesma idade, o que causava algum atrito, então gritavam o tempo todo. Mesmo Lucie e Sieg, que eram comparativamente calmos, ainda eram barulhentos de vez em quando.
Realmente nunca havia um momento de silêncio.
Ocorreu-me que isso poderia não durar para sempre. Quem sabia o que aconteceria quando as crianças crescessem? Elas poderiam se juntar à luta de Orsted, mas também poderiam deixar Sharia para ir a outro lugar. Decidimos enviar todos eles para a Academia Real de Asura por três anos assim que atingissem a maioridade, para que pudessem se estabelecer lá. Por outro lado, eles poderiam de repente decidir sair de casa e seguir seu próprio caminho antes de crescerem. Foi o que Paul fez depois de brigar com o pai, então o mesmo tipo de coisa poderia acontecer na minha família.
Eu tinha o Deus-Homem para me preocupar, então sempre tive o impulso de dizer a eles como viver, mas as crianças não ouvem muito os pais. Bastava olhar para Lara, que odiava estudar e treinar e estava sempre tramando para escapar de suas aulas. Mas isso não me preocupava, não a longo prazo.
Este era provavelmente o único momento em que todas as crianças estariam juntas sob o mesmo teto. Pensei que deveríamos fazer uma viagem em família.
Só nos restava pouco tempo.
Obviamente, eu não estava planejando uma volta ao mundo. Apenas reservei um mês ou mais para levá-los para ver algumas pessoas que estavam com uma visita atrasada. No caminho, eu lhes mostraria que o resto do mundo não era exatamente como Sharia; era só isso. Para esse fim, o destino que escolhi foi o Continente de Millis.
Aqui estava o plano:
Usaríamos o círculo de teletransporte para viajar para a Terra Santa de Millis, onde ficaríamos por cerca de dez dias. Passaríamos a primeira metade visitando os pais de Zenith, bem como Cliff e a Igreja de Millis. Em seguida, visitaríamos lugares únicos de Millis, como a Sede da Guilda dos Aventureiros e a torre mágica. De lá, pegaríamos uma carruagem para o norte ao longo da Estrada da Espada Sagrada, visitaríamos brevemente a Grande Floresta e depois pararíamos para um banho nas fontes termais nas Montanhas da Serpe Azul. Finalmente, eu montaria um círculo de teletransporte e nos levaria para casa. Enquanto estivéssemos lá, eu também procuraria entrar em contato com o Deus do Minério, algo que eu vinha adiando há um tempo.
Eu sugeri isso à minha família seis meses antes de colocar em prática. Havia a agenda de Roxy como professora para pensar, e eu tinha que pedir permissão a Orsted, o CEO. Além disso, as crianças tinham seus estudos para pensar, e todo mundo tinha planos. Mesmo assim, todos concordaram. Lucie, talvez por se lembrar de visitar o Reino de Asura, parecia especialmente animada com a ideia de uma viagem. Quando perguntei a Elinalise se queria vir, ela aceitou na hora. Ficou feliz por ter uma desculpa; via Cliff algumas vezes por ano, mas preferiria muito mais estar com ele o tempo todo. Idealmente, Cliff subiria rapidamente na igreja para que pudesse trazer Elinalise e Clive para morar com ele, mas as lutas de poder lá levavam tempo para serem navegadas.
Como íamos visitar os Latria, Zenith e Lilia também viriam conosco. Se tivéssemos a chance, eu queria pedir à Criança Abençoada para olhar a mente de Zenith novamente. Lara conseguia se comunicar com ela, mas não nos contava muito. Ela sempre parecia irritada quando eu perguntava. Na idade dela, talvez não entendesse o quão importante era.
Chega disso, no entanto – mesmo que esta fosse apenas uma viagem pessoal, contanto que eu marcasse os compromissos com meio ano de antecedência, marcar encontros para ver pessoas importantes de Millis como a Criança Abençoada e o Papa não seria um problema. Eu também havia pedido a Norn e sua família para virem desta vez, e prometi a Claire que a traria. Bem, “promessa” é uma palavra forte. Achei que seria bom mostrar a Claire pessoalmente que Norn estava feliz no casamento, e já havia lhe contado sobre a cerimônia. Fiz questão de ser claro sobre exatamente com quem ela era casada – incluindo o fato de que ele era um demônio. Ainda não houve resposta, então era possível que ela estivesse com raiva ou quisesse fingir que nunca ouviu falar sobre isso. Mas a questão era a seguinte: não iríamos ceder nisso.
No início, Norn recusou meu convite porque sua filha ainda era muito pequena, mas Luicelia estava crescendo rápido. Já havia parado de amamentar, tinha todos os dentes e andava cambaleando com o cabelo verde e a cauda fofa que herdara do pai balançando atrás dela. Ainda assim, era jovem o suficiente para que Norn tivesse que vigiá-la o tempo todo.
Ruijerd a chamou de lado.
— Eu cuido da Luicelia. Você vai.
— Mas, Ruijerd…
— Você deve valorizar sua família.
Foi uma maneira pesada de dizer, mas Norn obedeceu. Ruijerd, ao que parecia, gostaria de se juntar a nós. Ele não sabia muito sobre os costumes humanos, disse ele, mas entendia que conhecer a família era importante.
Infelizmente, trazer um bebê – para não mencionar um Superd – em uma viagem de um mês era pedir muito. Poderíamos colocar um chapéu em Sieg, e seu cabelo por acaso era verde. Um chapéu não esconderia uma cauda, nem que Luicelia era uma Superd de verdade. As pessoas entrariam em pânico, o que poderia ser traumático para ela. Ruijerd também tinha seus deveres com a aldeia e o Reino de Biheiril para atender. Então, com grande relutância, ele enviou Norn sob nossos cuidados.
— Muito bem — disse Norn —, mas não vou às fontes termais nem a lugar nenhum. Depois que visitarmos minha família, vou para casa.
— Não há necessidade disso. Você deveria aproveitar sua viagem.
— Não. Quero estar aqui com você e a Luicelia. — Ela concordou em vir, mas ainda era uma mulher apaixonada.
Pedi ao Bando Mercenário e a Zanoba para vigiarem a casa enquanto estivéssemos fora. Byt e Dillo também ficariam nela, por via das dúvidas. Não queríamos que um ladrão arrombasse, e a horta precisava de cuidados.
No geral, o plano estava um pouco superficial, mas não seria divertido se eu sobrecarregasse a agenda e acabasse pressionado pelo tempo! Essa quantidade de planejamento deveria ser exatamente a certa.
Seis meses depois. Como de costume, a Cidade Mágica de Sharia estava coberta de neve. Chamamos uma carruagem para a casa. Ela nos levou pela cidade, onde a neve estava espessa no chão.
Quando chegamos ao escritório, demos um rápido olá para Orsted e depois entramos no círculo mágico que nos levaria a Millishion. Ele se conectava a um esconderijo dentro da cidade. Assim, estaríamos no Continente de Millis. Eu queria viajar; este método realmente perdia o que tornava a experiência especial. Eu teria gostado de pelo menos usar um círculo mágico que nos depositasse longe da cidade para que eu pudesse mostrar Millishion às crianças de fora. Não era todo dia que se via a torre maciça ou se passava por suas altas muralhas. Empolgante! Por outro lado, a paisagem ainda estaria lá na nossa saída da cidade. Não havia necessidade de pressa.
No esconderijo, mudamos para as carruagens prontas e fomos direto para a casa dos Latria em Millishion. Incluindo a mim, éramos quatorze, mais um cachorro. Por isso, pegamos duas carruagens grandes. Eu fui na primeira com Roxy, Zenith, Lilia, Lara, Chris e Leo.
Sylphie, Eris, Lucie, Arus, Sieg, Lily, Aisha e Norn vieram na segunda. Despedimo-nos temporariamente de Elinalise e Clive, que iam ver Cliff.
As crianças estavam tão animadas com a primeira viagem que suas três mães mal conseguiam controlá-las. Lara parecia gostar especialmente da paisagem de Millishion. Ela olhava pela janela da carruagem, respirando pesadamente. Isso era incomum para ela, que não se impressionava com nada e estava sempre cochilando.
— Lara, pare de se pendurar para fora da carruagem assim.
— Tudo bem. — Ela resmungou.
De vez em quando, ela colocava a cabeça e os ombros para fora da janela, e Roxy a repreendia e a puxava de volta para dentro. Ela apoiava o queixo no parapeito da janela e olhava com os olhos arregalados para os arredores. Preocupei-me que ela de repente se inclinasse para fora e acabasse caindo, mas Leo tinha a barra de seu vestido na boca, então provavelmente estava tudo bem.
— Há muito mais cores do que perto de nós, Mamãe Azul — disse ela.
— Há muitos estilistas famosos que vivem em Millishion e que desenham roupas para pessoas comuns. Todos eles gostam de estar na moda.
— Não há neve, embora seja inverno. Nem está frio.
— Não neva muito por aqui, embora chova muito em uma época do ano. Aquela torre grande mantém os níveis de água, então a cidade nunca inunda.
Aqueceu meu coração ver Lara explodindo de curiosidade e Roxy explicando tudo para ela. Lara realmente era como Roxy. Uma mini Roxy.
— Papai, estou com fome — disse Chris. Ela monopolizou meu colo e estava de bom humor o tempo todo, embora parecesse com medo da cidade lá fora ou do balanço da carruagem. Ela segurava minha manga com força. Se eu a fizesse soltar, suspeitava que começaria a berrar.
— Vamos comer quando chegarmos na casa da bisavó, ok?
— Tá bom. — Chris aceitou o que eu disse sem reclamar. Se eu fosse uma das mães, ela teria feito birra e dito que queria comer agora. Não era justo com Sylphie e as outras, mas ser o favorito de Chris me fazia sentir um tiquinho superior.
Quando Chris pegou minha mão e a usou para esfregar sua barriga vazia, eu desesperadamente quis comprar algo para ela.
“Você aí, vendedor de frutas”, eu sentia vontade de dizer, “vou levar sua maçã mais doce. O quê? Você não sabe qual é a mais doce? Então leve a loja inteira. Não tema! Darei o resto aos Latria de presente.”
Falando nisso, eu trouxe todo tipo de presentes para os Latria para bajulá-los, mas me perguntei se seriam do agrado de Claire. Se ela se virasse e dissesse: “Não tenho interesse em tais vulgaridades”, e então? Que grosseria!
Enquanto pensava nisso, notei um olhar tenso no rosto de Lilia.
— Lilia? Aconteceu alguma coisa?
— Estou um pouco… apreensiva — disse ela.
— Com o quê?
— Com a Senhora Claire.
Havia apenas uma dificuldade que tínhamos que superar nesta viagem – minha avó rabugenta, Claire Latria. Quando lhe disse que viajaríamos por Millis, ela respondeu imediatamente insistindo que ficássemos com ela. Se ao menos eu tivesse recusado. Poderíamos tê-la visitado sem ficar na casa. Dado seu comportamento passado em relação a Norn, Aisha e Lilia, eu tinha minhas dúvidas.
Apesar de tudo, eu não desgostava da velha rabugenta tanto assim. Claire tinha algumas falhas sérias, mas não era tão ruim a ponto de eu não deixá-la passar alguns dias com meus adoráveis filhos. Pelo menos iríamos vê-la. Deixá-la conhecer as crianças. Se tudo desse errado, poderíamos encontrar outro lugar para ficar. Assim foi acordado na reunião de família.
Mesmo assim, era verdade que Claire dissera mais do que algumas palavras indelicadas a Lilia no passado. Fazia sentido que ela estivesse apreensiva por ter que passar por isso novamente.
— Sei como a Claire pode ser, mas ela se importa conosco, mesmo que seja um pouco inflexível. — Eu disse. — Se quiser, pode se esconder atrás de mim.
— Oh, não quis dizer por mim — disse Lilia. Seus olhos estavam em Roxy e Lara.
Certo, as crianças. Roxy e Lara tinham sangue de demônio. E havia Norn, que se casara com um demônio. Para não mencionar o fato de eu ter três esposas. Claire, enquanto isso, era uma seguidora devota da fé de Millis e uma expulsora de demônios.
Ela disse que faria o possível para manter suas opiniões para si mesma, mas isso foi anos atrás. Alguns anos eram tempo suficiente para esquecer uma pequena promessa como essa. Eu não precisava contar a Roxy, no entanto. Na reunião de família, ela nos disse com confiança que não seria um problema. Poderia ser um pouco desagradável para Lara e Lily, mas lhes ensinaria como as pessoas com herança demoníaca eram frequentemente tratadas em lugares onde os humanos viviam.
Norn também estava preparada para aguentar os comentários de Claire. Não relacionado a nada com demônios, eu estava preocupado com as maneiras estranhas como Lara poderia reagir se Claire dissesse algo desagradável para ela. As travessuras de Lara eram estressantes. Ela não se importava com quem se envolvia nelas.
— Vai ficar tudo bem, Lilia — disse Roxy. — Se não fosse, ela não nos teria convidado em primeiro lugar.
— Você acha?
Eu estava cético. Isso não quer dizer que eu não confiasse em Claire. Ela estendera o convite, e nos convidar apenas para ser desagradável estava abaixo de sua dignidade como nobre, certamente. Não que eu soubesse como eram as maneiras da nobreza de Millis, mas desprezar pessoas que vieram de longe para te visitar devia ser uma vergonha. Só que, mesmo que você saiba o que é “apropriado”, nunca se sabe como agirá quando a coisa que você odeia está bem na sua frente. Às vezes, você simplesmente não consegue se comportar.
Nesse momento, Zenith apertou a mão de Lilia. Nenhuma palavra saiu, mas era óbvio que ela tinha algo a dizer. Dei um tapinha no ombro de Lara.
— O que a vovó está dizendo?
Lara olhou para mim como se eu estivesse sendo um enorme incômodo, depois para Zenith e de volta para mim.
— Ela diz que a bisavó se preocupa muito. Vai ficar tudo bem.
— Obrigado.
Pela primeira vez, Lara realmente traduziu para nós! E se Zenith disse que ficaria tudo bem, então eu esperava que ela estivesse certa.
O clima estava acolhedor quando chegamos à casa. As empregadas eram todas sorrisos, e o mordomo era cortês. Eles estavam muito mais felizes em nos ver do que em minhas viagens anteriores a Millishion, embora essa fosse uma barra baixa a ser superada. Depois de entregar nossa bagagem, eles nos mostraram o quarto onde Claire nos aguardava.
— Que longa jornada vocês tiveram — disse ela quando nos viu. Ela não se levantou da cadeira. Eu não poderia chamá-la de desrespeitosa por isso. Ela era a dona desta casa, afinal.
— Na verdade, não leva tempo nenhum hoje em dia. — Eu disse.
— Ah, sim. Ainda não consigo entender isso. — Claire levou os dedos à têmpora como se estivesse se contendo bravamente. Provavelmente era uma observação sarcástica sobre eu usar os círculos de teletransporte como se fossem minha propriedade pessoal. A magia de teletransporte era tecnicamente proibida, afinal.
— Permita-me apresentar minha família. — Eu disse.
— Por favor.
Fiz todos os membros da família se alinharem – as crianças, minhas três esposas, Norn e Aisha. Aisha estava usando um vestido bonito em vez de seu uniforme de empregada hoje. Se você não a conhecesse, poderia tê-la confundido com a filha mais velha. Lilia também não estava usando seu uniforme de empregada, mas já havia ido com Zenith para outro quarto.
— Mary. — Claire chamou uma empregada próxima.
— Sim, senhora. — A empregada estendeu a mão para apoiar Claire, ajudou-a a se levantar e lhe entregou uma bengala. Ela se apoiou pesadamente nela. Estava fraca e instável em seus pés. Sua postura régia da última vez que a vi havia desaparecido. Percebi que, quando ela não se levantou para nos cumprimentar, não foi por orgulho.
— Você está… indisposta? — perguntei.
— Estou velha.
— Certamente você não está velha o suficiente para estar fraca demais para ficar de pé…
Sim, ela era velha o suficiente para ser bisavó, mas meus pais me tiveram jovens, e o mesmo acontecia com meus filhos. Eu não ia perguntar sua idade, mas Zenith tinha cerca de quarenta anos. Claire não podia ter muito mais de sessenta ou setenta.
— Eu poderia lançar um antídoto ou magia de cura em você, se quiser. — Eu disse.
— Não, obrigada. Tenho certeza de que você é um mago competente, mas aqui em Millishion, sou uma nobre.
Em outras palavras, se ela quisesse magia de cura, poderia consegui-la. Bem, eu não tinha motivos para duvidar dela se ela dissesse que estava bem, mas vê-la tão fraca me preocupou um pouco.
— Em vez de se preocupar comigo, estou ansiosa para que você apresente sua família — disse Claire, incisivamente.
— Certo, claro. — Com sua orientação, passei para as apresentações. Primeiro, apresentei Sylphie, Roxy e Eris. — Esta é Sylphie. Casei-me com ela primeiro, e ela cuida da casa agora.
— Sylphiette, ao seu dispor — disse Sylphie. — É um prazer conhecê-la. Obrigada por nos receber em sua casa.
Essa era a Sylphie. Uma simples saudação refletia o quão à vontade ela estava com boas maneiras. Ninguém teria adivinhado que ela era uma garota do campo da Região de Fittoa.
— Esta é Roxy. Ela é uma Migurd, uma demônio, então, embora pareça jovem, na verdade é muito mais velha do que eu. Ela leciona na universidade de magia.
— Prazer em conhecê-la — disse Roxy. — Sei que você pode ter algumas ressalvas sobre minha herança, mas espero que nos demos bem.
Quando Roxy se apresentou como uma demônio, Claire nem sequer levantou uma sobrancelha. Elas não se conheciam antes, mas não era um segredo. Parecia que, pelo menos por enquanto, Claire não ia arrumar briga por isso.
— E esta é Eris. — Eu disse. — Ela é uma mestre do Estilo Deus da Espada, e a irmã mais nova do atual chefe da família Boreas, uma importante família nobre de Asura.
— Hum, olá. Prazer em conhecê-la.
Eris, claro, estava um pouco desajeitada. Embora pudesse agir naturalmente em festas em Asura, então talvez o problema fosse conhecer minha avó.
Claire não disse… nada! Nenhum comentário sarcástico sobre meus casamentos. Ótimo, até agora; em seguida, as crianças.
— Esta é minha filha mais velha, Lucie — continuei.
— Sou Lucie Greyrat! — disse ela, fazendo uma reverência. — É uma honra conhecê-la pela primeira vez, bisavó! Estou ansiosa para ficar com você!
Claire sorriu um pouco. Ela foi rigorosa com seus netos, mas parecia que até Claire tinha um ponto fraco por seus bisnetos.
— Esta é Lara, a próxima mais velha.
— Olá — disse Lara, conseguindo soar mal-humorada, entediada e como se quisesse estar em qualquer outro lugar. A testa de Claire se franziu um pouco. Ok, então seu ponto fraco não se aplicava a todos os bisnetos.
— Em seguida, meu filho mais velho, Arus.
— Sou Arus e tenho quase oito anos! Prazer em conhecê-la!
No final, apenas Lara estava emburrada. Sieg, Lily e Chris foram apresentados sem incidentes. Como se comportaram, Claire não franziu a testa para o resto deles.
— Vocês duas digam olá também. — Eu disse, gesticulando para Norn e Aisha se adiantarem. Ambas baixaram a cabeça graciosamente — não apenas Aisha, mas Norn também.
— Há quanto tempo, bisavó — disse Norn. — Sou Norn Superdia agora.
— Obrigada por nos receber — disse Aisha. No que diz respeito à etiqueta, foi uma performance impecável.
Ainda apoiada em sua bengala, Claire esticou o queixo e disse:
— De fato. Faz muito tempo, vocês duas.
Foi só isso. Ela não perguntou nada sobre o casamento de Norn. Talvez não achasse que este era o lugar certo e quisesse ser atenciosa. De qualquer forma, graças a todos se comportarem, não começamos com o pé esquerdo. Bom, bom! Nós… ah. Lara estava cutucando o nariz. Eu falaria com ela sobre isso mais tarde.
Em seguida, virei-me para a família e disse:
— Esta é Claire Latria, sua bisavó. Ficaremos com ela nos próximos dez dias, então certifiquem-se de serem educados.
Claire fez uma reverência elegante. Suas maneiras eram encantadoras, como de costume. Eu só podia esperar que as crianças aprendessem com seu exemplo.
— Bom dia a todos vocês. Em nome de meu marido ausente, dou-lhes as boas-vindas à nossa casa. As empregadas e o mordomo estão ao seu dispor. Vocês podem se sentir confusos ou desconfortáveis com as diferenças culturais aqui, mas espero que pensem nesta casa como a sua própria.
— Somos muito gratos por sua gentileza. Digam obrigado, todos.
— Obrigado! Estamos ansiosos para ficar com você! — As crianças se curvaram em uníssono. Claire sentou-se com grande dignidade. Tínhamos conseguido. As férias da família em Millishion podiam começar.
— Rudeus, você ficaria para trás? Gostaria de ter uma palavra com você, se me permite.
Assim que pensei isso, Claire me parou, bem quando eu estava prestes a sair da sala. Sua expressão parecia, bem, boa. Ela não parecia com raiva nem nada.
— Sente-se.
— Obrigado — respondi. Fazendo o que me foi dito, sentei-me em frente a ela. Uma xícara de chá apareceu diante de mim imediatamente, como se a cadeira tivesse um interruptor. Eu poderia ter ficado indignado por ela não oferecer chá à minha família, mas, por outro lado, eu não os convidei para se juntarem a nós. Não havia cadeiras suficientes de qualquer maneira.
— Não precisa ficar tenso. Não vou te repreender. — Claire me leu como um livro. Esperava que ela me desse um desconto por estar um pouco na defensiva, dado o que aconteceu da última vez.
— Sobre o que você queria falar?
— Pensei que poderíamos conversar.
Ela estava bebericando seu chá com uma expressão inocente. Fazia isso com muita elegância. Acho que havia até etiqueta para beber chá. Levantei minha própria xícara, imitando-a. Mmm, folhas de chá finas.
— Falando em chá — comecei —, Aisha começou a cultivar árvores de chá recentemente. Trouxe um saco das folhas que ela colheu para você experimentar.
— Vamos prepará-lo amanhã.
— Espero que goste.
A cada poucos anos, Aisha começava a cultivar algo novo. A certa altura, ela estava cultivando ervas ou algo que adicionava à sua culinária, mas parou. Por que foi isso? Ah, sim, Chris parecia ser alérgica. Quando as ervas ficavam perfumadas, seu nariz começava a escorrer. Era possível corrigir os sintomas de alergias com um antídoto, mas não a alergia em si.
— A Aisha ainda não está pensando em casamento?
— Não parece no momento.
— Ouvi dizer que a Norn se casou.
— Casou.
— Que tipo de pessoa é o marido dela?
Aqui eu pensei que estava tudo resolvido, mas acabou que não consegui evitar este assunto. Ainda assim, apreciei que ela tenha perguntado a mim em vez de a Norn.
— Ele é um demônio — respondi. Eu já lhe dissera em uma carta. Sabia que não adiantava tentar amenizar.
— Estou ciente. Como ele não nos agraciou com sua presença, desejo saber que tipo de homem ele é.
Opa. Então, era isso que ela queria dizer. Justo, ele estava deixando sua esposa recém-casada sair por aí desacompanhada. Claire queria saber por que ele não veio.
— Eles têm uma filha que ainda é pequena, então ele ficou em casa para cuidar dela, mas queria que a Norn pelo menos viesse prestar suas homenagens à avó. Ele definitivamente não quis desrespeitar você, Claire, ou a família Latria…
Claire franziu a testa.
— Eu perguntei que tipo de homem ele é, não por que ele não veio.
— Hã? Oh, hum, ele é confiável, claro. Acho que disse na minha carta. Ele é um cara íntegro, um aliado dos fracos e um inimigo do mal. Seu povo tem uma ideia diferente de família e status em comparação com os humanos, mas ele já foi o capitão de uma unidade de guarda de elite em um grande exército, e tem uma posição importante com seu povo. Ah, e Lorde Perugius, um dos Três Matadores de Deuses, o admira. Além disso…
— Chega. — Claire me interrompeu no meio, me lançando um olhar penetrante.
Eu disse algo errado?
— Só de te ouvir agora, posso dizer que você entregou Norn a alguém digno de confiança. O que quer que eu pense sobre outros aspectos do casamento, não me cabe dizer mais nada.
— Agradeço por dizer isso.
— A gratidão é desnecessária. Prometi a você que não interferiria em seus assuntos.
— Você se lembrou?
— Claro. Tenho as costas ruins, não uma mente fraca.
Isso foi um alívio. Mas por que ela estava perguntando? Bem, provavelmente porque estávamos conversando.
— Sua esposa Roxy é muito pequena, não é?
— É porque ela é uma Migurd. Ela é mais velha do que parece. Ah, mas você não deve chamá-la de pequena na cara dela. Isso a incomoda.
— Entendo. Sou uma dama da família Latria. Posso ter uma língua afiada, mas não comento sobre a aparência das pessoas na cara delas. — Eu estava meio brincando, mas Claire respondeu seriamente. — Além disso, dada nossa história, estou me esforçando para entender o máximo que posso sobre demônios, homens-fera e sua laia.
— Acho isso ótimo! Goste deles ou não, é importante tentar entendê-los. — Em alguns casos, as pessoas acabam odiando os outros porque não os entendem. As pessoas descartam o que não entendem como inferior – como quando você decide que odeia um prato sem nunca tê-lo provado.
— Aquela Lara é um problema, no entanto, não é?
— Bem, sim — admiti.
— E não estou me referindo de forma alguma à linhagem de sua mãe. Refiro-me à maneira como ela fala com as pessoas ao conhecê-las pela primeira vez.
— Sinto muito por isso. Preciso ensiná-la a pelo menos cumprimentar as pessoas adequadamente, é que ultimamente ela não ouve muito…
— Não quero me intrometer — disse Claire —, mas as crianças às vezes precisam de uma mão firme.
Por baixo daquela frase vaga, ela provavelmente queria dizer que, se Lara fosse sua filha, ela a disciplinaria fisicamente. Quero dizer, havia momentos em que essa era a abordagem certa, mas Lara era esperta. Ela forçaria a sorte até o limite, mas não além, do que lhe renderia uma surra de Eris. Lara parecia selvagem da perspectiva de um estranho, mas sabia exatamente onde era a linha.
— Você, de todas as pessoas, deve entender por que deve fazê-lo.
— Pelo futuro dela.
— Precisamente. Aquelas primeiras palavras de saudação podem determinar como as pessoas te veem. A falta de cortesia adequada no início pode colocar alguém em apuros mais tarde. É por isso que nós, nobres, estudamos etiqueta.
Ih, isso estava começando a soar como sermão. Embora eu tivesse a sensação de que Claire estava gostando da oportunidade.
— Dito isso, demônio ou não, sua mãe Roxy se comporta muito bem, e de acordo com sua posição.
— Comporta?
— De fato. Ela fez o certo por sua primeira esposa, Sylphie, sempre ficando um pouco atrás dela, e sua maneira modesta de falar foi excelente. Ela sabe seu lugar.
Oh, não, certamente não. Eu não queria que parecesse que havia uma hierarquia de primeira esposa e esposas secundárias – espere, não. Roxy estava fazendo isso de propósito porque achava que haveria menos problemas dessa forma.
— Quanto a Eris… Bem, ela é uma guerreira. Suponho que não há o que fazer.
— Fico feliz que pense assim.
Claire parecia querer dar mais sermão. Esperava que ela se contivesse em dar muita bronca em Eris. Ela estava tentando.
— De qualquer forma, Rudeus — iniciou Claire.
— Sim?
— Obrigada. Por trazê-los para me ver. — Ela abaixou a cabeça.
Ela não mencionou nenhum nome – nem sobre Norn, nem Aisha, nem Roxy, nem nenhuma pessoa específica. Entendi que ela se referia a todos, e então percebi que eu estava um pouco na defensiva. Deveria ter relaxado e tratado como uma viagem à casa da vovó: nossas férias em família em Millis.
Tradução: Gabriella
Revisão: Pride
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