NO REINO de Asura, havia sete guerreiros conhecidos como os Sete Cavaleiros de Asura. Eles juraram lealdade absoluta a Ariel Anemoi Asura. Seu líder era o Cavaleiro Porta-Estandarte Luke Notos Greyrat – o Punhal Real.
Os Três Cavaleiros da Direita presidiam o ataque. Eram eles: Sandor von Grandeur, a Grande Espada Real; Oswald Euros Greyrat, a Alabarda Real; e Ghislaine Dedoldia, a Cão de Guarda Real.
Os Três Cavaleiros da Esquerda presidiam a defesa. Eram eles: Dohga, o Porteiro Real; Sylvester Ifrit, a Fortaleza Real; e Isolde Cluel, o Escudo Real.
Destes sete, os antecedentes e origens de alguns eram amplamente conhecidos, mas metade deles fora recrutada especialmente por Ariel e Luke. Eram um grupo heterogêneo, composto por plebeus, nobres de todos os escalões e um demônio meio-humano, meio-imortal. O que todos compartilhavam era sua lealdade inabalável a Ariel. Enquanto Isolde sofre por seu mal-entendido sobre o que Ariel quis dizer com “leves” quando falou de “tendências difíceis”, voltemo-nos para a história de outro desses cavaleiros.
Ele nasceu em uma pequena aldeia na Região de Donati, em Asura. Um pouco lento às vezes, as outras crianças o desprezavam. Mas era uma criança saudável, de constituição robusta, e nunca ficava doente. Seu pai era um dos poucos soldados que protegiam a aldeia e raramente estava em casa. Quase nunca tinha um dia de folga, e não era incomum que passasse a noite toda fora. Quando o menino tinha cinco anos, sua irmãzinha nasceu. Era uma menina doce, assim como a mãe deles. Mas a recuperação da mãe após o parto correu mal, e ela morreu.
O menino chorou. Ele não tinha sequer gemido quando seus amigos o socavam ou quando um mosquito o picava, mas agora ele berrava.
Enquanto ele chorava, seu pai lhe disse:
— Tudo bem chorar agora. Mas quando terminar, você deve proteger sua irmã para mim.
O menino olhou para o pai, que segurava sua irmãzinha, e assentiu repetidamente. A partir daquele dia, o menino parou de chorar. Ele cumpriu fielmente o que seu pai lhe dissera – ele protegeria sua irmãzinha.
Ele decidiu que a maneira de fazer isso era guardar a entrada da casa. Pegou o machado que usavam para lenha e ficou do lado de fora da porta o dia todo. Só quando sua irmã começava a chorar é que ele corria para dentro para cuidar dela.
Seus amigos riam dele quando o viam.
— O que você está fazendo? Vá vigiá-la lá dentro.
Os adultos da aldeia diziam:
— Por que não a levamos e cuidamos dela? Já temos muitas crianças. Mais uma não será problema.
Mas o menino bateu o pé e se recusou a ouvir. Ele aprendeu a cuidar de um bebê de colo e não deixaria o cuidado de sua irmã para mais ninguém.
Durante esse tempo, algo incomum aconteceu na aldeia. Uma noite, todos os animais desafortunados dentro de um dos celeiros foram devorados. Pelas pegadas, os aldeões supuseram que era um lobo. Os soldados correram pela aldeia dizendo aos aldeões que deveriam trancar suas portas e não abri-las sob nenhuma circunstância.
No dia seguinte, o animal atacou uma casa. De alguma forma, o lobo havia entrado sorrateiramente sob o manto da escuridão e quebrado o pescoço de uma criança com suas mandíbulas, matando-a instantaneamente, antes de escapar por uma janela. Quando a família acordou de manhã, nenhum deles sabia o que havia acontecido. Eles seguiram o rastro de sangue até que, nos arredores da aldeia, encontraram as roupas do bebê em uma poça de sangue. Isso os deixou meio loucos.
À medida que mais incidentes se seguiram, os soldados perceberam que sua suposição estava errada. A criatura que rondava a aldeia não era um lobo, mas sim um monstro. Era pequeno, não maior que um lobo comum, mas uma criatura viciosa, no entanto.
Eles estavam certos: tinha a cabeça e as patas traseiras de um lobo, mas braços de macaco brotavam de seus ombros. Podia andar sobre duas pernas quando queria, e subia em árvores. Embora fosse apenas do tamanho de um cachorro grande, sua cabeça era grande demais para seu corpo. Era um mutante esperto que aprendera o sabor da carne humana.
Como se saboreasse o terror dos aldeões, ele se escondeu no campo de trigo de outra família por um dia para selecionar seu próximo alvo. Ele escolheu sua próxima casa porque o adulto não voltava para casa à noite. O pai foi caçar o monstro em outro lugar, deixando seus dois filhos indefesos. Lambendo os beiços, o monstro usou seus braços de macaco para subir no telhado e depois desceu pela chaminé.
O dia seguinte amanheceu. Quando sua patrulha noturna terminou, o pai do menino voltou para sua casa. A primeira coisa que seus olhos viram foi uma poça de sangue.
— Não. — Ele ofegou. Com o rosto pálido, olhou ao redor da casa e imediatamente viu o cadáver mutilado no chão. Era o monstro, com a cabeça partida em duas. Entre ele e sua filha, que dormia pacificamente em sua cama, estava seu filho. O menino segurava o machado de lenha com as pernas firmemente afastadas, um olhar feroz em seu rosto. Fora uma batalha desesperada. O menino estava coberto de sangue e seu braço estava quebrado, mas as crianças estavam vivas. O monstro era pequeno, sim, mas ainda era do tamanho de um lobo – em outras palavras, duas vezes o tamanho do menino. A criança havia espancado o monstro até a morte com um machado de lenha cego para proteger sua irmã.
Para o menino, que mais tarde se tornaria o Imperador do Norte Dohga, esta foi sua primeira batalha.
Dohga foi um porteiro por toda a sua vida.
Quando tinha dez anos, guardava o portão da aldeia. Pouco antes do incidente de deslocamento, houve uma grande onda de monstros. Eles surgiram de todas as florestas do reino e muitas aldeias foram varridas pela destruição. Algumas foram até engolidas pela debandada.
A aldeia de Dohga também foi atacada, mas ele pegou seu machado de lenhador com valor indômito e os repeliu. Diz-se que matou entre cinquenta e cem deles. No entanto, apesar da grande pilha de cadáveres de monstros que Dohga criou, seu pai foi morto na luta. Dohga ficou diante do corpo sem vida de seu pai, atordoado. Um cavaleiro que o viu lutar recomendou que ele se juntasse à guarda da capital do reino. Dohga relutou, dizendo que estava protegendo sua irmãzinha.
Foi isto que o cavaleiro lhe disse:
— Escute bem, rapaz. Deixamos nossas famílias para cavalgar por todos os cantos do reino, protegendo suas aldeias. Quando o reino está seguro, nossas famílias podem viver em paz. Proteger o reino significa proteger sua família também.
Dohga não era brilhante e, na época, não entendeu o que o cavaleiro estava dizendo. No final, foi o dinheiro que o convenceu. Com o pai morto, ele precisava de uma maneira de sobreviver. Disseram-lhe que, se fosse para a capital, poderia ganhar o suficiente para ele e sua irmã viverem, então isso decidiu a questão. Dohga tornou-se um soldado da capital real.
Ele foi destacado para um pequeno portão que separava as favelas do distrito dos cidadãos de classe baixa. O portão existia como um gargalo para quando o povo das favelas se tornava indisciplinado e invadia o distrito de classe baixa. Era proibido que qualquer um passasse à noite, mas, fora isso, não tinha importância especial. Era um posto adequado para um rapaz do campo sem instrução.
O quarto que ele e sua irmã receberam para morar era pequeno, mas funcional. De lá, ele ia trabalhar no quartel. Ficava no portão de manhã à noite, e às vezes até a noite inteira que se seguia.
Embora lento, Dohga também era estranhamente cativante. No início, alguns dos outros soldados se ressentiam de que, com apenas dez anos, estivesse servindo com eles. Mas sua natureza inocente e sua dedicação inabalável à irmã derreteram os corações de seus camaradas, e antes de seu primeiro ano terminar, eles o haviam reconhecido como um dos seus.
Ele começou seu segundo ano.
Uma noite, uma mulher veio correndo para o portão de Dohga. Ela se jogou sobre ele, implorando por sua ajuda. Quando Dohga hesitou, um grupo de homens de rosto duro apareceu e gritou com ele:
— Entregue a garota!
Dohga estava confuso. Ele não sabia o que fazer. Se ao menos Hans, que deveria estar de serviço com Dohga, não estivesse cochilando, ele poderia ter decidido por eles.
Quando a mulher viu a confusão de Dohga, ela tentou fugir pelo portão. Dohga imediatamente agarrou seu colarinho e a puxou de volta. Disseram-lhe que ninguém deveria passar pelo portão à noite.
Naquele momento, os homens, sentindo que a mulher ia escapar, atacaram. Dohga balançou seu machado de batalha, um presente de despedida do ferreiro da aldeia quando ele se tornou um soldado. Ele matou todos os homens. Ao ver Dohga ali, encharcado de sangue, a mulher se urinou e depois caiu de quatro.
Hans veio correndo, atraído pelo barulho. Ele parou abruptamente ao ver a carnificina no portão. Isso, pensou ele, vai dar ruim. Dohga havia cometido um ato de assassinato indiscriminado. Hans estava dormindo; a culpa cairia sobre ele também. Com o rosto cinzento, ele foi verificar os cadáveres, e então percebeu que conhecia aqueles rostos. Era a gangue de ladrões que andava à solta pelo distrito de classe baixa. Essa turma vinha dando muito trabalho à guarda porque os cavaleiros não se importavam com este distrito humilde.
E Dohga havia acabado com todos eles sozinho.
Dohga foi promovido. Ele passou de ser o soldado que guardava o portão entre o distrito de classe baixa e a favela para o soldado que guardava o portão entre o distrito de classe média e o distrito de classe baixa. Por alguma razão, Hans foi com ele.
Dohga ficou naquele portão por algum tempo. Alguns dias chovia, outros dias um vendaval soprava, mas ele vigiava em meio a tudo. Mesmo depois de atingir a maioridade, ele se manteve firme. Era lento, então Hans o ajudava.
Ao longo do caminho, Hans passou a entender Dohga melhor do que ninguém. Sua irmã cresceu e se tornou uma bela jovem, e ela e Hans se casaram. Talvez Hans estivesse de olho em sua irmã o tempo todo, mas isso não importava para Dohga – ele sabia que, embora Hans pudesse cochilar no trabalho, não era má pessoa. Ele jurou a São Millis na frente de Dohga que faria sua irmã feliz.
Mas então Dohga se viu sozinho. Com a irmã casada, ele cumprira as instruções do pai até o fim. Ele não precisava mais guardar nenhum portão.
No entanto, ele permaneceu em seu posto.
Alguns dias chovia, outros dias um vendaval soprava, mas ele guardava o portão.
Em um desses dias, a cidade foi abalada por um grande choque: Ariel Anemoi Asura havia anunciado sua coroação. Uma cerimônia de coroação era uma celebração que durava dias. Os soldados receberiam um aumento de salário durante o período, bem como comida de graça. Os camaradas de Dohga ficaram encantados; Hans até fez uma dancinha.
Isso também significava que eles teriam que trabalhar mais. A segurança precisava ser reforçada não apenas no distrito de classe média, mas em toda a cidade. Guardas temporários foram recrutados entre os habitantes, enquanto Dohga e os outros que já eram soldados foram designados para guardar locais mais importantes. Dohga e Hans fizeram seu trabalho com entusiasmo, pensando que comprariam algo legal para a irmãzinha de Dohga com seus salários extras.
Um dia, por volta da metade da coroação, Dohga se viu guardando a entrada de serviço do palácio. Poucas pessoas passavam por ali, mas de vez em quando, um servo com um passe passava. Hans não estava com ele. Dohga guardava este portão junto com vários outros soldados.
Um homem apareceu. Ele usava uma armadura velha e surrada e carregava um cajado longo.
— Não consegui convencê-lo a me deixar passar, não é? Busco uma audiência com a Rainha Ariel.
Claro que o guarda do portão o mandou embora.
— Ninguém pode passar por este portão sem permissão! Apresente seu passe!
— Não tenho um passe. Gostaria de implorar uma audiência com a rainha.
— Sem passe, sem passagem. Fora daqui!
— Não tenho escolha, então. Fico feliz por ter vindo a este portão. Pensei que talvez tivesse que lançar uma sombra sobre a gloriosa ocasião de Sua Majestade — disse o homem. Ele tentou forçar a passagem pelo portão. Seu cajado se movia como mágica. Em um instante, os outros porteiros foram derrubados no chão.
Mas não Dohga. Não importa quantas vezes o homem batesse com a ponta de seu cajado nos pontos vitais dele, Dohga permanecia de pé. Ele balançou seu machado contra o homem, mas não conseguiu tocá-lo. Dohga nunca antes errara um alvo. Ele continuou atacando obstinadamente.
O homem ficou encantado.
— Maravilhoso! Não pensei em encontrar um homem como você escondido em um lugar como este. Tudo bem. Em respeito à sua força, desistirei de passar por este portão. Peço perdão. Como sinal de meu pedido de desculpas, que tal se tornar meu aprendiz? Você tem talento!
Dohga não tinha ideia do que o homem estava falando, mas ele parecia ter desistido de passar pelo portão. Porém, no momento em que ele relaxou, desmaiou. Ele nem mesmo caiu; estava inconsciente e ainda de pé. Quando acordou com um sobressalto, o homem ainda estava lá. Ele segurava o machado de Dohga e parecia estar guardando o portão, exceto que estava cercado por uma multidão de soldados.
— Bom dia, garoto! Estive guardando o portão para você!
Foi assim que Dohga conheceu Sandor – também conhecido como Alex Rybak, Deus do Norte Kalman II.
No dia em que Dohga se tornou aprendiz de Sandor, ele foi para casa e quase desabou na cama. Havia um mago de cura entre os soldados que vieram correndo, então nenhum dos danos foi permanente. Sua batalha com o Deus do Norte Kalman drenara cada gota de suas reservas inesgotáveis de força. Pela primeira vez na vida, ele adormeceu de exaustão. Dormiu por dois dias e depois acordou. Ao lado de sua cama estava sua irmã, com rastros de lágrimas no rosto, e Hans, que parecia aliviado. Além disso, havia Sandor, com um ar inapropriadamente alegre.
— Bom dia, aprendiz! Venha comigo. — Em uma demonstração terrível de força, Sandor puxou Dohga por seus pés, depois o vestiu com sua armadura e se preparou para levá-lo a algum lugar. Dohga, sem entender, olhou para Hans em busca de ajuda.
— Desculpe, Dohga. Eu também não sei bem o que está acontecendo, mas acho que você está sendo homenageado. Então, olha, vá com ele por enquanto, hein? Dê o seu melhor e não seja rude.
— Sim — acrescentou sua irmã. — Irmão, eu… Por favor, dê o seu melhor.
Dohga, sem seguir o raciocínio de Hans, olhou ao redor confuso, mas não conseguiu lutar contra a força de Sandor. E assim, eles partiram para o portão que ele guardara no outro dia. Quando chegaram, Sandor tirou um passe com um floreio para deixá-los passar. Assim, eles estavam dentro do palácio. Dohga seguiu atrás de Sandor, maravilhado com seu primeiro vislumbre dos salões reluzentes. Antes que ele percebesse, havia uma mulher bonita com cabelo loiro na sua frente.
— Este é o rapaz?
— Sim, Vossa Majestade!
— Desejo falar um pouco com ele.
Sandor deu um empurrão nas costas de Dohga, de modo que ele ficou bem na frente da mulher. Ela era divinamente bela.
— Sou Ariel Anemoi Asura. E você é?
Dohga não conhecia aquele nome. Embora fosse um soldado da cidade, ele não conhecia a rainha. Naturalmente, ele nunca a vira também. Antes que percebesse, Dohga se viu ajoelhado. Por alguma razão, ele sentiu que deveria.
— E-eu sou… Dohga.
— Por que você se tornou um soldado?
— P-Pai… disse para proteger… a irmãzinha, então…
Dohga lutava para falar. Ele nunca fora eloquente o suficiente para contar sua vida a ninguém, mas Ariel aceitou prontamente o que ele disse.
— Para proteger sua irmã? Muito admirável.
— M-mas… agora Hans protege… minha irmã, quero dizer, eles estão juntos agora… hum…
A um olhar de Ariel, o cavaleiro ao seu lado forneceu:
— Sua irmã mais nova se casou com um soldado chamado Hans. — Dohga não sabia disso, mas o cavaleiro era Luke.
— Então eu… não preciso mais… protegê-la…
Ariel sorriu para a expressão ligeiramente desanimada de Dohga.
— Você está errado, Dohga — disse ela.
— Hã?
— Você ainda tem que protegê-la.
— O-o que você… quer dizer?
— Hans é seu irmão mais novo agora. Isso significa que você tem que proteger os dois. Você tem que fazer o dobro do trabalho.
Isso foi um choque para Dohga. Ele não tinha pensado nisso dessa forma. Ela estava certa, no entanto. Hans, que disse que protegeria a irmã de Dohga, começara a chamá-lo de irmão. Dohga era seu irmão mais velho. Ele tinha que proteger sua irmãzinha, então obviamente, ele tinha que proteger seu irmãozinho também.
— O-oh. Eu… preciso protegê-los mais?
— Isso mesmo. Se você continuar fazendo o que sempre fez, talvez não consiga proteger nenhum dos dois.
— Hã?! P-por quê?
— Você é forte, mas seu alcance é curto. Pode ser que os dois encontrem perigo em algum lugar onde você não possa ajudá-los.
Dohga olhou para as palmas de suas mãos. Ele se lembrou de como seu pai havia morrido. Ele estava tão perto, e ainda assim um monstro o matou quando Dohga não estava olhando.
— E-então… o que eu deveria… fazer?
— Proteja-me.
— Hã?
— Eu sirvo ao reino. Eu o torno melhor. Ao me proteger, você estará protegendo o reino, e ao proteger o reino, você estará protegendo seu irmão e sua irmã.
Dohga não entendeu. O que proteger esta mulher na sua frente tinha a ver com proteger Hans e sua irmã? Ele estava completamente perdido. Mas Ariel estava séria. Ele se lembrou que outra pessoa lhe dissera algo semelhante – o cavaleiro que lhe dera uma carta de recomendação para se juntar à guarda da cidade.
Escute bem, rapaz. Deixamos nossas famílias para cavalgar por todos os cantos do reino, protegendo suas aldeias. Quando o reino está seguro, nossas famílias podem viver em paz. Proteger o reino significa proteger sua família também.
Na época, ele não sabia o que lhe estava sendo dito. Foi o dinheiro que o impulsionou à ação. Agora, ele sentia que entendia. Afinal, mesmo quando ele estava protegendo um lugar totalmente diferente, sua irmã e Hans viviam felizes.
— Dohga. Você jurará lealdade a mim? Você me protegerá e, por extensão, o reino?
— Sim, Vossa Majestade.
— Muito bem, Dohga, eu o nomeio um cavaleiro. — Naquele dia, Dohga se tornou um dos Sete Cavaleiros de Asura.
Desde então, Dohga guardava o portão final, a porta para os aposentos reais. Às vezes, por ordem de Ariel, ele ia a outros lugares. Por algumas horas por dia, ele praticava sob a tutela de Sandor a uma curta distância dos aposentos de Ariel.
No único dia de folga que tinha por mês, ele ia jantar com sua irmã e Hans. Quando Dohga não estava lá, outra pessoa guardava os aposentos reais em seu lugar. Geralmente, era Isolde Cluel, o Escudo Real, mas não foi o caso no início.
Depois de ser feito cavaleiro e receber sua brilhante armadura de ouro, ele se recusou teimosamente a se mover de frente de seu portão. Agora que decidira protegê-lo, não poderia entregá-lo a ninguém que fizesse o trabalho pela metade. Durante seu primeiro mês, ele não entregaria seu posto a ninguém, exceto Sandor. Se Ariel não o tivesse ordenado a descansar, ele teria ficado de guarda por dias sem comida, bebida ou sono. Ele revistava todos que se aproximavam dos aposentos reais sem distinguir entre homens e mulheres. Ele confiscava até o menor garfo.
Foi por volta dessa época que um novo membro se juntou aos Sete Cavaleiros de Asura – Isolde Cluel, o Escudo Real. Ela tinha seu trabalho como instrutora de espada, mas naquela época, antes de Ghislaine se juntar a eles, ela era a única mulher entre os Sete Cavaleiros. Decidiu-se que ela era a escolha ideal para a proteção pessoal da rainha.
Um dia, decidiu-se que Sandor viajaria pelo Reino de Asura para montar os Cavaleiros de Ouro. Sem Sandor, não havia ninguém que pudesse substituir Dohga. Se ele ficasse ali por um mês inteiro, desabaria. Então Sandor arranjou uma luta entre ele e Isolde.
Naquela época, Sandor fez Dohga se apresentar como “Rei do Norte”. Ele mal começara seu treinamento, mas era extremamente habilidoso. Mesmo assim, Isolde o derrotou facilmente. Ela se movia como o vento, desviando os golpes de seu machado de batalha e depois o martelando com um contra-ataque após o outro até derrubá-lo. Se estivessem usando lâminas reais e lutando para matar, Isolde teria matado Dohga em um instante.
Dohga tinha um suprimento inesgotável de força, mas perdeu sem sequer tocar nela. Esta mulher, esbelta como uma flor, desviara os golpes de um machado mais largo que ela e depois picara como um espinho delicado. Depois de levar golpe após golpe, Dohga aceitou que esta era uma pessoa digna de guardar a porta em seu lugar.
Ele também entendeu algo: a mulher era uma flor delicada e bela, intocável para alguém como ele. Dohga estava apaixonado.
— Você parece desanimado ultimamente…
Dohga estava jantando com sua irmã e o marido dela. A comida na mesa era simples, mas havia o suficiente para encher até a barriga gigante de Dohga. Do outro lado da mesa sentavam-se sua irmã e Hans, e ao lado de Hans, sua adorável filha.
Dohga, uma caneca transbordando de vinho em uma mão, olhou sem expressão para Hans.
— Você não está se sentindo bem?
— P-por quê? — disse Dohga enquanto tentava mascarar sua agitação interior.
Hans apontou para a comida.
— Você mal comeu.
Dohga olhou. Era verdade; ele mal havia tocado na comida. Ele amava a comida de sua irmã. Geralmente, Dohga engolia sua comida em silêncio, enchendo as bochechas alegremente até ter limpado tudo. O mesmo valia para o vinho, que era seu favorito. Só era bebido em ocasiões comemorativas, mas quando tinham, ele bebia como um peixe. Hans mantinha um barril inteiro à mão para essas ocasiões. No entanto, por alguma razão, Dohga só comera metade de sua comida e apenas bebericava seu vinho. Algo estava errado.
— Se você não se sentir bem, peça a um dos magos de cura do palácio para te examinar, tudo bem? Eles fariam isso por você, sendo você um cavaleiro agora, sim? Embora eu deva dizer, você parece saudável o suficiente.
Dohga inclinou a cabeça, com o rosto em branco. Ele não percebeu que havia algo incomum consigo mesmo.
— Se você está exausto, por que não pede mais alguns dias de folga? Sei que você é um trabalhador esforçado e tem um trabalho honroso em guardar Sua Majestade. Se você se esforçar demais e desmaiar, então onde você estará? Não que eu pudesse imaginar você desmaiando.
— Mm. — Dohga assentiu e começou a comer. Algo estava definitivamente errado. A comida tinha o mesmo sabor de sempre, deliciosa. Simplesmente parecia errado enquanto a engolia. Geralmente, era mais mastigar e engolir e gritar: “Traga o próximo prato!”
Não hoje.
Toda vez que ele engolia, seu estômago rejeitava. Era como a sensação de estar cheio, mas mais desagradável. O vinho também estava estranho, não tinha gosto. Isso nunca lhe acontecera antes. Talvez estivesse realmente doente ou, como Hans disse, exausto.
— Ei, qual é a história? Conte-nos. — Quando Dohga permaneceu em silêncio, Hans insistiu mais. — Irmão… Dohga. Desde que éramos guardas lá na cidade baixa, você sempre me apoiou. Se não pode me contar seus problemas, não poderei mostrar meu rosto em lugar nenhum, nem mesmo para São Millis.
— Mm. Eu também não… sei.
— Algo deve ter acontecido recentemente no palácio. Qualquer coisa. Apenas tente falar — disse Hans com um olhar sério.
Dohga olhou para cima. Então, assim como Hans dissera, ele vasculhou suas memórias e, pouco a pouco, começou a contá-las. Havia o gato que se perdera lá dentro enquanto ele vigiava o portão final. Ele lhe dera um pouco de seu almoço, e ele começara a aparecer muito, o que o deixara feliz. Como quando ele estava andando pela cidade com sua armadura, um jovem soldado o parou para dizer: “Eu o respeito”, o que o deixara feliz. Isolde passara por ali enquanto ele guardava o portão final, e depois o agradecera quando ele tirou uma pétala de flor de seu cabelo e a entregou a ela, o que o deixara feliz. Quando Sandor lhe ensinara uma nova técnica, ele dissera: “Você realmente tem talento”, o que o deixara feliz. Enquanto ele andava pelo hospital, um guarda compartilhou um boato com ele de que “Isolde pode se casar”. Isso não o deixou feliz. Como em uma festa para os guardas, Isolde viera com um vestido e fora a mulher mais bonita que ele já vira, o que o deixara feliz. Ele a vira dançando com homens que não conhecia, o que não o deixara feliz. Como as nobres estavam espalhando boatos infundados sobre Isolde, o que o deixara infeliz. Como ele vira Isolde andando junto com um homem bonito, o que machucara seu coração. Como Isolde—
— Chega. Eu entendo. Entendo perfeitamente — disse Hans, interrompendo Dohga. Ele já tinha a ideia geral. — Você está apaixonado por essa Isolde, é?
As bochechas de Dohga queimaram. Ele não sabia como Hans descobrira isso pelo que dissera, mas ele acertara em cheio.
— Você ouviu que Isolde vai se casar, depois viu coisas que pareciam dar peso a isso, e isso te deu um choque.
Após uma longa pausa, Dohga murmurou:
— Mm. — A melancolia que pairava sobre ele era palpável.
Hans estava certo. Seu irmão mais velho, que ele pensava ser alheio a assuntos do coração, estava apaixonado.
Uma lembrança voltou a Hans de seu próprio primeiro amor. Era a filha do verdureiro ao lado de sua casa. Embora tivessem cinco anos de diferença, eram amigos de infância, e ela cuidara dele desde que ele era pequeno. Era gentil, confiável e bonita, e ele se apaixonou por ela com apenas cinco anos de idade. Ele sonhava em se casar com ela. Quando fosse mais velho, pensou ele, se alistaria como soldado. Assim que tivesse uma renda estável, pediria sua mão em casamento.
No verão de seus doze anos, ela se casou com o filho do açougueiro e assumiu o ofício de sua família. Hans conhecia o marido dela, que já era velho em suas primeiras lembranças. Ele devia ter uns cinco anos a mais que ela. Pensando bem, isso significava que ele não podia ser tão velho.
No início, Hans estava em negação. O homem era bem constituído, mas definitivamente não era bonito. Hans tinha certeza de que ela não queria realmente se casar e que, um dia, ele a reconquistaria. Mas um ano depois, quando a viu feliz aninhada nos braços do marido, com a barriga enorme, finalmente caiu a ficha. Ele chorou em seu travesseiro. Talvez se ele tivesse lhe dito como se sentia antes, tudo teria sido diferente.
Não que ele estivesse infeliz agora, é claro. Se tivesse se casado com a filha do verdureiro, não poderia ter se casado com a irmãzinha de Dohga. Ela não era nada como Dohga – era esbelta, doce e firme. O fruto de seu amor agora estava devorando comida no lugar de Dohga. Era uma criança robusta e brilhante, não como Hans. Acima de tudo, era um amor de criança. Hans estava confiante de que não poderia haver ninguém tão feliz quanto ele, mas isso viera na esteira de um coração partido amargo.
Graças a essa experiência, ele entrou em ação assim que percebeu como se sentia em relação à irmã de Dohga. Ela poderia tê-lo achado um pouco frívolo no início, mas Hans sempre fora um cavalheiro com ela. Ele trabalhou mais do que nunca em seu trabalho como porteiro. Desde que lhe disse que a amava, não dormira com uma prostituta uma única vez. Como resultado, ele vencera um número não pequeno de rivais para conquistar a felicidade que tinha agora.
Foi por isso que Hans disse:
— Peça Isolde em casamento imediatamente.
Dohga olhou para cima sem expressão.
— Você não precisa se casar imediatamente. Poderia apenas fazer um noivado. Você só precisa dizer a ela como se sente.
Dohga não disse nada.
— Se você ficar esperando por muito mais tempo, vai se arrepender.
— Mas…
— Não se preocupe se vocês são um bom par um para o outro. Você é um dos Cavaleiros de Ouro de Asura. Nós, da guarda, temos orgulho de você e o admiramos. Mantenha a cabeça erguida e se apresente.
Dohga pensou um pouco. Ele não sabia o que tornava as pessoas compatíveis, mas sabia um pouco sobre aparência. Isolde era bonita demais para ser um bom par para ele.
— Você não precisa esperar nada. Diga a ela como se sente e tenha seu coração partido. Nesse ritmo, você não poderá desejar felicidades a ela no dia do casamento.
Com estas palavras, Dohga imediatamente se decidiu. Ele ia dizer a Isolde como se sentia.
Tradução: Gabriella
Revisão: Pride
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View Comments
O Dohga eh um fofo ☺️
Vai Dohga!!
Casalzinho super fofo, Isolde vai engravidar o Dohga🤤🤤
Obrigado pelo capitulo!
(02/10/25)
E por falar em paixão
Em razão de viver
Você bem que podia
Me aparecer
Nesses mesmos lugares
Na noite, nos bares
Onde anda você?
Parabens Dohga, você pode não conquistar a Isolde, mas já me conquistou!
Ele não tem beleza, ele não tem charme, MAS ELE TEM O POVOOO!!! VOTE DONGA 22