Mushoku Tensei: Reencarnação Redundante

Mushoku Tensei: Reencarnação Redundante – Vol. 01 – Cap. 07 – Isolde Procura um Marido

HÁ MUITO, MUITO TEMPO, antes mesmo de o Estilo Deus da Água existir, havia um país aterrorizado pelo Rei Dragão do Mar. Eles haviam pescado nas águas dele e incorrido em seu desagrado. Quase todos os dias, barcos de pesca eram devastados, e Dragões do Mar começaram a aparecer nos portos. Embora os cavaleiros daquela terra tentassem resistir, eles eram vastos e deslizavam pela água. Eram fortes e rapidamente desgastaram as forças do reino. A ruína estava próxima.

O assunto pesava muito sobre o rei. Ele declarou que daria sua filha e seu trono a quem quer que matasse o Rei Dragão do Mar. Em resposta, muitos cavaleiros, campeões e heróis desafiaram a criatura, mas todos foram derrotados.

Um dia, um homem apareceu. Uma espada velha e surrada pendia de seu quadril, e suas vestes estavam esfarrapadas. Contos recentes o pintam como incrivelmente belo, mas nas narrações mais verdadeiras, ele não era um espetáculo de se ver — parecia um vagabundo, com o rosto manchado de fuligem.

Ele atendia pelo nome de Reidar. Apresentou-se ao rei e perguntou se poderia matar o Rei Dragão do Mar. Naturalmente, o rei disse que sim, embora já tivesse perdido metade da esperança e não tivesse fé naquele estranho.

Mas Reidar era forte. Ele congelou a superfície do oceano para espiar suas profundezas, observando o movimento dos Dragões do Mar. Então, rápido como um piscar de olhos, ele se aproximou do Rei Dragão do Mar. O Rei Dragão do Mar quebrou o gelo, contorcendo-se enquanto atacava Reidar. Com sua espada velha e surrada, essa alma corajosa desviou seu ataque mortal e, em seguida, contra-atacou com um golpe que arrancou a cabeça da besta.

Com a cabeça do Rei Dragão do Mar em mãos, Reidar retornou ao reino, onde uma recepção de herói deveria tê-lo aguardado. Embora o rei o tenha presenteado com ouro e joias suficientes para que ele nunca mais precisasse trabalhar, foi tudo o que ele recebeu, pois, no último minuto, o rei decidiu reter a mão de sua filha e seu trono.

Reidar não ficou zangado, mas uma grande tristeza o abateu, pois estava apaixonado pela princesa. Enquanto a observava de longe em desfiles e cerimônias, ela conquistara seu coração. Embora soubesse que poderia ter tomado o trono à força se quisesse, Reidar decidiu que, se não pudesse se casar com sua amada, deixaria aquele país.

No entanto, houve alguém que ficou zangado em seu lugar: a princesa. Ela protestou contra o rei, socando-o e chutando-o antes de sair do castelo. Ela foi atrás de Reidar, alcançando-o quando ele se preparava para deixar o país e se jogando a seus pés.

— Eu desisti do meu país. Não sou mais uma princesa. Não tenho nome. Ao me fazer sua, você não ganhará um reino, nem se tornará rei. Se isso for aceitável para você, eu lhe imploro, faça-me sua esposa.

Com um sorriso, Reidar tomou a princesa em seus braços. Juntos, eles deixaram o reino. O casal se casou e desapareceu.

Anos depois, em algum canto distante do mundo, nasceu o Estilo Deus da Água. Ou assim se diz.

Este episódio foi a base para a lei que afirma: “O companheiro do Deus da Água renunciará ao seu nome.”

Isolde Cluel era a chefe do Estilo Deus da Água em Asura, bem como uma das instrutoras de espada da ordem de cavaleiros do reino. Atualmente, ela era uma Imperadora da Água, mas acabara de aprender a terceira das cinco técnicas secretas do Estilo Deus da Água. Em poucos meses, haveria uma cerimônia na qual ela tomaria o nome que a declararia Deusa da Água.

Sua idade não era clara, mas ela parecia estar na casa dos vinte anos. Tinha traços aristocráticos e um cabelo adorável, tão escuro que era quase azul. Sua beleza era evidente, mas alguns sussurravam que ela usava maquiagem para parecer mais jovem. Em toda Asura, a única pessoa que sabia sua idade era a Rainha Ariel.

Isolde estava procurando ativamente por um marido. Quando se tornasse Deusa da Água, isso significaria o fim de muitas e muitas luas de treinamento rigoroso. A partir de então, ela continuaria a aprimorar suas habilidades, mas era um marco, então ela sentiu que era hora de pensar em casamento.

Infelizmente, sua busca não estava indo bem. Não que lhe faltassem parceiros em potencial, é claro. A futura Deusa da Água era muito procurada, especialmente por espadachins do Estilo Deus da Água. Não faltavam homens que se encantavam com sua beleza e se impressionavam com sua dedicação ao treinamento.

No entanto, eles eram espadachins — viviam pela lâmina. Poucos eram de mente aberta o suficiente para se casar com uma mulher mais forte do que eles. Isolde, por sua vez, teria preferido um homem que fosse seu igual, ou pelo menos alguém com habilidades de nível Rei. Um nobre de Asura serviria, e as mulheres do Estilo Deus da Água eram populares em Asura. As espadachins do defensivo Estilo Deus da Água, ao contrário de suas contrapartes do Deus da Espada, não eram excessivamente assertivas; eram de fala mansa e femininas. Podiam ser confrontadoras às vezes, e sabiam o que queriam.

No caso de Isolde, ela sabia como se portar na corte. Era jovem, bonita, de boa índole e respeitaria seu marido. Além disso, era uma espadachim habilidosa. Havia muitos nobres de Asura que gostariam de tê-la como esposa. Eles a teriam para servi-los durante o dia e aquecer suas camas à noite. Desnecessário dizer que Isolde não estava interessada em um marido com interesses apenas lascivos.

Mas de vez em quando, ela encontrava alguém e pensava: Ele pode servir.

Ele tinha boa aparência, boa índole e uma boa linhagem, e não era um mau espadachim. Esse encantador mantinha suas perversões bem escondidas e se aproximava dela exibindo um sorriso de dentes brancos e perolados.

Era o príncipe. Isolde se apaixonou perdidamente por ele. Ela se apaixonou por ele, mesmo enquanto as pessoas ao seu redor lhe diziam: “Ele não. Esse aí é um canalha quando pode se safar.” O fato é que o príncipe era bonito e amigável, e Isolde não resistia a um rosto bonito. Ele pode servir, pensou ela. Mas quando Isolde deu uma ressalva ao príncipe, ele retirou sua oferta de casamento sem pensar duas vezes.

— Um dia, serei Deusa da Água e tomarei o nome de Deusa da Água Reida Reia. Se você se casar comigo, deverá renunciar ao seu nome e família. O companheiro do Deus da Água não pode ter um sobrenome.

Este era o costume do Deus da Água. Não havia penalidade por não respeitá-lo, nem qualquer benefício em fazê-lo. Era simplesmente a tradição dos Deuses da Água, incluindo a antiga Deusa da Água Reida, que era avó de Isolde. O pai de Isolde também não tinha sobrenome. Cluel era o nome de sua mãe. Como tal, Isolde, que reverenciava sua avó, pretendia respeitar o costume também. Mas, infelizmente, o príncipe que a havia fisgado era um nobre. Ele nascera nobre e vivia como tal. Sua vida era construída sobre a posição de sua família. Ninguém queria se casar com Isolde o suficiente para renunciar a seu nome e família, não importa o quanto gostassem dela.

Isolde estava preocupada. Vários anos se passaram desde que ela começou a procurar um marido. Ela teve alguns pretendentes, mas sempre tropeçava no último obstáculo. Nesse ritmo, ela não encontraria um marido antes de tomar o nome de Deusa da Água.

No entanto, Isolde tinha confiança em si mesma. Era bem cuidada, uma ótima cozinheira e sabia se maquiar como uma artista. Nunca pulava um dia de cuidados com o cabelo e a pele. Gostava de pensar que era uma excelente oradora. Seu treinamento no Estilo Deus da Água incluía a arte da conversação — onde você persuadia a outra parte a falar primeiro. Ela realmente estava dando o seu melhor.

Apesar de todos os seus esforços, no entanto, ela ainda não conseguia encontrar um marido. Eris conseguiu, até Nina conseguiu, mas ela de alguma forma simplesmente não conseguia. Ambas tiveram amigos de infância, e não tinham nenhuma tradição restritiva a seguir. Isolde pensava que era charmosa o suficiente para compensar isso. Seus padrões eram altos, mas ela acreditava que, em algum momento, encontraria seu par perfeito. Ela sempre foi capaz de fazer qualquer coisa que se propusesse.

— Qual era o número dele?

Após uma pausa muito longa, Isolde murmurou: 

— Vinte e um.

Ela havia sido dispensada vinte e uma vezes. Se incluísse os com quem ela terminou, esse número era ainda maior.

— Entendo.

Isolde estava na sala de estar de sua casa, sentada em frente a seu irmão mais velho. A casa era anexa ao salão de treinamento. O irmão de Isolde, Tantris Cluel, era um espadachim do Estilo Deus da Água de nível Avançado. Ele era o filho mais velho da família Cluel, mas em comparação com sua irmã mais nova, era apenas um talento menor. Apesar de seus esforços extenuantes, ele não tinha o que era preciso para ir além do nível avançado. Era um homem honesto, no entanto. Ele até rejeitou sua avó Reida quando ela ofereceu: “Que tal eu te fazer um Santo da Água, hein?”, dizendo: “Não preciso de um título que não mereço.”

Quando Reida ainda estava viva, ela lhe confiou a administração do salão de treinamento, e o futuro de Isolde.

— Talvez seus padrões sejam muito altos?

— Acho que não.

— Você é talentosa e importante. Está em uma posição de escolher um parceiro adequado, mas se for muito exigente, ficará sem opções.

— Eu sei disso. — Seu irmão mais velho era uma presença humilde em sua vida. Eles perderam ambos os pais quando ainda eram jovens. Felizmente, tinham sua avó, a Deusa da Água, então não estavam na miséria, mas sua avó era muito ocupada para cuidar de perto das crianças. Foi Tantris quem desempenhou o papel de pai de Isolde naquela época, apoiando-a e criando-a.

No salão de treinamento, a habilidade era tudo. Aos dez anos, Isolde já havia superado seu irmão. Mesmo assim, ela se curvava à história compartilhada.

— Você não precisa considerar a honra da família Cluel. Um destino severo certamente a aguarda como Deusa da Água. Esqueça a aparência ou os títulos, encontre um confidente.

Isolde ficou em silêncio. Tantris já era casado e pai. Isolde conhecera sua família, é claro, mas não tinha uma opinião particularmente favorável sobre sua esposa. Ela era filha de uma família nobre de Asura. O casamento fora orquestrado apenas para fomentar laços com a Deusa da Água Reida. Ela obviamente desprezava Tantris, e tinha uma baixa opinião sobre lutadores de espada. Na verdade, ela não visitara o salão de treinamento nem uma vez. Embora tivessem tido um filho juntos, ela e Tantris estavam praticamente separados. Era porque Isolde não queria acabar em um casamento desse tipo que estava sendo cautelosa em sua escolha de marido.

Claro, ela não era tão cuidadosa a ponto de não se deixar levar por um rosto bonito. Mesmo assim, ela estabelecera um padrão de que eles tinham que ser pelo menos um lutador de espada de nível Intermediário. Ela não achava que estava presa a títulos. Suas oportunidades de proteger Ariel aumentaram desde que se tornou instrutora de espada, e como resultado, as pessoas com quem ela conversava também tinham títulos. Ela ficaria bem com um nobre pobre, um plebeu ou até mesmo um aventureiro, se fosse o caso. Eles só precisavam ter algo para compensar.

— Não quero ser exigente — disse ela finalmente.

— Então por que não deixa a escolha para mim?

— Não, pelo menos encontrarei meu próprio marido sozinha.

Isolde não cederia. Não ajudava o fato de Tantris só lhe apresentar homens feios. Embora ela insistisse que não estava sendo exigente, não comprometia esse ponto. O casamento com eles era quase impossível.

— Entendo… — Tantris não a criticaria abertamente. Esta não seria a primeira vez que o Deus da Água ficava sem parceiro. A continuação da linhagem Cluel estava sendo cuidada por ele. Ele desejava ver sua irmãzinha feliz, e como ela queria um marido, ele queria apoiá-la. Dito isso, se ela não desejasse sua ajuda, então Tantris não a forçaria. Ele podia não ter talento, mas ainda conhecia o caminho do Estilo Deus da Água.

— A propósito, Isolde, você não foi convocada por Sua Majestade hoje?

— Sim — respondeu Isolde após uma pausa.

— Você não vai se atrasar, vai?

— Tenho tempo.

— Seria terrível para você fazer Sua Majestade esperar. Vamos deixar as coisas por aqui por hoje.

— Muito bem. Voltarei mais tarde, irmão. — Isolde fez uma reverência e voltou para seu quarto. Ela se arrumaria antes de partir para o palácio.

Quando ela se foi, Tantris soltou um suspiro. Um casamento antes que ela tome o nome de Deusa da Água parece impossível, pensou ele enquanto se dirigia para o salão de treinamento para instruir seus alunos.

Isolde caminhava pelo Palácio de Prata de Asura. Sua couraça de prata, na qual estava estampado um brasão de uma donzela de batalha portando um escudo, tilintava a cada passo. Seu manto azul e branco ondulava atrás dela, e suas botas estalavam enquanto ela andava. Os soldados de patrulha que a viam passar ficavam em posição de sentido, fincando suas lanças no chão. Seus olhos estavam cheios de anseio. Todos no palácio conheciam o nome da Imperadora da Água Isolde, e sua nobre figura era objeto de admiração de muitos soldados. Poucos sonhariam que seus pensamentos estavam ocupados com coisas como não quero ser uma solteirona e será que há algum cara legal por aí…

— Ora, se não é a Senhora Isolde. Aonde vai? — Um homem parou diante dela, bloqueando seu caminho. Fraco e baixo, com cabelo ralo, ele era uma figura patética. Tinha talvez uns quarenta e poucos anos, era humano e tinha a aparência de alguém que Rudeus poderia ter chamado de peso morto do escritório. Ele não parecia em nada um guerreiro ou um espadachim, mas usava uma couraça de prata muito parecida com a de Isolde, embora com um desenho diferente. A sua representava uma donzela orando com uma coroa mural.

— Lorde Ifrit. Espero que esteja bem?

— Sim, muito bem. Somos do mesmo posto, então não precisa se ajoelhar…

Sylvester Ifrit era um dos Sete Cavaleiros de Asura, conhecido como a Fortaleza Real. Com um nome tão inadequado para seu rosto, ele detinha a mais alta autoridade na guarda do Palácio de Prata. Isolde era uma mera cavaleira. Isso a tornava uma nobre, embora de baixo escalão. Sylvester estava no topo de todos os cavaleiros e soldados do palácio e era um nobre de médio escalão. Por costume, Isolde deveria ter se movido para um lado do corredor, se ajoelhado e permanecido assim com a cabeça baixa até que ele passasse.

— Meu senhor…

— Somos ambos cavaleiros de Sua Majestade — disse ele, sua voz subitamente aguda. Isolde se endireitou.

— Muito bem — disse Sylvester. — Não é à nação que servimos, mas a Sua Majestade. A rainha é a única a quem você deve se ajoelhar. — Sua aura era tão formidável que Isolde apenas assentiu.

Sylvester era um homem pequeno. Era propenso a doenças e não era robusto. Não era um grande espadachim, nem especialmente bom em magia. No entanto, ele se formou em segundo lugar em sua turma na Academia Real de Cavaleiros. Era um mestre em encontrar talentos e treiná-los. Este era um homem que realmente entendia a importância de colocar as pessoas certas nos empregos certos, e foi por causa desse único talento que Ariel o convocou de volta à capital de um canto remoto do reino e o fez seu cavaleiro.

— Aonde vai, afinal, Senhora Isolde?

— Sua Majestade me convocou.

— Sua Majestade, você diz? Bem, então, não vou atrasá-la.

— Não precisa de nada de mim?

— Oh, não é nada tão importante. Meu filho disse que queria que eu o apresentasse a você, então se me perdoa por satisfazer meu filho tolo, apenas desejava perguntar se você o encontraria, caso tivesse tempo de sobra.

Isolde teria gostado de morder a isca. Ficou intrigada com a conversa de um filho tolo, mas sua suserana a havia convocado.

— Obrigada por me dizer. Falaremos mais sobre isso quando tiver tempo — disse ela com compostura, e depois apressou o passo.

À medida que se aprofundava no palácio, passava por cada vez menos pessoas. Havia menos soldados com armaduras simples e mais cavaleiros com armaduras caras. Esses cavaleiros eram apenas nobres de baixo escalão, mas também haviam jurado lealdade a Ariel. Havia quase nenhuma chance de que a traíssem. No palácio mais interno, havia ainda menos pessoas. Aqui não havia soldados nem cavaleiros, apenas corredores vazios. Ocasionalmente, ela passava por uma empregada de olhar invulgarmente aguçado — na verdade, guarda-costas — mas ninguém mais. Eram o povo de Ariel, leais até os ossos. Depois havia os Aposentos Reais, onde Ariel residia.

Em frente à porta extravagante estava um gigante de um homem vestido com uma armadura dourada e segurando um enorme machado de batalha. Aqui estava o mais poderoso porteiro de Asura. As chances de ele trair Ariel eram inexistentes. Além de estar nos Cavaleiros de Ouro, ele era um dos Sete Cavaleiros de Asura: Dohga, o Porteiro Real. Ele usava um capacete dourado em forma de balde invertido, que ostentava o desenho de uma donzela de batalha em frente a um portão.

— Sou Isolde Cluel, aqui para ver Sua Majestade.

— Mm. — Quando ela disse seu nome, Dohga se moveu lentamente. Seus movimentos pareciam lentos, mas Isolde sabia que sua guarda nunca baixava por um momento. Em uma crise, ele poderia balançar aquele machado de batalha com uma velocidade aterrorizante, e ela suspeitava que se ele lutasse a sério, ela não conseguiria passar por ele.

— Hm? — Dohga estendeu a mão para ela. Isolde o encarou, com as sobrancelhas franzidas. Ele tinha um rosto caseiro, não grosseiro, mas não do gosto de Isolde. Ela ficou um pouco repelida com a ideia de permitir que ele a tocasse.

— Uma revista corporal? Vá em frente.

Estes eram os aposentos da rainha. Era de se esperar — ninguém poderia ter permissão para trazer uma arma para os aposentos privados do monarca, cavaleiro ou não.

Dohga era conhecido por sua cautela. Mesmo um dos ministros do reino não teria permissão para trazer nem mesmo uma pequena colher de madeira após a cuidadosa inspeção de Dohga. Isolde se perguntou se ele tocaria em seus seios, mas decidiu suportar.

— Mm.

Dohga não tocou em Isolde. Sua mão se estendeu em direção… ao cabelo dela. E naquela mão, ele segurava algo.

Isolde olhou para aquilo com interrogação. Entre seus dedos, ele segurava uma única pétala.

— Estava presa.

— Hã?

— Isolde… você é bonita. Não posso deixar… uma coisa dessas em você. — Atrás de seu capacete, Dohga sorriu calorosamente. Isolde o encarou sem expressão, deixando a tensão em seu corpo se esvair.

— Oh, minha arma. — De repente, lembrando-se, ela tirou a espada do cinto e a estendeu para Dohga. Dohga não a pegou.

— Isolde… você é a cavaleira da Rainha Ariel. Precisa de arma. Para protegê-la.

Isolde ficou em silêncio. Ele não havia feito uma revista corporal, nem havia pego sua arma. Como cavaleira de Ariel, ela conquistara a confiança deste homem — este que estava entre os indivíduos mais capazes de Asura. Quando percebeu isso, seu coração começou a bater um pouco mais rápido.

Mas de jeito nenhum, não com aquele rosto… Ela balançou a cabeça e respirou fundo.

— Isolde Cluel solicitando permissão para entrar.

— Por favor, entre.

Isolde esperou até ouvir a resposta de Ariel e depois entrou na sala.

Os Sete Cavaleiros de Asura eram liderados por Luke Notos Greyrat, o Punhal Real, que havia jurado lealdade absoluta a Ariel. Os Sete Cavaleiros ocupavam uma posição especial entre os cavaleiros e tinham um certo grau de independência. Isolde era uma deles. Ela era o Escudo Real — um título adequado para uma espadachim do Estilo Deus da Água que protegeria a rainha. Isolde, Sylvester e Dohga eram os Três Cavaleiros da Esquerda, responsáveis por guardar Ariel. Os Sete Cavaleiros de Asura haviam jurado lealdade absoluta a Ariel — pelo menos, em teoria. Isolde não sabia como eles eram selecionados. Deveriam ser leais a Ariel, mas a maioria deles viera de outros lugares e não tinha laços com o reino. Era provável que cada um tivesse algo que garantisse que nunca trairiam Ariel.

Mas não Isolde. Ela sabia em seu coração que poderia se tornar uma traidora. Sabia disso porque durante a batalha de Ariel para tomar o trono, sua avó, a última Deusa da Água, foi morta em batalha pelo aliado de Ariel, o Deus Dragão Orsted.

Isolde era uma espadachim; ela entendia que isso era uma realidade da guerra. Na morte, sua avó lhe passara o papel de Deusa da Água. Se ela se voltasse contra Ariel, o Estilo Deus da Água poderia ser expulso do Reino de Asura, então ela nunca pensou em trair Ariel. Era simplesmente uma consideração prática.

Apesar disso, ninguém que conhecesse sua história poderia confiar plenamente nela. Ninguém podia ver dentro de seu coração. Ela poderia estar nutrindo um rancor pela morte de sua avó em segredo, esperando o momento certo para tentar atentar contra a vida de Ariel. Ou ela poderia mirar no assassino, o Deus Dragão Orsted. Muitos aristocratas e cavaleiros foram assassinados quando Ariel tomou o trono e ainda guardavam ressentimento por isso. Eles juravam lealdade a Ariel com expressões despreocupadas e esperavam o momento certo.

Isolde poderia facilmente ser vista como tendo tais intenções, dada sua posição. Ela havia feito o juramento dos cavaleiros e jurado lealdade a Ariel. Não fora encantada por Ariel nem era uma patriota — fizera isso para defender sua posição e seu orgulho como praticante do Estilo Deus da Água. No momento, a confiança de Ariel nela a protegia, mas se isso mudasse, Isolde não permaneceria leal sob nenhuma condição. Isso não era um plano, apenas uma compreensão do que ela era capaz. E ainda assim ela fora selecionada como uma dos Sete Cavaleiros. Era uma escolha estranha. Tinha que haver uma razão para isso.

— Isolde. Você estaria aberta a eu arranjar alguns encontros com potenciais parceiros de casamento?

Quando Ariel fez essa sugestão a ela nos aposentos reais, Isolde ficou extremamente cautelosa.

— Por que se envolver, Vossa Majestade?

— Porque você vai ser a Deusa da Água. Também me beneficiará se você se estabelecer com alguém. Os candidatos que tenho em mente são todos parentes de sangue, e embora muitos deles tenham algumas tendências um pouco difíceis… Bem, um deles pode ser do seu agrado.

— Parentes de Vossa Majestade… Você quer dizer da realeza?!

— Sim, é assim que funciona.

Potenciais parceiros de casamento que eram da realeza. Isolde não pôde evitar; seu coração começou a bater forte. Ela era um alvo tão fácil.

— Mas quando eu me tornar Deusa da Água, eles terão que renunciar ao nome da família. Isso não será desfavorável para alguém da Família Real?

— Mesmo sem o nome, o laço de sangue permanecerá. Não há exigência de que eles cortem todos os laços com a família, há?

— Bem, não.

— Então não precisa se preocupar. Eles entendem. Eu lhes prometi que, mesmo que se casem com você, a Família Real continuará nosso apoio inabalável. Você só precisa conhecê-los e escolher o que mais lhe agrada.

Isso deve ser um esquema para me conquistar, pensou Isolde. Os termos eram bons demais. Mesmo que fossem de algum ramo menor, a realeza aparentada com Ariel por sangue eram príncipes genuínos. Suas chances de se tornarem rei podiam ser microscópicas, mas ainda assim. Além disso, todos na família de Ariel eram bonitos e sofisticados.

— E então? Acho que é uma proposta atraente.

— É sim! — respondeu Isolde com entusiasmo. Ela não tinha motivos para recusar. Se fosse uma nobre de Asura experiente, poderia ter considerado o que Ariel deixou implícito e recusado. Infelizmente, Isolde era apenas uma espadachim, e uma donzela em busca de um marido, para completar. Ela não leu muito nas entrelinhas.

— Muito bem. Por favor, avise Luke ou Sylvester quando estiver livre. Eu cuidarei do resto.

— Sim, senhora. Obrigada, senhora.

— Sim, sim. Pode ir agora.

Isolde deixou os aposentos de Ariel como se estivesse em um sonho. Encontros para casamento com a realeza… Talvez fosse sua imaginação, mas ela mal sentia o chão sob seus pés. Seu coração batia forte. Ela iria até Sylvester imediatamente e lhe diria seus dias de folga. Enquanto pensava, percebeu que sua garganta estava seca. Talvez ela estivesse um pouco nervosa por ter sido convocada inesperadamente.

— Estou com sede.

— Mm.

Assim que murmurou para si mesma, alguém chamou por trás dela. Isolde se abaixou, girou e ficou cara a cara com Dohga. Ele segurava uma xícara minúscula, totalmente desproporcional a seu corpo maciço.

— Aqui. Está frio.

Isolde a pegou lentamente. 

— Obrigada. — Por um momento, ela se perguntou se estava envenenada, mas depois despejou o conteúdo na boca e engoliu. Sentindo a água permear profundamente dentro dela, Isolde percebeu que estava mais nervosa e muito mais cansada do que pensava.

— Ufa. — Ela suspirou.

— Isolde… bom trabalho. — Ele sorriu. Mesmo através da fenda de seu capacete, ela podia dizer que ele não tinha nenhum indício de segundas intenções.

Ele era atencioso. O pensamento veio naturalmente a ela: este era um homem a quem ela deixaria vigiar suas costas. Pena que o rosto dele não era do seu gosto.

— O mesmo para você, Dohga — disse ela. — Continue o bom trabalho com suas funções de guarda.

— Mm!

Bem, era o que era. Imaginando os dias de encontros com pretendentes que a aguardavam com sorrisos de dentes afiados, Isolde seguiu seu caminho.

 


 

Tradução: Gabriella

Revisão: Pride

 

💖 Agradecimentos 💖

Agradecemos a todos que leram diretamente aqui no site da Tsun e em especial nossos apoiadores:

 

  • decio
  • Ulquiorra
  • Merovíngio
  • S_Eaker
  • Foxxdie
  • AbemiltonFH
  • breno_8
  • Chaveco
  • comodoro snow
  • Dix
  • Dryon
  • GGGG
  • Guivi
  • InuYasha
  • Jaime
  • Karaboz Nolm
  • Leo Correia
  • Lighizin
  • MackTron
  • MaltataxD
  • Marcelo Melo
  • Mickail
  • Ogami Rei
  • Osted
  • pablosilva7952
  • sopa
  • Tio Sonado
  • Wheyy
  • WilliamRocha
  • juanblnk
  • kasuma4915
  • mattjorgeto
  • MegaHex
  • Nathan
  • Ruiz
  • Tiago Tropico

 

📃 Outras Informações 📃

Apoie a scan para que ela continue lançando conteúdo, comente, divulgue, acesse e leia as obras diretamente em nosso site.

Acessem nosso Discord, receberemos vocês de braços abertos.

Que tal conhecer um pouco mais da staff da Tsun? Clique aqui e tenha acesso às informações da equipe!

 

 

Rlc

View Comments

Recent Posts

O Caçador Imortal de Classe SSS – Cap. 165 – Chuva, Lama e Fogo (2)

  Quando dei um passo em direção à luz, fechei os olhos reflexivamente. — Grr.…

12 horas ago

O Caçador Imortal de Classe SSS – Cap. 164 – Chuva, Lama e Fogo (1)

Os Terras mais jovens não sabiam o que era chuva, embora os mais velhos –…

12 horas ago

O Caçador Imortal de Classe SSS – Cap. 163 – O Fogo da Caverna (3)

  O alvoroço naquela manhã cedo despertou os Cascomontes. — Qual é o motivo dessa…

12 horas ago

O Caçador Imortal de Classe SSS – Cap. 162 – O Fogo da Caverna (2)

  — Gostaria de ouvir as opiniões de todos também — disse o Inquisidor. —…

12 horas ago

O Caçador Imortal de Classe SSS – Cap. 161 – O Fogo da Caverna (1)

  A caverna estava fria. Os goblins fungavam, o vapor gelado da mina aderindo à…

12 horas ago

A Nobreza de um Cavaleiro Fracassado – Vol. 01 – Cap. 01 – A Prodígio e o Fracassado

  Blazers. Aqueles que podem manifestar o poder de sua alma em uma arma —…

14 horas ago