Alguns meses haviam se passado desde a batalha no Reino de Biheiril. O Deus-Homem ficou em silêncio depois do que aconteceu e, com o tempo, nenhum novo inimigo deu as caras. Isso não mudou meu trabalho, é claro. Continuei minhas viagens discretamente, preparando o terreno para a guerra contra Laplace, que aconteceria em oitenta anos.
Ainda assim, eu vinha passando muito tempo em casa ultimamente, porque Eris e Roxy estavam grávidas ao mesmo tempo. Eu meio que me empolguei um pouco depois de derrotar Geese, então acho que a gente colhe o que planta! Embora eu estivesse feliz com o rumo das coisas, diziam que a gravidez enfraqueceria o destino delas, tornando-as alvos mais fáceis para o Deus-Homem. Por isso, enquanto minhas esposas estivessem grávidas, eu queria ficar ao lado delas o máximo possível.
Nesse meio-tempo, eu passava meus dias analisando as informações que chegavam dos postos avançados do Bando de Mercenários espalhados pelo mundo, me reunindo com Orsted para discutir nossos próximos passos e aproveitando um tempo em família mais do que merecido.
Esta é uma história de um desses dias. Orsted e eu estávamos em uma reunião sobre o que sabíamos a respeito do meu próximo destino. Era algo sobre como o próximo na linha de sucessão do trono daquele reino ainda era jovem, mas promissor. Parecia uma boa ideia começar a mover as peças agora, para que pudéssemos usá-lo bem mais tarde.
Orsted permaneceu em silêncio, sem oferecer nenhum comentário sobre como conquistar o futuro governante. Imaginei que ele devia ter seus motivos. Talvez houvesse alguma pessoa-chave para conseguir isso que não estivesse neste ciclo. Ou poderia ser que ele achasse que não havia uma maneira garantida de fazer isso agora, então deveríamos esperar por um momento mais oportuno.
Então, o que eu deveria fazer?
Olhei para as anotações que fiz com base no retrato que Orsted havia pintado desse herdeiro incrível e pensei bastante.
Nesse momento, ele falou:
— Case a Norn Greyrat.
— O quê…?
Do nada, Orsted quebrou seu silêncio com essa declaração bizarra.
Embora eu estivesse tomando cuidado com a forma como falava perto de Orsted, quase deixei escapar um: “Que diabos você está falando?!”. Foi chocante a esse ponto.
Naquele momento, estávamos pensando em como conquistar o tal herdeiro incrível. O que Orsted disse era totalmente irrelevante. Mas então comecei a me perguntar… Era mesmo irrelevante?
E aí me ocorreu.
— Você quer dizer — Eu disse lentamente —, um casamento político?
Era a única coisa que fazia sentido na conversa que estávamos tendo.
— Eu não chamaria de político, mas quando considero o futuro… Bem.
— Então você está dizendo… que não consigo fazer isso sozinho?
Foi frustrante ouvir aquilo. Significava que Orsted havia decidido que eu não conseguiria convencer esse herdeiro incrível a formar uma aliança. Eu não teria me importado se ele tivesse dito isso abertamente — droga, nem eu estava confiante de que conseguiria sozinho. Eu não tinha ideia do que poderia dizer para convencê-lo. Se ele fosse um mulherengo como Paul, e a única maneira de trazê-lo para o nosso lado fosse lhe dar uma mulher, então a proposta de Orsted faria sentido.
Mas Norn estava fora de questão.
Eu sabia que Norn se casaria um dia, mas de jeito nenhum eu a entregaria a alguém que fosse um mulherengo como Paul. Norn tinha que se casar com alguém mais… sério. E eu tinha que aprová-lo — nem pensar que eu a mandaria para um cara qualquer. Eu nunca mais conseguiria encarar Paul. A gente nunca descarta a família em prol de um objetivo, não importa quão nobre seja.
— Não — disse Orsted.
— Então por quê?
— O filho de Norn Greyrat me foi de grande ajuda.
— Ajuda…? Então isso não tem nada a ver com a Norn; você precisa do filho dela?
— Eu não preciso dele. A criança não terá grande importância neste ciclo.
Ele estava rodeando o assunto. Orsted sempre falava por enigmas, mas com base em nossas outras conversas até agora, eu entendi a essência do que ele queria dizer. Basicamente, era uma preparação de terreno. O filho de Norn podia não ser importante, mas tinha sido útil para ele em ciclos passados, então ele faria a jogada por precaução, algo assim.
— Muito bem. — Eu me levantei. Olhei para Orsted, que continuava sentado e me encarava. Ele não estava usando seu capacete. Tinha a mesma aparência assustadora de sempre, mas aposto que meu rosto estava ainda mais assustador.
— Se você vai insistir nisso, então venha para a floresta do norte ao meio-dia, daqui a três dias.
Não tema, Norn. Eu defenderei sua virtude. Manterei minha posição, mesmo que tenha que enfrentar Orsted. Paul, por favor… Me dê forças. Me dê a força para derrotar este inimigo poderoso e viver para contar a história.
— Espere. Você entendeu errado.
— Entendi?
— Mesmo eu, no curso destes duzentos anos que se repetem infinitamente, tenho pessoas com quem me importo. O filho de Norn Greyrat é uma dessas pessoas. Ela me ajudou, vindo em meu auxílio várias e várias vezes. É por essa razão que desejo conceder-lhe a vida neste mundo. Do jeito que as coisas estão, isso não acontecerá.
Era verdade que eu nunca via Norn com rapazes. Ela havia se formado, mas ainda morava em casa, como sempre. Isso não queria dizer que ela estava encostada, no entanto. Através de seus contatos na escola, ela se juntou à guilda de magia e estava fazendo trabalho de escritório na sede central. Havia muitos caras na guilda, mas Norn não parecia se importar com eles. Ela nunca saía, mesmo nos dias de folga; em vez disso, estava sempre em casa ajudando com as crianças ou com as tarefas domésticas. Mesmo como estudante, não acho que ela tenha namorado alguém.
Sinceramente, pensei que ela poderia passar a vida inteira sem nunca se casar.
Hmm. Neste mundo, pessoas com status pareciam fazer muitos casamentos arranjados e, embora o meu tenha sido um pouco suspeito, ele me proporcionou contatos e influência. Talvez essa não fosse uma proposta tão absurda.
— Ok, mas um filho não é feito por uma pessoa só. Não é como se qualquer parceiro resultasse no nascimento do mesmo filho, certo?
Estávamos falando de um rei, então ele tinha muito status, mas eu não ia consentir. Não até que eu o visse com meus próprios olhos e verificasse que tipo de homem ele era.
— Ou esse herdeiro incrível se torna o parceiro de Norn no futuro? — perguntei, encarando Orsted. Ele franziu a testa. Sua expressão era assustadora como sempre, mas eu já tinha visto aquele olhar antes. Era sua cara de “Que diabos você está falando?”.
As pontas de suas sobrancelhas se contraíram como se estivessem surpresas, e ele disse:
— Não… Me perdoe. Não tem relação com isso.
— Hã?
— Este é outro assunto.
Outro assunto…? Ah, era isso que ele queria dizer?
— Então isso não era sobre nossa estratégia para o próximo país? Estamos apenas falando da vida amorosa da Norn?
— Sim.
Hã. Bem, tudo bem, então.
— Senhor Orsted.
— Sim?
— Quando você muda de assunto, é bom introduzir com algo como “Mudando de assunto” ou “A propósito…”.
— É verdade. Terei mais cuidado no futuro.
Com tudo esclarecido, eu me acomodei de volta no meu assento.
Recuperei a compostura e voltei à conversa.
— Então, com quem Norn se casa? Ela sempre se casa com a mesma pessoa?
— Sim. Até onde sei, o marido de Norn Greyrat nunca muda.
Então Norn e essa pessoa estavam destinados a ficar juntos. Sortudo desgraçado. Apenas vivendo sua vida, e de repente, ele consegue se casar com a minha Norn. Se ele fosse um vagabundo preguiçoso, eu o sequestraria e o colocaria na linha — no estilo espartano. Eu me certificaria de que ele não fizesse nada além de treinar desde o momento em que acordasse até cair no sono. Quando eu terminasse com ele, ele não conseguiria dizer nada além de “sim”, “por favor” e “obrigado”. De jeito nenhum ele a trairia depois disso.
No mínimo, qualquer um que quisesse se casar com Norn teria que levar um soco de Eris sem desmaiar…
— Ruijerd Superdia.
Meus pensamentos pararam bruscamente. Vi em minha mente o rosto de um homem careca que viveu cerca de quinhentos anos.
Esquece, ele não era mais careca.
Um homem bonito com uma bela cabeleira verde.
— A filha deles se torna a última guerreira Superd. Depois que Ruijerd sucumbe a uma praga em seus últimos anos, ela continua sua busca para restaurar a honra dos Superd, juntando-se ao lado humano para lutar contra os demônios. É ela quem dá o golpe final em Laplace. Seu destino é pesado, doloroso e não é cantado por ninguém… Mas neste ciclo, muitos dos Superd sobreviveram. Com toda a probabilidade, nenhum grande fardo cairá sobre seus ombros.
Enquanto minha mente estava congelada, as palavras de Orsted fluíam enquanto ele se lembrava da vida da garota. Se ela derrotou Laplace, eles provavelmente trabalharam juntos. E se sim… É, eu podia entender por que Orsted havia trazido isso à tona.
Mas ok, e agora? Era diferente desta vez. Eu estava aqui, e o incidente do deslocamento havia acontecido.
Seja como for a forma que o relacionamento de Norn e Ruijerd tenha se desenvolvido nos ciclos anteriores, se eu sabia de uma coisa, era que neste ciclo, ele não havia desabrochado na história de amor que Orsted conhecia. Se eu sugerisse casamento a Norn do nada, ela poderia simplesmente recuar. Quero dizer, era uma diferença de idade de quinhentos anos. Provavelmente confundiria Ruijerd também.
Eu não ia reclamar de Ruijerd se juntar à família, mas não podia simplesmente tomar uma decisão como essa sozinho. Não, definitivamente não.
— Se quer saber minha opinião — Eu disse lentamente —, acho que a Norn tem a palavra final.
— Muito bem. Não há pressa — respondeu Orsted com um aceno de cabeça.
Depois disso, ele me contou sobre Norn em todos os ciclos até agora. Nos mundos onde eu não existia, Norn se tornou uma aventureira. Em suas aventuras, ela cantava canções e escrevia baladas como uma barda que sabia cantar, dançar e lutar. Ela e outros com interesses semelhantes formaram um grupo e viajaram pelo Continente Norte. Suas habilidades com espada e magia eram, na melhor das hipóteses, marginais. O rank B era seu limite. Por causa disso, enquanto estavam no meio de alguma missão, seu grupo foi dizimado por monstros.
A própria Norn estava a um passo da morte quando, quem diria, apareceu o nosso Ruijerd. Ele abriu caminho pelos monstros que avançavam e salvou a vida de Norn. Para ela, foi amor à primeira vista. Depois disso, Norn se juntou a ele em sua jornada para encontrar os Superd.
No início, Ruijerd não havia sido receptivo, mas então descobriu que todos os Superd haviam sido exterminados por uma praga e caiu em desespero. Norn se dedicou abnegadamente a confortá-lo, o que, por sua vez, conquistou o coração de Ruijerd, e eles se casaram. Começaram a vida juntos em um canto do Reino de Biheiril. Depois de um tempo, tiveram uma filha, então Ruijerd contraiu a mesma doença que os outros Superd e morreu, deixando Norn para trás. Ela criou a filha e depois morreu de velhice.
Parecia uma vida solitária e agridoce, mas Orsted disse que havia um olhar de contentamento em seu rosto. Como história de amor, era difícil de engolir, mas o que acontece entre um homem e uma mulher é algo que só eles sabem.
As coisas não aconteceram dessa forma para Norn desta vez. Ainda estava tudo bem em arranjar um encontro dela com Ruijerd? Norn seria feliz com alguém que não amava? Ruijerd estaria aberto a isso?
Não adiantava eu me preocupar com isso sozinho. O importante era como Norn se sentia. Ela não mostrava nenhum sinal de interesse em rapazes, mas estava na idade certa para o romance. Um dia, ela de repente o traria para casa, e o moleque diria: “Vim pedir a mão de Norn em casamento ao pai dela”. Então eu diria: “Quem você está chamando de ‘pai’?” ou “Eu sou o irmão dela”.
Mas estou me desviando do assunto.
Tive a sensação de que eu não era a pessoa certa para perguntar a Norn sobre esse tipo de coisa. Não conseguia imaginá-la se abrindo para mim. Outra mulher seria melhor — só não a Aisha. Tive a impressão de que, se eu a enviasse, não acabaria bem. Sylphie ou Roxy, então? Norn respeitava Roxy em particular, então talvez Roxy fosse a melhor.
Eris também poderia funcionar, se estivéssemos falando de respeito. Ela vinha ensinando esgrima a Norn há muito tempo. Todas as manhãs desde que se formou, Norn saía com Eris para correr e treinar sparring e tudo mais. Bastava olhar para as duas juntas para ver como Norn admirava Eris. Infelizmente, eu duvidava que a lista de golpes de Eris incluísse a habilidade “pergunta indireta”.
Não, tinha que ser a Roxy. Espere, um momento. Quem tinha um alto nível na habilidade “pergunta indireta” era a Sylphie. E embora não fosse exatamente respeito, Norn parecia reconhecer Sylphie como a chefona desta casa.
Ou talvez eu devesse apenas consultar as três… Sim, nós quatro poderíamos trabalhar juntos para decidir quem era mais adequado para a tarefa. Seria melhor obter as opiniões de Sylphie, Roxy e Eris. Mas as três eram suficientes? Eu deveria falar com Lilia e Zenith também?
Pensei sobre isso no sofá da sala de estar.
— Oh. — Meus olhos caíram sobre uma mulher que havia entrado na sala — Norn.
— Estou de volta, irmão — disse ela.
— Bem-vinda de volta. — Ela havia se tornado uma bela mulher. Parecia exatamente como Zenith quando era mais jovem, com seios fartos e cabelos loiros e sedosos. Aposto que ela era popular com os garotos na escola.
— O que foi…? — perguntou Norn depois de um tempo.
— Nada… Hm, Norn, quer uma xícara de chá?
— Sim, por favor.
Peguei uma das xícaras na mesa, enchi-a rapidamente com chá e entreguei a ela. Enquanto Norn a aceitava, um olhar duvidoso surgiu em seu rosto.
— Está frio.
— O quê?!
Lilia não tinha acabado de me fazer um bule? Toquei no bule e ela estava certa. A xícara em minha mão também estava fria. O que está acontecendo aqui? Alguém está me atacando?!
— Espere. — Um pensamento me ocorreu. — Pensando bem, você não tinha trabalho hoje?
— Sim, acabei de chegar em casa.
Olhei pela janela. Já estava anoitecendo. Minha reunião com Orsted havia terminado, então voltei para cá e pedi a Lilia que me fizesse um bule de chá. Isso foi no início da tarde, então duas horas devem ter se passado.
— Certo, desculpe. Devo ter me desligado.
— Agradeceria se você esperasse ficar mais velho para ficar esclerosado… — brincou Norn. — Vou fazer outro bule. Espere aí, irmão.
— Não tem mais ninguém em casa?
Eu tinha certeza de que Sylphie e Eris estavam aqui agora mesmo. E Roxy… Ok, a esta hora do dia, Roxy ainda não estaria em casa.
— Sylphie e Eris saíram assim que eu voltei para levar as crianças para passear. Lilia foi às compras.
— E a Aisha?
— Não sei. Ela provavelmente ainda está com o Bando de Mercenários, não é? — disse Norn enquanto levava o bule para a cozinha.
Certo, ok. Ninguém em casa. Só eu e a Norn… De certa forma, eu não poderia ter pedido uma situação melhor. Sim, eu abordaria isso de frente. Sem rodeios. Se isso não funcionasse, então eu passaria para a próxima coisa. Era assim que eu seria honesto com Norn.
Certo. Sim. Norn não gostaria se eu só falasse com ela depois de já ter armado tudo. Quero dizer, era ela quem ia se casar.
Eu tinha que começar com a Norn.
— Aqui está. — Enquanto eu estava perdido em pensamentos, Norn voltou, colocando uma xícara de chá na minha frente.
— Obrigado. — Observei enquanto ela se sentava diretamente à minha frente e, em seguida, tomei um gole. — Você ficou boa em fazer chá, hein?
— Aprendemos na escola.
— Não foi com a Lilia?
— Lilia… acho que ela não me ensinaria.
Bem, sim. Se ela pedisse a Lilia para ensiná-la a fazer chá, ela provavelmente diria que não havia necessidade, porque esse era o trabalho dela.
— Tenho certeza de que ela ensinaria se você pedisse.
— Talvez. Mas como a escola tinha um lugar para aprender, aproveitei. Além disso, nunca tenho a chance de fazer chá em casa.
— Imagino que sim.
Ela tinha as reuniões do conselho estudantil e seu quarto no dormitório, e agora provavelmente seu local de trabalho também. Ela parecia contente com isso.
De qualquer forma, agora que eu tinha aquecido as coisas com uma conversa fiada, queria uma boa maneira de abordar o tópico principal. O que dizer? Por onde começar?
— Hmm… Cof, cof, hrmm… — Enquanto eu pigarreava, Norn me olhou com desconfiança.
— Eu esqueci de alguma coisa? — Ela perguntou.
— N-não, de forma alguma. Chá muito bom — tomei outro gole da xícara fumegante. O sabor não era nada incrível, mas não era ruim o suficiente para me fazer querer cuspir. Era comum, assim como Norn. Bom, mas não ótimo.
Em outras palavras, agradável. Mas deixando isso de lado…
— A propósito, Norn, como… como as coisas têm andado ultimamente, hm?
— Que coisas?
— Bem, seu trabalho, por exemplo. Como está?
— Tudo normal. Um funcionário sênior ainda está me ensinando o básico… mas acho que estou me saindo bem o suficiente. Claro, tenho certeza de que Aisha estaria se saindo muito melhor.
— Você deveria parar de se comparar a ela. — Eu disse. Norn assentiu obedientemente. Aisha tinha sua própria ocupação. Contanto que não estivessem fazendo o mesmo trabalho, as comparações não faziam bem a ninguém.
— Agora, esse funcionário sênior… — continuei. — Isso é interessante, hein? Legal, aposto?
— Ah, muito elegante. Acho que vocês dois conversaram uma vez, irmão. Sim, você se lembra da vice-presidente do conselho estudantil de quando eu era presidente?
— O… o garoto robusto da tribo das feras?
— Ele não. A mulher.
Oh. Uma mulher. Certo. O nome não me vinha à mente, mas havia alguém assim. Na verdade, tive a sensação de que Norn mencionou isso quando conseguiu o emprego. Algo sobre como elas estavam no mesmo departamento.
— Uma mulher, hein… Por acaso não há homens por perto, hmm?
— Claro que há.
— E algum deles é… sabe… legal?
— Alguns são, outros não.
Então havia alguém legal. Isso era importante.
— Irmão, onde você quer chegar?
— Calma aí, Norn. Não precisa tirar conclusões precipitadas.
— Você é quem não parece calmo. — Ela rebateu.
Claro que estou calmo! Sou sempre frio, calmo e controlado. CCC Rudeus, esse sou eu. E nenhum desses “C” significa “confuso”!
— Norn, uh… Só por exemplo, hm, essa pessoa legal… Quão legal você acha que ele é?
— Você está perguntando se eu gosto dele?
— Você gosta?
Droga. Perguntei na lata.
— Não, não posso dizer que gosto.
Ah, que se dane.
— Então, por acaso, há alguém de quem você gosta?
Houve uma longa pausa, e então…
— Sim.
Existe! Ela me disse que existe alguém!
— V-você não me disse! Existe, é? Bem, você é uma mulher adulta. Claro que existe. Nada de estranho nisso. Não, senhor.
— Você, por outro lado, está sendo muito estranho.
— O quê?
Eu não sou estranho. São todos os outros! Este mundo é estranho, não eu!
— Então, como ele é, hmm? — continuei. — Essa pessoa de quem você gosta?
— Ele é… mais velho.
— Uh-huh.
— Posso confiar nele.
— Uh-huh…
— E ele sempre cuida de mim.
Pegue esses três critérios, e você tem…
— Você está falando de mim?
— Você bateu a cabeça?
Desculpe. Me empolguei.
— Ele é muito mais velho que você, irmão, e nunca perde a calma em uma crise. Ele é composto e digno.
— Sabe, ultimamente, seu irmão mais velho também parou de perder a calma em uma crise.
— Não acho que você possa dizer isso, considerando como tem agido.
Oof…
Mas ok, ela disse muito mais velho que eu e digno? Droga…
— Por “muito mais velho”… você quer dizer, o quê, dez anos mais velho que eu?
— Mais velho.
— Eu… não sabia que você tinha complexo de pai.
— Complexo de…? Bem, eu gosto de homens mais velhos.
Por “mais velho”, acho que ela quis dizer mais de vinte anos mais velho. Isso o colocaria na casa dos quarenta ou cinquenta. Adicione “digno” a isso, e eu estava pensando em alguém mais para o lado pesado. Com um centro de gravidade mais baixo, você tem uma sensação real de seriedade. Não que eu estivesse perto de ser “digno” na minha vida passada.
Eu estava imaginando algo como um velho com um rosto oleoso que era CEO de uma empresa comercial do mal. Eu não ia criticar ninguém por uma diferença de idade, mas não importa como eu olhasse, parecia que ela estava procurando um “sugar daddy”.
Eu não vou tolerar isso, de jeito nenhum!
Mas espere. E se esse cara se revelasse mais sincero do que eu pensava…? Uma diferença de idade não era nada, na verdade. Você não pode julgar as pessoas pela aparência.
— Mas eu aceitei que nada sairá do meu amor.
— Oh… Ele é casado ou algo assim?
— Não… Ele disse que perdeu a esposa…
Perdeu, hein? Talvez essa fosse uma maneira conveniente de dizer que ele se divorciou dela. Ou talvez ela o tenha largado com os papéis do divórcio.
…Eu estava me esforçando para não aceitar a verdade.
— Aparentemente, eu o lembro dela.
Ok, nesse caso, não pode ser. Sim, de jeito nenhum. Ele não diria algo assim.
— Essa é uma das cantadas mais velhas do mundo.
Um homem conquistando uma mulher muito mais jovem e dizendo a ela que ela se parecia com sua falecida esposa? O que mais poderia ser? Ele estava basicamente dizendo que ela era o tipo de garota com quem ele se casaria.
Espere, porém. Não parecia realmente uma cantada quando você pensava sobre isso. Algo sobre como ela não era nada como sua esposa, como ele nunca tinha conhecido uma garota como ela antes… Essa seria uma cantada melhor.
— …Você está perguntando se eu fui seduzida? — Norn levou as mãos às bochechas, que estavam um pouco coradas. Ela estava feliz com a ideia? Ah, certo. Norn gostava dele, não o contrário.
Mas Norn, ele pode estar te enrolando. Daria briga se eu falasse algo agora, então guardei o pensamento para mim.
— Por que todas essas perguntas de repente, afinal?
— Hã? Bem, é que…
— Você está aprontando alguma, não está? — Norn me fuzilou com o olhar. Era um olhar que dizia que ela tinha sido honesta, então agora era a minha vez. Eu não esperava que ela fosse tão aberta. Teria ficado feliz em apenas deduzir que ela gostava de alguém pela reação dela.
— Bem, não quero tocar no assunto logo depois do que você acabou de dizer…
— Ok. — Enquanto eu me inclinava um pouco mais perto, Norn recuou.
— A verdade é, Norn… — Eu disse. — Recebi uma espécie de proposta de casamento para você.
Por alguns segundos, Norn congelou. Seus olhos estavam arregalados e seus lábios se contraíram em uma carranca. Era como se ela estivesse me fuzilando com o olhar.
— Uma proposta… — Ela repetiu. — Muito bem. Eu aceito.
— Não, eu entendo. Não precisa dizer mais nada. Depois do que você disse? Vamos fingir que eu nunca toquei no assunto.
— Não, como eu disse, eu aceito.
Encarei Norn, a dúvida provavelmente clara no meu rosto.
— Mas você… você já tem alguém de quem gosta, não é?
— Isso não importa. Afinal, nunca vai dar em nada. — Norn pareceu ponderar por um momento, depois continuou. — Não somos da nobreza, mas você tem status, e minhas amigas me disseram que algo assim poderia surgir um dia. Além disso, desde que descobri que você tem contatos em todo o mundo, eu esperava ser usada assim.
— Eu não disse “usada”. Não vou transformar minha família em peões. — Eu disse, um pouco exaltado. Os olhos de Norn se arregalaram, então ela abaixou a cabeça.
— Claro… Me desculpe.
Uma menina tão boa.
— Norn, se você disser que não quer isso, então abandonamos a ideia.
— Não… não sou contra. O fato de você ter vindo falar comigo deve significar que a outra pessoa não é um homem mau, certo?
— Bem, eu acho que sim.
Ele não era um mau partido… Pelo menos, eu não achava. Eles pareciam se dar bem durante a batalha no Reino de Biheiril. Ruijerd era um homem honrado.
— Só que… bem, meu coração não está decidido a me casar, mas também não sou totalmente contra. Eu ficaria grata se pudéssemos fingir que isso nunca aconteceu, irmão, se você fizesse isso por mim. Claro, se a outra pessoa insistir, então você deve seguir em frente. Não precisa se preocupar comigo… — Norn desviou o olhar.
Ela não parecia querer muito. Ela faria o que eu dissesse se eu pedisse, era só isso. Isso poderia ser conveniente para mim, mas não para ela.
— Eu ainda não falei com a outra pessoa, então está tudo bem.
— Entendo… Obrigada.
Desculpe, Orsted, mas se é o que Norn quer, então abandonamos essa ideia.
Depois de um momento, Norn acrescentou:
— A propósito, que tipo de pessoa era? Era alguém da realeza? Ou um nobre de Asura?
— Não, nada disso… Mas você o conhece, Norn.
— Conheço…? Ah, você quer dizer o Zanoba?
— Não acho que ele seja do tipo que se casa.
Zanoba era melhor deixar em paz. Mesmo com Julie o bombardeando com seu raio de amor, ele não mostrava o menor sinal de interesse nela, muito menos em Ginger. Ele provavelmente planejava passar a vida com suas estátuas.
— Era o Ruijerd. — Eu disse, revelando o nome dele.
Antes que eu percebesse o que estava acontecendo, Norn estava inclinada sobre mim, com as duas mãos na mesa. Havia um olhar intenso em seu rosto, que corou violentamente. Ela parecia zangada.
O que foi aquilo? Eu disse algo para ofendê-la?
Norn parecia ter muito respeito por Ruijerd, então parecia que ela não pensava nele dessa forma, afinal.
Certo. Desculpe, Norn. Seu irmão mais velho errou. Você pode parar de me fuzilar com o olhar agora.
— Ei, olha, foi bobagem. Mesmo deixando de lado que ele é de uma espécie diferente, a diferença de idade é muito grande, e até você…
— Por favor, aceite a proposta!
Norn me interrompeu, sua voz transbordando de empolgação e alegria.
Acontece que — ou com certeza, eu deveria dizer — o objeto dos afetos de Norn era Ruijerd.
Aparentemente, ela o adorava desde pequena, e essa paixão de infância se transformou em sentimentos românticos. E enquanto estava no Reino de Biheiril, ela reafirmou seus sentimentos: estava apaixonada por ele.
Mas Norn, conhecendo o passado de Ruijerd, presumiu que ele não corresponderia. Ela se resignou a passar o resto da vida escondendo seus verdadeiros sentimentos.
Coloquei a mão no peito e disse:
— Entendido. Deixa comigo.
Tradução: Gabriella
Revisão: Pride
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Muito bom cap como esperado de mushoku tensei, obrigado por começarem a traduzir o redundante. Mas uma coisa q eu apreciaria de vcs seria se vcs se comunicssem melhor com o público de vcs.Quando terminou mushoku(uma das light novel mais lidas do tsundoku) todos perguntaram se vcs começariam a traduzir o redundante dps e vcs nunca responderam um sim ou não. Além disso, nem todo mundo acessa a pag de vcs diariamente pra ver se tem cap novo, vcs podiam dar uma previsão de quando o cap vai sair para a gente.
Isso ae oque eles fizeram foi eh jogada de marketing kkkk
Vai no discord eles sempre avisam lá
Uhhuuuuuuu voltamos a Ativaaaaa
Como sempre conversa desentendida kkkkk
Previsão dos próximos capítulos.
Vlw galera.
E ca estamos noxx.... E lá vamos nos..... Muito obg pelo cap
Slk já voltou no pique!!
E lá vamos nós.
Tamo de volta! Valeu pela tradução, rapaziada. Como é bom ler Mushoku Tensei novamente.
Mano depois de tantas bandeiras levantadas e dicas o Rudeus NÃO DESCOBRIU kkkkkkkkk o cara é uma porta, parece eu
Muito bonitinho, apesar que eu particularmente não ache que eles dois combinem tanto e seja mais uma obsessão da Norn, ainda assim é legal ver a dinâmica dos dois então é um casalzinho ok na história. Quero ver essa filha que o Orsted tanto falou, pq a Norn é na media de força, então não sei se ela seria tão forte assim, enfim, vambora primeiro capítulo! E quero ressaltar o quanto a arte do Shirotaka pulou mais ainda de qualidade, simplismente incrivel ver a evolução do cara ao decorrer do tempo.
(26/09/25)
Não aceite Zanoba, você é mais forte, não é como Rudeus
Caramba, Norn e Ruijerd serem predestinados a ficar juntos era algo que não esperava. Faz sentido ela ter sentido um amor incondicional por ele desde nova, com essa informação.