Um mês se passou.
Eu estava parado perto da borda da floresta onde ficava a Ravina do Dragão da Terra. Ao meu redor, havia casas de madeira construídas de forma simples. Em uma clareira onde as árvores haviam sido derrubadas, um grupo de pessoas andava de um lado para o outro. Havia Superds, carpinteiros humanos e trabalhadores contratados do Reino Biheiril, lenhadores… e os Mercenários Ruato.
— Ei, irmãozão, pode derrubar algumas árvores no lado leste da floresta?
Naturalmente, Aisha também estava por aqui, ela andava pela vila, dando ordens com facilidade. Após receber suas instruções, os mercenários ficavam sob o comando de Linia e Pursena. Observando a dinâmica, era difícil dizer quem era o verdadeiro líder da companhia.
— Claro, sem problemas. — Estava ajudando na reconstrução da Vila Superd usando magia para derrubar árvores e, em seguida, magia de terra para construir as fundações das casas e uma estrada que ligava a vila à Ravina do Dragão da Terra. Havia muito trabalho a ser feito.
Imagino que você esteja curioso para saber a razão de Aisha e o Bando Mercenário Ruato estarem vagando por aqui e porquê, quando Alec apareceu, não havia ninguém além de Orsted.
A explicação é simples: foi tudo um plano da Aisha. Bem, “plano” pode soar como se ela estivesse tramando algo, então vamos chamar de estratégia, foi tudo resultado de um trabalho meticuloso dela. Quando os círculos de teletransporte e as pedras de comunicação pararam de funcionar, o caos se instalou entre os mercenários. Com as linhas de contato cortadas e a possibilidade de ataques se aproximando, o medo começou a tomar conta, mas não em Aisha. Ela permaneceu calma, avaliando a situação com frieza. Eles estavam perto da fronteira, e se a batalha já tivesse começado, não chegariam a tempo de ajudar. Não havia muito que pudessem fazer diretamente. Então ela concluiu que, com a possibilidade de Geese tentar fugir, o mais sensato seria concentrar seus esforços em restaurar os círculos de teletransporte e, assim, restabelecer a infraestrutura.
O problema era que, além dos círculos de teletransporte, todos os círculos mágicos no escritório, que correspondiam aos círculos mágicos disponíveis que Aisha tinha, haviam sido destruídos, não havia nada que ela pudesse fazer. Eu teria desistido naquela situação, quero dizer, de fato, desisti. Contudo, veja só, Aisha teve uma ideia brilhante. Seu cérebro genial lembrou que um certo indivíduo tinha uma técnica secreta. Essa técnica permitia desenhar um novo círculo mágico correspondente a um círculo de teletransporte cujo par havia sido destruído e assim, viajar para onde quisesse.
O indivíduo em questão… Vamos, você já sabe a resposta. Era ninguém menos que o Rei Dragão Blindado, Perugius Dola.
Para solicitar sua ajuda, Aisha encontrou um monumento aos Sete Grandes Poderes que ficava perto da fronteira. Quando o encontrou, usou a flauta de Perugius para viajar até a fortaleza flutuante. Perugius, sabendo que queríamos ajudar os demônios, ficou relutante, mas algo sobre Aisha o convenceu.
— Eu ligarei um para você. — Ele disse.
Aisha escolheu ligar o círculo mágico perto da fronteira com o círculo de teletransporte que levava à Vila Superd.
E assim, aqui estávamos.
— Estou impressionado que você conseguiu convencer o Lorde Perugius a concordar.
— Sim, ele realmente não queria, mas então disse a ele que Orsted lhe devia um favor por esta batalha, e ele se acalmou.
Depois disso, enquanto estava ocupado lutando, ela viajou para a Vila Superd. Após ouvir o que estava acontecendo, usou o círculo de teletransporte para evacuar os moradores e os outros para uma cidade próxima à fronteira… Foi por pouco. Se Roxy, ao retornar à Sharia, tivesse priorizado os círculos de teletransporte normais em vez de convocar a Armadura Mágica Versão Zero, tudo teria sido em vão. Felizmente, Aisha acabou cobrindo o erro de Roxy.
Foi apenas o acaso, mas Roxy ainda estava constrangida por isso.
— Por aqui? — perguntei.
— Sim, derrube todas. É melhor fazer mais espaço do que menos, certo?
— Justo, deixa comigo!
— Me avise quando terminar, ok? Eu vou mandar os mercenários carregarem a madeira.
— Sim, senhora.
Já havia passado um mês desde a batalha. Eu permaneci alerta, pronto para lutar, mas a próxima batalha nunca veio, não haveria outra. Então, pedi a Roxy, Sylphie, Zanoba e todos os outros que voltassem para Sharia. Eris também foi gentil o suficiente para acompanhar o grupo sob o título de “guarda-costas”. O círculo mágico para convocar a Versão Zero e o usado na evacuação haviam sido destruídos na batalha de Orsted com Alec, então pedi a Perugius para enviar uma boa parte do grupo de volta. Aqueles que retornaram trabalhariam na reconstrução do escritório e na restauração das pedras de comunicação e círculos de teletransporte.
Aparentemente, nada havia acontecido em Sharia, até mesmo a garota elfa estava sã e salva. O pior dos danos foi que as armas e armaduras guardadas sob o escritório foram enterradas, juntamente com os documentos detalhados que Orsted escrevia todos os dias. Os moradores evacuados da Vila Superd se conectaram novamente ao círculo mágico na Segunda Cidade de Irelil e retornaram de perto da fronteira. Depois disso, o Reino Biheiril oficialmente acolheu os Superd e ficou feliz em aceitá-los como cidadãos.
Provavelmente, o fato é que, após perderem a Terceira Cidade e o Deus Ogro, eles não estavam em posição de dizer não. Assim, estabeleceram uma condição que era enviar, no mínimo, três Superds da vila para servir ao reino. Era assim que tinha sido ao estabelecer a paz com os ogros, aparentemente. Esses três enviados foram escolhidos e estavam agora trabalhando para restaurar a vila. Se a restauração continuasse sem problemas, os Superds teriam um lar no Reino Biheiril em breve.
Tínhamos derrotado os apóstolos e feito dos Superd, dos ogros e do Reino Biheiril nossos aliados. Vencemos, mas isso poderia realmente ser chamado de vitória?
— Senhor Rudeus.
— Oh, Sándor. — Enquanto cortava árvores, perdido em meus pensamentos, Sándor apareceu atrás de mim. Ele não estava sozinho, Ghislaine, Isolde e Dohga estavam com ele.
Sándor havia voltado cerca de dez dias após o fim da batalha. Não só o Deus Lutador lhe infligiu uma ferida mortal, como também o lançou no oceano. De alguma forma, ele conseguiu chegar à Ilha Ogro, onde levou um tempo para se recuperar. Foi impressionante que tivesse enfrentado o Deus Lutador e voltado vivo. No entanto, quando o vi novamente, ele parecia desconfortável. Talvez, carregar o nome de Deus do Norte Kalman e perder fosse, por si só, um constrangimento. Ou talvez estivesse envergonhado porque agia como se fosse grande coisa o tempo todo…
— Ei, do que você precisa?
— Ah, nada… estamos planejando retornar à Asura em breve, então viemos nos despedir.
— Ah, certo.
O trabalho deles aqui havia acabado, eles eram súditos de Ariel, no fim das contas, então, se não houvesse mais luta, teriam que voltar.
— Sándor, obrigado — falei. — Nunca teríamos chegado tão longe se não fosse por você.
— Por favor, quem merece agradecimentos é a Rainha Ariel.
— Certo. Por favor, diga à Sua Majestade que me avise imediatamente se tiver algum problema. Diga-a que não hesitarei em ajudar.
— Muito bem.
Sándor, Dohga, Ghislaine e Isolde. Cada um deles era um espadachim de pelo menos nível Rei. Eu não poderia agradecer a Ariel o suficiente por me enviar uma equipe tão poderosa.
— Obrigada a você também, Ghislaine.
— Não me agradeça. A propósito… estou pensando em visitar o túmulo.
— Entendido, estarei esperando.
Ghislaine deixou o assunto por isso mesmo.
— E você, Dohga, eu teria morrido depois de cair na ravina se você não estivesse lá, então, obrigado.
— Uh-huh.
— Se algum dia precisar de um favor pessoal, por favor, me avise. Quero retribuir por salvar minha vida.
— Uh-huh!
Tudo o que Dohga disse foi “Uh-huh”, mas parecia um pouco triste por estar se despedindo.
— E obrigado a você, Isolde. Se você não tivesse se colocado entre mim e o Deus Lutador, eu estaria morto.
— De jeito nenhum! Foi uma batalha muito instrutiva. Sou eu quem deveria estar agradecendo a você. — Isolde fez uma reverência graciosa e, em seguida, sorriu. Do seu rosto à maneira como se comportava, ela estava tão bonita quanto sempre. Isso me fez pensar o que os homens de Asura estavam pensando para essa mulher ainda estar solteira.
— E por favor, envie meus cumprimentos à equipe médica — falei.
— Enviarei. Se isso é tudo… vamos nos retirar. — Sándor fez uma reverência, depois se virou. Quando estavam se afastando, lembrei de algo que havia esquecido de dizer e o chamei.
— Sobre Lady Atofe, eu sinto muito.
Sándor havia voltado, mas foi o único. Atofe ainda estava desaparecida, provavelmente foi levada pelo oceano. Não seria encontrada por séculos e o mesmo valia para Moore.
— Não precisa se preocupar com a minha mãe — disse Sándor, por fim. — Um dia, ela aparecerá onde você menos espera. É o Deus Ogro de quem eu realmente sinto pena.
— Sim… verdade.
O Deus Ogro foi confirmado morto. Ele lutou bem contra o Deus Lutador, mas não era um demônio imortal. No final, sua força falhou e ele morreu. Justo depois de termos conseguido uma reconciliação, foi realmente uma pena.
— Ainda assim, não adianta lamentar pelos mortos.
— Concordo! Temos que olhar para frente.
Eu havia feito uma promessa ao Deus Ogro. Se ele morresse, eu protegeria os ogros sobreviventes. Eles não estavam em perigo no momento, mas, mesmo que fosse apenas uma promessa, queria mantê-la se uma ameaça surgisse.
— Então, adeus — disse Sándor.
— Sim. Obrigado por tudo.
— Ah, mais uma coisa… tome conta do Alec por mim.
Por fim, eu respondi:
— Eu tomarei.
Sándor foi embora. Mal ele havia partido, vi Cliff se aproximando e Elinalise estava com ele.
— Rudeus.
— Cliff.
— Eles estão indo para casa também?
— Sim. Você também vai, Cliff?
— Sim. Já que tudo parece estar resolvido… Nunca descobrimos o que causou a praga, mas como já se passou um mês sem mais surtos e eles mudaram para outro local… Vou para casa, por enquanto.
Eu era tão grato a Cliff quanto aos outros. Nós não teríamos curado a praga sem ele… mesmo que tecnicamente tenha sido obra do Rei Abissal e não uma verdadeira praga.
— Obrigado, Cliff. Não sei o que teria acontecido se você não tivesse vindo…
— É de você que estamos falando. Tenho certeza que você teria resolvido de alguma forma. Chame se houver outro surto.
— Chamarei… Cliff, não fiz nada além de contar com você. Eu nem sei como agradecer da melhor forma.
— Só posso deixar Lise e Clyde para fazer o meu melhor em Millis porque sua família está lá para cuidar deles em Sharia. É recíproco, Rudeus.
Foi gentil da parte dele dizer isso.
— De qualquer forma, estou indo… Ah, mas primeiro, pretendo parar em sua casa no caminho de volta. Tem algo que você queira que eu transmita?
— Diga a eles que estarei em casa muito em breve.
— Entendido — disse Cliff.
Eles se despediram assim. Elinalise me deu uma piscadela antes de seguir Cliff, ela também ajudou muito, mas não consegui dizer nada… mas, afinal, ela era uma vizinha, eu poderia mostrar minha gratidão através de ações.
Eu realmente recebi muita ajuda desta vez, por exemplo Cliff: sem ele, os Superd poderiam ter sido exterminados pela praga; sem Sándor e Dohga, eu não estaria aqui. O momento que Atofe apareceu foi incrivelmente oportuno, primeiro a Mão de Atofe, depois aquele ataque perfeitamente cronometrado na Ilha Ogro. Você poderia dizer que eu devia minha vida a ela também.
Deixá-la desaparecida parecia uma ingratidão tão grande da minha parte que, quando as coisas se acalmassem, eu queria ir ao mar e procurá-la.
A luta acabou e todos voltaram para casa. Foi uma sensação vazia, como quando um grande evento termina e todos se afastam.
— Tudo bem — murmurei, após terminar de derrubar as árvores enquanto estava perdido em meus pensamentos. Diante de mim se espalhava um trecho de terra intocada. Depois de arrancar as árvores pela raiz, as empilhei de forma ordenada usando magia de terra. Um ótimo trabalho, modéstia a parte.
— Legal, então agora Aisha vai… Ah? — Virei exatamente quando Ruijerd e Norn se aproximaram.
— Aí está você, irmãozão.
— Norn! Ótima hora, você poderia ir avisar à Aisha que terminei de derrubar as árvores?
— Sim, claro. — Norn respondeu virando-se imediatamente e correndo de volta para a vila.
Ruijerd se aproximou.
— Rudeus.
— Ruijerd.
— Desculpe por te colocar em tudo isso.
— Ei, nós prometemos não falar assim, certo?
— Eu não fiz tal promessa.
— Não, acho que você não fez.
Ruijerd estava trabalhando na recuperação da vila. Depois disso, ele provavelmente iria frequentar nosso escritório ou assumir um papel de negociação com o Reino Biheiril. Norn o seguia para todo lado, parecia que ela planejava ficar para ajudá-lo, pelo menos até que a vila fosse reconstruída.
— Por favor, venha visitar Sharia novamente quando a vila estiver terminada.
— Eu irei, quero conhecer seus filhos.
— Eles são super fofos.
— Todos os pais dizem isso sobre seus filhos… — Ruijerd disse, sorrindo. Então, ele olhou para mim. Estávamos praticamente da mesma altura. — Você realmente ficou mais forte. — Ele disse. — Nunca pensei que você iria tão longe a ponto de se tornar um dos Sete Grandes Poderes.
— Você poderia se tornar um agora mesmo, se quisesse. Um soco seu, Ruijerd, e eu caio. Um soco.
— Não brinque.
— Ainda assim, é um fato que não cheguei aqui apenas com minha própria força.
— Talvez essa seja a sua força.
— Pode ser.
Depois de me observar por um tempo, Ruijerd sorriu. Ele pegou o pingente que estava pendurado em seu pescoço e o estendeu para mim, era o pingente de Roxy.
— É hora de devolver isto.
— Mas isso é…
— Deve ser seu, afinal. — Eu tinha dado esse pingente a Ruijerd quando nos separamos pela primeira vez. O pingente de Roxy, aquele que em algum momento se tornou minha marca, esse mesmo pingente foi o que me inspirou a sair para explorar este mundo.
— Obrigado — falei, aceitando-o. Quando o dei a ele naquela época, foi por um motivo bobo. Quando nos separamos, não precisava que ele me devolvesse, só queria que o levasse consigo. Talvez quisesse uma conexão com ele. Agora, ele o tinha devolvido porque já éramos como irmãos. Não nos separaríamos novamente por um longo tempo.
— Ruijerd, você me apoiará, certo?
— Eu apoiarei, embora possa estar além do meu alcance.
— Nós podemos ser o que falta um para o outro.
Ruijerd riu.
— Isso, podemos.
Eu sorri e Ruijerd sorriu de volta.
Norn trouxe os mercenários com ela e Ruijerd voltou para a vila. Eu deixei os locais de construção e caminhei até os círculos mágicos, achei que estava na hora de voltar para Sharia por um tempo.
Então, de repente, notei outra pessoa vindo na minha direção. Era Orsted, usando seu capacete preto como de costume, e não estava sozinho. Um garoto de cabelos pretos o seguia como um subordinado. Isso me lembrou de Atofe e Moore, ou de Perugius e Sylvaril. Como se ele já estivesse nessa função há cem anos. Por mais que eu quisesse apontar que estava aqui primeiro, se chegasse a uma briga, eu perderia, por isso, fiquei de boca fechada.
Ainda assim, sempre que o via, meus dentes rangiam.
— Há algum problema?
— Não — murmurei.
— Se fiz algo para ofendê-lo, por favor, me avise. Cuidarei para não repetir.
Apesar da minha desconfiança, Alec havia se tornado submisso desde aquele dia. Estava tão sincero que me fazia pensar se aquilo não era uma fachada para algo mais. Orsted exigia obediência absoluta de mim também, então sabia que era genuíno.
— Entendo o motivo de estar desconfiado, mas depois da batalha do outro dia, eu sei o meu lugar. Entendo agora como sou inexperiente e insignificante. Espero me dedicar aos estudos sob o comando de Sir Orsted e de você, Sir Rudeus, durante esse tempo a fim de entender o que significa ser um herói e o que significa ser o Deus do Norte. Minha mão dominante foi selada, como você pode ver aqui, como prova de minhas intenções e como um aviso para mim mesmo.
Alec levantou o braço direito para me mostrar, ele havia sido cortado limpo no pulso com um padrão gravado no toco. Orsted lançou aquele selo por causa do sangue de demônio imortal de Alec, que se regenerava mesmo quando era cortado em pedaços. Ele não podia fazer isso tão rapidamente quanto Badigadi ou Atofe, mas isso inevitavelmente aconteceria com o tempo. Por isso, depois de ter sua mão direita cortada, ele pediu a Orsted que colocasse um selo para impedir que ela crescesse novamente, era a prova de sua lealdade.
Eu forneci a mana para o círculo mágico de selamento, a propósito.
— Estou longe de ser uma ameaça com apenas minha mão esquerda, não estou?
— Acho que você poderia me matar mesmo sem os dois braços, com uma cabeçada ou algo assim.
— Você não precisa se preocupar… mas, então, essa modéstia é louvável, suponho. Espero contar com seus conselhos e orientações de agora em diante.
— C-certo… Eu realmente acho isso.
Aparentemente, Orsted confiava em Alec, pois não disse nada sobre não deixá-lo ficar por perto. Eu, por outro lado, tinha a sensação de que Alec ia me apunhalar pelas costas um dia. Em poucas palavras, ele me assustava, mesmo sabendo que ele não era a pessoa mais brilhante, assustador ainda é assustador.
— Então, se algum dia você pensar, “Ah, eu realmente quero estar entre os Sete Grandes Poderes novamente”, me avise, certo? Eu devolvo o título a qualquer momento.
— Ah! Sobre isso, uma vez que eu acredite ter adquirido experiência suficiente, pedirei novamente.
— Você vai me pedir, certo? Ataques furtivos por trás não são permitidos.
— Pode ser que eu desafie o Deus da Espada e não você, Mestre Rudeus. Todavia, tenha certeza de que, se eu desafiá-lo, farei isso com honra!
— E sem lâminas afiadas, ok? Eu não quero uma luta até a morte.
— Entendido!
Atualmente, os Sete Grandes Poderes eram os seguintes:
Número Um: Deus da Técnica Laplace.
Número Dois: Deus Dragão Orsted.
Número Três: Deus Lutador Badigadi.
Número Quatro: Deus Demônio Laplace.
Número Cinco: Deus da Morte Randolph.
Número Seis: Deus da Espada Gino Britz.
Número Sete: Rudeus Greyrat, o Atoleiro.
Eu era o único que parecia ridiculamente deslocado e não gostava disso, também me deixava um pouco deprimido pensar que teria de lidar com idiotas tentando me desafiar para ganhar um lugar na lista.
Minha marca era a marca dos Migurds, que eu raramente exibia até agora. Mesmo depois que Ruijerd devolveu o pingente de Roxy para mim, eu não planejava começar a mostrá-lo para quem quisesse ver. Ninguém deveria saber quem era o verdadeiro Grande Poder. Meu nome não era especialmente conhecido também, então isso deveria manter os desafiadores afastados.
Sim, eu ficaria com “Número Sete: Identidade Desconhecida” por um tempo.
Caso você esteja interessado, o rank do Deus Lutador não mudou na última batalha. Orsted disse que não mudaria, a menos que a Armadura do Deus Lutador fosse totalmente aniquilada.
Desviei meu olhar de Alec, que estava animado e ansioso, para Orsted.
— Senhor Orsted, ah… como você está se sentindo ultimamente? — perguntei. Ele tinha ouvido em silêncio nossa conversa.
— Nada mal. Usar um pouco de mana não piora as coisas, de qualquer forma.
Orsted havia usado mana na última luta e muita. Ele disse que havia consumido cerca de metade de seu total. A luta parecia uma vitória fácil da minha perspectiva, e dado que ele terminou com a vida cheia e usou apenas metade de seu MP1Em jogos, MP (Mana Points ou Magic Points): Refere-se à quantidade de mana ou pontos de magia de um personagem., não se podia dizer que não tinha sido. No entanto, as coisas pareciam diferentes quando ele não conseguia recuperar nada daquele MP. Ele usou a mana que estava guardando para Laplace e para o Deus-Homem. Nós vencemos, mas o Deus-Homem conquistou uma de suas condições de vitória. Isso ainda contava como uma vitória para nós?
— Nossos aliados são mais numerosos e nossos inimigos são menos, terei ainda menos motivos para usar magia de agora em diante.
Orsted não parecia incomodado com isso, talvez estivesse tentando ser otimista.
— Espero que sim — respondi.
— Mesmo que não seja o caso, desta vez foi diferente de todas as anteriores. Assim, precisamos apenas seguir por um caminho diferente de antes, já estou convencido quanto a isso.
Orsted estava contando comigo, mesmo que usasse a mana que estava guardando para Laplace e o Deus-Homem, isso não importava, porque eu estava lutando ao lado dele.
Parece que, para ele, isso foi uma vitória perfeita. Se achasse que foi uma vitória, então foi. Para ser sincero, houve bem poucas mortes, o Deus Ogro, vários Superds e vários guardas pessoais de Atofe. Esse foi o número de baixas. A mana de Orsted foi a única área que senti termos sido derrotados.
— Ah, sim. O que você precisava de mim?
— Estou voltando para Sharia.
— Entendido. Eu também estava pensando em voltar… Oh, mas pensei que o escritório ainda não havia sido reconstruído?
— Não importa. Haverá um lugar onde eu possa dormir.
O porão com os círculos de teletransporte havia sido escavado no mínimo com magia de terra, mas com o trabalho de restauração continuando, ele precisaria ser expandido. Eu também precisava pensar em uma contramedida para impedir que algo como o ataque destrutivo do Deus Ogro acontecesse mais uma vez, para ser honesto, estava sem boas ideias sobre isso. Talvez fosse melhor não ter círculos mágicos para nenhuma nação fora das principais. Era chocante que nunca tivesse considerado a possibilidade de um inimigo usá-los para invadir antes.
— Mas primeiro, vou vê-lo uma última vez.
Ah, ele.
— Vou acompanhá-lo — falei.
Naquela noite, Orsted e eu fomos até a Ravina do Dragão da Terra, até o fundo da ravina. Descemos pelo caminho nivelado cercado por cogumelos azuis e líquenes, até um pequeno buraco esculpido de forma a ficar escondido na parede. Tinha cerca de um metro de altura, devido à sua leve curvatura, de fora, parecia que levava direto a um beco sem saída. Se seguisse por cerca de dez metros, ele desembocava em uma grande caverna. Na caverna havia um vasto círculo mágico brilhante com uma espada no centro. Talvez vasto fosse exagero, tinha no máximo cinco metros de raio. Dentro dele estava deitado um homem reclinado.
— Então, você veio.
Era o Deus Lutador Badigadi. Seu corpo havia sido dividido em cinco partes, cada uma selada em um local diferente da ravina, seu corpo principal estava ali. Esta barreira não poderia ser quebrada, a menos que os outros quatro selos fossem destruídos primeiro. Ela operava usando a mana do próprio corpo de Badigadi e era amplificada. Portanto, sendo sustentada pela Espada do Rei Dragão e pela Armadura do Deus Lutador, continuaria funcionando quase indefinidamente. Era um círculo mágico de barreira customizado, uma especialidade de Perugius. Era magia de barreira de nível divino, criada para selar o Deus Demônio. O sujeito selado servia como o meio e os implementos mágicos como vetores, e quanto mais poderosos fossem ambos, mais forte a barreira se tornava. Esta usava tanto a Armadura do Deus Lutador quanto a Espada do Rei Dragão, o que significava que a barreira que gerava era tão poderosa que até mesmo Orsted seria incapaz de escapar dela.
Se alguém conseguisse romper isso, talvez fosse melhor desistirmos ali mesmo, esse era o raciocínio.
Orsted tinha ido a Perugius para pedir a base para a barreira. Ele se curvou e pediu a ajuda dele que, por fim, concordou. Não era apenas sobre a barreira: Perugius agora era aliado de Orsted. Estavam unidos por um vínculo de companheirismo. Entretanto, mais tarde, Oersted teria que matar Perugius, o que significava que ele havia escolhido o caminho da traição.
Eu era grato a ambos, Perugius e Orsted, então meus sentimentos pessoais sobre isso eram complicados, pois sabia que Orsted não queria fazer as coisas dessa maneira. O fato de ter escolhido assim significava que não cabia a mim dizer nada sobre o assunto. Se ao menos, pensei, houvesse uma maneira de chegar ao Deus-Homem sem usar os tesouros sagrados da Tribo Dragão… mas eu sabia que isso não era um problema que pudesse ser resolvido com desejos e um pouco de tempo em uma biblioteca.
Ah, fazer o quê! Talvez isso não fosse algo que eu devesse pensar, tinha um sujeito bem na minha frente com quem deveria me preocupar no momento.
— Sinto muito, Vossa Majestade, mas como você é um apóstolo do Deus-Homem, não tivemos escolha.
— Estou apertado. — Badigadi disse pomposamente enquanto estava deitado como um Buda reclinado. — Gostaria de um pouco mais de liberdade de movimento.
Eu também tinha minha própria experiência com celas, mas acho que até eu acharia a barreira selada apertada. Dito isso, odiava a ideia de matá-lo, Kishirika também havia nos pedido para não fazer isso.
— Sinto muito, de verdade, mas isso é o máximo que posso fazer.
— Humpf. Então assim será! — Badigadi disse, acrescentando uma pequena risada de “fwahaha”.
Ele tinha dois braços e seu corpo estava menor que antes. Esse era o resultado do selo.
— Agora! O que os traz aqui, digam-me? Suponho que vocês não vieram beber e se divertir enquanto apreciam meu charme sedutor, não é?
— Sir Orsted tem algo para discutir com você — falei, então me afastei para deixar Orsted falar.
— Rei Demônio Badigadi. — Ele começou.
— Boa noite para você, Mestre Deus Dragão, como posso lhe ser útil?
— Deixe o Deus-Homem e submeta-se a mim.
Por um momento, Badigadi ficou boquiaberto, mas então, explodiu em uma gargalhada estrondosa.
— Fwahahahahahaha! O pária da tribo dragão ousa me comandar, um demônio imortal, a me curvar diante dele?
— Houve um tempo em que éramos inimigos, mas você é um amigo de Rudeus, Alex, Alexander e Atofe, que se aliaram a mim. Certamente, há espaço para você considerar isso.
— Não há! — Badigadi disse desafiadoramente.
— Mas por que, Grande Tio? — Alec, que estava parado perto da entrada da caverna, deu um passo à frente. — Você foi derrotado, não foi? De acordo com as leis dos demônios imortais…
— Alec, não se engane. Essa não é uma regra para todos os demônios imortais. É uma regra de Atofe.
— Você jurou lealdade ao Deus-Homem então, Grande Tio?
— Não jurei. — Badigadi sentou-se e balançou a cabeça, então cruzou seus únicos dois braços e cruzou as pernas. — No começo, não tinha intenção de lutar, o que gostava era de viajar, beber e me divertir, seduzir mulheres que passavam, levá-las para a cama, ocasionalmente. Levar uma surra de um noivo traído, fazer amigos e beber, rir e cantar, depois olhar ao redor para os rostos cansados, dormir e ficar satisfeito. O Deus-Homem veio até mim de cabeça baixa e me pediu para lutar e então eu lutei. Isso é tudo. “Quero que você mate o Deus Dragão Orsted e Rudeus Greyrat, custe o que custar”, ele disse. “A quem você deve agradecer por você e Kishirika estarem vivos na mesma era?” ele disse. Então me pediu para lembrar de quatro mil e duzentos anos atrás e retribuir a dívida que eu tinha com ele, como resultado, concordei em ajudá-lo desta vez.
Ele fez uma pausa por um momento.
— Essa vez já passou. Agora, não me alio a ninguém! Se minha escolha for lutar ou ser selado neste lugar, então escolho permanecer selado.
Isso me fez pensar que talvez pudéssemos libertá-lo. Embora ele ainda fosse um apóstolo do Deus-Homem, logo não podíamos simplesmente soltá-lo sem pensar duas vezes apenas em razão de uma conversa suave.
— De qualquer forma — Badigadi continuou, sorrindo para mim enquanto eu ponderava —, vocês me vão me libertar quando sua luta contra o Deus-Homem terminar, não vão?
— Sim — disse Orsted. Olhei para ele e foi aí que percebi.
Isso não aconteceria durante minha vida, mas se Orsted vencesse sua batalha contra o Deus-Homem, não haveria necessidade de manter Badigadi preso por mais tempo.
— Será daqui a cem anos.
— Não tão cedo, então. Serei paciente — respondeu Badigadi, então deitou-se novamente. Com um aceno de cabeça. Orsted se virou para sair. Parecia que a discussão havia terminado. Isso foi rápido.
— Vossa Majestade, eu… sei que talvez isso não seja o melhor momento para dizer isso, mas queria agradecer por tudo na Universidade de Magia.
— Ouça bem, Rudeus, esta pode ser a última vez que nos encontraremos, então direi agora: parabéns.
— Para… béns?
— Você foi vitorioso, portanto, parabéns.
— Não tenho certeza se fui, no entanto…
Isso era exatamente o que me preocupava. No fim das contas, Orsted havia usado sua mana, eu cometi um erro no último momento.
Mas Badigadi não mencionou isso.
— Você fez o Deus-Homem provar a derrota.
— Eu fiz ele… o quê?
— Você o fez pensar que, não importa o que ele tente, não pode matá-lo. Por isso, perdeu toda a vontade de tentar. De fato, é difícil descrever como ele estava quando o vi pela última vez, exceto que parecia a própria imagem da derrota. Como não chamar de vitorioso quem o enfrentou?
— Isso é realmente verdade? — perguntei.
— Você só precisa tirar aquela pulseira e visitá-lo você mesmo para verificar.
Ele apontou para mim e minha mão inconscientemente foi para cobrir a pulseira.
— Eu… acho que não vou, obrigado.
— Não? Bem. Como quiser!
Eu não cairia nessa. Nunca mais queria ver o Deus-Homem novamente, embora ele parecesse bastante desesperado da última vez que o vi no fundo da ravina. Talvez ele realmente tivesse considerado essa última batalha uma derrota pesada. Ainda assim, não confiava em Badigadi quando ele dizia que o Deus-Homem havia perdido a vontade de tentar qualquer coisa mais.
— É tudo?
— Sim, pelo menos da minha parte.
— Então cuide-se, Rudeus.
Eu me virei e segui Orsted. Quando o fiz, Alec correu à frente, com o rosto angustiado.
— Grande Tio… Eu…
— Ouça bem, jovem Alexander. Se você busca ser um herói, encontre seu verdadeiro inimigo. Isso foi algo que seu pai nunca fez, você o superará quando derrotar esse inimigo.
— Obrigado. — Alec respondeu e se virou para sair.
Esse provavelmente seria meu adeus final a Badigadi nesta vida. Nada me impedia de visitá-lo uma vez por ano ou algo assim, mas ao falar com ele, poderia me enfraquecer e acabar quebrando o selo. Era melhor não vir de jeito nenhum. Eu também não contei a nenhum dos outros da Universidade de Magia que Badigadi estava selado ali. Apenas cinco pessoas sabiam: eu, Orsted, Ruijerd, Alec e Perugius. Já havíamos decidido que Ruijerd ficaria de olho na vila para garantir que ninguém visitasse a ravina. Não eram muitos que conseguiriam chegar ao fundo dela e voltar e cem anos não deveriam ser tempo suficiente para que o selo falhasse espontaneamente.
E então…
— Rudeus, a entrada.
— Entendido.
Eu fecharia a entrada estreita. Qualquer um que viesse depois teria que escavar se quisesse encontrá-la novamente. Era um adeus.
No final, muito levemente, pensei ter ouvido a voz de Badigadi.
— Que sua maldição seja levantada, jovem Deus Dragão.
Na manhã seguinte, antes do sol nascer, eu voltei para Sharia. Entre o novo escritório que estava em construção e os escombros deixados do antigo, havia uma acomodação provisória onde Zanoba, nosso diretor de construção interino, e os outros estavam dormindo, todos apertados. Zanoba também havia sido uma grande ajuda, esperava que pudéssemos continuar sendo o tipo de amigos que sempre se apoiam mutuamente.
— Adeus, Rudeus. — Ele se despediu. — Até a próxima.
O mesmo valia para Orsted. Nos arredores da cidade, nos separamos, continuei caminhando pelas ruas sob a neblina da manhã. Estava carregando presentes do Reino Biheiril, principalmente molho de soja. Contanto que tivesse esse molho de soja, nunca ficaria sem algo para comer de novo, pois molho de soja combina com tudo.
Bem, tudo pode ser um exagero.
Olhei ao redor, Sharia estava do jeito que eu me lembrava. As pessoas eram as mesmas, fazendeiros indo para seus campos, aventureiros treinando nos pátios das pousadas e um homem de manto que poderia ser um professor da universidade. Pequenos montes de neve alinhavam a estrada pela qual eu caminhava, enquanto passava por cada viajante, indo em direção à minha casa. Atravessei a praça central até o distrito residencial. Ver aquilo me fez sentir uma nostalgia inexplicável, era uma rua que percorri praticamente todos os dias e ainda assim vê-la agora parecia como se estivesse voltando para casa pela primeira vez em minha vida.
Virei em um beco, beco este estreito demais para carruagens, era um pequeno atalho que costumava usar com frequência. Saindo dele, pude ver minha casa. Byt, o ente da Aisha, estava enrolado firmemente em volta do poste do portão e o abriu para mim quando me aproximei, passei pelo jardim, que estava um pouco negligenciado. Tu, o tatu, me viu e veio se esfregar em minhas pernas. Abaixei-me para esfregar sua cabeça, ao que ele se virou para me mostrar sua barriga, enquanto esfregava sua barriga, ele ronronava feliz, era um bichinho muito fofo.
Então, ouvi um barulho alto vindo da entrada da casa.
— Papai! — Uma menininha com o cabelo da mesma cor que o meu saiu correndo, era Lucie. Ela veio correndo como se fosse me derrubar de joelhos, então me abaixei para encontrá-la. Com um forte baque, uma bola de fofura e calor se jogou em meus braços. Isso era incomum, ela sempre se escondia atrás de Sylphie.
— Estou em casa, Lucie.
— Bem-vindo de volta. — Ela disse, casualmente.
— Você tem sido uma boa menina?
— Sim! Eu tenho cuidado de Lara, Arus e Sieg!
— É mesmo? Você é uma verdadeira irmã mais velha agora, não é? — Os braços de Lucie apertaram-se ainda mais ao meu redor, me incentivando a pegá-la no colo. Caminhei em direção a casa com ela nos braços, de dentro vinha um cheiro que de alguma forma me tranquilizava, o cheiro familiar que pairava pela nossa casa. Desde que compramos esta casa pela primeira vez, o número de habitantes aumentou. À medida que vivíamos nela, ela mudou, mas estava tão acostumado que não percebi como ela cheirava. Entretanto, agora, voltando depois de tanto tempo fora, e de uma experiência de quase morte, senti toda a tensão se esvair de mim. Meu coração estava em paz, era um cheiro que me dizia que eu estava em casa.
— Olá, Lilia. Olá, mãe. — Enquanto estava parado, enchendo meus pulmões com o cheiro de casa, vi Lilia e Zenith na frente da escada.
Lilia fez uma reverência profunda ao me ver.
— Bem-vindo de volta, Mestre.
— Obrigado por cuidar da casa enquanto eu estava fora, Lilia.
— De maneira alguma, Mestre. Estou muito feliz em vê-lo voltar em segurança para casa.
— Ainda vai demorar um pouco para que Norn e Aisha voltem.
— Obrigado por me avisar. Ah, mas estou tão feliz que você esteja a salvo… Quando a residência do Deus Dragão nos arredores da cidade foi atacada, fiquei desesperada de preocupação. Estou tão feliz, tão feliz… — Lilia conversou normalmente por um tempo, mas não demorou muito para que levasse a mão à boca, como se não pudesse mais segurar, seus ombros começaram a tremer e ela começou a chorar.
— Desculpe por ter feito você se preocupar…
Eu não tinha meios de contatá-la, então não havia nada que pudesse ter feito. Fazia sentido que, depois que a companhia para a qual eu trabalhava fosse esmagada por uma empresa rival, ela estivesse ao ponto do desespero. Na verdade, as coisas poderiam facilmente ter saído como ela temia e não apenas comigo; qualquer um dos outros poderiam não ter voltado daquela batalha. Fiz tudo o que pude para garantir que todos voltassem, mas foi um milagre que nenhum dos que eu mais amava tivesse morrido.
Por outro lado, eu não podia honestamente dizer que poderia impedir que algo assim acontecesse de novo.
— Não deve haver outra grande batalha como esta por um tempo, então, por favor, não se preocupe mais.
— Isso é bom — disse Lilia. — Estou tão arrependida que você tenha que me ver perder a compostura assim.
Percebi que Zenith estava esfregando as costas de Lilia. Será que eu também fiz Zenith se preocupar? Ela parecia ter perdido suas emoções negativas, mas eu pensei que ela pelo menos se preocuparia comigo, ela era esse tipo de pessoa.
De qualquer forma.
— Estou em casa — anunciei. Dei um passo para dentro da casa, finalmente parecia real que minha longa batalha com Geese havia terminado.
Foi só no dia seguinte, que o fim da batalha finalmente virou realidade para mim, até então eu não conseguia relaxar. A batalha com Geese estava acabada, o que significava que o contrato que fiz comigo mesmo também estava.
Veja, você sabe o que isso significava.
A batalha durou tanto que esse estilo de vida começou a parecer natural para mim, mas logo cedo naquela manhã, meu pequeno companheiro começou a se manifestar novamente e digo de um lembrete bem insistente.
Meu nome é Rudeus Greyrat, filho de Paul Greyrat, o que significa que traição abaixo da cintura faz parte do meu DNA. Eu havia forçado o Rudeus Jr. a passar por um longo período de abstinência e paciência. Isso foi o que me permitiu dar o meu melhor. Como o primeiro Rudeus, era meu dever garantir que ele fosse recompensado, pois cumpriu sua parte do contrato.
Antes do sol nascer, eu me levantei da cama, desci as escadas e fui até a porta da frente, onde encontrei Leo e Eris.
— Rudeus! Você acordou cedo hoje.
— Bom dia, Eris. Onde estão todos?
— Todos seguros.
— Não é isso que quis dizer. Quero saber o que estão fazendo?
Eris pensou por um momento.
— Lilia e Sylphie estão fazendo o café da manhã; Roxy, as crianças e sua mãe ainda estão dormindo. Eu acabei de terminar o treinamento, então estava prestes a correr.
— Entendi — falei suavemente, pegando a mão de Eris. Ela apertou meus dedos. Talvez fosse porque tinha acabado de treinar, mas sua mão estava quente, percebi que seu rosto também estava um pouco corado.
— O q-que foi? — Ela perguntou.
— Eris, vamos tirar o dia de folga hoje.
— C-certo! Tudo bem! — A maneira como ela disse “tudo bem” parecia indicar que ela adivinhou exatamente o que eu tinha em mente, talvez estivesse estampado no meu rosto.
Ela estava certa.
— Desculpe, Leo, mas hoje não vai ter caminhada.
— Ruff. — Leo parecia um pouco decepcionado, mas lambeu minha mão levemente e voltou para dentro de casa.
Eu o segui para dentro, ainda segurando a mão de Eris e fui para a cozinha. Lilia e Sylphie estavam lado a lado, cozinhando.
— Sylphie — chamei.
— Ah, bom dia, Rudy. Você acordou cedo.
— Bom dia, Mestre — disse Lilia, ambas com um sorriso habitual.
Então, virei-me para Sylphie, com um sorriso tão natural que até me surpreendi e disse:
— Sylphie, vamos tirar o dia de folga hoje.
— O quê? Não me importo, mas quando você diz “dia de folga”… Ela me olhou confusa, mas Lilia pareceu perceber imediatamente.
— Muito bem. Eu terminarei o café da manhã, Senhorita Sylphie.
— Ah… — disse Sylphie, com o rosto ficando vermelho. — É disso que você está falando. — Ela sorriu timidamente e pegou a mão que Eris não estava segurando. Talvez fosse porque ela havia molhado as mãos enquanto cozinhava, mas seus dedos estavam um pouco frios.
— Quando você disse isso, Rudy, seu rosto estava tão normal que nem percebi, você viu isso imediatamente, Eris?
— Eu meio que soube! — respondeu Eris.
Enquanto as duas conversavam, virei-me para Lilia.
— Lilia, por favor, cuide das crianças até a hora do almoço. Ah, e vamos todos jantar fora esta noite.
— Muito bem, Mestre. — Ela sorriu como se tivesse percebido meus planos, embora também parecesse um pouco envergonhada.
Bem, agora era tarde demais para isso.
Com isso, nos dirigimos ao quarto.
De mãos dadas com Sylphie e Eris, fomos para o quarto das crianças. Abri a porta silenciosamente e espiei dentro. As quatro crianças estavam profundamente adormecidas: Lucie, Lara, Arus e Sieg. Leo estava enrolado em um canto do quarto, vigiando-os.
Durante a batalha, eu me preocupei muito com minha família. Apesar dos meus medos, tudo estava em paz aqui. A menos que uma batalha tivesse ocorrido na casa sem que eu soubesse e Leo tivesse protegido todos eles…
De qualquer forma, depois de verificar que as crianças estavam bem, fechei a porta suavemente. Então, nos dirigimos ao quarto de Roxy. Por uma questão de boas maneiras, bati na porta.
Houve uma pausa de alguns segundos, e então:
— Sim?
Abri a porta e vi Roxy, com os olhos sonolentos. Seu cabelo estava bagunçado e havia marcas de baba ao redor de sua boca. Sua camisola estava aberta na frente, quase revelando seu corpo. Muito sexy.
— Ah… Rudy. Bom dia. Está tão cedo, aconteceu alguma coisa…?
— Bom dia, Roxy. Achei que poderíamos tirar um dia de folga, o que você acha?
Roxy me olhou com um ar confuso por um momento e então pareceu entender o que eu quis dizer com “dia de folga”. Brincando com sua franja bagunçada, suas bochechas coraram e ela disse:
— Bem, eu não me importo, mas… — Eu segui seu olhar para uma das duas mulheres segurando minhas mãos. — A Eris concordou com isso?
Olhei para Eris. Seu rosto estava vermelho e ela parecia um pouco chocada.
— Eu estava prestes a perguntar isso a ela. — Virando-me para Eris propriamente, perguntei: — Eris, eu gostaria de voltar para o quarto nós quatro, está tudo bem para você?
Eris pareceu entender o que eu quis dizer. Seu rosto ficou ainda mais vermelho e ela apertou os lábios. Provavelmente teria feito sua pose favorita se suas mãos estivessem livres.
— Bem, eu suponho que sim, se você realmente quiser…
Desculpe, Eris. Eu só queria me dar um presente hoje e dar adeus a Rudeus, o Celibatário.
— Obrigado. — Não estava apenas agradecendo a permissão de Eris, estava agradecendo a todas as três por tudo o que haviam feito para me apoiar até agora. Eu estava extremamente grato por não ter perdido nenhuma delas.
Geese e Badigadi disseram que tudo havia acabado e que o Deus-Homem não me incomodaria mais. Não acreditava em nem uma palavra disso, o Deus-Homem seria meu inimigo enquanto eu vivesse. Entretanto, hoje, eu ia relaxar e não fazer absolutamente nada. Apenas descansar, recuperar minhas forças para amanhã, e passar um dia em paz. Para me lembrar de que eu ainda podia sorrir, e…
Não, estou brincando com você. Eu ia mesmo era aproveitar o momento. A partir de hoje, eu era Rudeus, o Livre e me sentia muito bem com isso.
Com isso, seguimos para o quarto.
Tradução: Laplace
Revisão: NERO_SL
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Que isso hein Rudeus, vai com as três? Vc mal aguenta a Eris, mas né o cara tem que tirar mesmo um dia de folga depois daquela batalha.
Já estou ficando triste que está quase acabando a história😭😭😭
Rudy ficou em abstinência por 1 ano, ele tá explodindo de energia então dá para aguentar
"Folga"
chegamos ao fim da novel, o resto é extra, cara que jornada boa, a evolução do rudeus, os personagens, os plots, as interações, os filhos fofos do rudeus, a norn e a aisha, o drama da morte do paul entre outros dramas na série, que novel boa, que obra boa
agradeço imensamente à equipe da tsundoku, tradutores, revisores e etc... pelo trabalho, vocês são fodas, obrigado por trazerem e traduzirem essa obra tão boa,
é isso galera, chegamos ao fim
temos uns extras e depois é ficar no aguardo se o autor irá ou não fazer uma continuação com a lara e os filhos do rudeus
mais uma vez, obrigado por tudo, foi uma ótima obra e jornada até aqui :)
Sinto pena dos Superds, sofreram na batalha contra Laplace, ficaram sem lar, depois ficaram doentes, perderam vários guerreiros contra o Badigadi e ainda a vila teve que ser reconstruída, pelo menos agora tudo acabou, vão finalmente ter paz.
Sobre Badigadi eu não sinto pena, foi escolha dele. Por mais que inicialmente ele tenha sido enganado pra usar a armadura do Deus Lutador, foi escolha dele seguir o Deus-Homem pra matar Rudeus e seus aliados.
kkkkkk esse final, o harém ficou completo.
A verdadeira batalha começa agora, 3x1 insanudo!!
Não será mais Rudeus o celibatário. Será Rudeus o mito 😎
"— Que sua maldição seja levantada, jovem Deus Dragão." O que Badigadi quis dizer com isso?
Cara eu acho que é uma expressão sobre o desejo de vingança que o Orsted tem contra o Hitogami, o Badigadi não necessáriamente gosta do Hitogami então eu interpretei como uma despedida amigável tipo um "Boa sorte se livrando dessa maldição/vingança" o que condiz muito bem com a situação do Orsted já que ele possui muitas maldições, vale lembrar que o Badigadi não sabe dos loops então pra ele o Orsted é um Deus Dragão jovem, se não me engano o anterior foi Urupen que lutou contra Laplace depois do Badigadi
Valeu!!
Simplesmente absolute cinema, melhor obra já feita, obra prima, obra divina, nunca vi obra tão boa e tão bem feita
Muito obrigado pelo capítulo e pela tradução da obra tsundoku, tradução de extrema qualidade, agora vamo pros extras que são emocionantes também.
Fico bem triste pela reta final da obra, mas é necessário. Perfeito desenvolvimento dos personagens, acho que o Rudeus de todos os MC de isekai, é o mais normal e claro que o humano hipócrita como é, reclama do personagem. Lembro que comecei a ler a novel da pandemia e muita coisa aconteceu desde lá, mt tristeza e alegrias tbm, sempre vendo o pessoal animado aqui lendo, sinto até uma certa amizade com os comentários daqui, mts fico vendo desde sempre ksksks como se estivéssemos juntos lendo a obra. Vitória amigos, chegamos até o final e estou mt feliz por isso. Agora é esperar e curtir o anime que está aí firme e forte.