Quando voltei, Eris e os outros estavam indo bem. Haviam perdido os guerreiros Superd, além de Cliff e Elinalise não estarem lá ainda, mas as coisas haviam se estabilizado. Ghislaine corria pelo campo de batalha, praticamente de quatro. O ponto ideal para o golpe do Deus Lutador era no alto, ele era um cara alto, então ela se mantinha perto do chão para evitar o alcance do vento que ele gerava com os punhos, atacando-o de frente, pelos lados e por trás para ajudar os outros. Ghislaine não tinha poder ofensivo suficiente, mas pela maneira como o Deus Lutador balançava os braços, ela estava claramente lhe causando problemas.
A presença de Sylphie também era um imenso diferencial. A situação exigia uma recuperação rápida, então sua magia de cura sem cântico era perfeita. Quando o Deus Lutador arremessava Zanoba ou Cliff, ela rapidamente aparecia ao lado deles e os colocava de pé em um instante. Sylphie estava fora de ação há muito tempo, então pensei que teria dificuldade para lidar com o esforço físico, mas estava fazendo sozinha o trabalho de cura que Cliff e eu juntos não conseguimos.
Acho que devo dar uma menção especial à Isolde: ela estava na frente dos outros, desviando todos os ataques do Deus Lutador contra ela e revidando com seus próprios golpes. Ela se movia com graça e precisão, sua técnica fazia os golpes violentos do Deus Lutador — qualquer um dos quais poderia ter sido letal — parecerem birras de uma criança.
Obviamente, ela não ia derrotá-lo assim. Não importa quantos golpes ela devolvesse ao Deus Lutador ou quantas vezes o cortasse nos braços ou nas pernas, ela não causava nenhum dano. Em uma batalha um contra um, ela poderia ter dado uma boa luta, mas nunca venceria, pois, em algum momento, se cansaria, e então seria o fim.
Contudo, quando se tratava de ganhar tempo até eu voltar, sua presença valia ouro.
— Desculpe pela demora! — gritei para Sylphie.
— Rudy… Todos, recuem! — Ao seu sinal, todos se afastaram do Deus Lutador.
— Ora, ora. Badigadi não tentou segui-los, nem sequer olhou para eles, seus olhos estavam fixos em mim.
Tínhamos aproximadamente o mesmo tamanho. A Armadura do Deus Lutador tinha cerca de dois metros e meio de altura e a minha Armadura Mágica tinha perto de três metros. Aqueles poucos centímetros significavam que eu era apenas um pouco mais alto, e como parei a cerca de dez metros dele, ainda não foi o suficiente para olhá-lo de cima.
— Essa deve ser a Armadura Mágica que minha querida irmã concedeu ao Deus Dragão em reconhecimento ao seu valor!
— Hum… — falei com hesitação. — Você viu a Versão Um na cidade portuária, certo?
— Eu vi?
— Sim, só que naquela vez você a esmagou em um único golpe.
Pensei naquele único golpe, eu tinha recebido o impacto total porque superestimei minhas defesas, mas ainda assim, era incrível que Eris e Ruijerd estivessem vivos depois de receber golpes como aquele. Devia ser a diferença que a aura de batalha fazia na força defensiva… embora, nesse caso, eu tivesse que me preocupar com Cliff. Ele não havia recebido um soco direto, mas não era como se ele pudesse se envolver na proteção de uma aura de batalha se isso acontecesse.
— Você disse “Versão Um”. Posso entender que essa armadura é diferente?
— Isso é algo que você descobrirá — falei, olhando ao redor. Os outros estavam de pé, observando-me de longe. Embora houvesse uma distância considerável entre nós, eles ainda poderiam ser pegos no fogo cruzado.
Ah, certo. Sylphie estava cuidando dos feridos restantes.
Confiarei nela e em Cliff por enquanto.
— Vamos começar o show?
A batalha começou.
Meu Canhão de Pedra foi o ponto de partida para o início da luta, recuei, disparando Canhões de Pedra com Badigadi logo atrás de mim. Estava seguindo o mesmo padrão da minha luta contra Orsted: recuar e disparar Canhões de Pedra indiscriminadamente. Honestamente, pensei que seria difícil fazer isso, mas o grande volume da Versão Zero se movia como um sonho quando eu alimentava a Lâmina do Rei Dragão com mana. Era isso que a manipulação da gravidade significava, hein? Senti que poderia fazer qualquer coisa com a espada na mão, mas, como não treinei com ela, me contentaria agora em só me tornar mais leve.
— Fwahahahaha! Já tive picadas de mosquito piores! — O Deus Lutador veio atrás de mim, partindo árvores e abrindo buracos no chão, era evidente que meus ataques não estavam fazendo muito. Mesmo à curta distância, o Deus Lutador não se preocupava em desviar ou defletir os Canhões de Pedra, que penetravam direto nele e depois saíam de suas costas, de modo que não havia sofrido nenhum dano, ou pelo menos, era o que parecia. Orsted havia dito que o Canhão de Pedra poderia funcionar, mas não estava fazendo nada.
— Está fugindo, é? — Badigadi gritou para mim.
Eu tinha outras coisas em mente. Depois de levá-lo até onde queria, mirei a espingarda em seus pés, deixando uma enorme cratera no chão sob seu próximo passo.
Badigadi tropeçou. Por uma fração de segundo, ele perdeu o equilíbrio. Foi quando me aproximei.
— Guh?!
Esvaziei a metralhadora, depois ataquei com a espada grudada nas costas da minha mão direita. Ela cortou a armadura como uma faca quente na manteiga, expondo a carne negra.
— Disparo da Espingarda! — gritei, e então disparei. A explosão fez o braço de Badigadi voar para longe.
— Fwahahaha! Hora da vingança!
Eu havia levado quatro golpes. A Armadura Mágica tremeu por completo com cada impacto e deslizei cerca de dez metros para trás.
Entretanto, estava bem, consegui resistir a um golpe direto.
— Oof! — Imediatamente, virei e fui buscar o braço de Badigadi, que pulsava dentro da manopla dourada, em seguida joguei-o fora.
— Fwahahaha! Inútil, isso tudo é inútil! — O braço de Badigadi voltou a crescer, saindo direto do ombro… como uma certa raça de alienígenas verdes. — Hmph.
Ah, mas não foi inútil. Seu novo braço estava descoberto, não estava coberto pela armadura.
— Oho! Então é assim que vamos jogar, hein? Boa jogada, garoto!
Agora, no chão onde eu havia jogado o braço, havia um círculo mágico pronto para funcionar. O braço e a armadura estavam lá e não começaram a se regenerar. Talvez fosse minha imaginação, mas Badigadi parecia ter encolhido.
Não havia pensado nisso, apenas achei que funcionaria.
O poder da Armadura do Deus Lutador tornava Badigadi mais rápido e mais forte, mas ele não era muito mais rápido do que os mestres espadachins que já enfrentei. Orsted podia superá-lo, e talvez Alec também. Ele tinha velocidade superior à minha em meu estado normal, mas eu estava usando a Armadura Mágica; ele não era tão rápido a ponto de eu não conseguir lidar, assim estava aproveitando bem a experiência que adquiri treinando com Orsted e Eris.
O que estava me frustrando era sua defesa extremamente forte e sua durabilidade. A Armadura do Deus Lutador era resistente, talvez fosse mais do que a Armadura Mágica, pelo menos o suficiente para que Eris e os outros pudessem arranhá-la se atacassem com toda a força, mas não tinham chance de cortar sua cabeça ou membros. A armadura se restaurava instantaneamente e continuava lutando como se nada tivesse acontecido. Normalmente, a pessoa dentro da armadura continuaria sofrendo danos… mas o Rei Demônio Imortal Badigadi não podia morrer.
Os danos causados pela espada de Eris e pela lança de Ruijerd deveriam ter penetrado na armadura, mas não faziam nada contra Badigadi. Independentemente de cortarem, esfaquearem ou perfurarem, ele se curava no mesmo instante. Logo, os atacantes ficariam cansados e seriam facilmente derrotados pelo poder destrutivo daqueles seis braços.
Como iríamos derrotá-lo? Atofe me deu uma dica. A figura da Rei Demônio Imortal Atofe, que se levantava novamente para enfrentar seus inimigos, não importando quantas vezes fosse derrubada, era um símbolo de medo para todos os reis demônios do Continente Demônio. Havia duas maneiras de derrotá-la: A primeira era cortar todos os seus membros e selá-los para não regenerarem, era o método mais convencional. Ela já havia sido derrotada duas vezes dessa forma no passado. Seria necessário um feitiço de barreira extremamente poderoso para mantê-la selada por séculos, mas simplesmente cercá-la com barreiras mágicas de nível avançado impediria que ela se recompusesse.
A segunda maneira era fazê-la admitir a derrota. A Rei Demônio Imortal Atofe tinha suas próprias regras pelas quais geralmente lutava e, quando via que havia perdido por essas regras, pedia rendição. Infelizmente, eu não via Badigadi desistindo tão facilmente, logo decidi que seguiríamos o primeiro método.
Pedi a Cliff que preparasse círculos mágicos de barreira por toda a floresta com antecedência, seriam ativados quando eu jogasse um dos membros de Badigadi neles. Fiquei preocupado que não funcionassem com a Armadura do Deus Lutador, mas isso não foi um problema. Meu plano era usar esta espada que anula defesas para cortar a armadura, arrancar seus braços e selá-los. Quando tivesse acabado com todos os seis braços, faria Badigadi admitir a derrota. O que realmente queria era selar seu corpo inteiro… mas sem Cliff, não poderia usar aquele Círculo Mágico.
— Gaaaah! — gritei, avançando. Não me importava mais em causar danos, não sabia quanto tempo mais a Versão Zero continuaria funcionando em plena potência. Talvez a Lâmina do Rei Dragão tivesse estendido seu tempo de operação um pouco, mas ainda poderia desligar a qualquer momento. Eu precisava manter essa batalha curta e decisiva.
— Venha, então, campeão! — O Deus Lutador abriu os braços enquanto eu me aproximava, balançando o punho em minha direção. Eu empunhei minha espada em resposta ao punho que se aproximava, visando contra-atacar. A agilidade daqueles seis braços era impressionante, mas depois da última batalha, eu meio que sabia o que esperar. Hoje, estava preparado.
Conseguia desviar deles.
Cortei o braço inferior esquerdo, enfiando o cano da espingarda no corte enquanto fazia isso. Disparei e o braço foi arrancado, mas infelizmente não consegui evitar de me expor por uma fração de segundo. Assim que o braço foi arrancado, um outro punho me atingiu, lançando-me para trás.
— Ngh!
Uma rachadura dividiu a frente da Armadura Mágica. No final, ela não conseguiu resistir aos punhos do Deus Lutador. Ainda assim, eu podia ignorar os braços que não tinham armas.
Faltavam quatro, minha armadura só precisava durar até eu arrancar todos os braços.
Então, algo chamou minha atenção: a barreira.
Em nosso último confronto, as consequências da batalha haviam arranhado o círculo mágico do chão. Isso aconteceu tão facilmente que não consegui acreditar que não tinha previsto isso. Alguns círculos mágicos ainda estavam lá, mas eu não sabia quantos ou onde estavam.
— Maldição! — gritei, então rapidamente joguei o braço o mais longe que pude, lançando-o na Ravina dos Dragões da Terra. Levou um tempo para que Atofe se recuperasse depois de ter sido cortada em pedaços. Colocando uma distância entre Badigadi e seus membros decepados, ele não seria capaz de restaurá-los imediatamente. Eles voltariam eventualmente… mas eu precisava fazer com que esse atraso na regeneração valesse a pena.
Hm? Por algum motivo, a armadura não estava se regenerando. Será que ela se tornava inoperante quando separada do usuário, mesmo se não estivesse selada? Será que os longos anos de desuso fizeram com que a Armadura do Deus Lutador perdesse parte de seu desempenho? Se fosse o caso, era uma péssima desculpa para regeneração.
Ou isso tudo era uma farsa de Badigadi?
Não importa, agora não era hora de preocupações sem sentido. Sua falha em se regenerar era uma oportunidade única, o que deveria pensar agora era em cortar os outros braços.
— Grr… — Badigadi resmungou, mas nenhum novo braço brotou do toco. Em vez disso, o braço que ele havia regenerado anteriormente se retraiu na armadura como uma tartaruga entrando em sua concha.
— Eh?!
O que estava acontecendo?
Em um segundo, dois dos quatro braços restantes desapareceram dentro do corpo da armadura, com manoplas e tudo. Então, os dois últimos braços cresceram mais grossos. Ouviu-se um ruído metálico estridente enquanto eles aumentavam a espessura.
Certo, os dois últimos braços agora estavam maiores, mas seriam mais difíceis de cortar? Não, eu conseguiria, esta espada era mais eficaz contra alvos mais resistentes. O Deus Lutador poderia fortalecer seus braços e reforçar suas defesas o quanto quisesse, que isso não faria diferença.
Tomando uma decisão em uma fração de segundo, impulsionei-me e ataquei o Deus Lutador. Um alarme tocava em minha mente, mas o ignorei. Não importava o que Badigadi fizesse agora, eu já havia jogado minha carta na mesa, minha mana estava se esgotando a cada momento que passava. Se não atacasse, não venceria.
— Gaaaah! — gritei. Gritar ajudava a gerar poder. Suprimi meu medo e incerteza mostrando um pouco de coragem em meu rosto. Era a coragem que precisava para me lançar ainda mais adiante, permiti-me avançar como Eris em direção à vitória.
Colidi com o Deus Lutador. Embora tivesse absorvido o impacto, o fez cambalear. Soquei com meu punho direito que penetrou em seu braço esquerdo e saiu pelo outro lado. Então, empurrei com o esquerdo, enfiando a espingarda no corte.
— Disparo da Espingarda! — gritei, e o braço de Badigadi, coberto pela Armadura do Deus Lutador, voou. No entanto, também fui lançado para trás. Badigadi havia me acertado com seu único braço restante. A superfície frontal da minha armadura estava estilhaçada, e o impacto havia penetrado, senti como se meu corpo fosse ser esmagado quando caí para trás.
— Hurgh… rghh… — O sangue subiu pela minha garganta. Meu coração gritava: “Ainda não!” Mas não adiantava, ele me superou, não vi isso chegando. Ele fundiu seus braços para tornar seus ataques mais fortes. Perder um braço e ganhar a guerra, por assim dizer. Ele havia cravado seu punho na fenda da Armadura Mágica com precisão e a despedaçou. Por que não pensei nisso quando vi seus braços ficarem mais grossos? Fui idiota?
Não, você foi bem, é isso mesmo. Mesmo se tivesse percebido, ainda teria feito a mesma coisa.
Avancei sem pensar e acabei cortando um braço.
Recebi danos pesados… mas ainda não havia terminado, ainda havia um braço.
Então, para meu choque, percebi que não estava me movendo. A Armadura Mágica parecia pesada e meus ferimentos não estavam se curando. Bem ao lado de onde meu corpo estava na Armadura Mágica, havia uma parte que era basicamente o núcleo dela. Se aquela parte fosse danificada, a armadura perderia mobilidade. Não pararia completamente de se mover, claro, não era uma máquina tão simples. Contudo ficaria bastante limitada e isso seria fatal em uma batalha como esta.
Em pânico, canalizei mana. Certo, eu ainda tinha mana, ainda podia me mover, não estava completamente esgotado. Eu podia lutar. Então, por que não estava me movendo?
— Um bom plano e que grande espírito… — Enquanto eu estava lá, incapaz de me mexer, Badigadi se aproximou. — Você me deu uma boa luta. Adeus, Rudeus. Nem Laplace sonharia com um esquema tão elaborado assim.
Ele levantou seu punho, semelhante a um canhão, acima da cabeça, pronto para desferir o golpe final.
— Guh! — Badigadi grunhiu quando algo vermelho colidiu com ele de lado. Seja lá o que fosse, cortou seu braço, arrancando-o do ombro e fazendo-o voar pelo ar.
— Grr!
Só havia uma coisa vermelha nesta floresta: Eris. Será que… ela me seguiu? Ela esteve ao meu lado esse tempo todo?
Não tinha como saber, nenhuma outra ajuda chegou, Eris havia investido sozinha. Um momento depois, percebi algo errado, algo na espada dela. A espada de Eris estava quebrada, a famosa Espada Fênix Dragão havia se partido na empunhadura. Claro, até agora, qualquer dano que havíamos causado à parte externa da armadura não era o suficiente para cortar os braços de Badigadi. Ela forçou sua espada a cortar direto através da armadura, qualquer espada quebraria.
— Gyaaaah! — Mesmo com a espada quebrada, Eris se recusou a parar. Enfrentou o Deus Lutador como se nem tivesse percebido, gritando o tempo todo. Olhando ao redor, vi que ela não estava sozinha. Saindo da floresta, um após o outro, vieram Sylphie, Ruijerd, Ghislaine e Isolde. Todavia, foram lentos demais.
— Somente um tolo ousaria ficar no meu caminho sozinho! — Badigadi disse, avançando sobre Eris. Não havia ninguém para protegê-la. Sem hesitar, ativei os circuitos de fuga e me ejetei da Armadura Mágica, pois presa nas costas dela havia uma espada.
No momento em que segurei o cabo, uma sensação de poder absoluto e ilimitado percorreu meu corpo. A espada continha um volume colossal de mana. Era uma espada forjada especificamente para transformar uma pessoa em um herói. Eu despejei ainda mais mana nela, tentando extrair até a última gota que me restava.
Eu duvidava que conseguisse usá-la sozinho, mas um membro da minha família estava na minha frente, empunhando uma espada quebrada, rosnando com os dentes à mostra, tudo para me proteger.
Eu joguei a espada para ela.
— Eris! — A espada mágica voou em uma curva suave pelo ar até onde Eris se virou e a pegou.
Era a Lâmina do Rei Dragão Kajukut, conhecida por ser a espada mais poderosa do mundo e a maior das espadas mágicas forjadas pelo grande ferreiro de espadas demoníacas Julian Harisco.
Eris a levantou acima da cabeça.
— Gyaaaaaah!
— Hrm? Não pode ser…!
Ela abaixou a lâmina. No instante antes de fazer contato, o corpo do Deus Lutador flutuou no ar.
A lâmina cortou-o com um flash de luz que cegou minha visão e a explosão que se seguiu estourou meus tímpanos.
Estávamos à mercê de uma força esmagadora.
A destruição floresceu.
Não houve nenhuma onda de choque, nem explosão, apenas silêncio. A destruição foi toda direcionada para dentro. Toda a mana canalizada na lâmina se tornou uma esfera que envolveu Badigadi. A espada não liberou apenas a força de Eris, mas toda a mana que eu havia colocado nela.
Olhei para dentro da esfera de mana enquanto ela destruía tudo o que estava dentro e se elevava lentamente no ar. Vi rachaduras aparecerem na Armadura do Deus Lutador, que se partiu em pedaços. Badigadi foi comprimido dentro da massa de energia e, em seguida, desapareceu em pó sem sequer murmurar.
Acho que ele lutou, mas não havia nada que pudesse fazer. A Armadura do Deus Lutador não funcionava e Badigadi foi esmagado enquanto tentava se regenerar.
A esfera desapareceu, os restos quebrados da armadura caíram na Ravina do Dragão da Terra. Houve alguns estrondos e estalos enquanto caíam, quicando pelas paredes do penhasco, enquanto a Lâmina do Rei Dragão, ainda cravada no metal, foi com eles.
Tudo o que restou foi a armadura, todos os vestígios da carne negra de Badigadi haviam desaparecido.
Por um bom tempo, fiquei parado, observando. Olhei tanto para o agora silencioso abismo quanto para a Armadura do Deus Lutador, que desde então havia desaparecido de vista. O braço de Badigadi estava por perto. Não se mexeu nem sequer se contraiu. Definitivamente, não parecia que estava prestes a começar a regenerar. Será que estava morto? Ganhamos ou algo mais estava por vir? A qualquer momento, esperei ouvir um Fwahaha! enquanto Badigadi retornava.
Olhei para o abismo me perguntando, mas nada aconteceu. Não vi nenhum sinal de algo voltando à superfície, tudo o que restou era o silêncio.
Ouvi um baque atrás de mim e me virei. Eris havia caído de joelhos, seu rosto estava pálido. Corri até ela, estava ferida? Badigadi conseguiu dar um contra-ataque? Estendi a mão, pensando que precisava curá-la imediatamente, mas então eu também caí de joelhos.
— Ohh… — Não era um ferimento. Eu reconheci essa sensação, assim como a expressão no rosto de Eris, era drenagem de mana. Sugar toda a minha mana não havia sido suficiente para saciar a Lâmina do Rei Dragão Kajukut. Ela também consumiu a mana de Eris, que provavelmente não experimentava a drenagem de mana desde a infância, fazendo-a cair para trás, piscando.
— Eris.
— Rudeus… — Ela disse. — Seu cabelo ficou mais branco.
Eu coloquei a mão na cabeça, embora não pudesse perceber por mim mesmo, mas ao olhar para ela, vi uma mecha de seu cabelo também ficando branca, como se tivesse sido pintada.
— O seu também, Eris.
— Huh… Então acho que combinamos. — Ela disse, então tombou para a frente, mas não desmaiou. Estava apenas fraca após gastar toda a sua força, eu queria cair em cima dela, mas me contive firmemente.
— Rudy! — Sylphie estava olhando para nós, com preocupação em seus olhos. Ela não estava sozinha, Ruijerd, Ghislaine, Isolde… todos estavam aqui.
— Sylphie, onde está Cliff?!
— Hum, bem, outra pessoa curou seus ferimentos, então Zanoba e Dohga o carregaram de volta para a vila. Todos nós viemos aqui por você, mas eu hesitei… não queria atrapalhar… Então Eris correu sozinha, ahn? — Sylphie havia colocado a mão sobre o corpo caído de Eris e agora parecia confusa. Provavelmente conjurou um feitiço de cura por reflexo, mas Eris não estava ferida, então não se levantou.
— Acho que é drenagem de mana, aquela espada consome a mana de quem a empunha.
— Ah. Certo, entendi.
— De qualquer forma, Sylphie, pegue aqueles braços ali e leve-os a um círculo mágico intacto. Depois, leve Eris de volta para a vila. Preciso que você conte ao Senhor Orsted o que aconteceu e depois traga Cliff aqui.
Então me levantei. A Versão Zero estava em ruínas e minha mana estava praticamente esgotada… mas ainda conseguia me mover. Não sabia quanto tempo levaria para Badigadi se restaurar. Depois de ser esmagado por tanta mana, o modo como ele desapareceu parecia ter sido uma aniquilação total, no mínimo. Os braços não mostravam sinais de começar a se regenerar, então queria acreditar que tínhamos algum tempo. Talvez isso fosse ingênuo, puro desejo.
O mais importante, a Versão Zero estava destruída e a Versão Um também havia desaparecido. Eu estava à beira da drenagem de mana e Cliff, que poderia lançar magia de barreira, não estava aqui. Badigadi havia caído na ravina e não tínhamos como selá-lo. Se descermos até lá nesse estado e o encontrássemos nos esperando, nossas chances de vitória seriam praticamente inexistentes. Não haveria escolha a não ser pedir a Orsted para entrar em campo. Eu queria passar por isso sem que ele usasse mana, mas talvez não tivesse escolha.
Eu não era forte o suficiente.
Ainda assim, coloquei Badigadi em uma situação difícil, fiz tudo o que podia. Se ele estava vivo no fundo da ravina, eu não sabia, mas certamente causei o máximo de dano possível.
Eu me sentia enojado com a minha própria fraqueza.
— Ruijerd, Ghislaine, e você também, Isolde, venham comigo, por favor.
— Rudy? Para onde você está indo?
Eu pensei que havia feito tudo o que podia, mas ainda havia algo que precisava terminar, mesmo com minha mana quase esgotada, tinha de fazê-lo.
— Vou atrás de Geese.
Nós o encontramos imediatamente, sem nenhum esforço. Nem precisei usar o pouco da mana que ainda me restava, foi tão fácil. No momento em que cruzamos a ravina e entramos na floresta queimada pelas chamas, lá, na sombra projetada pelos restos carbonizados de uma grande árvore, encontramos Geese deitado no chão. Seu corpo inteiro estava queimado, enegrecido por terríveis queimaduras. Quando conjurei a magia de Explosão, ela queimou a floresta e ele junto.
Quando o vi pela primeira vez, pensei que estivesse morto, estava tão imóvel que parecia uma rocha negra. Contudo, felizmente, Ruijerd o encontrou primeiro e usou seu terceiro olho para investigar mais. Geese não estava morto.
— Geese — chamei.
— Oi, chefe.
Ele não estava morto, mas estava claro que logo estaria e eu não estava prestes a curá-lo. Estava lá para fazer o oposto… embora não quisesse acabar com ele imediatamente também.
— Heh heh. Magia de água, magia de terra, a Armadura Mágica… Pensei em maneiras de contrabalancear tudo isso, só para acabar assim. Não sabia que você tinha talento para magia de fogo também, chefe, nunca o vi usá-la.
Geese tinha vários itens com ele, usava um colete azul com uma faixa marrom ao redor da cintura e algo que parecia uma cota de malha. Era difícil de dizer agora, já que estavam praticamente queimados, mas eram presumivelmente, precauções contra todos os tipos de magia. Eu supus que não era o poder da Armadura do Deus Lutador que o havia permitido sobreviver ao feitiço Eletricidade na Terceira Cidade de Heirulil.
— E agora você está aqui, chefe, o que acho que deve significar que meu plano final fracassou… — As bochechas queimadas de Geese se contorceram. Seu plano final? Acho que depende se mandar Badigadi sozinho contava como “plano.”
— Se qualquer um deles, o Deus da Espada, o Deus do Norte, o Deus Ogro, o Rei Abissal… se houvesse só mais um, as coisas poderiam ter sido diferentes… Nenhum deles me ouviu, sabe.
— Bem, nenhum deles era muito bom em ouvir — respondi. Geese parecia meio delirante.
— Haha, olha quem fala. Eris, Atofe e aquela é Ghislaine que vejo ali? Você está cercado por gente que também não sabe ouvir.
— É, bem… acho que tive sorte.
— Não, não é isso. É porque você fez as coisas do jeito certo. Disse a eles o que estava acontecendo, ganhou a confiança deles e trabalhou duro para transformá-los em aliados de verdade. E é por isso que, quando chegou a hora, eles ouviram você e seguiram suas ordens corretamente.
Ele podia ter razão, Atofe e o Deus Ogro, com quem só me juntei porque tive que fazer isso na época, dificilmente me ouviram; Sándor e Dohga eram exceções, mas Ariel se encaixava no que ele disse. Se não tivesse conseguido construir confiança com todos, haveria mais que se recusariam a me ouvir.
— Acabei descobrindo que apenas distorcer as coisas para criar um motivo para lutar, reunir pessoas, atiçá-las e depois esgueirar-me para influenciá-las por trás das cortinas simplesmente não funciona…
Nem o Deus da Espada, nem o Deus do Norte haviam seguido as instruções de Geese. No final das contas, eles colocaram seus próprios interesses em primeiro lugar, foi por isso que eu ainda estava vivo.
— Eu pensei que sabia como as coisas eram, mas estava errado. Ainda assim, achei que conseguiria de alguma forma. Só que, no final, quem realmente não sabia de nada… não era eu. — Geese riu. — O Deus-Homem, sabe. Ele estava fazendo um verdadeiro escândalo há pouco tempo: “Por quê?! Por quê?! É tudo culpa sua! Seu macaco estúpido!” — Geese exibiu um sorriso despreocupado, zombando. — Quero dizer, o que ele esperava? Quem vai ajudar honestamente um desgraçado que engana e despreza aqueles que trabalham duro por ele?
— Então… isso quer dizer que você também sabotou o Deus-Homem, Geese?
— É isso o que você acha, né? Foi fácil para você? Eu dei tudo de mim, sabia?! — Geese tossiu e algo preto, como fuligem, escorreu de sua boca. — Veja, Badigadi e eu somos estranhamente corações moles. Quem mais ajudaria um cara que grita com seus aliados por serem inúteis mesmo agora? Só os molengas.
Aquela fuligem preta que víamos agora era como uma representação da alma de Geese, pude perceber que ele estava ficando mais fraco.
— A questão, chefe, é que mesmo depois de tudo isso, o Deus-Homem me salvou. Sim, ele fez algumas coisas horríveis comigo também, mas no final das contas, ele me salvou.
Quando eu não respondi, Geese continuou:
— Você não entenderia isso, né, chefe? Você pode fazer qualquer coisa, ir a qualquer lugar no mundo sozinho, você não entenderia como é quando você simplesmente não consegue fazer nada.
Eu entendia, ou pelo menos, achava que sim, sabia como era não ser capaz de fazer o que todos os outros podiam. Geese era… como eu. O eu de muito tempo atrás, mas havia uma diferença. Naquela época, eu nem sequer tentava. Quando encontrava uma parede, simplesmente fugia. Geese, por outro lado, realmente não tinha capacidade. Neste mundo dominado por monstros e violência, o poder mais importante era o de lutar e ele não tinha esse poder, assim aprendeu a fazer todo o resto, mas não conseguia sobreviver.
— Não, Geese, você está errado… — Eu podia dizer que ele estava errado, mas não muito mais do que isso, não conseguia dizer que entendia. Não queria dar a ele uma resposta, tudo o que podia fazer era negar.
— Heh. Ei, Rudeus. Se vai me dizer que estou errado, mostre algum orgulho nisso. Você venceu, sabia? Você me derrotou. O mundo diz que os vencedores estão certos e os perdedores estão errados. Então, fique firme e me diga: “Você está errado, Geese, não é assim que as coisas funcionam”. Depois você me dá um sermão, já que estou prestes a morrer: “Você deveria ter feito assim, deveria ter ficado comigo e nunca ter ido para o lado do Deus-Homem”, esse tipo de coisa.
Com isso, a força pareceu se esvair dele e ele disse, com o rosto vazio:
— Eu, Badigadi e o Rei Abissal somos peças fora do tabuleiro. O Deus-Homem não tem mais ninguém que vá ajudá-lo. Ele perdeu, não há mais ninguém neste mundo que possa mexer com Rudeus Greyrat. Na verdade, ele mesmo disse que se isso fosse um fracasso, não haveria nada que pudesse fazer contra você. Então, acho que ele vai se acalmar, pelo menos até você acabar com ele, mas pode apostar: Ele ainda vai ficar agindo pelas sombras, no entanto.
— Você está brincando, certo? — disse, sem pensar. Geese não sorriu.
— Se é assim que você quer pensar, não vou te impedir. Só estou supondo que ele vai se acalmar, nada mais. Continue agitando essa bandeira de “Abaixo o Deus-Homem!” se quiser. Será ruim para ele, mas não para você, né?
Eu também não estava rindo.
— Ei, qual é a dessa cara abatida agora? Você não é filho do Paul? Paul pareceria um pouco mais animado se estivesse por aqui. Talvez não logo antes de morrer, mas ele realmente envelheceu enquanto eu não estava olhando… De qualquer forma, tenha algum orgulho disso, já! Regozije-se um pouco, mesmo que não dure. Como você acha que me sinto quando você não faz isso? Faz de mim um verdadeiro idiota, depois de viajar pelo mundo todo tentando convencer o Deus da Espada, o Deus do Norte e o Deus Ogro a se juntarem a mim, e então animá-los com: “Vamos derrubá-lo!” apenas para tudo desmoronar.
“Tudo porque não consegui controlá-los. No final, arrisquei e enviei Badi. Veja onde isso me levou. Pelo menos lembre-se de mim como um adversário forte, ok? É assim que quero ser lembrado. — Antes que percebesse, Geese estava chorando, lágrimas escorriam por seu rosto manchado de fuligem. Quando vi aquilo, soube com certeza que ele não havia se contido.
— Certo, você foi forte, Geese. É verdade que estou de pé aqui agora, mas se apenas uma única coisa tivesse saído errado, tenho certeza de que nossos lugares estariam trocados, essa foi a luta mais difícil e brutal da minha vida.
— Heh… Heh heh. Obrigado, Rudeus.
Ele realmente foi forte, levou um ano para derrotá-lo. Por um ano inteiro, eu me preparei… sem mencionar tudo o que trouxe para a luta, que havia sido construído ao longo de um período muito mais longo. Ninguém poderia chamá-lo de fraco depois de tudo isso.
— Geese. — De repente, Ghislaine deu um passo à frente. Ela olhou para Geese, sua franja escondia seu rosto de modo que não consegui ler sua expressão.
— Ei, Ghislaine, faz tempo.
— Faz, sim.
— Estou indo embora.
— Sim. Diga olá para Paul por mim.
— Pode deixar… Talvez, quando for sua vez, possamos beber juntos. Quero ver Paul ficar bêbado de novo, enfiar o rosto no seu peito e deixar Zenith emburrada…
— Zenith não vai a lugar nenhum tão cedo. Minha hora provavelmente chegará primeiro.
— Heh, sim, eu sei… Enfim… até que todos… nos… encontremos… de nov…
Geese ficou imóvel. Assim, algo dentro dele desapareceu de repente, mesmo que ele não tivesse terminado de falar.
As orelhas de Ghislaine se contraíram, depois, seu rabo caiu:
— Ele está morto.
Morto. Geese estava morto.
Eu havia derrotado Geese, podia aceitar isso agora, mas como esperava, isso não me trouxe alegria. Estava ciente que estava em estado de choque. Havia uma sensação em ver alguém que eu conhecia morrer na minha frente que não conseguia processar. Ele era meu inimigo, e eu sabia que precisava derrubá-lo… mas não era como se odiasse Geese com cada fibra do meu ser. Se tivéssemos perdido a batalha e ele tivesse matado Eris ou alguém próximo a mim, eu poderia acabar odiando-o, poderia sentir que isso era justiça. Eu derrubei o desgraçado e me vinguei, esse tipo de coisa, mas…
Eu não conseguia lidar com isso, tudo o que sabia era que eu conseguia refletir de maneira fria porque não havia perdido uma única pessoa importante para mim durante a batalha. Eu havia cumprido minhas condições de vitória. Exterminei os apóstolos e mantive Orsted em reserva. Foi uma luta difícil e houve erros, mas apesar disso, foi uma vitória perfeita, algo raro para mim. Pode ser que estivesse tentando usar a morte de Geese para estragar um pouco isso. Talvez uma parte de mim pensasse que, se eu tivesse sido mais esperto, Geese poderia ter voltado para o meu lado.
Pensar nisso não fazia bem. No mínimo, eu poderia levar seus ossos para casa e fazer uma sepultura para ele ao lado da de Paul. Isso seria bom. Ele havia dito algo sobre estarem juntos.
Esses eram os pensamentos que passavam pela minha cabeça enquanto eu observava o corpo de Geese queimar. Ghislaine observava atentamente o processo de cremação. Talvez fosse apenas minha imaginação, mas quando terminou e recuperamos os ossos, as orelhas e o rabo dela pareciam murchos.
— Vamos para casa.
— Sim.
Cruzamos a ravina.
Deixando tudo de lado, estava realmente acabado desta vez. Eu estava exausto, quase não me restava mana; estava fisicamente esgotado. Se me deitasse, desmaiaria imediatamente. Não que pudesse me dar ao luxo de dormir até que Badigadi fosse selado…
De qualquer forma, estava ansioso para voltar à Sharia. Queria dormir uma boa noite de sono na minha própria cama e depois acordar para comer. Eu teria arroz no café da manhã… Sim, aqui no Reino Biheiril, eles tinham molho de soja. Eu poderia fazer uma tigela perfeita de tamagokake gohan. Quando voltasse, comeria até explodir. Então, é claro, seria hora de algumas travessuras. Rudeus, o Celibatário, havia morrido junto com Geese. Sylphie… ou Roxy… ou Eris… quem escolher? Esquece isso, por que não todas de uma vez? Eris não gostaria, mas certamente não faria mal pedir a ela só desta vez. Chances como essa não surgem todos os dias, certo? Certo.
O pós-morte desta batalha poderia esperar até mais tarde. Por enquanto, eu esqueceria o que Geese havia dito. Agora, era hora de descansar, estava exausto.
— Rudeus. — Enquanto caminhava, arrastando-me a cada passo, ouvi uma voz atrás de mim. Era Ruijerd. Ele estava caminhando na parte de trás do nosso grupo e havia se virado para olhar para trás, de volta à ravina.
— O que foi?
— Um inimigo.
— O quê?
Havia uma mão agarrada à borda da ravina, uma mão. Algo estava subindo da ravina, mas o quê? Não importa, não tinha sentido gastar saliva com isso. A mão brilhava e usava uma manopla dourada.
— Você só pode estar brincando.
Era Badigadi.
Certamente era cedo demais, não era? Pensando bem, eu havia jogado alguns dos braços dele na ravina, depois seu corpo, que parecia praticamente aniquilado, mas podia haver alguns pedaços maiores aqui e ali… talvez, ao juntar os pedaços que restavam, por menores que fossem, ele conseguiu acelerar sua regeneração. Os reis demônios imortais eram tão imortais assim?
Enquanto estávamos paralisados, a armadura se ergueu da ravina. Só que agora ela parecia diferente. Tinha apenas dois braços, como estava quando eu o derrotei, mas o design geral havia mudado. O capacete tinha um formato diferente e ela estava mais baixa, com menos de dois metros de altura. Também estava segurando uma espada, uma enorme espada, a maior do mundo, forjada a partir do Rei Dragão.
Não, não é ele. Não é Badigadi.
— Não importa o quão desesperado ele se torne, um herói sempre se ergue novamente e vira o jogo. Foi isso que alcancei!
Essa voz. O jeito que disse “herói”. Não havia como confundir aquele tom.
— Eu sou Kalman III, o Deus do Norte, Alexander Rybak!
Ele estava vivo. Huh! Eu realmente pensei que ele estava morto. Seu corpo nem se mexeu quando o joguei lá embaixo e, ainda assim, aqui estava ele. Ele havia sobrevivido.
Ah, claro. Ele também tinha sangue de demônio imortal. Dado o tempo, ele poderia se regenerar como Badigadi.
Exceto que… não. Um arrepio percorreu minha espinha quando tudo se encaixou. Este era o “plano final” que Geese havia falado. Será que isso foi planejado desde o início? Ou ele mudou de tática no meio do caminho? Achei que havia algo errado. Achei estranho quando a armadura não se regenerou. Ele deliberadamente impediu que ela se regenerasse. Então, Alec a vestiu no fundo da ravina e se restaurou. Talvez ontem, quando Geese estava fingindo estar morto, estava se preparando para deixar a Armadura do Deus Lutador e parte de Badigadi na ravina para ressuscitar Alec…
Droga! Ainda havia mais o que fazer. Havia outra batalha que eu tinha que lutar, estava farto disso. Isso não podia acabar? Tipo, me dê uma folga! Um oponente que eu já venci uma vez voltando para uma segunda rodada?
Talvez fosse culpa minha, não garanti que Alec estava morto. Apenas o derrotei e pensei que isso significaria que o tinha finalizado de vez, só para deixá-lo lá. Eu poderia tê-lo queimado, pelo menos! Mas não, eu o deixei, e agora estamos aqui. O que mais eu poderia ter feito naquela situação, porém? O que mais eu poderia ter dado além do que já dei?
Bem… seja como for, o que estava feito, estava feito. O que faria agora? A Versão Zero havia desaparecido e não tinha um plano B. Ghislaine, Isolde, Ruijerd e eu permanecemos, comigo à beira da drenagem de mana. Estava sem arma e sem armadura, de mãos nuas. Não tinha esperança de vencer.
O que deveria fazer? Como deveria derrotar Kalman III, o Deus do Norte, usando a Armadura do Deus Lutador?
Era hora de pedir a Orsted para intervir? Como se fosse possível. De que serviu tudo isso?
Eu tinha que pelo menos enfraquecê-lo… mas como?
Enquanto o encarava perplexo, Alec olhou de volta para mim. Ele não parecia nem um pouco surpreso por eu estar ali, era como se soubesse que eu estaria esperando por ele.
— Rudeus Greyrat… — Ele disse. — Peço desculpas por tê-lo chamado de inútil, você é um guerreiro formidável. Eu não teria pensado nisso dado sua aparência, mas você é um adversário digno. Graças a você, ascendi a um novo nível de poder. Você tem a minha gratidão.
Virei meu corpo exausto em direção à armadura dourada. Se corresse, ele só me alcançaria. Eu não tinha forças nem para ganhar tempo, mas iria lutar até o fim, lutaria com tudo o que me restava. Focando apenas nesse pensamento, dei um passo à frente.
— Ah? — Estava caído no chão.
— Agora sou invencível — disse Alec. Foi ao ver os outros três caídos ao meu redor, Ruijerd, Ghislaine e Isolde, que percebi que Alec havia derrubado todos nós. Ele nos jogou no chão com um único golpe.
— Este é o meu agradecimento por me fazer mais forte, Rudeus: vou deixar você viver.
A dor lancinante atravessou meu corpo, minhas pernas estavam quebradas, ele era rápido demais, não vi isso chegando. Não havia ativado o Olho da Previsão, mas mesmo que tivesse, não teria feito diferença. Nem eu nem os outros três conseguimos reagir. Talvez esse fosse o verdadeiro poder da Armadura do Deus Lutador. Talvez quando o portador era mais forte, a armadura ampliava essa força… Talvez não, com certeza era exatamente isso. Badigadi também era incrivelmente forte, mas a questão era que a armadura ajustava seu desempenho de acordo com o portador. Ela moldava sua forma para se adequar ao usuário… realmente, era a armadura suprema.
— Adeus — disse Alec, afastando-se.
Não havia tempo para ficar chocado, imediatamente lancei um feitiço de cura nos outros três que estavam inconscientes, próximos da morte, mas ainda vivos. Isso era o que Alec chamava de misericórdia? Maldito seja! Ele ainda não me levava a sério. Contudo, pensando bem, isso não era tão ruim. Após curá-los, conjurei uma “Fortaleza de Terra” para protegê-los e fui atrás de Alec. Eu não tinha um plano claro quando o alcançasse. Sylphie já havia chegado à vila? O que Orsted faria? Eu não tinha respostas, mas Alec estava indo em direção a pessoas que eu precisava proteger. Eris, Sylphie, Norn e todos os Superd; não podia permitir que fossem massacrados, não tinha escolha a não ser persegui-lo.
Minhas pernas tremiam, recusando-se a cooperar, mas ainda assim, consegui correr. Continuei, seguindo a armadura dourada.
A vila Superd estava quieta demais, tão silenciosa que, ao chegar, perguntei-me se tudo já havia acabado.
— Por quê?! Por que não há ninguém aqui?! — rugiu Alec. Atravessei o portão de paliçada e entrei na vila, encontrando-a vazia. Os Superd haviam desaparecido, assim como Julie, Aisha, Cliff e os outros que foram trazidos para cá devido aos ferimentos. Até Sylphie, que deveria ter entregue minha mensagem a Orsted, havia sumido, além de Eris. Não havia sinal de ninguém, todos haviam desaparecido, como se tivessem evaporado.
— Como pode ser?! Não era isso que Rudeus estava defendendo?! — exclamou Alec.
Sim, eu estava defendendo este lugar.
Algo estava errado, quando saí, todos estavam aqui. Quanto tempo havia passado? Foram cerca de três horas até a ravina e eu usei a Versão Zero para chegar lá em uma hora. Depois, lutamos contra Badigadi, procuramos por Geese e voltamos… cinco ou seis horas, talvez? Ainda assim, todos estavam aqui antes. Eu estava com tanta pressa que não prestei muita atenção, mas tenho certeza de que todos estavam na vila.
Exceto… espera. Havia pessoas demais aqui? Algumas pessoas que não deveriam estar?
— Maldição… Você me enganou completamente… — Alec se virou, sua fúria emanando em ondas. — Rudeus Greyrat!
Você está enganado, eu não sei mais do que você.
Por que teria perseguido um oponente tão perigoso se Orsted não estivesse aqui? Seria pura idiotice. Eu teria fugido para a floresta, contando com a sorte de ele me deixar viver.
— Orsted e os Superd nunca estiveram aqui, estiveram?
— Hm, não, os Superd estavam… Você viu Ruijerd antes, não viu? — Sentindo que ele poderia atacar a qualquer momento, recuei. Não tinha ideia do que estava acontecendo. Talvez fosse um pesadelo, talvez o Rei Abissal tivesse sobrevivido e tudo, desde a luta contra Badigadi, fosse apenas um sonho.
— Eu estava planejando deixá-lo viver, mas não mais. Se está tão desesperado para me enfrentar até o fim, concederei seu desejo…
Droga! O que está acontecendo? Eu tinha que fugir, não havia razão para lutar, precisava correr. Estava prestes a me virar quando senti um frio percorrer minha espinha.
Meus pés pararam de se mover. Alec fez algo? Não, não era isso, ele também estava paralisado.
— Q-q-que frio é esse? — Ele soava assustado, olhando ao redor freneticamente. Mesmo vestindo a Armadura do Deus Lutador, ele estava com medo.
Por quê?
Ah, claro. Era uma maldição, uma que inspirava medo, não funcionava em mim, mas ainda podia sentir a fúria assassina que ela carregava e que estava ligada a um trauma profundo. Isso me assustava.
Aquela fúria assassina tomou forma à medida que se aproximava da parte de trás da vila: cabelos prateados e olhos terríveis, o branco brilhando sob o dourado de suas pupilas. Ele caminhava lentamente em nossa direção, com uma expressão aterrorizante no rosto.
— Rudeus.
— Senhor Orsted… por quê…?
Era Orsted. Ele segurava um capacete em uma das mãos e o jogou para mim. Apressei-me em pegá-lo.
— Quando Sylphiette me informou sobre o que havia acontecido, Cliff Grimoire já estava à beira da drenagem de mana. Vi que ele não seria capaz de selar Badigadi e a Armadura do Deus Lutador, então fui pedir ajuda a outra pessoa, por isso o atraso. Perdoe-me.
Não, não era isso que eu queria perguntar. O que aconteceu com todos?
— Isso… isso eu não previ — disse Orsted. Então olhou para Alec, o Kalman III, Deus do Norte, parado ali na Armadura do Deus Lutador. — Deixe o resto comigo.
Ele deu um passo à frente, e Alec deu um passo para trás, assustado. Eu não tinha ideia do que estava acontecendo, apenas chamei por Orsted.
— Mas, Senhor Orsted, sua mana…
— Chega, já houve o suficiente disso! — disse Orsted, balançando a cabeça. — Eu também tomei uma decisão.
— Uma decisão…? Sobre o quê?
Orsted olhou para mim, sua boca se curvou no mais fino dos sorrisos, antes de assumir uma expressão de determinação quase imperceptível. Com a expressão mais aterrorizante do mundo, ele disse:
— Quero ver por mim mesmo como é lutar ao lado de amigos de confiança.
Eu não havia entendido muito bem, mas suas palavras me tocaram. Entendi que ele estava decidido a participar desta batalha.
— Certo — falei, por fim. — Então deixo o restante com você.
Não havia mais o que dizer, eu deveria estar pensando que não podia deixar Orsted lutar, mas em vez disso, um pequeno sorriso surgiu no meu rosto. Ele me considerava não apenas um aliado, mas um amigo. Agora eu sabia que não podíamos perder. O que pensava ser um fracasso transformou-se em algo mais.
— Agora, então, Kalman III, Deus do Norte, Alexander Rybak — disse Orsted.
— Então é você… Você é o Deus Dragão Orsted. — Quando Orsted o chamou pelo nome, Alec levantou a Lâmina do Rei Dragão Kajukut. Estava usando tanto a Armadura do Deus Lutador quanto a Lâmina do Rei Dragão, uma combinação devastadoramente poderosa.
— Perfeito — disse Orsted, sorrindo com confiança. — Com a armadura e a espada suprema, não haverá desculpas quando você perder, certo?
— Você está zombando de mim?! — rugiu Alec, cheio de ódio.
— Não — respondeu Orsted calmamente.
Então, da palma de sua mão esquerda, surgiu uma espada. Era a “Espada Dragão”, uma arma que consumia uma quantidade massiva de mana, eu só havia visto aquela espada uma vez antes.
— Meu único desejo é derrubá-lo completamente e destruí-lo.
Orsted ergueu a espada, apontando-a diretamente para os olhos de Alec.
Alec estava furioso, o ar ao seu redor vibrava com sua sede de sangue direcionada a Orsted. Com isso, ele ergueu a Lâmina do Rei Dragão:
— Tente, então! — gritou.
O Deus Dragão Orsted enfrentava o Deus do Norte, Alexander, agora vestindo a Armadura do Deus Lutador. A verdadeira batalha final havia começado.
Cerca de dez minutos depois, aproximadamente um quarto da floresta ao redor da ravina dos Dragões da Terra havia desaparecido. Em meio àquela terra queimada e árida, espalhada com pilhas de árvores partidas, havia um garoto ajoelhado, sem ambos os braços e uma espada estava pressionada contra sua garganta. Ele olhava para o portador da espada, atônito. Um homem de cabelos prateados e olhos penetrantes o observava. Ele não tinha um arranhão sequer. Olhando para ele, em pé, ileso, você pensaria que nenhuma batalha havia acontecido, a única pista era um leve respingo de sujeira em suas roupas.
— Escolha: torne-se meu seguidor ou morra.
O Deus Dragão contra o Deus do Norte, usando a Armadura do Deus Lutador.
Esse confronto poderia ter sido uma batalha verdadeiramente lendária. Um par de oponentes desse calibre poderia ter entrado para a história para sempre. Infelizmente, a batalha real não foi nada grandiosa, foi devastadoramente unilateral para isso. Honestamente? É difícil colocar em palavras. Assisti, envolvido na confusão, quase morrendo enquanto isso, mas eles se moviam tão rápido que mal conseguia ver qualquer coisa.
Mesmo com o Olho da Previsão, não conseguia entender o que qualquer um deles estava fazendo. A única coisa que vi com clareza foi que Orsted sempre esteve no controle. Percebi que toda vez que Alec tentava virar o jogo, Orsted o esmagava em completa submissão, Alec estava totalmente dominado, mesmo com a Armadura do Deus Lutador e a Lâmina do Rei Dragão, e não conseguiu tocar em sequer um fio de cabelo de Orsted.
A armadura havia sido despedaçada. Seus pedaços agora começavam a se regenerar, mas haviam se soltado do corpo de Alec; a Lâmina do Rei Dragão estava no chão, nas proximidades, junto com o braço dele.
Alec já havia perdido toda a vontade de lutar, olhava para Orsted com o medo estampado no rosto. Lágrimas escorriam de seus olhos derrotados e sua boca estava entreaberta. O garoto que havia se gabado de se tornar um herói desaparecera, em seu lugar, havia um cachorrinho, choramingando, completamente derrotado.
Após um longo silêncio, ele finalmente falou:
— Eu me tornarei seu seguidor.
E desta vez, a batalha realmente havia terminado.
Tradução: Laplace
Revisão: NERO_SL
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So tenho uma coisa a dizer
Que ponto de virada meus amigos
caralho que foda
isso é cinema apenas.
Que batalha incrível!! Só queria mais descrição sobre a luta de Orsted com o Alec...
Ah um pequeno erro de tradução (eu acho) no segundo parágrafo quando diz que Deus Lutador arremessava Zanoba ou Cliff, sendo que deveria ser Zanoba ou Dohga né não?
Realmente os pontos de virada são excelentes, muito inteligente a forma que o Badigadi foi derrotado mesmo sendo imortal, a confiança da galera no Rudeus, principalmente a Sylphie, Eris e Roxy e claro a cereja do bolo foi o Orsted chamando ele de amigo, é engraçado que até pro leitor ele parece assustador por conta da maldição mas é um cara da hora.
Que obra linda e essa... Sério a única que me fez ler uma novel... Nunca avia lido. Porém estou aqui nos semanais... Muito do obg pela tradução manito..
q final foda pqp
é um daqueles momentos em que palavras não são o suficiente
Simplesmente absolute cinema, Orsted solou demais
Nem com a armadura e espada mais fortes do mundo ele conseguiu sequer encostar no Orsted
Muito obrigado pelo capítulo.