Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 25 – Cap. 07 – Alexander vs. Rudeus

 

Enquanto caía, mantive minha visão focada em Alexander com o Olho da Visão Distante. Assim que comecei a cair, vi que Alec havia me notado. Ele estava chocado. A distância entre nós diminuiu rapidamente. Ele estava usando a Espada do Rei Dragão para controlar a velocidade de sua descida. Assim, antes de mais nada, tirei essa vantagem dele.

— Braço, absorva!

A velocidade de descida de Alec voltou ao normal, pois, apesar de tudo, a lei da inércia ainda se aplicava a ele. Entretanto, eu também estava descendo e não conseguiria parar de forma brusca.

Eu poderia desacelerar minha descida com magia do vento…? Não, preciso usar a gravidade. Não posso conjurar uma aura de batalha. Física, não me decepcione agora!

Usei uma onda sônica para ajustar minha posição enquanto acelerava, de modo a direcionar minha descida direto para Alec.

— Whooooooa!

Sem mudar nossas velocidades relativas, dei um soco bem forte em Alec.

Ele usou a espada como escudo para se defender do impacto, mas isso não foi o suficiente. Ele colidiu com o penhasco, enquanto isso, eu usava a pedra de absorção sem cessar. Um contra-ataque me puxou em direção ao  penhasco, mas usei a Onda Sônica para estabilizar, depois me impulsionei da parede e acelerei.

Mais uma vez, fui atrás de Alec.

— Graaah!

Soco!

Usando outra onda sônica para ganhar velocidade, dei um soco, aumentei a velocidade relativa entre nós e lancei mais socos.

As leis da física eram minha arma.

— Aaaahhh! — Alec gritou. Ele havia perdido toda noção do que estava acontecendo, por estar sendo espancado no ar. Droga, mesmo eu não sabia o que estava acontecendo. Eu deveria estar atuando só como suporte. Não tinha absolutamente nenhuma ideia de como acabei assim. Eu só sabia que não podia deixá-lo escapar. Pensei que se deixasse esse garoto à solta, esperando que ele desenvolvesse consciência ou cérebro, isso ia acabar mal para alguém. Esse alguém, com certeza, seria meus aliados,  minha família ou qualquer outro. Eu tinha que detê-lo.

— Aaaaaaaaahhhh! — gritei de volta.

Não é que eu não estivesse ouvindo a conversa de Sándor e Alec. Nem que eu não achasse que ele poderia melhorar como pessoa se refletisse sobre suas ações. Eu não estava pesando os prós e contras. Eu simplesmente estava enchendo ele porrada. Acelerar, depois socar, acelerar, acelerar, depois socar e socar…

Alec e eu batemos no chão da ravina a uma velocidade assustadora.

 

 

Levantei-me em uma nuvem de poeira. O impacto da nossa queda tinha lançado um tipo de pó azul ao nosso redor. A visibilidade era ruim.

Primeiramente, o mais importante: eu não estava machucado. Isso graças à Armadura Mágica Versão Um, era uma peça de tecnologia verdadeiramente robusta. Havia uma pequena rachadura nela, mas ainda estava totalmente funcional.

— Ufa…

Alec saiu inteiro também, mas pelo menos não estava totalmente sem danos. Sua armadura estava quebrada e uma de suas pernas estava dobrada em um ângulo estranho.

Contudo, foi apenas isso. Acho que sua aura de batalha o protegeu. Ele se levantou em uma perna olhando para mim. Não mostrava nenhum sinal de estar com dor. Que monstro!

— …Você veio atrás de mim sozinho —, ele murmurou. — Você tem coragem.

Olhei para cima e pude ver os Dragões da Terra rastejando na escuridão, mas não havia sinal de ninguém descendo até aqui. Certamente pelo menos Atofe desceria logo. Quero dizer, ela pode voar…

— Minha avó segue a antiga tradição. Eu caí e você seguiu. Ela não vai deixar ninguém vir atrás de nós.

— Você não pode estar falando sério.

— Ela sempre teve uma coisa por combate único entre o rei demônio e o campeão.

Ok, eu sabia um pouco sobre isso. Atofe era caótica, mas tinha suas regras estranhas. Quero dizer, ela não atacava sua própria guarda pessoal quando lutava, por exemplo.

— Isso é uma sorte para mim.

— …O quê?

— Estou ferido. Se Eris Greyrat ou Ruijerd Superdia… ou meu pai ou minha avó tivessem vindo atrás de mim, eu estaria acabado.

— Porque sou eu, você não está?

— Eu não me vejo perdendo para você.

Ele estava confiante.

Alec estava gravemente ferido. Ele tinha perdido um braço e uma perna. Eu estava usando a Armadura Mágica. Depois de uma longa luta, eu tinha usado muita magia, mas porque estava focado em apoiar os outros. Por outro lado, não tinha nenhum ferimento grave e estava em ótimas condições.

— Você não acha que está me subestimando?

— Não, não acho. Você não tem aura de batalha, suas reações são lentas e você está completamente aberto a ser atacado. Sequer percebeu quando eu dei drogas para dormir ao Imperador do Norte Dohga, deixou-se ser conduzido por seus inimigos e foi jogado na ravina. Você não tem determinação ou cautela suficiente. Você é um incompetente inútil.

Eu não tinha resposta para isso. Eu era tudo o que ele disse. Mesmo com toda essa magia explodindo de mim, eu ainda era inútil.

Se Atofe não tivesse aparecido alguns minutos atrás, estaria acabado!

— Então, mesmo se lutarmos agora, eu vencerei e poderei escapar. Se eu escapar, é como se tivesse vencido.

— Você sabe que mesmo que me vença, não tem mais aliados, certo? O Deus Ogro fugiu e o Deus da Espada está morto… Tenho certeza de que mesmo sem mim, você não tem chance de ganhar.

Ok, eu não confirmei que o Deus da Espada estava morto. Quero dizer, ele tinha que estar. Estamos falando da Eris.

— Não, um herói pode vencer. Heróis são feitos desse jeito. Agora há pouco, você não conseguiu me finalizar enquanto caíamos. Eu não podia me mover e só podia receber seus ataques, mesmo assim você não conseguiu me finalizar.

Ele disse isso como se respondesse tudo. Ele estava tão confiante. Claro, ele estava de pé aqui no chão em sua própria perna.

— Eu vencerei. Vencerei você, meu pai, minha avó e Orsted. Vou derrotar todos vocês e colocar meu nome na história como o maior espadachim que já existiu. Então, o nome Deus do Norte Kalman se remeterá somente a Alexander III. Assim, todos pensarão em mim como o mais forte de toda a história.

Ele estava surrado e com machucados por toda parte, mas não estava mais em uma situação na qual somente receberia meus ataques. Esta era sua chance de vencer, ele podia sentir isso.

A exata probabilidade de seu sucesso era incerta, mas ele achava que podia fazer isso. Aqui, nesta batalha crítica, acreditava que sairia vitorioso.

Era porque ele queria ser um herói? Não, não era isso. Era porque tinha chegado tão longe superando perigos como este. Ele sabia que estava encurralado. Com certeza, estava me subestimando um pouco, mas ele não iria se segurar mais. Planejava me esmagar com todo o seu poder, depois escapar.

Meu oponente era o Terceiro Deus do Norte Kalman. Um dos Sete Grandes Poderes, com habilidades na luta com espadas e uma espada mágica que eram classificadas entre as mais fortes do mundo. Não era um rato em um canto, mas um tigre ferido.

Enquanto isso, eu não tinha muito o que trazer para esta batalha crítica.

Usava um planejamento cuidadoso e o esmagava ou perdia, porque não conseguia superar a diferença em nosso poder. Essas eram as únicas opções. Ele achava isso. Depois de toda a sua experiência de luta, ele diria que eu não era o tipo que podia virar o jogo a meu favor.

Isso, ou foi o que Geese ou do Deus-Homem disse a ele…

— Tenho uma última pergunta. Você é um apóstolo do Deus-Homem?

— Não, não sou. O Deus da Espada e eu recebemos informações de Geese, só isso. No entanto, admito ter ajudado ele.

— Certo!

Sendo assim, quem seria o último Apóstolo? Não, não importa agora. Eu poderia pensar sobre isso depois. Aqui e agora, eu tenho que acabar com esse cara.

Calma aí um minuto! Se é uma causa perdida, eu posso simplesmente fugir, não posso?

Eu tinha aliados. Não precisava ir com tudo aqui. Se houvesse mais alguém além de Alexander, não seria melhor manter meu poder em reserva?

O Deus da Espada estava abatido e não tínhamos sofrido baixas. Nesse caso, não era a opção inteligente recuar e criar uma situação na qual pudéssemos vencer de forma confiável?

— …Não.

Esquece. Isso não ia funcionar. Orsted deve ser prioridade. Se eu deixasse alguém passar, perderíamos. Deixar uma ou duas pessoas passarem não causaria desastres de proporções catastróficas a princípio. Tudo o que aconteceria era que Orsted usaria mais de sua preciosa magia, a magia que ele tinha apenas o suficiente para talvez durar oitenta anos.

Eu me deixei relaxar demais. Desde que a batalha começou, eu relaxei. O Deus da Espada foi derrotado e o Deus Ogro tinha se retirado. O Deus do Norte estava diante de mim, machucado e ferido por toda parte, pronto para desmoronar. Mesmo se deixasse o Deus do Norte escapar agora, meus aliados ainda estavam prontos para lutar. Mesmo que ele passasse por eles, Orsted tinha poder de sobra. Ele estaria acostumado a derrubar o Deus do Norte Kalman III e seria capaz de lutar e proteger os Superd ao mesmo tempo.

Diante dessa situação, eu relaxei. Comecei a pensar que estava tudo bem se eu perdesse, pois tinha opções reserva caso isso acontecesse.

Era isso, por essa razão que Alec disse que não perderia para mim.

Pensando bem, eu sempre fui assim. Quando chegava nesse ponto, dava um passo para trás para deixar uma margem de segurança, apenas para cair logo em seguida em momento crucial. Alec podia sentir isso em mim.

Impulso, tenacidade, sorte, fluxo. Eu tinha isso. Admito, eu realmente não acreditava nesse tipo de coisa abstrata… mas não posso negar que se essas coisas estão lá, então elas estão. Se recuasse aqui ou perdesse, Alec ganharia algo e eu perderia algo. Algo que eu não podia colocar em palavras, algo além das minhas expectativas.

Então eu não podia perder. Precisava vencer, aqui e agora e tinha que manter meu status. Nesta situação, minha única opção era assumir o risco e buscar a vitória.

Agora era a hora. Este era um ponto de inflexão. O momento em que veria se podia usar todo o meu poder e pegar pesado.

— Eu sou Rudeus Greyrat, o Atoleiro, seguidor do Deus Dragão — anunciei.

Os olhos de Alec se arregalaram e então ele respondeu:

— Eu sou Alexander Kalman Rybak, o Deus do Norte!

Eu já estava resoluto!

— Aaaaaggghhh! — gritei, tirando minha voz do fundo do meu âmago.

— Gwaaaarghhh! — A voz de Alec se juntou à minha enquanto ele erguia sua espada.

Seu braço direito erguido, uma empunhadura de espada presa em seus dedos. Sua mão esquerda… Bem, ele não tinha uma mão esquerda, então vamos apenas deixar assim.

Ele avançou com o pé direito, pisando firmemente sua perna esquerda quebrada no chão.

Corri até ele sem nenhum plano. Meus instintos me disseram que ataques à distância eram uma má ideia. Enfrentei Alec, deixei minha postura baixa e corri. Um segundo antes, algo passou pela minha mente: uma memória de Eris.

Imediatamente, levantei a metralhadora no meu braço direito e disparei um Canhão de Pedra com potência total.

Alec me observou atacar, em seguida deu um passo em minha direção. Contudo viu inúmeros Canhões de Pedra se aproximando dele como chuva. Por um breve momento, ele recuou seu pé direito em hesitação. Os Canhões de Pedra desapareceram, um após o outro, dissolvendo-se em pó diante dos olhos de Alec pelo poder da Pedra de Absorção. Imediatamente me inclinei para a esquerda. Eu sabia que estava ao alcance da espada de Alec. Ainda assim, mantive-me em sua direção. Minha mão direita estava estendida, então a puxei de volta para atirar no quadril dele. Inclinei-me tanto para frente que meu peito quase raspou no chão.

Mirei um chute para o lado esquerdo de Alec.

— Gr…raaaaah!

O ombro de Alec se moveu. Houve um flash de prata — senti um impacto no meu ombro direito enquanto parte da Armadura Mágica se desencaixou. Milagrosamente, ele não havia cortado fora meu braço. Assim que notei isso, não me preocupei em verificar mais sobre a extensão do dano. Apenas plantei meu pé no chão e levantei meu punho.

As pernas de Alec flexionaram.

Ele estava prestes a pular com a intenção de fugir. Enquanto eu pensava nisso, concentrei magia em minha mão esquerda. Parei de canalizar magia à Pedra de Absorção e a realoquei em outro feitiço. Ainda não tinha decidido qual. Só queria impedi-lo de pular, concentrei magia em minha mão esquerda e fui para a perna de Alec.

— O quê?!

Por um segundo, a perna de Alec flutuou no ar.

— Aaaahhh! — gritei, levantando meu punho direito que empunhava a metralhadora para atacá-lo. Eu golpeei com tudo o que tinha. Meu punho fez contato com um baque e Alec bateu na encosta do penhasco.

Atire até deixá-lo em pedaços! Coloquei tanta magia quanto pude na metralhadora. Os Canhões de Pedra perfuravam o penhasco como uma poderosa furadeira e uma rachadura se abriu. Mesmo assim, não parei. Concentrei ainda mais magia e disparei projéteis ainda mais fortes como se usasse uma máquina de guerra.

Senti uma sensação estranha na minha mão direita. Antes mesmo de notar o que isso significava, uma rachadura se abriu na metralhadora e ela caiu em pedaços.

— Aaaaaaah! — Ainda assim, não parei o fluxo de magia para minha mão direita. Eu criei Canhões de Pedra, pois era o feitiço que mais usava e com o qual estava mais familiarizado. Disparei, disparei e disparei.

— Ahh…ah…hah… — Meu grito desfaleceu em um suspiro sufocado que se transformou em uma ofegante exaustão. Contudo, mantive o fluxo de disparos.

— Hah…hah…

Então, me afastei. O braço direito da Armadura Mágica, agora enterrado profundamente na parede do penhasco, tinha se soltado do encaixe. O encaixe… Deve ter sido por causa daquele golpe que recebi de Alec antes. Se não fosse pela Mão de Atofe, meu braço inteiro poderia ter sido decepado.

Dentro da parede do penhasco, vi carne. Havia sangue escorrendo entre o paredão e o punho da armadura mágica. A carne não se movia. Olhei mais de perto e vi a espada no chão — a espada que Alec segurava: Kajakut, a Espada do Rei Dragão. Peguei-a com a mão esquerda. A grande lâmina tinha quase dois metros de comprimento. Segurando-a, voltei minha atenção de novo para a parede do penhasco.

O sangue, vivo e vermelho, continuava a fluir da fenda onde o punho da armadura mágica estava enterrado. Nada se movia. No silêncio, o sangue continuava a fluir. Olhando para cima, pude perceber que havia uma tonelada de Dragões da Terra espreitando ao redor, mas o ar aqui estava assustadoramente silencioso.

Eu ainda podia sentir a espada na minha mão. Aquela sensação que me dizia que Alexander estava morto, com certeza.

— Eu consegui. — As palavras escaparam inconscientemente. Como consegui vencê-lo? Foi por muito pouco. Se tivesse esperado mais um segundo para avançar ou se Alec não tivesse hesitado, seu golpe teria partido a mim e à Armadura Mágica ao meio. Mover-se como Eris tinha funcionado. Foi como se eu tivesse atacado com força total, mas sem nenhum padrão. Dessa forma, o tempo era imprevisível. Através da finta com o Canhão de Pedra e depois dando um passo extra — ou meio passo extra — indo mais longe que o normal, consegui lidar com a velocidade dele. Era assim que Eris atacava.

Eris só usava esse tipo de movimento de alto risco quando sabia que iria funcionar. Era por isso que ela vencia. Mesmo com sangue jorrando de seu pescoço, ela ainda estaria de pé no final.

Eu não posso me mover como Eris. Então não tinha como saber se isso funcionaria. Definitivamente, eu não tinha lutado no nível dela. Se Alec não tivesse perdido o movimento de um de seus braços, ou sua perna, ou se ele tivesse me visto como uma ameaça real, não teria terminado assim.

Ainda houve aquela sensação, no final, de fazer a perna de Alec flutuar. Não parecia com nenhuma magia que já tivesse usado antes. Era possível eu ter manipulado a gravidade…? Não, Alec estava tentando manipular a gravidade com a Espada do Rei Dragão e quando eu parei de canalizar magia à Pedra de Absorção, provavelmente o efeito da espada ativou quando ele não esperava. Eu não saberei com certeza agora. No final, pode ter sido apenas sorte, mas de alguma forma… eu tenho minhas dúvidas.

— Eu venci. — Cerrei meu punho e o levantei alto.

 

 

Usando a Versão Um para manter os Dragões da Terra à distância, escalei de volta para fora da ravina. Quando cheguei ao topo, havia pessoas esperando para me encontrar. Eram os caras da equipe de caça.

Com o ocorrido na ponte e seus três lutadores de nível Deus desaparecidos, eles estavam perambulando sem saber o que fazer. Quando me viram, se dispersaram, fugindo como aranhas bebês. Devem ter pensado que eu era um diabo ou algo assim.

Primeiro, peguei alguns dos oficiais comandantes — caras que pareciam Cavaleiros do Reino Biheiril — e contei a eles que o Deus da Espada e o Deus do Norte estavam mortos. Então avisei que se continuassem tentando atacar os Superd, eu estava preparado para revidar. No entanto, disse também que, assim como antes, estava disposto a negociar pela paz. Minhas condições para a paz eram as mesmas de antes. Estava furioso por eles terem atacado, mas se Geese estivesse se passando pelo rei, ou alguém próximo a ele, isso significava que era obra do Deus-Homem. Eu não estava disposto a alterar minha posição leniente. Ainda assim, levei dois deles como prisioneiros de guerra para garantir. Se Geese se disfarçou como rei, isso pode não significar muito. Não é como se todos os cavaleiros fossem capangas de Geese e ele tivesse todo o país sob seu controle. Quando a notícia se espalhasse sobre o que aconteceu e os cavaleiros voltassem para casa em segurança, a opinião pública estaria do nosso lado. Se tudo mais falhasse, teria que mover os Superd… isso nos daria mais tempo.

Com esse pensamento, me virei para ir para casa e meus olhos se voltaram para o monumento de pedra. Aquele aos Sete Grandes Poderes. Na sua borda, a marca bem na parte inferior havia mudado para uma que eu reconhecia.

Era uma marca em forma de três lanças cruzadas — a forma do talismã Migurd. Isso significava que eu me tornei um dos Sete Grandes Poderes? Fui quem o finalizou, claro, mas não conseguia acreditar nisso. Afinal, nós quatro havíamos lutado contra ele. Talvez não fosse minha marca. Talvez fosse Ruijerd, ou Eris… Ok, não acho que fosse Eris.

Honestamente, não me senti bem. Tipo, agora eu era essa coisa. E daí? Eu pedi por isso? Não podia desfazer agora.

Segui em direção onde estavam Eris e os outros.

 

 

Depois disso, atravessei a vila e me encontrei com Eris e os outros.

Sándor falou primeiro.

— O que… aconteceu? — Quando contei a ele que havia acabado com Alec no fundo da ravina, ele sorriu tristemente e disse: — Entendo.

— Você é um campeão! — declarou Atofe. — Quando um rei demônio subestima um campeão, eles perdem. É assim que tem sido desde os tempos antigos. — Sua expressão não era muito diferente de antes. No entanto, talvez estivesse um pouco triste. Todavia, discursos sentimentais não eram típicos dela…

Alec estava morto. Ele era apenas um garoto. Tinha talento e não pensava em nada além de ser o melhor… Ele tinha um futuro.

Eu tive alguns pensamentos enquanto Alec e Sándor conversavam. Como eu queria que Alec pensasse sobre as coisas um pouco mais. Como nós o ensinaríamos uma lição e o faríamos pensar sobre suas ações. Isso era ingênuo, não vou negar. Eu não o odiava nem queria que ele morresse. Eu o matei porque era meu inimigo; porque pensei que se o deixasse escapar, me arrependeria. Tive que fazer isso.

Então não ia pedir desculpas. Isso era guerra. O outro lado estava tentando nos matar. Essa era a natureza do jogo.

— Você conseguiu! — Eris, em contraste, parecia encantada. Quando contei a ela que a marca no monumento havia mudado, ela cruzou os braços com um sorriso e exalou pesadamente pelo nariz. Ela talvez teria se jogado em mim se eu não estivesse usando a Armadura Mágica. Ela teria sido tão fofa. Ah, como eu gostaria de ter visto!

Ruijerd não disse muito, mas o cansaço era evidente em seu rosto. Assim como pensei durante a batalha, ele devia estar perto do limite. Foi uma luta difícil para travar após se recuperar de uma doença. Ainda assim, vencemos, e sem que ninguém sofresse ferimentos dignos de menção.

Isto dito, e sobre todo o resto?

Decidimos voltar rapidamente para a Vila Superd. Passamos pelo local onde Eris queimou o corpo do Deus da Espada, pela cratera que o Deus do Norte fez quando atacou e pelas árvores derrubadas na luta com o Deus Ogro. Era como uma trilha de animal pela floresta.

Seguindo por essas trilhas, voltamos para a estrada que originalmente pegamos para ir à vila. Lá, Zanoba estava desacordado. Ao lado dele estava Dohga, com o rosto imóvel. Zanoba parecia estar dormindo. Estava deitado de costas e seu rosto estava cinza.

Como… uma pessoa morta?

— …Zanoba, acorde. Acabou — chamei de dentro da Armadura Mágica. Ele não respondeu.

— Zanoba…?

Por alguns segundos, todo o som desapareceu da floresta. O vento cessou e todo o ruído parou.

— Z-Zanoba? Você está brincando, certo?

Ele não respondeu.

— Diga alguma coisa… — Ainda assim, Zanoba não respondeu. Ele estava lá com o rosto voltado para o céu, silencioso como um cadáver.

Como se fosse um cadáver.

— …Hmph! — De repente, Eris chutou Zanoba no rosto.

— Swuh-huhhh?!

— Estamos indo para casa! Levante seu traseiro!

— Ah…? Oh! Que rude da minha parte! Devo ter cochilado.

Ah, claro.

Ainda assim, ele poderia facilmente estar morto. Zanoba e Dohga estavam em desvantagem. Se não tivessem se juntado a nós, Zanoba poderia ter acabado como um cadáver sem vida.

Pensando nisso, olhei para o caminho de onde Zanoba e Dohga vieram voando. Marcas da batalha visivelmente dividiam a paisagem aqui e ali; havia árvores arrancadas, cortadas ao meio, marcas de espada e um monte de pequenas crateras.

Cara, tivemos sorte de vencer. Pensando bem, nem vencemos o Deus Ogro. Ele foi para casa.

— A propósito, Lady Atofe, como você chegou aqui?

— Eh? Quer saber?

— Por favor, conte-me.

— Bem, veja só…

A explicação longa e confusa de Atofe era difícil de acompanhar. Ela usou tantos efeitos sonoros que acho que entendi apenas metade da história.

— Deixe-me ver se entendi… há um círculo de teletransporte restante de uma Grande Guerra passada e você o usou.

— Fui procurá-lo para usá-lo quando chegasse a hora!

Esquisito. A infame Atofe estava usando os círculos de teletransporte — os mesmos círculos de teletransporte que eu estava correndo por aí para configurar. Se as pessoas soubessem, ia pegar mal para mim.

Bem, acho que já é leite derramado.

Sério, estava realmente acabado…? Pensei que esta era uma chance de vitória, mas tudo aconteceu em um instante. Não tinha certeza do que o Deus Ogro estava fazendo, mas agora restam poucos dos nossos inimigos.

Quando pensei que estava acabado, de repente senti um cheiro doce vindo de Eris, que caminhava ao meu lado. Acho que foi o efeito de uma batalha difícil. Meus instintos de sobrevivência estavam todos alertas e talvez isso tenha ativado meus instintos reprodutivos.

E quanto a esta noite, então? Eu não era Rudeus, o Livre agora?

Não, não.

Eu era Rudeus, o Casto, até vencer Geese. Isso mesmo. Eu ainda não tinha descoberto que forma Geese estava tomando. O Deus Ogro apenas fugiu. Quem sabia o que poderia acontecer?

Havia um apóstolo restante. Isso não tinha acabado.

Geese ainda não havia se revelado. Nossa rede de informações estava agora uma bagunça, logo não poderíamos procurá-lo adequadamente. Nem saberíamos se ele fugiu.

…E se esse fosse o plano dele o tempo todo? Talvez eu fosse o único que pensasse que esta era a batalha final, que decidiríamos as coisas aqui. Geese fez planos para escapar desde o início? Agora, estaria ele indo para a fronteira com o outro apóstolo de carona…? Todas as minhas fontes de informação anteriormente espalhadas pelo país agora estavam reunidas na Vila Superd para a batalha. Não tínhamos círculos de teletransporte nem pedras de comunicação. Mesmo se Geese fosse descoberto na fronteira, não teríamos como ir atrás dele.

Sim, ele provavelmente fugiria. Depois que o Rei Abissal morreu, e o Deus da Espada e o Deus do Norte se rebelaram, ele acabou em uma posição desvantajosa…

Usando oitenta por cento de suas forças como distração, ele garantiu os homens que sabia que podia controlar, nos atraiu e depois usou o tempo para escapar. Ele desistiu por enquanto para tentar novamente na próxima vez…

Isso é o que eu faria se fosse comigo.

— Ufa…

Eu ainda não podia relaxar, mesmo que esta luta tivesse terminado. Eu estava exausto. Não podia lutar mais hoje. Algum outro idiota poderia lidar com o resto.

Não consegui acabar com Geese, mas derrubamos o Rei Abissal, o Deus da Espada e o Deus do Norte. Ruijerd e os Superd estavam do nosso lado. O Reino Biheiril e o Deus Ogro dependeriam do que Geese faria… mas teríamos que ver como as negociações iriam acabar.

Suponho que o único dano real que sofremos foi a destruição do escritório… Graças a isso, os círculos de teletransporte estavam todos destruídos. Não podíamos nos mover por um tempo, mas fizemos progressos. Este não foi um resultado ruim, considerando tudo. Eu esperava muito pior.

Enquanto pensava nisso, a Vila Superd apareceu à vista. Pude ver as crianças Superd, que deviam ter sentido nossa presença, observando do topo da cerca. Então, os guerreiros protegendo a vila saíram da entrada. Depois deles vieram Elinalise, Cliff, Norn, Julie e Ginger… Pelos rostos deles, pareciam bem. Saí da Armadura Mágica. Acabei usando uma tonelada de magia, então talvez fosse por isso que meus membros pareciam um pouco pesados. Julie e Ginger correram até Zanoba. Norn foi até Ruijerd e Cliff se dirigiu a Dohga, que ainda estava desmaiado. Alguns deles se abraçaram, alguns trocaram palavras de alívio. Observando-os, a realidade de tudo finalmente me atingiu.

Orsted apareceu, finalmente, e caminhou até mim.

— Você venceu?

— Sim. — Como prova de nossa vitória, estendi a espada para ele. A Espada do Rei Dragão Kajakut, o símbolo do Deus do Norte. — Nós vencemos.

A vitória era nossa. A vitória completa ainda estava distante, mas passamos por uma situação complicada. Saímos da armadilha de Geese, o que nos colocou um passo à frente.

Tinha várias coisas em que pensar e uma infinidade de coisas que poderia ter feito melhor.

Ainda assim, uma vitória era uma vitória.

Orsted pegou a espada e disse:

— Bom trabalho. — Inclinei minha cabeça. Então, senti o olhar de alguém ao meu lado. Era Eris. Ela estava com os braços cruzados, olhando para mim.

Ela abriu os braços.

— …Conseguimos! — Ela gritou, então se jogou em mim. Enquanto aproveitava a sensação de seus seios, pensei novamente: eu venci.

 


 

Tradução: Laplace

Revisão: NERO_SL

 

💖 Agradecimentos 💖

Agradecemos a todos que leram diretamente aqui no site da Tsun e em especial nossos apoiadores:

 

  • decio
  • TrueBlood
  • Fernando
  • gago_potter
  • Ulquiorra
  • Merovíngio
  • S_Eaker
  • AbemiltonFH
  • cabral7
  • comodoro snow
  • Dix
  • elvenox
  • GGGG
  • Guivi
  • gūstävø
  • hard
  • Jaime
  • Jmarcelo
  • João Victor
  • Leo Correia
  • Lighizin
  • MackTron
  • MaltataxD
  • Marcelo Melo
  • Mickail
  • Mota
  • NicholasJorge123
  • Osted
  • pablosilva7952
  • tang09505
  • Tio Sonado
  • WilliamRocha
  • Zera
  • Andrey
  • juanblnk
  • mattjorgeto
  • MegaHex
  • mgl_uhou
  • Miguel
  • Ruiz
  • TiFurt

 

📃 Outras Informações 📃

Apoie a scan para que ela continue lançando conteúdo, comente, divulgue, acesse e leia as obras diretamente em nosso site.

Acessem nosso Discord, receberemos vocês de braços abertos.

Que tal conhecer um pouco mais da staff da Tsun? Clique aqui e tenha acesso às informações da equipe!

 

 

Bravo

Recent Posts

Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 10 – Cap. 04 – De Partir o Coração

  “15° dia, 2° mês, 1548° ano, Calendário Continental — Laboratório do Calabouço de Genia.”…

3 dias ago

Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 10 – Cap. 03 – Caindo

  — O-O que é isso? — exclamei. Meu nome era Naden Delal. Eu era…

3 dias ago

Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 25 – Cap. 08 – Descanso

  Havia-se passado três dias desde a batalha. Os feridos estavam curados e a paz…

3 dias ago

Crônicas do Bahamut Invicto – Vol. 15 – Cap. 03 – A Confissão Destinada

Parte 1   Os sons dos fogos de artifício podiam ser ouvidos desde o início…

3 dias ago

Crônicas do Bahamut Invicto – Vol. 15 – Cap. 02 – Guerra Romântica

Parte 1   — Que nostálgico. Essa atmosfera também, a última vez que senti isso…

5 dias ago