Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado

Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 24 – Cap. 07.1 – Interlúdio: Alguém para um certo alguém

 

POV NORN GREYRAT

Eu não tinha nada para fazer nos dias seguintes à formatura na Universidade de Magia. Ok, Mestre Janus havia me convidado para vir trabalhar na Guilda dos Magos, mas eu estava postergando uma resposta definitiva. Bem, parecia legal. Fui a presidente do conselho estudantil da Universidade de Magia, então eles provavelmente me tratariam bem. Mais do que isso, não estava tão acostumada a ter meus méritos reconhecidos e que minhas habilidades fossem requisitadas, por isso fiquei feliz em ser convidada. O problema é que precisava da permissão do meu irmão mais velho se estivesse pretendendo me juntar a alguma organização. Sabia que ele diria para eu fazer o que quisesse… Mas, agora, ele era uma pessoa importante. Não sabia muito sobre isso, mas tinha um forte pressentimento de que facções rivais estavam envolvidas. Se entrasse na Guilda dos Magos sem considerar meus passos, poderia acabar me juntando a algum grupo hostil a ele, e isso com certeza seria um incômodo. Havia vários motivos para evitar tal coisa, então adiei a decisão. Eu brincava com Lucie, encantadora a todo momento, e ajudava com as tarefas da casa. Esse modo de vida poderia ter me incomodado antes. Sou inútil comparada a todo mundo, pensaria. Preciso fazer melhor.

Estaria mentindo se dissesse que nunca senti esse certo incômodo nesses dias pacatos. Digo, não necessariamente pacatos. Afinal, me mantive ocupada.

A casa estava vazia agora. Rudeus e suas esposas estavam fora — até mesmo Aisha havia saído. No entanto, as crianças estavam lá. A mais nova, Lara, ainda era um bebê e Leo cuidava dela — ele nunca saía do seu lado. Lucie era um caso diferente. Ela parecia sempre solitária. Elinalise ocasionalmente vinha com Clive, e os dois brincavam juntos, mas quando eles voltavam para casa, ela ia à janela do segundo andar observar a porta da frente, ou sentava no closet abraçando os joelhos ao peito e reprimia as lágrimas. Estava tentando ser forte.

A missão que Rudeus está cumprindo é tão difícil que essa garotinha tem que ser forte? Pensei. Por outro lado, quando eu era um bebê, papai também tinha uma missão difícil.

Algumas tarefas eram tão urgentes que eles tinham que cumpri-las imediatamente, ou as coisas ficariam piores. Rudeus e os outros deviam estar enfrentando alguma coisa muito difícil. Ele cuidava de sua família. De forma alguma gostaria de fazer sua filha se sentir solitária. Ninguém havia me contado os detalhes, mas eu o conhecia.

Da mesma forma, entendia como Lucie se sentia. Quando papai não voltava para casa, eu me sentia solitária também.

Sempre que ela estava sozinha, eu me esforçava para passarmos o tempo juntas. Não fazíamos nada especial, no entanto. Íamos pescar, passeávamos pela universidade, lia seus livros na biblioteca, íamos às compras na cidade, e fazíamos as tarefas de casa juntas. Isso era tudo. Eu mesma não tinha nenhum hobbie, e isso limitava nossas opções de passatempos. Lucie, por sua vez, adorava tudo isso de qualquer forma, e ultimamente começou a me chamar de “Irmã Norn.” Ela ficou especialmente feliz quando fiz para ela uma vara de pescar, e começou a me importunar todo santo dia para pescarmos juntas. Nós íamos ao rio fora da cidade, porque a pesca lá era bem mais fácil. Teoricamente, eu poderia usar magia e uma espada, mas não tinha certeza se eu seria suficiente para protegê-la caso o pior acontecesse. Poderia pedir escolta de alguns dos estudantes mais novos da universidade, que haviam sido aventureiros, mas… eles tinham coisas melhores para fazer, certamente, embora soubesse que jogariam tudo de lado e viriam ajudar se eu pedisse, e eu os pagaria um adiantamento se viessem ajudar de fato. Só não queria depender deles.

Prometi a Lucie que pescaríamos fora da cidade uma vez a cada dez dias. O que estaria tudo bem contanto que não deixássemos a cidade, então consegui permissão para pescarmos no pequeno lago nos arredores da Universidade de Magia… mas Lucie não estava impressionada com nosso modesto ponto de pesca. Talvez pelo fato de não haver grandes chances de pescar algo grande por aqui.

De qualquer forma, hoje era o dia prometido de pesca dos dez dias. Levei Lucie ao rio e ela pegou o maior peixe de toda sua vida. Estava radiante enquanto mostrava o que conseguiu aos jovens estudantes de escolta, iluminando o humor de todo mundo.

 

 

Recebi a mensagem quando voltávamos para casa. Bem na hora em que estava dizendo à Lucie: “Na próxima, vamos um pouco mais para rio acima” quando abri a porta… lá estava Cliff em nossa casa. Ele, que deveria estar em Millis, onde retornou após a formatura.

— Quê? Cliff?

— Oh, Norn. Você também está por aqui. Demorei um pouquinho para chegar.

— Huh? Hm, sim… mas… por que está…?

— Não ouviu falar? — Cliff disse, incrédulo. — Uma praga está se espalhando pelo vilarejo dos Superd. Disseram que minha assistência foi requisitada.

Não podia acreditar. Meu coração batia forte. Os Superd estavam em apuros e Rudeus convocou magos de cura e médicos de todos os diferentes reinos para salvá-los. Cliff persuadiu o País Sagrado de Millis para deixá-lo atender ao pedido de Rudeus, e agora apressava-se para encontrá-lo. Ele me explicou tudo isso, mas eu estava congelada em choque. Aposto que perdi metade da explicação.

— Rudeus disse que mesmo se os Superd forem exterminados, isso não significaria que perderíamos a batalha… mas uma pessoa, a quem ele deve muito, está em perigo.

Uma pessoa a quem Rudeus deve muito. As engrenagens da minha mente começaram a girar novamente.

— Essa pessoa… Qual era seu nome?!

— Hm? Oh, acho que era Ruijerd.

Senti o sangue fugir da minha face.

— Em… em perigo, você disse? Ruijerd está em perigo?

Foi acometido pela praga e agora estava à beira da morte. Minha mente ficou totalmente em branco. Memórias de muito tempo atrás começaram a aflorar novamente: os dias em Millis quando Ruijerd havia me dado a maçã; o tempo em que ele me levou de lá para Sharia, me colocando em seus joelhos e contando todo tipo de história pelo caminho… que havia sido gentil comigo enquanto eu chorava e soluçava. Ruijerd, que nunca levantou a voz, mesmo quando nossa jornada foi bruscamente interrompida…

— Quer vir junto? Você pode ser de alguma ajuda.

— Sim! Claro qu… — Eu estava prestes a dizer “Claro que sim”, mas quando olhei para baixo, vi outro par de olhos. Eles estavam nervosos. Com medo.

Lucie desviou o olhar no momento em que nossos olhos se encontraram, e então saiu correndo da sala. Não pude ir atrás dela. Tudo o que fiz foi estender a mão, talvez em um esforço inconsciente para tentar pará-la. Minha mão apenas agarrou o ar vazio, recolhendo-se para meu lado novamente.

Após um momento, eu disse:

— Não, ficarei aqui.

— Ah, tudo bem. — Cliff não perguntou mais nada. Ele não me falou o que deveria fazer, como sempre fazia. — Irei embora amanhã de manhã. Se mudar de ideia até lá, venha para o escritório de Orsted.

Ele cumprimentou Lilia e saiu. Aparentemente, passou especialmente para agradecer por cuidarmos de Elinalise e Clive. Observei-o indo embora e fui me encontrar com Lucie. Subi ao segundo andar, procurando por cada sala. Encontrei Lucie rapidamente. Ela estava no quarto de Sylphie, encostada rispidamente ao lado da cama e abraçando os joelhos ao peito.

Sentei ao seu lado sem dizer nada. Sabia que, se eu dissesse algo, ela não ouviria.

Alguns minutos silenciosos passaram. Lilia veio uma única vez para checar, mas quando nos viu, deu-me um olhar apologético e se retirou. Lillia… realmente não entendia crianças. Provavelmente pensou que não seria de grande ajuda ali. Não era como se eu pudesse dizer que entendia melhor de crianças, além de mim mesma…

Estava sentada ali, colocando o tico e teco para trabalhar, quando Lucie murmurou:

— Você também vai embora, Irmã Norn? — Sua face ainda estava entre os joelhos. Ela soava como se estivesse prestes a chorar.

— Não, vou ficar aqui com você, Lucie — respondi. Realmente quis dizer isso. Sim, depois de ouvir que Ruijerd estava em perigo, de fato, quis apressar-me para estar ao seu lado. Estava furiosa com Rudeus. Por que ele não havia me contado? Ao mesmo tempo, admiti resignada: mesmo que fosse, não havia nada que eu pudesse fazer. Aceitei que isso deveria ser o motivo pelo qual Rudeus não me disse nada. Meu dever era ficar aqui e cuidar de Lucie.

Depois de ir à escola, me tornei um pouco mais forte — no mínimo, não era pior do que a média — mas certamente não poderia ajudar com um problema que era demais até mesmo para meu irmão. O que eu poderia fazer era ficar aqui, por Lucie.

— Quem é Ruijerd? — Lucie perguntou.

— É uma pessoa que ajudou muito o seu pai.

— E você?

— Huh?

— Quando o homem disse Ruijerd, você fez a mesma cara que papai fez.

A mesma cara que meu irmão mais velho? Que tipo de cara era essa? Conhecendo Rudeus, isso provavelmente significava: Tenho que ir ajudar agora mesmo.

— É verdade. Ele ajudou muito sua irmã Norn também — contei a ela. Lucie não disse nada.

— Quando eu tinha sua idade, Lucie, meu pai, seu vovô, teve que se afastar do seu pai.

— Do papai…?

— Sim. E sua Irmã se sente solitária com facilidade, então ela chorava o tempo inteiro. Ruijerd veio e foi legal, acariciou seu cabelo. Ensinou muitas brincadeiras e contou muitas histórias para que não ficasse entediada. Ele a fez parar de chorar.

Lucie escutava em silêncio.

Viajei de volta às minhas antigas memórias, contando a ela sobre os dias que passei com Ruijerd. Contei como o conheci em Millis, nossa reunião e a jornada até Sharia. Ele era sempre gentil comigo. Seu calor, de uma forma diferente do meu pai. Quanto mais eu revivia essas memórias, mais queria ir encontrá-lo. Pensava sobre como iria e o encontraria padecendo da doença. Não havia nada que pudesse fazer. Queria chorar.

— Ruijerd era, bom… ele era esse tipo de pessoa. — Finalizei. Não me recordava do que havia dito sobre ele à medida em que eu continuava a falar. Não tinha certeza se disse tudo de uma forma que Lucie pudesse entender. Talvez não tivesse sido uma história muito interessante. No fim, só falei tudo por mim mesma. Olhei para Lucie e ela olhou de volta. Tinha parado de chorar alguns minutos antes, e seus olhos estavam ferozes.

— Lucie? O qu…

— É como… — Lucie me interrompeu. — Como a Mamãe Ruiva me disse. Ela disse que proteger as pessoas era uma coisa importante. Por isso você deve ser forte. Então, Irmã Norn, pensei que… — Exatamente como uma criança, ela tropeçou nas palavras e sua linha de pensamento embaralhou. Ela se levantou. — Irmã Norn, quando estiver com problemas, eu irei salvá-la. Pode ter certeza.

— Você vai? Obrigada — respondi. Forçando um sorriso, mesmo que não tivesse certeza de como ela chegou a essa conclusão depois de ouvir minha história. — Quando você estiver com problemas, eu também irei salvá-la, Lucie.

— Não! — Ela gritou.

Tudo bem, então não. Percebi que havia interpretado errado o que ela estava tentando me dizer. Lucie não queria que eu pegasse em sua mão. Ela estava pegando na minha mão. Ela é que estendia sua mão para me ajudar a levantar.

— Irmã Norn, Ruijerd é seu — disse ela. Olhei de volta, inexpressiva. — Você tem que ir até Ruijerd, Irmã Norn.

No fim, entendi o que Lucie estava tentando me contar. Estava basicamente falando: cai fora daqui! Ela estava dizendo que se Ruijerd estivesse em apuros, eu tinha que ir ajudá-lo — que se estivesse em meu lugar, ela iria. Não viraria as costas para a pessoa que a confortou quando sozinha.

— Mas Lucie, e você? — perguntei. — Não vai se sentir solitária?

— Não. Você me ensinou todo tipo de coisa. Eu posso pescar, e posso ler livros sozinha.

Claro que se sentiria solitária. Eu sabia disso. Ela só estava dizendo que seria forte. Ela me colocava como prioridade, pagando a dívida que sentia para comigo. Ainda era apenas uma criancinha, mas foi capaz de tomar essa decisão e me contar isso.

— Vou crescer como você, Irmã Norn, então você tem que ir! — Ela insistiu.

Não achava que deveria ir de fato. Deveria cuidar dela. Eu não deveria obrigá-la a ser forte. Mas… se não for, Lucie não brincaria mais comigo. Ela não poderia gabar-se de pegar aquele peixe, com um grande sorriso como o que trazia no rosto hoje. Eu apenas tive esse sentimento.

Eu me levantei. Lucie deu a volta por trás e empurrou meu traseiro como se estivesse dizendo para ir embora da casa imediatamente.

— Já entendi. Estou indo — respondi.

— Ok! — Lucie já não parecia mais sozinha. Estava animada, e sua face irradiava orgulho.

 

 

Foi assim que fui expulsa de casa. Ao menos, estava permitida a preparar minhas coisas. Não tinha quase nada a não ser as roupas do corpo quando fui pedir a Cliff para me levar com ele. Ele concordou sem hesitar, e ajudou a organizar minhas coisas. Deixamos Sharia à alvorada, rumo ao escritório de Orsted. Cliff disse que era onde o círculo de teletransporte estava.

Quando entrei no escritório, virei para olhar a cidade mais uma vez. A luz da manhã surgia sobre Sharia que brilhava sob os raios de sol. Eu havia testemunhado uma vista similar quando Ruijerd me trouxe aqui. Nesse momento, recordei do que Lucie havia me dito.

Irmã Norn, Ruijerd é seu.

Percebi que consegui fazer por Lucie o que Ruijerd havia feito por mim antes. Meus olhos marejaram.

— Norn, o que está fazendo? Vamos! — Cliff falou, apressando-me.

— O-ok! — respondi e entrei no escritório.

Prometi a mim mesma que iria pescar com Lucie no momento em que voltasse para casa.

 


 

Tradução: Banguela

Revisão: Merovíngio

 

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