Ruijerd havia me dito que, se Vita morresse, a praga começaria a se espalhar novamente. Não imaginei que seria tão de imediato.
Talvez Vita não tenha conseguido de fato conter a doença. Ele poderia tê-los enganado, simplesmente. Daí, me possuiria e morreria, assim como suas ramificações. Os sintomas viriam todos de uma vez… Ou algo assim.
Ei, não fui eu que matei Vita. Foi suicídio. Não obstante, ter sido um alívio saber que haviam cabeças de vento nível Rudeus do lado do Deus-Homem, não podia me sentir em paz sabendo que ele havia falecido. Ruijerd estava sofrendo e não havia nada que pudesse fazer por ele. Nada.
Saí em disparada da casa, bem na hora que Sándor veio correndo.
— Mestre Rudeus! — cumprimentou-me.
— Sándor!
— Que bom que acordou. Todos os moradores começaram a desmaiar do nada. Não faço ideia do que aconteceu…
— O Rei Abissal Vita morreu e agora a praga voltou novamente.
— O quê?! Quando? Como o matou?
— Ele… Morreu. Só isso, ok?
Morreu, foi morto, que seja.
— Eu gostaria de ouvir uma explicação completa!
— Hmm…
Uma explicação. Ele queria saber o que Ruijerd havia me dito na noite anterior. Sobre como Vita desceu pela minha garganta por contato boca-a-boca e me fez alucinar, e sobre como o anel do Deus da Morte o matou.
— …Entendo. Então o Rei Abissal o desafiou e terminou derrotado… Portanto, o senhor Ruijerd estava sendo controlado?
— …Não saberemos até acordar, mas não acho que ele teria me carregado de volta para a vila, se tivesse alguma intenção maliciosa — respondi.
— Muito bem, então.
— O que está fazendo?
— O Superd que ainda pode se mover me enviou para trazer de volta os outros que foram caçar. Vou dizer a eles para ficarem de guarda na entrada do vilarejo.
Sándor tinha tudo sob controle, óbvio, mesmo que a doença tivesse voltado a se espalhar momentos atrás. Pensa num cara de atitude.
— E Dohga?
— Dohga está reunindo os contaminados em um ponto — disse Sándor. Segui o seu olhar e vi Dohga trotando com uma moça em seus braços. Uma criança Superd o seguia nervosamente.
Eles estavam indo em direção… Ao salão dos anciões. Fazia sentido, já que era a maior construção da vila.
De acordo com Sándor, ninguém havia morrido ainda, porém mais da metade dos moradores apresentavam sintomas tão severos que os deixavam incapacitados, assim como Ruijerd.
— O que planeja fazer, Mestre Rudeus?
— Planeja… fazer? — As palavras escaparam. O que diabos eu deveria fazer em uma hora dessas? O vilarejo estava sob as garras da praga. Precisávamos erradicá-la. Ou seja, magia de desintoxicação. O problema é que, mais cedo, eu já havia tentado desintoxicação em Ruijerd e nada adiantou.
Não fui capaz de tentar todas as magias de cura, mas aparentemente não era efetiva aqui. Havia várias doenças e epidemias como essa. Se desintoxicação não funcionava, a melhor coisa a se fazer era levar o caso a especialistas em pragas. Havia algum por aqui? Será que Ariel me enviaria um se eu pedisse?
Ninguém nesse mundo sabia mais de doenças do que Orsted. Exceto quando se trata dos Superd, ele poderia… Não. Não faz diferença. Eu ponderaria no que fazer.
Comunicações primeiro. Três dias de viagem para o círculo mágico que eu havia conjurado… Espera! Já havia colocado um círculo de teletransporte reserva no escritório para casos como esse. Poderia colocar um círculo mágico e uma pedra de comunicação neste vilarejo. Poderia voltar ao escritório e explicar os acontecimentos a Orsted. Daí, do escritório do CEO, contaria a situação a nossos aliados sobre a crise. Beleza.
— Vamos colocar um círculo de teletransporte nos fundos do vilarejo, voltar ao escritório e perguntar a todos se há alguém que pode tratar essa doença.
— Entendido. Então ficarei encarregado da defesa da vila e ajudar os doentes.
— Obrigado. — Encerramos a reunião rapidamente e corri para os limites da vila. No meio da floresta densa, havia uma alta concentração de energia mágica. Poderia provavelmente conjurar um círculo de teletransporte aqui mesmo sem usar cristais mágicos. Trouxe as pedras reservas do escritório como precaução, então conjurei o círculo.
Perdido em pensamentos, fui até os limites da vila. Passei pela cerca e derrubei algumas árvores com magia para abrir uma clareira. Construí uma cabana usando magia da terra. Desta forma, nenhum monstro entraria. Saquei meu caderno e chequei qual círculo corresponderia ao círculo mágico. Se eu desenhasse assim no chão da cabana, provavelmente desapareceria, então decidi construir uma mesa de pedra com magia e desenhar o círculo nela.
Não poderia fazer com pressa. O menor erro evitaria a conjuração completa do círculo. Precisaria de minutos extras se tivesse que matar insetos, portanto a ideia era fazê-lo funcionar na primeira tentativa. Nada é mais importante do que permanecer calmo quando se está com pressa…
Ah, droga… Como imaginei, cometi um pequeno erro. “Whew…” Respirei fundo, relaxando, e me forcei a desenhar o símbolo mais lentamente do que o normal. Um círculo mágico plano com dois metros de diâmetro. Certamente aconteceriam erros se eu tentasse apressar as coisas.
Desenhei cuidadosamente. Havia traçado círculos de teletransporte várias vezes no passado; estava confiante em minha precisão. Dizendo coisas assim para mim mesmo a fim de acalmar meus nervos, terminei o círculo de teletransporte de forma precisa.
— Vamos experimentar — disse, o imbuindo com magia. Preenchido com poder mágico, produzia um brilho fraco. — Fantástico. — Imediatamente pulei dentro.
Depois de um momento de inconsciência, cheguei no subsolo do escritório. Rapidamente confirmei que o círculo mágico estava funcionando normalmente, então corri para fora.
Não precisava da placa de indicação, que dizia “Consultas com Orsted e Rudeus: Por Aqui”. Apenas fui para a superfície. Saí do porão, que estava cheio de círculos de teletransporte, subi pelas escadas, e cheguei no saguão.
— Ah, Presidente, bem vindo de vol…
— Onde está o CEO?!— exigi. Quando ela viu minha expressão severa, as orelhas da recepcionista tremeram e abaixaram nervosamente.
— E-ele está aqui… — Ela respondeu. Não a esperei terminar. Já estava abrindo a porta do corredor que levava até o escritório do CEO.
Percorri a distância do curto corredor e abri a porta. Não que eu tenha invadido, mas de fato esqueci de bater. Talvez por isso Orsted não havia colocado seu capacete.
— Presidente Orsted — chamei. Ele não respondeu. Talvez fosse minha imaginação, mas ele parecia desconfortável, como se soubesse de algo. Ele, no entanto, não desviou o olhar. Olhou diretamente para mim. Após alguns segundos encarando, algo em sua face parecia perguntar, algum problema? Senti a raiva fervendo dentro de mim. Bem, sabia que não poderia ajudá-los de imediato, mas quando falei, eu podia escutar a frustração em minha voz.
— Você sabia sobre a doença dos Superd, não sabia?— perguntei.
— Sabia.
— E a cura?
— Não há uma cura — disse ele. Não de forma indecisa, não um “eu não sei”, mas “não há uma cura”.
— Se ao menos tivesse me contado isso antes — disse —, eu poderia ter procurado uma maneira de tratá-la. Por que não me contou?
Orsted balançou a cabeça.
— Os Superd deveriam ter sido erradicados antes de você se tornar meu aprendiz.
— Deveriam… Quer dizer que isso sempre aconteceu nos ciclos anteriores?
— Correto. E Ruijerd Superdia nunca encontra os Superd sobreviventes.
Orsted não havia dito nada, porque eles já deveriam ter sido extintos de antemão. Nos outros ciclos, isso não afetava Ruijerd. Ele se agarrava àquela esperança inútil.
— Mas você foi vê-los alguns anos atrás, não?
— Fui — admitiu Orsted.
— Você encontrou os Superd, descobriu que Ruijerd esteve em contato com eles e contraiu a doença, mas você não disse nada.
— Correto.
— Se não dissesse nada, Ruijerd e os Superd morreriam, eu nunca saberia e então desistiria. Foi isso que pensou?! — Percebi que estava gritando. Sentia como se Orsted tivesse me traído.
— Não. Considerei isso uma perda de tempo.
— Uma perda… De tempo?
— Sim. Também tentei salvar os Superd. Testei cada feitiço de desintoxicação, cada remédio que tinha a mínima possibilidade de curá-los. Nada adiantou. Essa praga não pode ser erradicada.
Então Orsted havia tentado tudo que pudesse imaginar?
— Mesmo se colocasse todos os meus esforços, a extinção dos Superd é algo que não poderia ser evitado, mas você tentaria salvá-los, lutando até o fim, não é?
— Isso é… — respondi, desesperançoso. — Claro que sim.
Exceto que isso foi há dois anos… Ou até antes disso. Orsted me contaria após o incidente no Reino Shirone, quando não sabíamos onde Laplace poderia ter sido ressuscitado, então decidimos reforçar nossas fileiras. O que teria acontecido se ele tivesse me contado sobre os Superd naquela época e eu tivesse ido buscar uma cura?
De qualquer forma, não teria conseguido fazer nenhuma das coisas que fiz nesse último ano. Não conseguiria chegar a Atofe ou Randolph ou nenhum dos outros reis demônios. Poderia nem ter alcançado Millis. Provavelmente, eu não estaria ciente de que Geese era um apóstolo do Deus-Homem.
— No entanto, possivelmente — disse Orsted hesitante —, a decisão de se foi mesmo uma perda de tempo… pode… não ter sido… minha…
Eu compreendia suas razões, mas meu coração já não aguentava mais. Nenhuma desculpa servia para mim. Ele deliberadamente planejou me impedir de conseguir qualquer ajuda para os Superd. Compreendia suas razões, mas nunca, nunca, poderia perdoá-lo. Eu devia minha vida a Ruijerd, e Orsted o deixou para morrer. Normalmente, a esta altura do campeonato, diria a mim mesmo que ele era daquele jeito, ou daquele outro, e que não poderia mais esperar qualquer coisa dele. Desta vez, contudo, não podia perdoá-lo.
Droga. Nesse ritmo, Orsted começaria a me fazer vê-lo como meu inimigo. Logo agora, quando todos nossos planos estavam a todo vapor e o inimigo e todos os outros estavam no Reino Biheiril…
Tinha que pensar em uma desculpa para ele. Algo que pudesse me permitir perdoá-lo.
A pergunta que veio à minha mente foi “Será que Ruijerd tentará impedir nossos planos?” Isso era o ponto de partida para o fluxo do diálogo. O que eu faria se ele dissesse que sim?
— Ele não ficará em nosso caminho — disse Orsted. — Sua filha será uma peça fundamental na batalha contra Laplace.
— Sua filha? Como ela vai ser fundamental?
— Laplace será imortal quando se tornar o Deus Demônio, mas ele tem uma fraqueza. Somente um Superd, com seu característico terceiro olho, será capaz de detectá-la e atingi-lo com um golpe fatal.
— Oh. — Então apenas um Superd poderia acertar o ponto fraco do Deus Demônio. Na minha mente, as coisas se encaixavam. O porquê de Laplace tentar transferir sua maldição para os Superd e exterminá-los. O porquê de Ruijerd, mesmo em um nível de luta mais baixo que os outros, ter sido capaz de acertá-lo com uma estocada tal, que até Perugius ficou agradecido mais tarde. O porquê deles terem contraído a praga. O porquê de a praga só ter sido desencadeada depois de Ruijerd ter chegado à vila, mais tarde do que originalmente planejado.
…O porquê de eu ter viajado para o Continente Central, junto com Ruijerd.
As forças fugiram de meu corpo e cambaleei para trás. Minhas pernas encostaram em uma cadeira e caí pesadamente, mas fui capaz de evitar de escorregar mais, colocando meu peso nos encostos.
— No curso normal da história, Ruijerd sobrevive? — perguntei.
— Sim.
— Não somente ele não morre, mas também consegue ter uma filha?
— Sim.
— Você planejava usar aquela criança para derrotar Laplace, não é?
— A priori sim, mas desisti quando descobri que Laplace não é imortal desde o momento que nasce.
— Entendo.
Isso significava que só poderia ser mais uma obra, por baixo dos panos, do Deus-Homem.
Nesse momento, entendi. Fui usado como parte do plano para levá-los à extinção, e ele trabalhou para se livrar de mim como parte da barganha. Dois coelhos com uma cajadada só. Típico do Deus-Homem.
— Sr. Orsted, acredito que o Deus-Homem tem nos manipulado mais uma vez — disse. Orsted não respondeu. — A erradicação do Clã Superd e essa praga não são fenômenos naturais, mas obras do Deus-Homem. Aparentemente, ele prefere que o Deus Demônio Laplace viva.
Não havia qualquer desvantagem do lado do Deus-Homem em ter o Deus Dragão Demônio Laplace como seu aliado, ou melhor, Deus Demônio Laplace. Este provavelmente havia se esquecido do Deus-Homem, afinal. Não apenas isso, como também planejava exterminar toda e qualquer alma viva.
Possivelmente, contra todas as expectativas, o Deus-Homem estivesse manipulando Laplace mesmo desde a Guerra de Laplace. Tinha certeza que ele não poderia controlar alguém da Tribo Dragão, então isso se daria através de um de seus apóstolos.
Respirei fundo. Finalmente havia encontrado uma luz em meio à escuridão. Orsted não me contou sobre os Superd. Sim, eu ainda tinha certa raiva não apaziguada, mas entrar em vias de fato com ele não nos levaria a lugar algum. No fim das contas, isso só daria mais uma vitória ao Deus-Homem. Tudo de acordo com o plano, diria zombeteiramente.
Talvez pelo fato de já ter clareado minha mente, percebi isso na hora. A desculpa que não havia me acudido antes. Orsted abandonou os Superd à própria sorte porque, sem o conhecimento necessário para ajudá-los, pensou que estariam melhor mortos. Para começo de conversa, a extinção dos Superd e a vida de Ruijerd eram assuntos desconexos em sua mente. Ele provavelmente havia pensado que Ruijerd estava vivendo sua vida em algum outro lugar.
No entanto, por pura coincidência, foi vê-los e descobriu que Ruijerd estava lá. Não apenas estava lá, mas infectado com a praga. Orsted não sabia como me contar isso. Talvez tivesse pensado que era melhor não ter contado nada. Era realmente isso? Ele era gentil assim? Ugh. Pensar em coisas do tipo não me levaria a lugar algum.
— Como planejava derrotar Laplace sem a ajuda dos Superd, Sr. Orsted?
— Não é uma tarefa impossível se usarmos a Espada de Deus. Seria uma batalha difícil; isso não se pode negar, mas você está reunindo aliados. Podemos fazer isso.
— Mas a Espada de Deus usa uma boa quantidade de energia mágica, não é?
— Não temos outra opção.
Orsted planejava dar o golpe ele mesmo.
— Gostaria de pedir desculpas — disse —, mas não consegui dizer e agora a situação veio a esse desfecho. Sinto muito. — Ele abaixou a cabeça.
— Compreendo — respondi. Orsted não era perfeito. Coisas assim aconteciam. Eu abriria meu coração e o perdoaria. — Apenas desta vez — falei —, eu te perdoo, Sr. Orsted.
— Obrigado.
Isso estava resolvido. Hora de engolir meus sentimentos amargos e seguir em frente. Deixaria isso no passado.
— Só para confirmar, você vai precisar de poder mágico para derrotar o Deus-Homem também, certo?
— Sim.
No Reino Shirone, o Deus-Homem nos impediu de apontar com precisão a localização do rito de ressurreição de Laplace. Agora, ele juntou Ruijerd, a chave para derrotá-lo, com o restante da tribo Superd para exterminá-los completamente. Com a raça dos Superd fora de jogo, poderia colocar Orsted diretamente contra Laplace em uma batalha onde ele precisaria de vasta quantidade de magia para derrotá-lo. Esse era o caminho para a vitória completa do Deus-Homem, e eu tinha de destruí-lo. Usar a Espada de Deus era uma má ideia. Se conseguisse evitar batalha aberta onde quer que fosse, conseguiria que Orsted não usasse demais a sua magia. Eu reuniria minhas tropas para derrotar Laplace, e Orsted ficaria livre para usar sua magia na batalha contra o Deus-Homem.
Para que isso funcionasse, era necessário que os Superd, “o calcanhar de Aquiles de Laplace”, permanecessem vivos.
— Vou perguntar mais uma vez. Não existe forma de curar essa doença, certo?
— Não pelo meu conhecimento atual — disse Orsted após uma longa pausa.
— Existem muitas coisas que você não conhece, Sr. Orsted.
— Suponho… Que isso seja verdade — admitiu ele com um olhar mais tenebroso em sua face do que o normal. Ultimamente, estive me acostumando à sua expressão assustadora. Ele a usava quando se sentia envergonhado de si mesmo.
— Então não é impossível que exista uma cura. Vamos tentar mais vezes.
Havia muitas coisas que Orsted não era capaz de fazer por causa de sua maldição. Certamente poderíamos tentar algo que ele não havia tentado antes. Se existisse de fato, eu encontraria um jeito.
— Muito bem — disse Orsted. — Irei com você ao vilarejo.
Depois disso, reportei os acontecimentos com o Rei Abissal Vita. Quando contei a Orsted que Vita havia se suicidado com o anel do Deus da Morte, ele fez uma assustadora careta que ocultava a sua surpresa. Com base nesta reação, ele não estava ciente que Vita estava possuindo o corpo de Ruijerd. O anel foi realmente apenas uma medida de segurança.
Logo após, enviei mensagens a todos através das pedras de comunicação informando-os da enfermidade dos Superd e requisitando providências para recrutar um médico. Haviam tantas pedras sobre a mesa que levou uma eternidade para me comunicar com todos. daria qualquer coisa por uma funçãozinha de “com cópia para”!
Enquanto aguardava pelas respostas, tracei mais círculos de teletransporte. Existem processos necessários para completar quando se configura um. Comecei desenhando dois, e depois de checar sua operacionalidade, anotei o modelo de um deles e o apaguei. Não havia qualquer pressa para substituí-los, mas se fôssemos usá-los, eu deveria ser aquele que os desenharia.
Deixamos a garota da recepção esperando no escritório do CEO, para responder às mensagens e atender qualquer um que viesse através dos círculos de teletransporte na ausência de Orsted. Os círculos eram tão numerosos ultimamente, que era difícil lembrar de qual estava conectado aonde. Já era difícil para eu e Orsted navegar através deles; um visitante de primeira viagem precisaria de um mapa. Tal mapa provavelmente deveria dizer onde você estava, na vila para a qual você foi teletransportado.
Certo, parecia que Sylphie já fora para o Santuário da Espada com Ghislaine e Isolde. Ariel havia chegado nessa hora e conversou com ela. Nem Orsted, nem a garota da recepção escutaram o conteúdo do diálogo, mas dado o fato de que nenhuma mensagem havia sido repassada, assumi que Ariel só passou para dizer olá.
Depois daquele sonho, conversar face a face com Ariel pode ter me tornado mais consciente. Eu realmente não queria que Sylphie me visse corando quando estivesse com Ariel.
Depois, verifiquei que todos os outros que se espalharam pelo Reino Biheiril configuraram seus círculos de teletransporte e pedras de comunicação com sucesso. Tudo conforme os planos.
Haviam mensagens recebidas. Aisha e o Bando Mercenário estavam todos bem. De Zanoba, veio um relatório de que o grupo de caça estava se reunindo na capital. Roxy escreveu que iria verificar o paradeiro do Deus Ogro.
Enviei mensagens sobre a atual situação para todos eles. No fim, adicionei a seguinte linha: Encontrarei uma forma de resolver isso, então concentrem-se em sua missão. De outra forma, Eris provavelmente viria correndo.
Próximo, um monte de confirmações de recebimento. A maioria dizia: Vamos procurar em escritos antigos sobre informações da doença. O Reino Asura informou que enviariam um médico no dia seguinte.
Do País Sagrado de Millis, a única resposta foi para a mensagem sobre os reforços que enviei da última vez. Seria inviável enviar a Ordem dos Cavaleiros por círculos de teletransporte, aparentemente. Suficientemente desfavorável.
De fato, Millis estava demorando a responder. Deixei isso para lá e retornei à vila com Orsted.
No momento, Orsted estava examinando cada um dos Superd que caíram inconscientes. Ele provavelmente tinha mais conhecimento médico do que os seus curandeiros, mas não compreenderam isso antes, então não havia forma de compreender agora.
Em primeiro lugar, ele não era médico. Talvez tentara curar a doença de alguém nos ciclos anteriores, mas não era o mesmo que a medicina profissional propriamente dita. Mais como completar uma missão secundária em um RPG. Algo como:
No dia XX do XX-ésimo mês de XX, Rudeus contrai uma enfermidade. Ele morrerá no dia XX do mês XX de XX, então precisa curá-lo antes do prazo. Você não conhece a cura, mas após algumas rodadas, descobre que Sylphiette contraiu a mesma doença. A Senhorita Roxy então usa um certo item para curá-la. Orsted pode usar o item da Senhorita Roxy em Rudeus na próxima rodada.
Talvez a forma de lidar com isso fosse comparar casos passados com os presentes para procurar por uma cura. Eu não era médico, não poderia dizer com certeza.
O problema com Orsted é que ele não conseguia lidar com contingências inesperadas de forma satisfatória.
— Como pensei, não faço ideia — disse ele, quando terminou de examinar todos, balançando a cabeça em completa derrota. — Embora os sintomas pareçam levemente diferentes das outras pragas de que tenho conhecimento… — continuou.
— Diferentes de que forma?
— Nunca vi algo se tornar tão severo assim, tão rapidamente.
— Então Vita provavelmente estava mascarando os sintomas, e agora eles se manifestaram.
— Se o Deus-Homem está por trás de tudo isso, então é possível.
Parecia ser o estilo do Deus-Homem. Ele fingiria combater o progresso da doença, mas na verdade não estaria fazendo nada.
— E você? Descobriu alguma coisa?
— Não — respondi. Enquanto Orsted continuava a investigar a doença, perguntei aos que prestavam auxílio médico sobre como trataram os doentes. Disseram que preparavam ervas medicinais, populares no Continente Central, com vegetais nutritivos que formavam um grosso ensopado, e davam aos enfermos. Não era um especialista em ervas medicinais ou em valor nutricional dos vegetais, mas duvidei que isso fosse causar algum mal, porém não estava ajudando também. Precisávamos olhar para o problema sob um ponto de vista diferente.
Por exemplo… Ok, sob circunstâncias normais, a praga poderia ter se espalhado pela vila bem antes. Isso significava que o Deus-Homem tinha o controle dela. Então talvez pudesse ser veneno, ou um vírus que o Deus-Homem trouxe de algum outro lugar. Em contrapartida, talvez o incidente do deslocamento houvesse perturbado o momento da manifestação da doença dos Superd. O Deus-Homem só estava tentando usá-los… Quer saber? Que se foda o “porquê”. No que isso ao menos importava?
O importante no momento não era os assuntos do Deus-Homem. Era encontrar uma cura para a doença.
Quanto mais eu raciocinava, mais minha mente andava em círculos. Sentia como se realmente não houvesse nada que pudéssemos fazer. Não gostei desse sentimento de impotência.
Mesmo assim, ainda não acabou. Não conseguiríamos encontrar uma cura se fôssemos apenas, eu, Orsted, Sándor e Dohga em campo. Médicos estavam a caminho. Neste momento, deveríamos nos concentrar em certificar que os pacientes estavam limpos e recebendo nutrição adequada.
Com esse pensamento, passei o dia todo procurando por mais pacientes junto com Sándor e Dohga.
No dia seguinte, o time médico do Reino Asura chegou. Vieram dois, além de quatro enfermeiras, um carregamento de mantimentos e suprimentos médicos. Ariel deve ter escolhido um time que não temeria os Superd. Eles deram uma olhada nos pacientes e foram diretamente examiná-los. Eu só poderia confiar no carisma de Ariel para que eles não vazassem o segredo dos círculos de teletransporte.
— Fomos informados sobre o que nos esperaria, mas nunca vi sintomas assim antes.
Não obstante todo o risco que corríamos ao trazê-los, o time médico não foi de grande ajuda, no fim das contas.
— Já tratamos demônios antes em nossa terra… Se é uma doença que só linhagens específicas de demônios contraem sob circunstâncias específicas, está além do nosso alcance.
A opinião profissional coletiva do time de médicos era de que não tinham absolutamente nenhuma ideia do que causava a doença. Não era comparável a nenhum dos casos passados. Mais ou menos a resposta que eu já esperava. Devido ao recorrente uso de magia de cura e desintoxicação, os diagnósticos neste mundo não eram exatamente avançados. Se esta enfermidade fosse simples o bastante para que um médico fosse capaz de diagnosticá-la apenas de olhar o paciente, Orsted já teria cuidado disso a essa altura.
— Vamos observar os pacientes, por garantia, mas não manteria as esperanças tão elevadas — disse o médico. Eles continuariam o seu tratamento por enquanto. Mesmo que fosse de alguma forma o esperado, era esmagador ouvir isso diretamente face a face.
Suspirei, olhando ao redor do corredor, onde algumas dezenas de Superd jaziam. Alguns gemiam. Outros estavam extremamente fracos e não se moviam, e tinham aqueles os quais não era possível dizer se estavam dormindo ou simplesmente inconscientes. Alguns estavam sendo alimentados. A visão de todos deitados ali, enquanto os outros cuidavam deles, parecia a de um hospital de campanha em uma zona de guerra. O número de vítimas fatais ainda era zero, mas muitos pacientes sofriam de sintomas severos. Era só uma questão de tempo.
Ruijerd estava entre os casos mais graves. Agora, ele estava inconsciente, em coma. De vez em quando, seus olhos abriam e ele tossia violentamente. Não tinha muito tempo.
Sentando ao lado de seu leito, pensei: Quero fazer o que for possível para curá-lo. Não tinha cartas na mesa. Não conseguia pensar em um plano para sair dessa. As horas escorriam pelas minhas mãos, enquanto eu ficava apenas sentado ali.
Mesmo se os médicos chegassem de Millis ou do Reino do Rei Dragão, suas chances de encontrar uma cura eram mínimas, baseado no andar da carruagem.
Se não encontrassem uma cura, e então? Quem poderia saber? O que eu faria? O que poderia fazer?
— Mestre Rudeus. — Percebi que Sándor estava parado em minha frente.
— O que foi?
— Sinto muito em trazer isso ao senhor, dadas as circunstâncias, mas… O que o senhor planeja fazer sobre o informante?
Informante? Quem era esse mesmo?
A memória retornou para mim. O cara que conhecemos na Segunda Cidade de Irelil e pedimos para procurar por Geese.
— Quantos dias até o combinado de encontrarmos ele, mesmo? — perguntei.
— Era um dia da cidade até a vila, daí dois dias para chegar até aqui. Você dormiu por um dia, depois passou-se o dia de ontem, e hoje o prazo está terminando. Suponho que temos quatro dias restantes. Muito embora, se estivéssemos a um dia ou mais, tenho certeza que isso pode ser arredondado.
Não fiquei preso a meus sonhos tanto tempo quanto temia, felizmente, mas já era tempo de voltar.
— Os círculos de teletransporte só nos dão alguns dias de margem, mas mesmo assim…
— Você está certo. Quando o dia chegar, eu irei — disse. de fato, não queria ir, mas minha prioridade ainda era procurar por Geese. Não tinha escolha.
— Irei acompanhá-lo.
— O quê? E pretende deixar apenas Sr. Orsted e Dohga por aqui?
— Deixá-lo sozinho é mais perigoso ainda, Mestre Rudeus.
Fui atingido por uma momentânea suspeita de que ele tinha um segundo motivo, mas ele ainda tinha um ponto. Nada de bom viria se eu agisse sozinho.
— Fora o informante, Mestre Rudeus, o que pretende fazer sobre o grupo de caça?
— Qual grupo de caça?
— Aquele que o Reino de Biheiril está reunindo. Fomos informados, no último mês, de que esse grupo seria formado para atacar o vilarejo, se lembra?
— Oh… — Certo. Tinha mais essa preocupação.
— Em minha opinião, deveríamos antecipá-los. O que acha?
Era verdade que a melhor forma de proteger os Superd seria intervir e negociar com o Reino. Isso baseava-se no entendimento de que a raça Superd não representaria risco aos humanos, ou esse plano nunca funcionaria. Eles não alimentariam qualquer hostilidade aos humanos. Eu poderia provar isso, mesmo agora, mas seria o suficiente?
— Não há garantias de que não irão ver a situação da praga e aproveitar o momento para exterminá-los, enquanto estão enfraquecidos. Vamos ao menos esperar para ver se a doença pode ser curada ou não.
— Pretende deixar por isso mesmo, então?
— Hm. Seria uma má ideia, não é? O que acha que deveríamos fazer?
— Depois da reunião com o informante, acredito que valeria a pena irmos ao palácio para explicar quem os demônios realmente são e o que ocorreu com eles. Se decidirem exterminá-los para erradicar a praga, lutaremos. Se decidirem ajudar, isso concluirá as negociações. Certo?
— Certo… — concordei. — Você está certo.
No momento, nós deveríamos testar e ver. Era tudo, por enquanto.
Após quatro dias, eu me moveria. Tinha uma montanha de coisas para fazer e nenhuma ideia de como resolvê-las. Minha impaciência sobre nossa falta de progresso havia se intensificado. Estava cansado…
Dormi por esse dia sozinho na casa de Ruijerd e sobrecarregado pelos meus pensamentos.
Despertei quando alguém estava me sacudindo. Uma bela garota surgiu no centro da minha vista. Ela tinha cabelos loiros sedosos, com franjas cortadas logo acima de suas sobrancelhas. Sabia exatamente quem era.
— Rudeus, acorda! Rudeus…!
Era Norn. Ah, mais um sonho. Mais uma ilusão. Dessa vez Norn era minha esposa. Supus que Vita ainda estivesse vivo. Esperava que isso significasse que a condição dos Superd fosse um sonho, também.
— Vita precisa de material melhor… — murmurei.
— Vita? Você ainda está dormindo?! Concentre-se agora!
Norn estava irritada. Ela não ficava assim tantas vezes ultimamente, mas antigamente parecia que nunca parava de se irritar comigo. Isso realmente foi nostálgico, ver ela me dando bronca novamente.
— Por que não me contou que Ruijerd estava nessas condições?!
Neste ponto, despertei. Estava em uma sala cujo chão estava coberto por peles de animais. Não era um sonho.
— Depois de tudo que Ruijerd fez por mim…! Não me contar que ele estava assim… Como pôde? — Lágrimas começaram a cair dos olhos de Norn. Ela não se incomodou em secá-las enquanto agarrava-se às peles do piso. Distraidamente, corri para secar suas lágrimas com meus dedos.
— É, me desculpa… — Eu disse, mas aí uma questão percorreu minha mente. Por que ela estava aqui? Ela tinha coisas a fazer, agora.
— Norn, hm, talvez não seja o melhor momento para perguntar isso, mas você não tinha um evento escolar para ir…?
— Isso terminou décadas atrás!
O que?! Quer dizer que a graduação já havia acabado também? Não era possível… E a minha cena na cerimônia de graduação, enxugando meus olhos com um lencinho? Não, tanto faz. Não era a prioridade agora.
— …Como chegou aqui?
— Cliff! Ele me contou tudo e me trouxe com ele! — Norn disse. Soluçando, ela virou-se para olhar para trás. Ali, enquadrados na entrada, estavam duas figuras sombreando contra a forte luz. Uma desenhava uma silhueta mais fina. A luz entrelaçava-se no seu cabelo loiro, fazendo-o brilhar. Sua esbelta figura élfica era sedutora. O outro era um homem, mais baixo que a média, e não tão amplo. Apesar disso, aparentava ser experiente e confiável… Talvez fosse pela cicatriz sobre um de seus olhos.
— Rudeus — disse Cliff Grimor —, sinto muito que tenha levado tanto tempo para chegar. Tomei a liberdade de me demorar para preparar todos os procedimentos necessários… A Igreja Millis não é exatamente um monolito. Terá que me perdoar.
Ele veio. Ele leu a mensagem que enviei pela pedra de comunicação e imediatamente veio para cá, por mim.
— Agora que estou aqui — continuou —, tudo vai ficar bem. Para ocasiões como esta é que eu estudei magia de cura.
— Mas, Cliff…
— Sim, estou ciente. Eles me contaram tudo. Mas eu tenho isto — declarou, batendo levemente em seu tapa-olho. Era o Olho Demoníaco que conseguiu de Kishirika. O Olho da Identificação.
— Isso pode ser resolvido com um Olho Demoníaco?
— Um Olho Demoníaco pode não ser o suficiente, mas lembre-se de que quem o está usando sou eu — disse Cliff —, e eu sou um gênio.
Talvez estivesse dizendo isso para acalmar Norn, que estava aos prantos. Talvez para me ajudar em minha exaustão. Ele pode ter simplesmente ficado nervoso, precisando de palavras de afirmação para si mesmo. Qualquer que fosse o caso, Cliff parecia estar mais alto depois dessas palavras. Por ser capaz de falar assim em situações como esta “ele era um gigante”. Será que havia sequer reparado na sua própria altura até aquele dia? Já deveria medir o dobro da minha altura. Cliff estava aqui! Cliff, que poderia até quebrar maldições!
— Nada é impossível para um gênio! — Ele disse. — Deixe tudo comigo.
Ele resolveria a situação. Não duvidei dele nem por um segundo, mesmo que soubesse que nenhum de nós tinha qualquer motivo para acreditar que pudesse ajudar.
Tradução: Banguela
Revisão: Merovíngio
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