Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado

Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 24 – Cap. 05 – Rei Abissal Vita

 

— UMAAGH…! — Dei um pulo, ofegante e olhando ao meu redor. Vi uma fogueira e uma floresta desconhecida iluminada pela luz do fogo. A lua e as estrelas brilhavam no céu; insetos chilreavam ao longe. Meu coração batia. Meus braços pareciam pesados e dormentes, como se cerrasse os punhos ou minha circulação tivesse sido cortada enquanto dormia. Minha boca estava tão seca que a língua grudou em seu interior. Parecia nojento.

— O que há de errado? — Veio uma voz. Virei o pescoço e vi uma mulher. Ela estava de joelhos ao meu lado, me olhando com uma expressão preocupada. Possuía cabelos loiros lisos e olhos confiantes, não era uma beldade, mas esbelta e bonita.

— …Sara.

— Você pulou de repente. Teve um sonho ruim?

— Um sonho ruim…? Oh sim. Talvez.

Eu senti que tive um sonho estranho, mas não conseguia lembrar do que fora o pesadelo. Eu tinha certeza que devia ser um pesadelo… mas depois escapou de mim. Os sonhos são assim.

— Mantenha-se firme, tudo bem? Vamos para o labirinto amanhã. Ninguém vai achar engraçado se você fizer besteira na hora porque está com privação de sono.

— Eu sei disso.

— Não que eu possa sequer imaginar você fazendo uma besteira grande o suficiente para matar um membro do grupo ou coisa assim — disse Sara, rindo. Sentou-se ao meu lado, batendo ombros comigo. Coloquei meu braço em volta dela, depois ela apoiou a cabeça no meu ombro. Ela cheirava bem.

— A gente também vai se aposentar quando isso acabar, hein?

— Sim. Sara e eu não éramos apenas aventureiros no mesmo grupo. Éramos amantes e noivos.

Essa exploração de labirinto seria nossa última, estávamos planejando nos aposentar como aventureiros e nos casar. Como eu acabei com ela? Não é uma história tão longa. Aconteceu quando tinha uns treze anos… Muita coisa aconteceu. Eu desistira da minha vida e mal conseguia me arrastar por aí. Meu espírito, no fundo do poço. Uma sombra do que costumava ser enquanto procurava por Zenith.

Foi quando entrei para o grupo Contra Flecha. No início, pensei que tinha mais do que o suficiente para estar em um grupo, agindo friamente com Sara e os outros. Mesmo assim, todos me trataram com gentileza, especialmente Timothy, seu líder, e sua segunda em comando, Suzanne. Acabamos trabalhando juntos na mesma cidade por um tempo. Sara era a única que mantinha distância de mim até que um incidente desencadeou uma mudança repentina.

Resumindo a história, salvei a sua vida e ela se apaixonou por mim. Sara era uma mulher assertiva, muito reservada à primeira vista, mas realmente não tentava esconder seu afeto. Ela se movia rapidamente, então nosso relacionamento também esquentou rapidamente. Quando passei uma noite com a Sara, ainda não achava que gostava tanto dela. Eu a tinha notado, mas mantive distância. Acho que foi porque fui virgem na minha vida passada. Talvez fora por isso que nos apaixonamos tão naturalmente. O atrito natural dela se aproximando e eu me afastando…

Cruzamos essa primeira linha cedo, mas depois disso, à medida que fui conhecendo-a cada vez melhor, meus sentimentos por ela se desenvolveram devagar.

Por isso durou tanto tempo. Nós dois seguimos nos aventurando nas garras de um novo amor. Elinalise foi a razão pela qual as coisas mudaram. Ela me deu a notícia de que Zenith estava viva e que Paul, Talhand e Geese estavam trabalhando para resgatá-la.

Imediatamente decidi ir ajudar Paul. Sara e eu deixamos o Contra Flecha e fomos para o Continente Begaritt. A missão de resgate foi um sucesso absoluto, e então fomos para casa.

Zenith me disse então: “Eu quero que você viva por si mesmo”, então Sara e eu continuamos nos aventurando. Agora tínhamos limpado cinco labirintos altamente desafiadores como um grupo de aventureiros de rank S. O mundo inteiro sabia de nós.

— Ei, Rudeus? — chamou Sara.

— Hm?

Ela riu.

— Nada — disse ela.

Adorei seu sorriso e impulsivamente alcancei sua bunda. Sara acompanhou minha travessura sem resistência. No passado, ela me olhava feio, mas agora era apenas parte do nosso afeto físico padrão. Olhamos nos olhos um do outro, nossas mãos no corpo um do outro. Algo passou repentinamente por seu rosto. Sara parecia desconfortável.

— Quando deixarmos de ser aventureiros, você acha que vai ficar tudo bem? — questionou.

— Você está trazendo isso agora? Ansiosa?

— A gente está se casando e se estabelecendo, isso significa ser mãe também, né? Cozinhar, limpar e lavar… e criar um filho… Não sei se consigo.

— Tudo bem. Eu cuido disso, então. Você pode continuar fazendo aquilo que é boa.

— Você acha?

— Eu sei que sim.

Sara ainda estava nervosa por começar uma família. Ela sempre foi uma aventureira; não conhecia outro modo de vida. Suas preocupações sobre como lidaria de repente em se tornar uma esposa e mãe e sendo obrigada a fazer tarefas domésticas vieram à tona repetidamente. Não que eu não entendesse como se sentia, mas eu tinha reencarnado, havia lembranças da minha vida anterior. Quando morri, as expectativas culturais do Japão começaram a mudar para esperar que homens e mulheres assumissem um papel ativo no cuidado das crianças. Eu não senti nenhuma necessidade de ficar com os pés para o alto e deixando Sara fazer todas as tarefas domésticas. Poderíamos até organizar para que ela trabalhasse e eu fosse um marido que fica em casa. Mesmo quando contei isso à Sara, não parecia convencida.

— Não adianta se preocupar com o futuro. Só temos que dar tudo de nós em cada momento.

— Você diz isso, mas tudo o que lhe interessa é a noite após o casamento.

— Ei, isso não é verdade.

— Mentiroso. Meus olhos estão aqui em cima, aliás — disse Sara, aos risos. Ela estava provocando, mas seu tom era suave.

Ok, para ser honesto, eu tinha algumas expectativas para a vida de casado, apenas nós dois, apaixonados, em uma casa onde ninguém nos incomodaria… Uma vez que éramos marido e mulher, não importava se ela engravidasse. Todas as restrições estavam fora da mesa. Estaríamos trabalhando duro para fazer um filho para mim e um neto para Paul.

Enquanto eu tentava descobrir como responder, Sara se inclinou para sussurrar em meu ouvido.

— Mas eu quero três filhos. — Então ficou vermelha e desviou o olhar. Acho que se envergonhou um pouco. Para ela, foi um convite ousado. — Hmm, enfim! Vou para a cama. Você tome cuidado!

— Entendido. Boa noite.

— Boa noite! — Ela me deu um soco leve no ombro, depois voltou para o próprio saco de dormir. Consciente de que estava sorrindo, joguei mais um pedaço de lenha na fogueira que diminuía… então, com um susto, percebi que outro membro do grupo que deveria estar dormindo me observava de onde ele estava deitado.

— Ei — disse ele, sentando-se lentamente. Seus cabelos longos e claros estavam amarrados na nuca. Ele me cumprimentou com um aceno despreocupado. Paul.

Calma aí, o quê? O que Paul está fazendo aqui? Ele deveria estar morto…

Não, ele não estava morto. Eu não poderia matá-lo tão facilmente. Depois de resgatar Zenith do labirinto de teletransporte, ele se mudou para o Reino Asura com ela, e estavam trabalhando duro para reconstruir Fittoa. Eles me enviaram alegremente quando decidi me tornar um aventureiro. No entanto, quando surgiu esta missão de exploração do labirinto, Paul se intrometeu, dizendo:

— Vocês, crianças, sozinhas? Eu ficaria terrivelmente preocupado.

Sim, foi assim. Definitivamente.

— Pai, é rude bisbilhotar as pessoas.

— Bisbilhotar? Do que esse seu cérebro sonolento está falando?

— Ah, vamos lá…

— Enfim, vocês dois têm uma coisa legal acontecendo. Você vai se casar com ela?

— Esse é o plano. Pai, você estava lá quando eu a apresentei, não estava?

— Não, eu não estava. — Ele definitivamente estava lá. Isso foi estranho. Talvez eu ainda estivesse meio sonolento.

— Mais importante — continuou ele —, você não está esquecendo alguma coisa?

— Que coisa?

— Por que você desistiu de si mesmo antes de conhecer Sara?

“Por quê? Bem, foi porque…” Espere, por que foi mesmo?

Isso mesmo, Ruijerd veio comigo até Fittoa, então eu tinha acordado e não havia ninguém lá… Huh? Mas Ruijerd…

Paul zombou.

— Você não consegue nem lembrar de uma coisa simples dessas? E você diz que vai se casar.

A provocação de Paul estava começando a me irritar, então me levantei e caminhei até ele.

— Qual é o seu problema aqui? Você veio só para dizer isso?

— Ei, não estou dizendo porque “eu gosto disso”.

— E o quê? — Comecei agarrando Paul pela gola da camisa. Então percebi.

 

 

 

— Não é óbvio? — questionou.

Faltava a metade inferior de Paul.

 

 

— Aaagh…! — Eu pulei para trás. Quando meus olhos abriram, se depararam com a visão de uma sala desconhecida. Vi um cobertor macio cobrindo minhas próprias pernas, depois a porta do quarto e uma janela entreaberta que deixava entrar uma brisa suave. Atrás de mim, havia um travesseiro de sementes Treant e uma estatueta trabalhada na mesa de cabeceira.

Esta era uma cama familiar. Eu estava em minha casa na Cidade Mágica de Sharia. Estava ofegante. Com a sensação de que tive um sonho estranho.

— O que foi isso…? — Eu não conseguia lembrar do que se tratava. Só que devia ser um pesadelo, ou eu não teria pulado assim. Os sonhos são assim.

— Hmm… mm! — Saí da cama e me alonguei. Hoje era um belo dia de novo. Logo o verão acabaria e daria lugar ao outono. Eu mal podia esperar.

Ao descer as escadas, duas crianças passaram por mim. Tinham cabelos castanho escuros e orelhas de fera.

— Cuidado ou vocês vão cair — chamei por elas.

— Tudo beeem. — Elas correram para o quarto e eu continuei até o primeiro andar. Desci pelo corredor até a sala de jantar. Uma mulher estava lá, preparando o café da manhã. Suas curvas voluptuosas estavam embaladas em suas roupas simples, mas não conseguiam contê-la. Sua bunda espreitava pela parte inferior da saia junto com um rabo. Quando entrei na sala, suas orelhas pontudas se contraíram e ela se virou.

— Bom dia, Linia — disse a ela.

— Bom dia — respondeu Linia. Ela pareceu um pouco seca. Senti uma ponta daquele vago desconforto que você tem depois de um sonho desagradável. Fui e coloquei meus braços ao redor dela.

— Ah, Linia… — Eu disse.

— Mew?!

Linia era minha esposa. Como acabamos nos casando? Isso mesmo, pensando bem, foi quando éramos estudantes. Eu estava me preocupando com minha disfunção erétil e tentando de tudo para tratar meu amiguinho. Foi quando conheci Linia e Pursena. Elas eram jovens e cheias de energia selvagem. Nós brigamos, então as amarrei e tirei suas roupas, mas mesmo assim, minha D.E. persistiu.

Um ano se passou, depois outro, e a cada encontro em sala de aula e no refeitório, notamos um ao outro cada vez mais. Eventualmente, as duas se tornaram mais abertamente sedutoras. Meu amiguinho começou, devagar, mas seguramente, a responder.

Era o sétimo ano delas na universidade quando me recuperei totalmente. As duas estavam no cio e entraram no meu quarto, sem conseguir se conter. Isso me levou de volta. Que noite.

No dia da formatura, Linia e Pursena lutaram e Pursena venceu. Ela voltou para a grande floresta, e Linia veio morar comigo. Desde então, fazíamos um bebê a cada outono.

— Hisssss!

— Ah! — Depois de colocar meus braços ao redor de Linia, comecei a apertar seus peitos, mas ela agarrou minha mão.

— Só quando estou no cio! Essa é a regra, não se esqueça!

— Vamos lá, é só um abraço…

— Não vai parar só com um abraço, não com você. Uma mulher não é escrava sexual do marido, mew!

— Eu não estou tentando fazer de você uma… — Suspirei e sentei-me à mesa. Linia sempre foi assim. De acordo com alguma regra besta, eu só tinha permissão para bagunçá-la enquanto ela estava no cio. Quando isso acontecia, ela vinha direto para mim. Quando estava no cio, seus impulsos de fazer bebês eram mais do que suficientes para satisfazer meu desejo sexual. E esses bebês? Super fofos.

Esse não era o problema. Um pouco mais de toque não iria doer, só para mostrar que a gente… se amava?

— O café da manhã está pronto, mew! — Línia chamou batendo em uma panela vazia.

— Desceeeendo! — As crianças desceram correndo do andar de cima. Não apenas as duas de antes, eram doze. O povo fera tinha dois ou três filhos a cada gravidez, então estávamos cheios até o teto. Quase todos os cômodos da casa tinham uma criança agora.

— Coma e vá trabalhar, mew! Seus alunos estão esperando, mew! — Linia ordenou.

— Ok, tudo bem. — Comecei a tomar meu café da manhã. Ela era uma grande cozinheira. Quando nos casamos, tudo que ela sabia fazer era grelhar carne, cozinhar peixe em fogo lento e ferver legumes, mas ao longo dos últimos anos, aprendeu todos os tipos de pratos sharianos. O sabor era um pouco sem graça, mas ela era de uma raça diferente, com papilas gustativas diferentes. Não tinha o que fazer.

— Obrigado — disse quando terminei.

— De nada.

Troquei de roupa e fui trabalhar. Eu tinha entrado para a Guilda dos Magos logo após a graduação e agora era professor na Universidade de Magia. Dava aulas de magia não verbal. Era um estilo extremamente prático, então meu curso era muito popular. Se eu estabelecesse meu método de ensino para magia não vocal e meus alunos se saírem bem, posso estar olhando para vice-diretor ou até mesmo diretor no futuro.

— Estou saindo — anunciei.

— Tenha um bom dia no trabalho, mew. — Com isso, fui para a porta da frente. Outro dia trabalhando duro para minha esposa e filhos!

— Huh? — A porta da sala estava entreaberta. Senti alguém lá dentro. Alguém que eu conhecia tão bem que doía. Abri a porta como se alguém tivesse me chamado e vi um homem. Ele estava sentado no sofá de costas para mim, com um braço apoiado sobre o encosto do sofá. Seus cabelos castanhos claros estavam amarrados na nuca.

— Huh?

Ele se virou.

— E aí?! — Era Paul. O que ele estava fazendo aqui? Ele não estava morto? Aí eu lembrei: ele não estava morto. Ele havia desistido do labirinto de teletransporte e voltado para casa. Depois viemos para a Cidade Mágica de Sharia, onde ele morava nas proximidades.

Sim, foi assim. Lilia e Norn também estavam morando na casa de Paul. Ele tinha me culpado por não ir salvá-lo, mas nos damos bem agora.

A história era assim. Definitivamente.

— Você tem uma esposa adorável.

— Uma esposa adorável? — ecoei. — Não é a primeira vez que você a vê.

— Não, é a primeira vez — disse Paul, sorrindo amplamente e balançando a cabeça. — Você está feliz assim?

— O quê? O que você está tentando dizer?

— Nada em particular. Só perguntando se você não sente que está faltando alguma coisa.

— Não falta nada. — Linia era uma boa esposa. Claro, o fato dela só me deixar tocá-la dentro de um determinado período de tempo todos os anos não era o ideal… mas não era nada ruim o suficiente para reclamar. Ela estaria no cio qualquer dia agora, então logo estaríamos um sobre o outro. Ela me daria mais amor do que meu corpo poderia acompanhar. Então ela engravidava de mais dois ou três filhos. Meus instintos viris estavam mais do que satisfeitos. Houve momentos em que eu queria mais, mas quando você considera que estávamos encaixando tudo em um único esforço, isso não era grande coisa. Meu trabalho também estava indo bem. Eu era um professor popular na universidade. Minhas aulas receberam críticas incríveis, sendo consideradas entre as melhores da escola. Meus alunos me amavam e era um colega respeitado. Super bem-sucedido e com um futuro brilhante.

— É mesmo? Nada faltando, hein? Bem, isso é um alívio.

— É.

— Mas você não está esquecendo alguma coisa? Paul perguntou. Sua voz era gentil, como se estivesse repreendendo uma criança boba, mas soava como uma acusação. — E aquele trabalho seu, por exemplo? Quem você imitou para conseguir que todos esses alunos e professores gostassem de você?

“Bem, foi o…” Quem foi mesmo?

Pensei ter visto algo azul passar na minha frente e sacudi a cabeça para clarear a visão, mas a discórdia em minha mente só se intensificou.

— Alguém te ensinou, né? — Ele me pressionou. — Sobre como ter sucesso no mundo.

— Qual é o seu problema?! Basta dizer o que você quer dizer! — Deixando minha raiva tomar conta de mim, fui para o sofá. Dei a volta para enfrentar Paul, agarrando a gola da camisa dele. Então… Eu congelei.

— Tudo bem, vou dizer — disse Paul. — Eu já estou morto.

Faltava a metade inferior de Paul.

 

 

— Aaagh…! — Pulei da cama, ofegante. Minha garganta estava seca e minhas costas encharcadas de suor. Que sonho horrível. Eu tive um sonho inacreditável. O que foi aquilo… O que foi aquilo…?

— Foi um baita pesadelo… — murmurei.

— Algo está errado?

— Acabei de ter um sonho estranho. Quando estávamos na Universidade de Magia… Linia, aquela mulher besta, estava lá, né? No meu sonho, éramos casados e até tínhamos filhos. Eu era um professor ensinando magia não verbal para crianças.

— Isso é um pesadelo?

Foi um pesadelo? Agora que ela disse isso, talvez não tenha sido um pesadelo. Linia e eu passamos um curto período a cada ano envolvidos em fazer bebês apaixonadamente, então o resto do tempo eu cuidava das crianças enquanto ensinava magia para meus alunos. Era uma vida modesta, mas boa.

Mesmo assim…

— Sim, foi — respondi, vendo minha esposa descer de nossa cama de dossel com os olhos sonolentos.

Ela era uma deusa da beleza. Tinha a altura perfeita, não muito alta nem muito baixa. Seus peitos eram do tamanho perfeito, nem muito grandes nem muito pequenos. Sua bunda estava mais para pequena, mas combinava perfeitamente com sua altura e seios. Ela era magra no geral, nem magricela nem flácida. O efeito não era mediano, era extraordinário. Seu corpo era a definição de “bem proporcionado”. A única coisa fora do lugar no momento era seu cabelo. Seu cabelo loiro, geralmente esvoaçante e bonito, estava um pouco bagunçado. Nada que diminuísse seus encantos. Seus cabelos indisciplinados lhe davam o fascínio de uma mulher crescida. Em uma palavra, ela era sexy. Saber que o cabelo dela estava assim por causa do que tínhamos feito ontem à noite o tornava trinta por cento mais sexy.

— Eu me casei com uma mulher maravilhosa e estou em uma posição em que posso ter tudo o que poderia querer. Não suportaria ser professor em uma cidade no meio do nada.

— Hehe. Você está me lisonjeando, por acaso? Bom trabalho — disse minha esposa, Ariel Anemoi Asura.

— Talvez você anseie por esse tipo de vida… — Ela continuou. — Existem muitos assuntos governamentais urgentes ultimamente, não é? A vida da família real certamente não é fácil. Em nossos trabalhos, mesmo as menores coisas trazem consigo grande responsabilidade, mas não há garantia de que nossa felicidade será suficiente para fazer essa responsabilidade valer a pena. Uma pessoa só pode vivenciar uma quantidade limitada de felicidade.

— Você acha?

— Imagino que em sua cidade do interior, trabalhando como professor, cercado por seus filhos, o equilíbrio entre felicidade e responsabilidade era muito diferente de sua vida como realeza… Talvez em vez de uma mulher como eu, uma menina como Linia seja mais do seu gosto.

Isso era ridículo. Ariel era a mulher ideal. Impecável. Ela corrigia sutilmente meus defeitos e até me concedia deferência em público. Não ligava para o que eu fazia com outras mulheres e me deixava ter concubinas. Além disso, ela era boa em seu trabalho. Todos confiavam nela. Era a líder ideal, um ídolo do povo.

Exceto que talvez tivesse alguns defeitos. Ela era argumentativa e valorizava demais a lógica em detrimento da emoção. Seus fetiches também eram um pouco únicos. A noite passada… Não, não vamos entrar nisso. Não poderia ser chamado de defeito, pelo menos não por mim.

— Sinto muito. Deixei minha boca falar demais? — Ela perguntou.

— Não, eu estava apenas pensando que você poderia realmente estar certa.

— Por favor, me diga se você precisar de uma folga. O reino está mais estável ultimamente, então posso lhe dar uma pequena pausa. Você poderia fazer uma viagem… Pode ser bom levar uma de suas concubinas.

— Se eu tivesse uma folga, gostaria de passar o dia inteiro com você nos braços.

— Ora, você… — disse ela. — Sempre brincando.

— Estou falando sério.

Quanto tempo faz desde que Ariel e eu dormimos juntos pela primeira vez? No início, eu tinha pegado muitas concubinas e abraçado a libertinagem, mas hoje em dia, isso estava ficando maçante. Ela era a única que eu precisava. Se você me perguntasse o que me fez mais feliz na minha vida, teria de ser que poderia fazer o que quisesse na cama com Ariel Amenoi Asura.

— Tudo bem, vamos reservar um dia para isso em breve — disse Ariel, rindo levemente enquanto sua dama de companhia a vestia. Levantei-me também e abri os braços. Uma segunda dama de companhia correu imediatamente para o meu lado. Vendo as duas dividindo eficientemente a tarefa de nos vestir, eu realmente me senti importante.

Sentia uma ponta de nostalgia do meu tempo na Universidade de Magia. Eu entrei na universidade, depois conheci a Ariel. Apesar de levar a pior em uma luta política e ser expulsa de seu reino, estava destemida e reunindo aliados. Ela me procurou, o único na Universidade de Magia que podia realizar magia não verbal. Mesmo que fosse linda e carismática, eu era frio com ela, em parte porque isso foi bem quando estava sofrendo de D.E. Foi quando ela me curou que as coisas mudaram. O método era um pouco brusco. Usou um afrodisíaco para me forçar a ficar excitado e ir até ela. Na época, não percebi que tudo tinha sido um plano dela. Pensando que tinha feito algo horrível, tornei-me seu aliado por culpa e desejo de redenção.

Eu era um tipo de guarda-costas especialmente forte. Não me deram nenhum privilégio em particular; só estava lá para protegê-la. O que começou a mudar isso, é claro, foi o tempo que passei perto dela. Ariel sempre fez o possível para fazer o papel de realeza. Às vezes, porém, me deixava vê-la como a jovem vulnerável que era. Aos poucos, me apaixonei. Não vou negar que tive pensamentos impuros desde o início, mas não foi puramente pelo seu corpo, eu também me apaixonei pela alma dela.

Eu e meu colega guarda-costas Luke tivemos vários desentendimentos. Acho que ele tinha seus próprios sentimentos por Ariel.

Luke morreu na guerra no Reino Asura, enquanto Ariel e eu sobrevivemos. No fim, confessei meus sentimentos para Ariel… e consegui tudo o que queria. Tive a melhor mulher do mundo e o maior país do mundo. Tornei-me o rei do Reino Asura. Rudeus Anemoi Asura, Rei de Asura. Era quem eu era.

Na realidade, era apenas uma extensão de Ariel, seu fantoche. Ela disse que só agiu dessa forma porque as coisas fluíam melhor do que se liderasse como rainha. Eu era originalmente de uma linhagem muito bem conceituada no Reino Asura, então ninguém se opôs. No exterior, eles me chamavam de Rei Mago Rudeus. Talvez possa encontrar um aumento de poder por aí e ganhar alguns modificadores adicionais? Virar o Super Mega Mago Rei Rudeus?

Admito, não tinha total certeza se Ariel me amava ou não. Eu não conseguia me livrar da sensação de que ela estava apenas me usando pelo meu poder e posição. Afinal, ela só havia se casado comigo para facilitar a governança tranquila da nação. Meu desconforto com isso foi parte do motivo pelo qual tinha tomado um número tão grande de concubinas.

Recentemente, comecei a pensar que não importava quais eram os verdadeiros sentimentos de Ariel. Desde que nos casamos, insistiu resolutamente que me amava. Ela trabalhava duro e se esforçava. Possível que fosse um falso amor, mas seria suficiente para me satisfazer. Talvez eu estivesse sendo enganado, mas que posição agradável de ser conduzido!

Por outro lado, se eu me tornasse mais um obstáculo do que um recurso, é provável que Ariel se voltasse contra mim. Se isso acontecesse, dependeria do quanto eu me esforçasse. Sabia que era melhor trabalhar duro.

— Tudo bem, vamos? — Ariel disse. — Há outra montanha de assuntos do governo para cuidar hoje.

— Sim. — Ariel e eu saímos juntos do quarto. Os dois cavaleiros que guardavam a porta curvaram-se para nós. Na verdade, não apenas os guardas. Todos por quem passamos enquanto caminhávamos pelo corredor pararam e se curvaram.

Isso era poder. Se eu dissesse a um deles que não gostava de como se curvaram, eles caíam de joelhos, brancos como um lençol. Se dissesse para eles lamberem minhas botas, o fariam. Eu não faria nada assim, é claro, mas era ótimo estar em uma posição em que poderia.

O primeiro trabalho do dia foi um problema que surgiu da noite para o dia. Ninguém tinha corrido para nos acordar, então provavelmente não era urgente. Nós levaríamos cerca de duas horas para esclarecer isso e, em seguida, nos encontraríamos com o líder da ordem dos cavaleiros antes do almoço. Após comermos, tivemos audiências com os nobres com horários marcados. Pela tarde, talvez eu passe por algumas petições. Seria bom se pudesse fazer planos de férias também. Eu queria ter um bebê com Ariel em breve, e gostava do meu papel como um garanhão reprodutor.

— Vossa Majestade! — Nesse momento, o capitão da cavalaria veio correndo até nós. Ajoelhou-se diante de mim, depois declarou: — O cavaleiro que foi matar os monstros na Floresta Oriental voltou à beira da morte! Antes de morrer, ele deseja falar diretamente com você, Sua Majestade!

— O quê?! Monstros na Floresta Oriental… Isso tinha acontecido?

— Não recebemos esse relatório — comentou Ariel.

Certo, sim.

— Este cavaleiro está morrendo pelo bem de Vossa Majestade! Peço a vocês que estejam com ele em suas últimas horas!

— Você não precisa ir, querido — disse Ariel, desapegada. Todavia, não era como se eu tivesse coisas mais importantes para fazer.

— Não, vou vê-lo. — O último desejo de um cavaleiro que lutou por seu país. Eu podia pelo menos ouvi-lo. Lembrar-me do nome dele.

Com esse pensamento, corri para a sala de audiência. Ariel pareceu irritada, mas se recompôs rapidamente e me seguiu.

Nossos súditos se reuniram na sala de audiência. Duque Notos, Duque Boreas, Duque Euros, Duque Zepeuro e outros, os grandes nomes, os VIPs, as estrelas da nobreza Asurana.

Todos ficaram ao redor de um homem esperando em um tapete de veludo vermelho. Ele estava deitado em uma maca, coberto por um cobertor. Eu reconheci o rosto dele.

— Hã…? — Era Paul. O que Paul estava fazendo aqui?

Ah, é mesmo. Quando Paul soube que eu me tornaria rei, veio direto aqui para se comprometer a meu serviço. Apesar de não se dar bem com a família Notos, ele até se ajoelhou diante deles. Como cavaleiro, ele se esforçou para me proteger.

— E ai, Rudy — disse ele. Levantou a mão casualmente, como se não estivesse ferido.

— Pai… — respondi. — Ouvi do capitão que você expulsou os monstros…

— Monstros? Do que você está falando?

— Hã?

Vendo minha confusão, Paul deu um suspiro paciente.

— Não é por isso que estou aqui. — Ele disse.

— Peço que você me diga! — Eu rompi com um suspiro quando Paul empurrou o cobertor para fora. Suas pernas não estavam lá.

Ele falou calmamente, apesar do ferimento sangrento e fatal.

— Vamos retomar de onde paramos —, ele disse.

 

 

— Ahhh! — Abri os olhos. Eu tive um sonho ruim. Um pesadelo. Parecia não ter nada além de pesadelos nos últimos dias.

— Amor? O que há de errado? — disse a mulher ao meu lado, enxugando o suor da minha testa com a mão. Ela tinha curvas generosas e um sorriso precoce. Minha esposa, Aisha.

Eu e ela tivemos… Ué, como acabamos casados mesmo?

Ah, é mesmo! Ok, estávamos no banho e não consegui me conter. Ela estava sempre flertando comigo, e a cada ano seu corpo ficava mais… espera, o quê?

— Ei, o que há de errado? — perguntou ela. — Ah, agora que estamos casados, devo continuar te chamando de meu irmão? Tarde demais para parar agora, eu acho. Você é tão pervertido, irmãozão.

Não respondi. Paul estava lá, atrás de Aisha. Ele estava sentado em uma cadeira e não tinha pernas. Ele nos observou e me deu um sorriso irreverente.

— Não adianta. Eu já saquei a tua — sussurrou. — Você resolveu, né?

Eu resolvi? Ah. Ok, sim. Eu tinha começado a entender a razão por trás dessa série de pesadelos. Essa sensação de que algo estava errado. Eu tinha acordado várias vezes e todas as vezes foi um sonho.

Isso também era um.

— Você finalmente percebeu? É tudo por causa do Rei Abissal Vita. Essa farsa acabou.

Rei Abissal? Certo. Rei Abissal Vita. Agora me lembrei.

 

 

De repente, estava de volta ao meu quarto, meu escritório em uma casa grande na Cidade Mágica de Sharia. Minha mesa estava repleta de diários e tratados mágicos, e na prateleira havia uma tábua de pedra gravada com um círculo mágico e uma estatueta semi acabada.

Eu estava de pé no meio da sala enquanto Paul se sentava na cadeira do escritório. Não sabia dizer, pois ele estava sentado, mas provavelmente não tinha pernas.

Paul estava morto, afinal. A hidra havia arrancado suas pernas nas entranhas do labirinto de teletransporte no Continente Begaritt, e ele havia morrido. Por causa de um erro meu.

— …Você é o Rei Abissal Vita? — perguntei.

Paul revirou os olhos para mim.

— Claro que não — respondeu. — Se eu fosse o Rei Abissal Vita, você acha que teria te acordado do seu sonho?

— Ah, sim… — Ele tinha razão.

— O Rei Abissal Vita está encurralado — disse.

— Ok, claro, mas quem é você?

— Qual é, você esqueceu a cara do seu velho?

— Quer dizer, faz muito tempo que você morreu.

— Sheesh, pesado. É melhor você não ter esquecido — disse Paul, sorrindo em seguida. Aquele sorriso era exatamente como o Paul que me lembrava. Só de olhar para ele, senti um nó subir na garganta. Que merda, eu estava prestes a chorar.

A expressão de Paul imediatamente se tornou séria, e ele olhou para a porta atrás de mim.

— Eu persegui o Rei Abissal Vita até aqui. Há algo que parece errado nesta casa. Encontre e destrua. É o núcleo do Vita.

— Entendi!

Eu não sabia quem era esse Paul, mas não era um inimigo. Pelo menos eu pensava assim, apesar de não ter nenhuma base ou evidência. Este pode até ser um plano do Rei Abissal Vita, mas se não fosse por Paul, teria ficado preso em sonhos felizes para sempre. Resolvido, saí do escritório para um corredor familiar. Esta era a minha casa na Cidade Mágica de Sharia. Eu a tinha comprado quando casei com Sylphie. A mansão onde eu encontrara uma boneca estranha quando explorei com Zanoba e Cliff.

Trouxe então minhas irmãs mais novas para morar comigo, casei com Roxy e com Eris. Minha casa dos sonhos, onde morava com minhas três esposas. Eu sabia que aquilo era real. Meus pensamentos ainda estavam confusos, mas podia me apegar a esses fatos.

Caminhei pelo corredor e entrei na sala, onde Lilia estava limpando.

— Mestre Rudeus — disse ela, limpando uma mesa ao lado da lareira com um pano. — Algum problema?

— …Não. Sinto muito, estou sempre deixando você fazer toda a limpeza e coisas assim.

Lilia me encarou surpresa por um momento, mas depois sorriu maliciosamente.

— Já que mencionou, Mestre Rudeus, você poderia pelo menos arrumar seu escritório sozinho. Não sei se está tudo bem para eu tocar em tantas coisas no seu quarto.

— Haha, vou cuidar disso. — Nada parecia errado aqui. Lilia soava como ela mesma. Não estava realmente querendo brigar ou me fazer limpar. A provocação era sua forma de demonstrar afeto. Mesmo que não soubesse o que podia ou não tocar, Aisha sabia.

— Aliás, onde está todo mundo?

— A senhorita Norn está na escola, e Aisha está aconselhando no Bando Mercenário.

Nada de errado aqui. Ela não mencionou minhas três esposas porque, neste mundo, Sylphie, Roxy e Eris não existiam. Por alguma razão, eu tinha certeza de que era aquele tipo de mundo. Então, nada parecia errado. Era uma contradição, talvez, mas não parecia errado. Não era a Lilia que eu estava procurando.

— Ok, obrigado — disse e depois saí da sala. Fui para a porta da frente, mas também não senti nada de errado. Apenas o casaco de Roxy e a espada de treinamento de Eris estavam faltando, mas Roxy e Eris não existiam. Isso era normal.

Hmm. Saber o que parece errado é complicado.

Em última análise, era subjetivo, você não encontraria apenas uma sensação de erro por aí. Estava olhando com cuidado, mas não era muito bom nessas coisas do tipo jogo dos sete erros. Eu nunca soube responder no início quando Sylphie ia ao cabeleireiro, depois chegava em casa e perguntava: “Rudy, você percebeu algo diferente em mim hoje?” Admito que Sylphie não dizia coisas assim com frequência.

De qualquer forma, parecia que eu teria que começar a tomar notas para entender a intenção do meu adversário e o que parecia errado aqui.

Fui para a sala de jantar e suspirei.

Eu encontrei a coisa que parecia errada.

— Isso não é justo…

Pensando nisso, todos os sonhos tinham sido a manifestação do que eu acho que você poderia chamar de fantasias minhas, pensamentos ilusórios que haviam passado pela minha mente.

O mundo onde eu nunca tive D.E. e as coisas foram bem com Sara. O mundo onde Linia curou minha D.E. e nos casamos. O mundo onde a beleza angelical Ariel e eu nos apaixonamos, então me tornei rei. O mundo onde as coisas aconteceram entre mim e Aisha.

Essa última eu nunca havia fantasiado explicitamente, mas não podia negar que poderia ter tido um certo apelo subconsciente. Ela era minha irmãzinha, então eu realmente não me excitava com ela, mas isso não significava que eu não sabia que ela era objetivamente atraente. Em outra situação, eu poderia ter me interessado.

A questão era que todos tinham sido mundos feitos para se adequar a mim. Não sentia nada de errado. Em cada mundo, nem sequer percebi que algo estava errado até ser confrontado com uma contradição óbvia.

Esta casa era diferente. Paul estava aqui desde o início e eu tinha minhas lembranças. Foi assim que soube o que estava acontecendo no momento em que a vi.

— Ah, Rudy, você está em casa. Chegou cedo hoje — disse Zenith enquanto preparava a comida. Havia toalhas de mesa para toda a família, com pratos e xícaras arrumados. Eu não falei nada. — O que foi? Você parece incomodado… Ah! Certo. Você está em casa cedo, então isso é perfeito. A questão é… Ta-dah!

Ela parecia bem. Estava um pouco mais velha do que a Zenith que eu lembrava, mas de resto, era a mesma mãe alegre que me lembrava de quando morávamos em Fittoa.

 

 

 

— Você já é adulto, Rudy, mas não ouvi nada sobre sua vida amorosa! Então saí e encontrei uma parceira para você! — Zenith declarou, mostrando-me uma pintura de uma mulher em uma placa, uma foto de uma casamenteira. Eu conhecia a mulher do quadro. Eu tinha certeza de que ela trabalhava na Guilda dos Magos, a quarta filha de uma família nobre de Ranoa. Ela tinha mais talento para a magia do que suas irmãs, então se matriculou na Universidade de Magia, mas enquanto estava lá, sua família caiu em ruína. Sem poder voltar para casa, ela se juntou à Guilda dos Magos.

— Ela está na mesma guilda que você. Quando eu disse que estava procurando uma noiva para você, Rudy, ela parecia entusiasmada. Você não parece ser do tipo que ficaria feliz com um casamento estratégico. Bem, eu pensei que fosse uma questão de gosto, então eu falei com ela, e ela não pareceu totalmente contra…

Ela parecia muito feliz.

Se Zenith não tivesse acabado daquele jeito no Labirinto de Teletransporte, se não tivesse me casado com Sylphie ou Roxy e se eu não tivesse outros romances; aposto então que Zenith começaria a se intrometer na minha vida amorosa. Se aceitasse, ela ficaria radiante como uma colegial fazendo seus bonecos se beijarem e apressaria as coisas. Se Sylphie estivesse morando por perto, poderia ter feito de tudo para nos aproximar, Sylphie e eu.

— O que você acha, Rudy? Não é bonita? Você vai conhecê-la?

— Tudo bem —, eu disse.

— Isso é ótimo. Tudo bem, vou falar com eles primeiro! — Ela suspirou. — Eu me preocupo com você. E com Aisha também! Nenhum de vocês tem instinto para esse tipo de coisa. Norn é a única com alguma sorte neste departamento.

— Sim, é verdade.

— Pensei que, como filho de Paul, você seria insaciável… É porque você é muito cauteloso perto das garotas! — Zenith disse, depois voltou a colocar a mesa.

— Eu sou seu filho também, mamãe…

Fiquei congelado. Magia concentrada no meu dedo enquanto apontava para Zenith. Minha mão tremia e lágrimas ameaçavam escorrer pelas minhas bochechas. Não consegui. Zenith deixou a cozinha.

Passaram-se alguns dias. Paul ficou no escritório o tempo todo, com as pernas desaparecidas. Ele me disse:

— Você encontrou o que está errado? Então se apresse e destrua —, em um tom parecido com o que usava quando estava vivo. Quando disse a ele que Zenith era a fonte do erro, ele não disse mais nada.

Neste mundo, eu era um mago que pertencia à Guilda dos Magos. O mesmo cenário de quando eu estava com a Linia. A única diferença era que Zenith havia sido resgatada sã e salva. Paul estava morto.

Tínhamos comprado a casa quando Norn e os outros vieram para a Cidade Mágica. Era para ser um lar para todos quando Paul voltasse. Ia trabalhar na Guilda dos Magos, depois chegava em casa à noite para jantar com minha mãe e minhas irmãs.

Se, na minha vida terrena anterior, eu tivesse saído do meu confinamento e conseguido um emprego, minha vida poderia ter caído nesse tipo de ritmo. Foi assim que o tempo que passei aqui me fez sentir.

Meu possível noivado também estava avançando. Nossa reunião havia transcorrido sem problemas. Talvez porque tivéssemos trabalhado juntos e soubéssemos bastante um sobre o outro, os preparativos avançaram rapidamente. Ela me conhecia desde os tempos da Universidade de Magia e desde então gostava um pouco de mim.

Eu não me lembrava disso, mas aparentemente uma vez ela fora cercada por alguns sujeitos suspeitos e vim ao seu socorro.

Ela parecia tranquila e simples, mas era inteligente, sensata e observadora. Talvez fosse um pouco carente de apelo como parceira romântica potencial, mas como esposa em potencial, era perfeitamente adequada. Depois que fomos formalmente apresentados, saímos em dois encontros. Na terceira, a pedi em casamento. Ela disse sim. Zenith quase fez uma festa quando contei. Depois disso, nossos preparativos para o casamento seguiram em ritmo acelerado. Tivemos a sorte de ter uma casa com muitos quartos não utilizados; não foi um problema trazer minha noiva para a casa, então ela se mudou imediatamente.

Mais do que qualquer outra coisa, era o que Zenith queria. Ela brincava com Lilia sobre como “Quando a noiva do Rudy chegar, faremos isso e aquilo juntas…”

Na noite anterior ao casamento, Zenith e Lilia estavam emocionadas. Norn e Aisha se juntaram à agitação por um tempo, mas acabaram ficando entediadas e foram para a cama. Fiquei com as duas até Lilia adormecer. Ela tinha bebido um pouco mais. Sem mais ninguém para conversar, Zenith continuou a beber, me contando sobre como eu era quando criança e coisas assim.

Do nada, ela disse:

— Parece que era um peso nos meus ombros.

— Eu era um fardo para você?

— Não, não é isso que quero dizer. Você sempre cuidou de nós depois que Paul morreu no Labirinto de Teletransporte, Rudy. Eu sou sua mãe. Eu não deveria estar sendo cuidada. Eu que deveria estar cuidando de você… Eu queria poder fazer isso.

— Entendi.

— Rudy, depois que você se casar, se sua esposa estiver de mau humor ou se houver coisas de garotas que você não entender, venha e me pergunte — disse Zenith. Ela acariciou o cabelo de Lilia onde ela dormia ao seu lado, parecendo um pouco envergonhada. — Tenho certeza de que Paul teria sido capaz de dizer melhor, mas eu sou sua mãe, então sei que posso lhe dar conselhos também.

Eu não disse nada.

— Rudy, ei, o que há de errado? — Percebi que lágrimas escorriam dos meus olhos. Todos os sonhos que Vita me mostrou foram felizes. Este não foi diferente. Se eu não tivesse me lembrado, poderia ter vivido uma vida feliz aqui.

Em um mundo sem Eris ou Sylphie, eu ainda seria virgem, então me casaria com minha primeira namorada. Minhas irmãs ficariam enojadas e Zenith me repreenderia. Eu passava por altos e baixos… e, aos poucos, iria crescendo. Era totalmente possível que eu estragasse tudo espetacularmente e nos divorciássemos, mas mesmo assim…

Neste mundo, minha família viveria toda uma vida feliz, sem querer nada. Eu sabia disso. Sabia do fundo da minha alma que era assim que seria. Isso tinha que ser o último ato de resistência de Vita. Ele estava fazendo isso na aposta de que, mesmo sabendo que era um sonho, eu não o destruiria. E ele estaria certo de que, enquanto assumisse a forma de Zenith, não o destruiria.

Esse tempo todo, eu estava esperando e assistindo. Vi Zenith sorrindo como antes. Pensei que talvez ficar assim seria bom. Era verdade. Não podia matar Zenith.

Vita, por outro lado…

Eu já tinha me lembrado. Tinha me lembrado das pessoas que não estavam aqui, como Sylphie, Roxy e Eris, além dos filhos patetas que tivemos juntos. A família feliz e insubstituível que tinha dado tudo o que possuía para construir. A coisa mais preciosa que tivera. Zenith não era como Paul. Ela estava em uma espécie de estado vegetativo, mas não morta.

Eu já sabia de tudo isso.

Obter uma resposta direta pode ser difícil, mas através da Criança Abençoada eu poderia até mesmo pedir conselhos a ela quando Sylphie estivesse de mau humor, ou Roxy estivesse emburrada, ou Eris explodisse comigo. Zenith não conseguia mais sorrir, mas eu sabia que ela ficaria muito feliz em me dar conselhos. Então isso acaba aqui. Este sonho que eu queria permanecer submerso para sempre. Este sonho de uma Zenith alegre e gentil. Encarei Zenith, estendi a mão e toquei seu rosto.

— Obrigado por tudo, mamãe.

Então disparei um canhão de pedra com força total contra ela.

 

 

Senti que tinha tido um sonho devastador. O que diabos esse arrombado Vita me mostrou? Pensei. Não senti raiva. Provavelmente porque o sonho final tinha sido tão gentil. Em vez disso, me senti em paz. Estranhamente pacífico.

Olhei em volta e vi que estava em um quarto desconhecido, sem porta. Três cadeiras foram dispostas dentro dele. Nenhum outro móvel na sala, mas parecia bagunçado de alguma forma. A atmosfera me lembrou do meu próprio quarto. Como se tirassem a média do meu quarto de quando eu estava vivo e do meu escritório atual. Estava sentado em uma das cadeiras. Na minha frente, duas pessoas. Ou eram animais?

O primeiro era um esqueleto. Usava uma coroa e estava coberto de sujeira preta. O outro era um slime. Provavelmente. Era uma massa azul em forma de geleia sentada em uma cadeira. Pelo menos, parecia que estava sentado.

— É um prazer conhecê-lo. Eu sou o Rei Abissal Vita — disse o slime. Este slime azul translúcido era a sua verdadeira forma.

— Você é Vita? — perguntei. Tudo bem, quem era o esqueleto, então? Não era Paul, certo? Eu não me lembrava em que estado estavam os ossos de Paul, mas aquela coroa não combinaria com Paul.

— Suponho que perdi nossa luta — disse o slime com um ar solene, apesar de eu não saber onde estava seu rosto. Tive que confiar no tom de voz dele. Eu perdi, ele disse. Isso significava que estávamos lutando, mesmo que parecesse difícil definir. O que eu fiz para escapar desse sonho foi uma espécie de batalha, eu acho.

— Então você usou, o que, algum tipo de magia de ilusão para me dar visões? — Ele me fez sonhar. Sonhos incrivelmente felizes. Se eu não tivesse percebido, eles teriam continuado para sempre.

— Sim. Eu previ futuros possíveis com base nas suas memórias e misturei-os com seus desejos. Foi uma alucinação de alta qualidade.

Magia da ilusão. Suponho que isso seja possível.

Futuros possíveis… Apesar disso, havia muitas lacunas nessas ilusões quando eu olhava para trás. Mundos sem Sylphie ou Roxy ou Eris, onde Paul, que estava morto, continuava aparecendo.

— Você tem uma libido muito forte, então isso facilitou.

— Sou celibatário no momento — admiti. Oof, isso foi constrangedor. Eu estive com Sara, Linia, Ariel e Aisha. Admito que poderia estar mentindo se dissesse que não tinha nenhum sentimento por nenhuma delas… exceto por Aisha! Por ela não tem nada, ouviram?! Eu disse nada!

— Meu amor por minhas esposas e minhas lembranças de Paul romperam a ilusão. É isso mesmo?

Eu tinha visto esse tipo de magia de ilusão na minha vida anterior. Ou melhor, eu sabia o que tinha aprendido com mangás. A questão é que eu sabia as maneiras típicas de como você rompia isso. Talvez meu subconsciente tenha colocado esse conhecimento em uso.

Houve uma pausa, então Vita disse:

— Claro que não, não seja ridículo. Você foi totalmente tomado pela ilusão. É verdade, o domínio da ilusão sobre você era mais fraco devido à natureza única de sua psique… mas uma vez que você foi levado tão longe, escapar não era possível.

Fiquei perplexo.

— Então, por que a ilusão quebrou? — perguntei.

— Por causa dele — disse Vita apontando para o esqueleto. Sentado ereto em sua cadeira.

— Quem é ele?

— Por favor, não banque o bobo… Você previu que iríamos batalhar, por isso estava pronto desde o início, não é? Com o anel ósseo de Raxos, meu nêmesis. Agora que penso nisso, é por isso que você tirou tão ostensivamente seu anel de disfarce na frente de Ruijerd, para esconder o anel em sua mão esquerda…

O anel ósseo de Raxos? Eu não me lembrava de ter trazido nada assim… Espera, Deus da Morte Raxos? O anel do Deus da Morte! Aquele que o Randolph me deu! Isso mesmo, eu vinha usando!

— O anel ósseo de Raxos foi criado pelo Deus da Morte Raxos com o propósito de me matar. Ele assume a forma da pessoa falecida em que o usuário mais confia para quebrar a ilusão e, em seguida, encurrala o ilusionista ao tirar seus esconderijos. Ele só é ativado para os usuários que têm uma pessoa de confiança muito próxima, no entanto…

Pessoa de confiança… Em outras palavras, Paul de repente aparecendo no sonho era coisa do anel ósseo. Realmente, o choque pela aparição de Paul me forçou a confrontar o fato de que nada daquilo era real. Depois que percebi que estava sonhando, ele me deu as dicas que eu precisava para encurralar Vita. Não foi magia de ilusão desleixada da parte de Vita.

— Parece que fui um pouco desdenhoso na minha avaliação de você. Eu também estava esperando que as coisas terminassem melhor. Ah bem. Ninguém me disse que você era o tipo de homem insensível que levantaria a mão contra sua própria mãe.

Eu não esperava um ataque como esse. E também não tinha a intenção de esconder o anel. Na verdade, eu fui assolado pela indecisão. Gostaria de passar mais tempo com Zenith enquanto ela estava saudável. Tinha até aceitado um casamento arranjado por dever com ela. Depois do que me disse no final, não tive escolha a não ser me afastar. A verdadeira Zenith teria dito para fazer o mesmo. Tenho certeza que diria.

— Cometi um erro… — Vita disse. — Se eu soubesse, teria feito Ruijerd ameaçá-lo.

— Por que você não fez?

— Ruijerd estava pensando em se juntar a você, mesmo que isso significasse deixar sua aldeia para morrer. Então entrei em pânico.

Ruijerd…

— Você estava desprevenido, então pensei que tudo iria correr bem. Nunca imaginei que você tinha um plano para me contra-atacar… ou que você tinha armado uma armadilha para mim…

Tinha sido totalmente sem querer. Quase senti que deveria pedir desculpas ou algo assim. Talvez Orsted ou o Deus da Morte Randolph tivessem previsto algo assim. Seria bom se Orsted, pelo menos, pudesse ter me dito como lidar com isso com antecedência. Para ser justo, ele tinha me dito para usar o anel. Então, talvez ele só ficava quieto sobre o resto. Eu poderia imaginá-lo pensando que ele só tem que usar o anel para que funcione? Então o Rei Abissal não vale a pena se preocupar.

Ele poderia ter explicado! E se outra pessoa acabasse possuída?

Para ser justo, esta não foi a primeira vez que Orsted falhou em fornecer mais do que o mínimo de informações, nem a primeira vez que eu falhei em pedir mais.

— O orgulho precede a queda, suponho.

— De fato, sim — disse Vita ruidosamente. Ele encolheu diante dos meus olhos, como se sua força estivesse se esgotando rapidamente. Ao lado dele, o esqueleto desmoronou lentamente.

A pessoa morta em quem eu mais confiava… Isso é quem Paul foi para mim?

— Depois de reinar por séculos como o rei mais poderoso da história dos slimes, nunca imaginei que as coisas terminariam assim. Muito bem, Atoleiro Rudeus.

Como eu deveria responder? Eu não tinha previsto isso. Devo dizer-lhe que foi sorte? Bem, talvez não sorte. Eu fui ver Randolph por vontade própria.

Considerei dizer a ele: Você não pode se chamar de o rei mais poderoso de todos, mas desisti dessa ideia. Havia algo que eu precisava perguntar a ele.

— Tenho uma pergunta. Você é apóstolo do Deus-Homem?

— Sim, eu sou. Estou em dívida com Ele. Ajudou-me a escapar das garras do Deus da Morte Raxos e me mostrou o caminho para o Inferno no Continente Celestial. Só sobrevivi por tanto tempo graças a Ele… mas depois que saí, olhe onde isso me levou. Acho que foi o destino.

Vita ficava cada vez menor. Quando chegamos a esta sala, ele tinha o tamanho de uma pessoa, mas agora era tão grande quanto um punho.

— Deixe-me lhe dizer uma última coisa, Rudeus. — Ele disse. — O Deus-Homem é horrível, mas há muitos como eu que colocarão sua fé Nele simplesmente porque Ele os salvou. — Vita agora era do tamanho de uma ponta de dedo. Enquanto isso, o esqueleto se desfez em pó e foi levado pelo vento.

— Espere! Os outros apóstolos…! — Eu gritei, mas minha consciência desapareceu.

 

 

Meus olhos abriram. Senti-me bem acordado. Lembrei-me de tudo isso, dos sonhos e da conversa final na sala.

— Ugh. — Fui tomado por uma dor aguda no estômago e senti vontade de vomitar. — Bleargh… — grunhi, caindo de quatro enquanto vomitava um líquido pegajoso azul. O líquido escorreu pelo chão, misturado com sucos estomacais e o jantar da noite passada.

Isso era… O cadáver do Rei Abissal Vita?

Neste momento, tive uma sensação estranha na mão esquerda. Tirei minha manopla e o anel do Deus da Morte caiu no chão em pedaços estilhaçados. Ele afundou no meu vômito com um som abafador.

O anel estava quebrado. Acho que isso confirmou a história de Vita. Ao entrar no meu corpo por vontade própria, Vita cometeu suicídio através do anel do Deus da Morte. Coitado.

Foi uma má decisão por parte de Vita, né? Se ele assumisse o controle de mim, o Deus-Homem teria praticamente vencido. Não haveria nada que eu pudesse fazer para impedi-lo…

Foi uma coincidência, ou talvez devesse chamar de destino, que o deteve. O anel ósseo de Raxos não tinha servido apenas para fazer Kishirika falar, afinal. O próprio Randolph também podia não saber o verdadeiro poder do anel.

— Ah, certo — disse, olhando em volta. — E Ruijerd? — Eu estava dentro de um prédio. Esse piso, essas paredes, esse layout… Eu conhecia esse lugar. Era a casa de Ruijerd.

Considerando o que tinha acontecido, talvez Ruijerd tivesse me carregado aqui depois que Vita pulou dele para mim? Estava claro lá fora. Quantas horas se passaram? Decidi que limpar o vômito poderia esperar até depois de encontrá-lo.

— Ruijerd? — chamei, mas o dono da casa não respondeu. Talvez estivesse fora. Ou talvez houvesse outro motivo. Por enquanto, eu faria um levantamento do meu entorno. Precisava ver o que estava acontecendo.

Sentei-me e imediatamente encontrei Ruijerd. Estava caído no chão, do outro lado da lareira.

— Rui… — comecei, depois parei, sem palavras. O rosto de Ruijerd estava cinza e ele estava ofegante, tremendo violentamente enquanto se agarrava a si mesmo.

Ah, isso era ruim.

Isso me lembrou de algo que me havia sido dito. Se o Rei Abissal Vita morre, suas ramificações também morrem. A aldeia será engolida pela praga novamente.

Então Ruijerd estava neste estado porque…

— A… a praga…

O Rei Abissal Vita não tinha morrido pacificamente. Sim, o que ele fez foi mais do que um suicídio inadvertido… Foi um atentado suicida.

 


 

Tradução: NERO_SL

Revisão: Merovíngio

 

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