Não pareceu uma eternidade antes de finalmente chegar ao Santuário da Espada, um lugar extremamente frio e eternamente coberto de neve. Mesmo em meio à vasta faixa de terra que compunha os Territórios do Norte, este lugar era único.
A primeira impressão de qualquer viajante, era que se tratava de uma cidade normal; havia casas feitas de pedra, colunas de fumaça saindo de suas chaminés e o aroma sedutor de jantares assados no fogo enchendo o ar. As pessoas estavam todas bem arrumadas, embora ainda tremessem com as temperaturas abaixo de zero enquanto realizavam suas atividades. Esta era a imagem típica do norte.
Só quando alguém passasse pela pequena cidade era que descobriria o salão de treinamento de espadas. Seus terrenos eram mais extensos do que os encontrados no Reino Asura. Daqui soavam os ecos intermináveis de espadas de madeira batendo umas nas outras. Era aqui que os principais alunos do Estilo Deus da Espada se reuniam para praticar sua arte, e foi isso que deu a este lugar o nome de Santuário da Espada.
Espadachins de todo o mundo viajavam muito para chegar até aqui. Quando, finalmente, eles arrastaram seus pés cansados pelos últimos passos até seu destino, sem dúvida pensavam: Ah… Finalmente. Eu cheguei. Depois de terminarem seu longo aprendizado nesses salões, olhavam para trás, para a visão que eu estava contemplando naquele exato momento, e pensavam consigo mesmos: Agora minha verdadeira jornada começa.
TRECHO DE JORNADA PELO MUNDO, DO AVENTUREIRO KANT SANGUINÁRIO
Eris e Rudeus chegaram ao Santuário da Espada.
— Eu me lembro do Santuário da Espada aparecendo no final de Jornada pelo Mundo. Isso deve significar que foi o último lugar que Kant Sanguinário visitou. A forma como a terra aqui foi descrita era muito diferente dos outros lugares do livro. Isso realmente me chamou a atenção — conversou Rudeus distraidamente, com o rosto desprovido de emoção enquanto caminhava. Eris percebeu imediatamente, no entanto, que ele estava com a guarda levantada. — Acho que você andou por essa área regularmente enquanto treinava aqui, hein?
Eris olhou para os arredores. Pensando nisso agora, ela não visitava a cidade com muita frequência quando morava aqui. Vinha algumas vezes por ordem do Deus da Espada, mas não era do tipo que passeava sem pressa.
— Eu não tinha tempo para isso — disse ela rudemente.
Para ela, esta cidade parecia igual a qualquer outra dos Territórios do Norte. Dado o tamanho e a população, era mais correto chamar o local de vila do que de cidade. Quando morava em Roa e tudo era novidade, ela costumava vagar por aí. O mesmo aconteceu quando se mudou para Sharia e adquiriu o hábito diário de passear com Leo. Esta cidade, no entanto, não inspirou vontade de vagar por ela. Simplesmente não era o lugar para isso, pelo menos não em sua mente.
— Com certeza existem muitos ferreiros e lojas de armas — murmurou Rudeus.
— Sim.
As únicas pessoas que se preocupavam em morar aqui eram espadachins. Independentemente da idade ou sexo, a maioria das pessoas aqui tinha uma espada no quadril. Isso não quer dizer que cada um deles fosse praticante do Estilo Deus da Espada, mas ainda era uma prática comum que os habitantes da cidade estivessem armados.
— Olhe por onde anda, ok?!
— O quê? Você nem vale a pena prestar atenção.
— Então quer resolver isso com espadas, hein?!
Uma briga começou no meio da rua. Duas pessoas haviam sacado suas lâminas e estavam se encarando. Um segundo depois, cada uma delas fez seus ataques. As pessoas ao seu redor mal pararam para olhar antes de se afastarem, como se estivessem acostumadas demais com a visão. Sem aplausos, sem zombarias. Rotina.
Eris percebeu que nenhum dos combatentes era particularmente habilidoso. Eles provavelmente eram de nível intermediário, na melhor das hipóteses. Suas posturas eram péssimas e se sacudiam de forma desajeitada, com movimentos pesados, enquanto colidiam suas lâminas. Uma rápida olhada disse a ela que nenhum deles tinha a intenção de tirar a vida do outro.
— Que porr… — Rudeus ficou boquiaberto, com todo o corpo tremendo. Ele deu um passo atrás de Eris, como se estivesse tentando se esconder atrás dela. Parecia que um cego em meio a um tiroteio, um amendoim na boca de um banguelo.
— Fique em pé e ande direito — repreendeu Eris.
Rudeus não teria nenhum problema em matar esses dois, ou qualquer outra pessoa por perto, aliás. Eris sabia que sua magia era mais rápida do que a de um espadachim comum, mesmo de perto. Além disso, Rudeus também era de nível intermediário em esgrima. Talvez isso o tenha mantido humilde. Atualmente, ele estava usando uma armadura tão pesada que teria dificuldade em infligir danos até mesmo ao espadachim mais trivial. Se uma batalha de curta distância fosse inevitável, ele escolheria a evasão em vez de partir para a ofensiva. Ele não apostaria em ver quem poderia se mover mais rápido.
— É só que… eu não quero arrumar problemas com ninguém — explicou Rudeus. — Entrar em brigas como essa só terá um efeito negativo nas negociações futuras. Em momentos como esse, é quase uma garantia de que eu atraio pessoas desagradáveis que querem começar uma briga. Quero evitar uma confusão como essa, tanto quanto possível.
— Você vai ficar bem.
Ele se virou para ela.
— Você acha?
— Esses caras são idiotas — comentou Eris. — Você dá conta deles.
— Isso… não foi o que eu quis dizer.
Foi nesse momento que Eris sentiu uma má intenção na área. Ela sacudiu a cabeça para encarar a direção de onde estava vindo. Rudeus seguiu seu olhar.
— Ah, droga… — Ele gritou, desviando os olhos. — Viu só? As pessoas ouviram você e agora isso aconteceu…
Um homem estava lá, olhando mortalmente para Eris. As veias de sua testa se projetavam com sua raiva.
— Olá, garotinha. Essas são palavras de combate. — Enquanto falava, andou em direção a ela. Foi só quando Eris o encarou com um brilho mortal que ele congelou e respirou fundo. A cor escorreu rapidamente de seu rosto. Ele desviou o olhar dela e o resto de seu corpo logo o seguiu.
— Hmph! — Eris bufou.
O homem certamente a ouviu, mas deve ter ficado muito aliviado. Um passo adiante e ela teria cortado fora a cabeça dele. Ele podia sentir isso.
— Está vendo? — Ela disse.
— Acho que sua presença intimidadora o afastou. — Seus olhos brilhavam como uma donzela impressionada, desmaiando com a demonstração viril de força do marido.
No passado, Eris teria grunhido triunfantemente, mas agora ela sabia que não havia orgulho em aterrorizar fracotes como esse. Ele era insignificante. Rudeus poderia facilmente tê-lo surrado.
— Ei, olhe lá.
— Aquele cabelo ruivo… É a Rei da Espada Berserker, certo?
— Então, ela está de volta.
— O que quer que você faça, não olhe nos olhos dela.
— Mantenha sua voz baixa também. Tente ficar o mais quieto possível. Do contrário, você vai irritá-la…
— Sim. Ela não precisa de um motivo… vai ir atrás de você por qualquer coisa.
Murmúrios encheram o ar.
— Eris — sussurrou Rudeus —, o que você fez?
— Nada — declarou Eris com firmeza.
Ela estava dizendo a verdade. Não tinha feito nada com essas pessoas. Era possível que simplesmente não se lembrasse, mas a maioria das pessoas aqui não tinha talento para entrar nas salas de treinamento. Nem todos, é claro; alguns dos principais praticantes do Estilo Deus da Espada ocasionalmente visitavam a cidade em busca de suprimentos, misturando-se com os habitantes da cidade. A própria Eris raramente se aventurava fora das salas de treinamento, então não havia nenhuma oportunidade para fazer alguma coisa com essas pessoas.
— Tudo bem, então — disse Rudeus, de alguma forma convencido. Ele se manteve grudado nas costas dela enquanto percorriam a cidade.
— Sério, por que você está se escondendo?
— Não é que eu esteja me escondendo! É só que, você parece muito elegante por trás, sabe? Não é como se eu achasse que você bateu em cada uma dessas pessoas da cidade com os punhos e agora elas estão sedentas de vingança. Não, de jeito nenhum.
— Eu realmente não fiz nada com eles! — Eris assegurou.
Eris sabia que, se a situação exigisse, Rudeus saltaria e viria em seu auxílio. Ele só não lidava bem com confrontos abertos com estranhos.
— Você vai ficar bem — insistiu Eris mais uma vez. — Agora, vamos.
Enquanto avançava, as pessoas abriram caminho para ela, como Moisés dividindo o Mar Vermelho. Ela avançou, com a cabeça erguida, nem um pouco incomodada.
POV RUDEUS
A vastidão do Santuário da Espada superou minha imaginação.
— Uau. Esse lugar é enorme.
Os edifícios eram construídos em pedra e madeira e, de alguma forma, tinham uma grande semelhança com uma arena japonesa de artes marciais. O estado do complexo sugeria que sua construção era mais antiga do que a cidade vizinha. A vista na entrada principal não era adequada o suficiente para ter uma ideia do tamanho do lugar, mas percebi que havia alguns edifícios. Provavelmente foi expandido e alterado ao longo dos anos, culminando na ampla estrutura que vemos hoje.
— Ah.
Vi o primeiro morador do local perto do portão: um jovem vestido com um uniforme simples. Ele carregava uma pá, que estava usando para limpar a neve. Um estudante aqui, eu presumo. Ele parecia congelado até os ossos. Eu me perguntei se as regras o proibiam de usar um casaco.
Olhei de volta para Eris.
— Parece que ele vai congelar.
— Ele vai? Parece normal para mim.
A resposta dela confirmou meus temores de que realmente existia essa regra aqui. Esse lugar era praticamente a capital atlética do mundo. Se alguém reclamasse, provavelmente diriam: “Só parece frio porque você não tem a força de vontade necessária”.
— Hum, com licença — chamei o homem.
— Sim, o que foi? — Ele olhou para cima e, no momento em que seus olhos pousaram em Eris, engasgou. A pá caiu de sua mão e ele entrou na sala de treinamento.
Olhei para Eris.
— Tem certeza de que não fez nada?
— Eu treinei com ele várias vezes.
Aah. Pobre rapaz. Aposto que ele ainda está traumatizado. Eu poderia ter empatia. Quando morávamos na Cidadela de Roa, eu treinava com Eris diariamente, e ela me batia até me transformar numa polpa sangrenta a cada vez. Naquela época, ela não sabia o significado de se conter; eu só podia imaginar o quanto ela era mais feroz agora. Sem medo de melhorar suas habilidades, ela estava mais poderosa do que nunca. O cara teve sorte de ainda ter todos os dentes. Sabia que não era certo me desculpar, já que tudo o que aconteceu entre eles foi durante o treinamento, mas ainda me preocupava com ele.
Enquanto estava perdido em pensamentos, Eris começou a entrar na sala de treinamento.
— Ei, espere um segundo! — Eu disse.
— Por quê?
— Está tudo bem se nós simplesmente… entrarmos assim?
— Sim. — Ela respondeu, exasperada, ao entrar rapidamente.
Eu não tinha escolha a não ser segui-la de perto se não quisesse ficar para trás. Além disso, tive que me lembrar de que ela foi uma das aprendizes do Deus da Espada. Certamente isso dava a ela um passe livre para entrar, certo? Porém, esperava que um guia nos acompanhasse até uma sala de recepção, onde esperaria ansiosamente até que o Deus Espada viesse nos receber. Colocaria meu melhor sorriso de vendedor e iniciaria uma conversa diplomática. Isso teria sido muito preferível a isso. Estávamos entrando como se fôssemos donos do lugar.
Uma enxurrada de passos ecoou pelo corredor em nossa direção. Vários homens em uniformes de treinamento estavam vindo, e o que seguravam nas mãos não eram espadas de madeira. Eram reais.
Oh, droga, fodeu, fodeu! Eu sabia! Eles acham que somos intrusos!
— Eris?! — Um deles engasgou de surpresa.
Opa. Esse não é homem. A atmosfera ameaçadora ao redor dela havia me confundido, mas uma delas era de fato uma mulher. Ela tinha pele levemente escura, cabelos azul-marinho e olhos afiados e ameaçadores. Não havia como confundi-la. Ela era uma espadachim. Seus movimentos eram nítidos e bem praticados, não deixando uma única abertura. Eu era um verdadeiro amador em esgrima, mas até eu percebi que ela era durona. Aqueles rufiões que vimos na cidade não podiam ser comparados a ela.
Espere um segundo. Já conheci essa garota antes. Tenho certeza que ela apareceu para a coroação de Ariel. Foi então que o nome dela finalmente voltou para mim: Nina. Ela era de fato uma lutadora formidável que poderia enfrentar Eris. Pelo que me lembro daquela época, ela prometeu nos ajudar sempre que precisássemos. No entanto, falar é fácil; não há garantia de que ela continue.
— Nina. Já faz um tempo — Eris a cumprimentou.
— Sim, já faz. Por que você está aqui?
Eris empurrou o ombro na minha direção.
— Rudeus quer falar com ele.
Eu dei meu melhor sorriso de empresário e disse:
— É um prazer conhecê-la. Meu nome é Rudeus Greyrat. Eu vim para…
— “Ele”? — Nina nem sequer me deu uma olhada. Aparentemente, meus charmes de vendedor não estavam funcionando com ela.
— O Deus da Espada — anunciou Eris.
O rosto de Nina endureceu. Não, pior do que isso: uma aura repentina de hostilidade venenosa saiu dela. Isso fez pouco para intimidar Eris, que se manteve firme. Minhas pernas pareciam geleia embaixo de mim, tremendo, mas foi menos medo e mais confusão que me dominou. Só estamos aqui para nos encontrar com ele. Não há razão para você agir como se estivesse pronta para nos matar.
— Gall Falion — reiterou Eris. — Ele não está aqui?
A expressão de Nina se suavizou em um olhar de suspeita cautelosa antes que finalmente relaxasse.
— Você deveria pelo menos chamá-lo de Mestre.
— De jeito nenhum. Ghislaine é a única Mestre que eu tenho — expressou Eris obstinadamente.
— É mesmo? Bem, que seja. — Nina deu um suspiro profundo. Percebi que ela já havia lidado com a recusa petulante de Eris em aderir às normas muitas vezes até agora. — O resto de vocês, vá em frente. Vou explicar as coisas para Eris.
— Mas Lady Nina, agora não é a hora de…
— Estamos falando da Rei da Espada Berserker Eris.
Assustados, os homens olharam fixamente para Eris. Eu não tinha ideia do caos que ela causou durante sua estadia aqui, mas só o nome dela os convenceu a recuar.
— Muito bem.
Os homens abaixaram a cabeça com respeito e correram de volta para o corredor, entrando mais fundo no complexo. Desta vez, não ouvi nenhum passo. Quase não emitiam nenhum som e sua postura era impecável. Nenhum deles parecia particularmente memorável, quase como personagens secundários de um videogame – NPCs – e, ainda assim, pela forma como se comportavam, eu podia adivinhar que eram Santos da Espada ou superior.
Isso é assustador, pensei. Essas eram exatamente as pessoas com quem eu não queria começar uma briga.
— Tudo bem, por aqui. — Nina fez um gesto com o queixo e Eris a seguiu. Eu obedientemente entrei na fila.
Fomos guiados até um dos principais edifícios de treinamento do complexo, aparentemente chamado de sala de treinamento. A sala tinha piso amadeirado com várias espadas de madeira penduradas na parede. Isso me lembrou de uma sala de kendo japonesa. Curiosamente, notei um padrão salpicado por todo o chão. Eram manchas, o que levantou a questão: o que estavam derramando aqui? Ahaha, gritei desajeitadamente na minha cabeça no momento em que percebi. Isso é sangue.
Nina avançou até chegar ao meio da sala, onde de repente se sentou. Eris seguiu o exemplo. Cada uma delas se sentou com a perna esquerda dobrada e o joelho direito levantado. Achei que era uma postura um pouco inapropriada para uma garota, mas lembrando agora, Ghislaine me ensinou a sentar da mesma maneira. A postura facilitava que um espadachim se levantasse e sacasse a arma. Isso significava que, se a vontade atingisse Nina, ela poderia descolar minha cabeça dos ombros em um instante com a lâmina perigosamente real ao seu lado.
— Nina — começou Eris —, Rudeus não pode ficar tão perto. Isso o colocaria ao alcance de sua espada.
— Sério? Seu marido é um covarde.
— Ele é um mago. Ele é prático.
A atmosfera ao nosso redor estava tensa.
Bem, talvez eu devesse ter coragem e me sentar perto de qualquer maneira. Eu vim aqui para conhecer o Deus da Espada, então estou decidido a correr alguns riscos.
— Desculpe-me, não quis desrespeitar. Estava simplesmente impressionado com o ar deste lugar — disse enquanto me sentava ao lado de Eris. Ativei meu Olho da Previsão por segurança.
Nina finalmente colocou seu olhar em mim.
— Então, por que veio?
— Há uma certa pessoa com quem vou lutar, e esperava contar com a ajuda do Deus da Espada.
Suas sobrancelhas se entrelaçam em confusão.
— Achei que você não precisaria de ajuda em nenhuma batalha por mais algumas décadas?
— Ah, vejo que você se lembra de nossa conversa no Reino Asura. Obrigado — agradeci, genuinamente impressionado.
Ela bufou.
— É claro que me lembro. Eu não sou a Eris.
A regra rígida e rápida para se comunicar com os praticantes do Estilo Deus da Espada era manter as coisas francas e fáceis de entender. Eles não eram tão erráticos quanto Atofe, mas tinham a tendência de sacar a espada no momento em que seu humor começava a piorar. Mesmo alguém com traços delicados, como Nina, não era exceção, ou assim era seguro presumir.
— O que disse na época não mudou, mas estou aqui sobre um assunto diferente. Eu vou lutar contra um homem chamado Geese, veja…
— Hmm…
Eu continuei:
— Tenho certeza de que o Deus da Espada deve estar muito ocupado, mas se você pudesse gentilmente me colocar em contato com ele…?
Nina fez uma careta. Presumi que ela não queria que alguém em quem não confiasse, como eu, conhecesse o homem.
— De qualquer forma, também trouxe um presente para o Deus da Espada; algo que tenho certeza de que ele gostará. — Não era uma espada mágica que havia preparado para a ocasião. Nada disso. Eu trouxe uma pequena lâmina forjada pelo mestre ferreiro Kuelkin há cem anos.
De acordo com Orsted, o Deus da Espada era um conhecedor de espadas que havia coletado um grande número de lâminas. Esta em particular era especial para ele porque a desejava desesperadamente quando jovem, mas não teve sucesso. Ao longo de várias décadas, essa espada foi passada para novos proprietários até finalmente cair nas mãos de um nobre mediano no Reino Asura. Esse nobre viveu uma vida que nunca exigiu que ele usasse uma espada. Podia ter ficado lá para sempre, decorando a sala do homem, se ninguém tivesse notado isso. Tragicamente (para ele), usei o nome de Ariel para me aproximar do homem. Visitei a casa dele e o elogiei por seu bom gosto nas decorações de seu salão. Em troca de alguns favores, ele entregou a espada para mim. Tudo o que tinha de fazer agora era entregá-la ao Deus da Espada, e esperar que as negociações ocorressem sem problemas.
— Deixe-me esclarecer uma última vez. A pessoa que você quer conhecer é Gall Falion, correto? — perguntou Nina.
Confuso, franzi minhas sobrancelhas.
— Hã? Bem, sim. Isso mesmo. — Ela expressou isso como se houvesse outro Deus da Espada por aqui além de Gall Falion.
— Então ele não está aqui.
— Ah, entendo… — Eu acenei com a cabeça pensativamente. — Então, para onde ele foi? E quando eu poderia esperar que ele voltasse?
Nina deu de ombros.
— Quem sabe. Duvido que ele algum dia volte.
— Hmm? — Minha voz ficou surpresa. Algo definitivamente estava errado. Olhei para Eris, que estreitou os olhos com suspeita.
— O que você quer dizer? — Ela exigiu.
A expressão de Nina ficou sóbria quando retribuiu o olhar de Eris. Ela abriu a boca para falar, mas sua testa franziu e nenhuma palavra saiu. O que quer que estivesse acontecendo, ela achou difícil falar sobre isso.
O que, ele está indo para Asura fazer uma cirurgia de hemorroida ou algo assim?
— O Deus da Espada Gall Falion… foi derrotado em combate — anunciou Nina.
Os lábios de Eris se estreitaram.
— Contra quem?
— Gino Britz.
Os olhos de Eris se arregalaram.
Gino Britz, pelo que me lembro, era um Santo da Espada cuja força era inferior comparada a Eris e Nina. De acordo com Orsted, o homem tinha talento, mas o resultado de alguma coisa dependia muito de fatores que tinham pouco a ver com o próprio homem.
Espere um segundo. Gino Britz realmente venceu o Deus da Espada Gall Falion? Mas isso significaria…
— O que você quer dizer então… — disse, tentando esclarecer — é que o atual Deus da Espada é o Sr. Gino Britz?
— Sim. Meu pai… não, quero dizer, o Deus da Espada Gall Falion deixou o Santuário da Espada no dia em que perdeu. — Nina acrescentou que não tinha ideia do paradeiro atual dele.
Eu estava perdido. Além disso, senti pena de fazê-la discutir algo que devia ser tão difícil para ela. Nina estava fadada a ter grande consideração por seu pai, então a perda dele para um espadachim muito mais jovem deve ter sido um choque. Isso não foi apenas uma mudança na liderança, a própria Nina havia sido superada por alguém que deveria ser inferior a ela.
— Ele partiu em vergonha — murmurou Eris baixinho.
Sim, obrigado, Eris. Vamos antagonizar a assustadora dama com espada. Um arrepio percorreu minha espinha e todos os pelos do meu corpo se arrepiaram enquanto contemplava as possíveis repercussões de sua declaração impensada. Imaginei: a qualquer momento, Nina se levantaria e puxaria sua espada contra Eris. Felizmente, isso foi só minha imaginação. Meu Olho da Previsão me informou que Nina permaneceria sentada calmamente.
— Sim — concordou Nina. — Acho que isso é verdade. Gino sempre foi inexperiente e pouco qualificado em comparação com o resto de nós.
Eris ficou quieta por um momento antes de dizer:
— Mas ele não está agora?
— Não, não mais. Gino é mais forte do que qualquer outra pessoa. Disso tenho certeza. — Uma mistura de emoções percorreu o rosto de Nina enquanto ela falava dele, parte medo e o resto admiração. A força de Gino tinha que ser real para que ela reagisse assim.
Meu alvo havia mudado. Talvez tenha sido rude da minha parte desistir de Falion tão prontamente, mas talvez me aliar a Gino Britz fosse a melhor opção no momento. O único problema com isso foi que Orsted não me deu nenhuma informação sobre ele. Nem eu tinha um presente que pudesse trazer. Seria ótimo se ele aceitasse essa espada, mas duvidei que isso lhe traria muita alegria. Só tinha significado pessoal para Falion. Caso contrário, não era tão impressionante.
Hmm. O que fazer? Se ele for forte o suficiente para subir até o topo e reivindicar o título de Deus da Espada, posso apostar que ele tem uma disposição violenta. Considerando que as negociações possam falhar, provavelmente seria mais seguro recuar por enquanto… Por outro lado, chegamos até aqui.
Parecia melhor pelo menos conhecer e falar com ele. Não tinha ideia se ele gostaria do presente, mas pelo menos eu tinha um. Ninguém odeia um presente, certo?
— Eris, você quer lutar com Gino? — questionou Nina.
— O que você quer dizer?
— Neste momento, você pode se tornar a Deus da Espada se o derrotar.
Eris deu de ombros.
— Não estou interessada.
Nina deu um suspiro de alívio.
— Ok. Sim, certo. Eu imaginei. É bom ouvir isso.
Pensando bem, já tinha ouvido algo de Orsted antes. Ele disse que havia pessoas que se tornaram o Deus da Espada apenas para desaparecer logo depois, perdidas nos anais da história. Afinal, não era uma sistema de sucessão hereditária. Deus da Espada era um título concedido aos mais fortes praticantes do estilo. Por isso, no momento em que o Deus da Espada reinante perde uma batalha, também perde sua posição. Para a maioria, a derrota significava a morte. Não era apenas uma perda de status, mas de vida.
Tudo o que você precisava fazer para se tornar o Deus da Espada era vencer o anterior em batalha. Se o Deus da Espada caísse pelas mãos de alguém fora do Estilo Deus da Espada, seu aluno mais forte tomaria seu lugar. Seja qual for o caso, havia vários imperadores da espada e, posteriormente, reis da espada que não eram menos habilidosos do que seus colegas de rank mais alto. Isso tornava fácil adivinhar que uma mudança de regime como essa levaria ao caos no Santuário da Espada.
O mesmo aconteceu quando Gall Falion conquistou o título. Aqueles com força aproximadamente equivalente, de Imperadores a Reis da Espada, decidiram desafiar o recém-nomeado Deus da Espada na esperança de roubar o título para si. Havia Deuses da Espada que só permaneceram por um único dia antes de serem destituídos do título e caírem na obscuridade.
A mesma coisa poderia facilmente acontecer com Gino Britz.
— E você, Nina? Não vai tentar ser a Deus da Espada? — indagou Eris.
— Eu… nem consigo considerar isso como uma opção — disse Nina, acariciando sua barriga.
Ela está um pouco cautelosa com isso. Ela poderia estar menstruada ou algo assim? É isso? Não, não é como se as mulheres só esfregassem a barriga porque estão menstruadas. Não é bom fazer suposições. Aposto que ela está constipada.
Olhei de volta para Eris. Ela pareceu chocada com a resposta de Nina. Aparentemente, isso a pegou de surpresa.
— Ah… — O rosto de Eris caiu, dando lugar à decepção e ao desânimo.
Eu não sabia muito sobre a relação entre essas duas, exceto pelo fato de terem a mesma idade e de que não havia muitos que pudessem se igualar a Eris e fazer amizade com ela. A conexão entre elas parecia decididamente diferente da que Linia e Pursena compartilhavam. Não tinha ideia de como Eris se sentia em relação à mulher.
No entanto, havia uma coisa que eu poderia dizer: Nina era aliada de Gino Britz. Ela havia se tornado Rei da Espada antes de Gino e era mais velha do que ele, mas isso não a impediu de reconhecer sua força e legitimidade como o novo Deus da Espada. A maneira como falou mostrou que, até ouvir a resposta de Eris, ela estava preocupada com o fato de Eris ser mais uma pessoa que viera desafiar Gino pelo título. Se essa fosse a intenção de Eris, Nina talvez quisesse desafiá-la para um duelo primeiro.
Foi só agora, quando descobrimos que Eris não tinha interesse na posição, que Nina abaixou o joelho direito, colocando as duas pernas embaixo dela.
— Seria possível prestarmos nossos respeitos ao novo Deus da Espada? — perguntei esperançosamente.
Nina balançou a cabeça.
— Não agora. Ele já está com as mãos cheias.
— Tive a sensação de que você diria isso.
Sem dúvida, havia espadachins de todo o mundo inundando o Santuário da Espada agora. Não tinha ideia de quantos eram Imperadores da Espada ou Reis da Espada, mas, além disso, provavelmente havia pessoas de outras denominações que fizeram a viagem com a impressão de que tinham uma chance de derrubá-lo. Nina e o resto das pessoas aqui que aceitaram Gino como Deus da Espada estavam desempenhando o papel de eliminar os indignos.
Eris parece um pouco avançada para Nina se livrar, pensei, mas achei que provavelmente não era o motivo dessa reunião privada. Ela só queria expor a situação em particular.
Porém, ela parecia conhecer Eris muito bem. Talvez tenha pensado que, se a deixasse sozinha, nossa Rei da Espada Berserker poderia muito bem invadir as profundezas do Santuário e começar uma briga com Gino. Ainda assim, Srta. Nina, quero que saiba que nossa Eris está muito mais madura do que antes.
— Se você quiser falar com Gino, hm… — Nina fez uma pausa, contemplando. — As coisas devem se acalmar aqui em pouco tempo. Você pode voltar então.
Eu acenei com a cabeça.
— Tudo bem então. Ah, mas por precaução, gostaria de perguntar uma coisa. Um homem chamado Geese não veio aqui, não é? Ele é um demônio com o rosto de um macaco.
— Demônio? Aqui? Provavelmente não, não.
— Você já sonhou com um homem que insiste que é um deus e tenta transmitir uma mensagem divina?
Ela olhou com uma sobrancelha levantada para mim, confusa.
— Não. — Ela se virou para Eris, exigindo silenciosamente saber do que se tratava tudo isso.
Eris olhou para trás, irritada porque Nina esperava que ela explicasse.
Sim, hum… desculpe pela pergunta estranha.
— Se não, então não há nada com que se preocupar. Os dois que mencionei são golpistas infames, então, se algum dia aparecerem, tenha muito cuidado.
— Entendi.
Acho que o Santuário da Espada é um grande fracasso então. Planejei investigar o paradeiro de Gall Falion mais tarde, mas, no momento, não podíamos fazer nada além de nos retirar.
— Nesse caso, fiz tudo o que vim fazer aqui. — Olhei de volta para Eris. — E você? Você gostaria de dar uma olhada um pouco mais? Este lugar deve trazer de volta memórias para você.
— Não é necessário.
Aah, que fria.
Nina parecia aliviada. A atmosfera ao redor do Santuário já era sombria. Imagine Eris, dando um pequeno passeio, sacudindo sua espada para os transeuntes. Ela amadureceu, mas não o suficiente para se dispor a desistir se alguém começasse uma briga.
— Bem, voltaremos aqui mais tarde, Nina — comentou Eris.
— Soa bem, Eris. Volte quando as coisas se acalmarem um pouco mais.
Suas vozes ficaram suaves enquanto se despediam brevemente.
Saímos da sala de treinamento para ouvir uma cacofonia de ruídos vindos das profundezas do complexo. Ou Gino estava lutando contra outros praticantes do Estilo Deus da Espada, ou seus simpatizantes estavam fazendo o possível para derrubar qualquer potencial desafiante.
Eris parou por um momento e olhou para trás por cima do ombro. Ela cruzou os braços. Suas pernas estavam abertas na largura dos ombros, como sempre, e seus lábios estavam franzidos.
Eu fiz alguma coisa para aborrecê-la? Perguntei a mim mesmo, mas ela nem estava olhando para mim. Seus olhos estavam grudados na sala de treinamento.
— Qual é o problema? — perguntei finalmente.
— É como se eu nem conhecesse mais esse lugar. — Sua expressão estava nublada por uma tristeza indescritível. Era raro ver tanta emoção nela. Mesmo quando ela contemplou a região desolada de Fittoa, permaneceu destemida.
Sim, mas ela estava preparada para ver aquilo, eu me lembrei. Desta vez, ela havia retornado ao seu antigo e familiar reduto, certa de que nada seria diferente do que antes… e foi.
Devia ser como terminar o ensino médio para voltar mais tarde como ex-aluno. Você aparece para ver seu antigo clube e, claro, os sócios e o conselheiro são diferentes, mas a atmosfera e as metas que eles buscam também mudaram. É então que você tem a sensação de que não há mais lugar aqui para você.
É certo que nunca participei de nenhum clube, então meu conhecimento sobre eles vem de mangás.
— Hmm? — Quando olhei para cima, notei um homem carregando duas espadas de madeira, correndo em nossa direção do interior da sala de treinamento.
Um desafiante fugindo com o rabo enfiado entre as pernas, eu presumo? Logo percebi que ele estava vestindo um uniforme. Era estudante aqui. Uma inspeção mais detalhada revelou ainda que era a mesma pessoa que eu havia chamado anteriormente, o cara que estava limpando a neve na entrada.
— Senhorita Eris!
Ele jogou uma das espadas de madeira para ela. Veio numa velocidade incrível, mas Eris a agarrou no ar com facilidade, um forte clap ecoou ao bater em sua palma. Ele estava de volta para acertar as contas. Eu sabia. Ela fez alguma coisa aqui, não é?
— Você se importaria de ter uma rodada de treinos comigo? — indagou, provando instantaneamente que eu estava muito errado.
Sem perder o ritmo, Eris respondeu:
— Claro. Venha.
Eu me afastei deles para poder observar sua disputa. Sinceramente, estava tendo um pouco de dificuldade em acompanhar o que estava acontecendo. A conversa entre os praticantes do Estilo Deus da Espada era apenas uma série de grunhidos, e as ações que se seguiram foram físicas e abruptas.
O silêncio caiu entre os dois quando cada um se posicionou com suas espadas de madeira. Eris ergueu a espada enquanto o estudante segurava a espada perto do centro. Rezei para que Eris não exagerasse.
— Shhhuuu!
No momento seguinte, uma forte inspiração irrompeu pelo ar parado. A forma do aluno ficou embaçada. Eris escolheu aquele instante simultâneo para se mover. Um estrondo metálico ecoou. Antes que eu soubesse o que estava acontecendo, o estudante estava de joelhos, com sua espada de madeira girando no ar. No espaço que ele ocupava poucos segundos antes, uma nuvem de ar se enrolou, sua respiração persistente, que desapareceu quando sua espada caiu, penetrando na neve.
Tudo aconteceu em um piscar de olhos. Só consegui acompanhar o que aconteceu graças ao meu Olho da Previsão. O estudante tentou sua Espada da Luz e Eris devolveu a técnica na mesma moeda.
O mais assustador aqui é que esse jovem que estava limpando a neve momentos antes de repente veio até ela com uma técnica como a Espada da Luz. Eu ainda estou aqui, certo? Minha cabeça ainda está conectada ao meu pescoço? Não é como se eles tivessem cortado minha cabeça quando estava andando pelo corredor dentro do complexo e eu estivesse apenas tendo um sonho louco antes de morrer… certo?
— Seu aperto com a mão esquerda é fraco no final do balanço — disse Eris.
— O quê?!
— É por isso que sua espada voou.
Houve alguns segundos de silêncio antes que ele dissesse:
— Incrível! Muito obrigado! — Ele já havia saído da neve, mas ao receber o feedback dela, se ajoelhou e abaixou a cabeça.
— Hmph. — Eris grunhiu para ele e jogou sua espada de madeira no chão antes de caminhar em minha direção. — O quê? — Ela franziu os lábios e olhou para mim quando percebeu que eu estava olhando para ela.
— Ah, nada.
Um peso significativo foi retirado de seus ombros. Sua expressão dizia o que ela não diria: Sim. É assim que esse lugar deveria ser.
— O lugar está um pouco confuso com tudo o que está acontecendo. Tenho certeza de que, quando tudo acabar, será exatamente como você se lembrava — disse a ela.
— Que seja. Não me importo.
Apesar de seus protestos, ela pareceu aliviada ao ouvir isso.
Voltaremos novamente. Desde que sobrevivemos à nossa batalha com Geese, é claro.
Nossa visita ao Santuário da Espada chegou ao fim. Foi meio que um fracasso, mas a vida era assim. Mesmo que Gall Falion não fosse mais o Deus da Espada, ainda seria um formidável aliado na batalha. Eu deixaria a missão de rastreá-lo para meu bando mercenário e me preocuparia em localizar outra pessoa. O próximo da lista: Deus do Norte Kalman, o Terceiro.
Tradução: NERO_SL
Revisão: Pride
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